Caipirinha - O etanol hidratado como uma injeção na Veia

06/07/2015 Colunista POR: Marcos Fava Neves
O que acontece com nossa cana?
 Temos que destacar o efeito do câmbio no setor de cana. Uma desvalorização de cerca de 35% no real frente ao dólar faz com que em reais, mesmo os baixos preços do açúcar, tenham alguma compensação, encarece a gasolina no mercado interno e dá mais competitividade às exportações de etanol, inibindo também a entrada de etanol americano. Uma importante injeção não só no setor, mas no agro brasileiro. 
 Para a UNICA (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), a safra será de 590 milhões de toneladas (3,27% maior que em 2014/15), com produção 4,33% maior de etanol (27,27 bilhões de litros, sendo o hidratado 6,1% a mais com 16,33 bilhões de litros e o anidro 1,8% maior, com 10,94 bilhões de litros). A safra será mais alcooleira, com 58,1% destinada ao etanol. A produção de açúcar deve ficar ao redor de 32 milhões de toneladas.
 O processamento em abril de 2015 foi 11,54% maior que o de 2014. Safra vem vindo firme!
 Em termos de políticas, segundo a UNICA, ainda temos que facilitar a recuperação de créditos tributários da desoneração do PIS/COFINS (retenções de R$ 2 bilhões por ano), a descontinuidade do programa de financiamento à estocagem do etanol e o programa de incentivo ao ganho de eficiência dos motores. 
 Apesar da crise, a BP (British Petroleum) prevê processar em 15/16, 10 milhões de toneladas de cana, 43% a mais que na safra anterior. A Glencore (trading suíça) prevê moer ao redor de 2,7 milhões de toneladas, cerca de 20% acima que na última safra. Já a Guarani deve moer ao redor de 20 milhões de toneladas, sendo 40% para o etanol.
O que acontece com nosso açúcar?
 Relatório trimestral da OIA prevê deficit de açúcar de 2,3 milhões de toneladas em 2015/16 e ainda maior em 2016/17 se não houver investimentos em produção, que foi desestimulada em alguns países, pelos preços baixos da commodity. Estima que o deficit poderia chegar até a 6 milhões de toneladas. Pode ser uma luz no final do longo túnel do açúcar.
 Para a safra 2014/15, prevê superavit de 2,2 mi ton, com produção mundial crescendo para 173,63 mi ton, puxada principalmente por safras boas na Índia e Tailândia, que surpreenderam. 
 Interessante como as consultorias internacionais que fazem previsão de safras e produções são surpreendidas em curto intervalo de tempo. Uma que projetava no trimestre anterior um deficit de mais de 100 mil t de açúcar para esta safra, reviu para um superavit de mais de 3,2 milhões de toneladas. Apenas em um trimestre...
 Segundo a UNICA, subsídios à produção de açúcar na Índia e Tailândia podem ter custado mais de US$ 1,2 bilhão ao Brasil, e estudamos contestá-los na OMC (Organização Mundial do Comércio). Devemos sim ameaçar e ir em frente caso não haja retrocesso por parte destes países.
 Já o consumo de açúcar também apresenta boa recuperação, com crescimento de 2,14% (média dos últimos 5 anos foi de 2,06%) e alcançará o recorde de 171,42 milhões de toneladas. A relação estoque consumo ainda permanece elevada, próxima a 48%. 
 A título de curiosidade, as importações do Iraque vêm aumentando e devem atingir mais de 1 milhão de toneladas em 2015, provando a importância dos mercados emergentes no açúcar.
 Ainda sobre os efeitos do dólar, algumas usinas estão fixando o açúcar que vem sendo produzido em 2015/16 em mais de R$ 1050/tonelada, acima dos preços de 2014/15, permitindo, no caso das usinas mais eficientes, retornos acima de 10%.
O que acontece com nosso etanol?
 Com a escalada nos preços internacionais do petróleo, é muito provável que tenhamos novo aumento do preço da gasolina no Brasil, que pode chegar a 10%.  A gasolina já está dando prejuízo à Petrobras novamente, e o problema grave do caixa da empresa e uma promessa que os preços seguirão o mercado dão alento ao etanol. 
 O consumo do hidratado segue firme, e podemos chegar ao final do ano entre 14 a 15 bilhões de litros. Estamos consumindo mais de 1,3 bilhão de litros por mês, contra menos de 1 bilhão nestes primeiros meses, em 2014. Se o consumo seguir firme e com rentabilidade, com a perspectiva dos preços chegarem a patamares entre 1,40 a 1,50/l na usina, pode-se retirar mais de 1 milhão de toneladas de açúcar do mercado internacional, beneficiando os preços.
 Em abril, as usinas do Centro-Sul venderam 1,46 bilhões de litros, simplesmente 49% a mais que em abril de 2014. Estamos vendendo hidratado como água, uma verdadeira injeção na veia do setor!
 Falta ainda o aumento de 0,5% na mistura de anidro na gasolina, aprovada, e que hoje está em 27%. Como os testes da ANFAVEA (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) aparentemente não apresentaram problemas nos automóveis, resta esperar por este aumento.
 Estimativa de Alexandre Figliolino, do Itau-BBA, é que a retirada da CIDE (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico) na gasolina em 2012 até sua volta neste ano impactou em R$ 16 bilhões o setor de cana. Vejam o desastre causado pela política populista do governo.
O que acontece com nossa cogeração?
 A UNICA estima que a capacidade instalada para cogeração nas usinas atingiu 10 mil megawatts, representando 7% da matriz energética brasileira, atrás apenas da fonte hidroelétrica e de gás natural. Em 2014, o uso desta fonte energética evitou a emissão de mais de 8 milhões de toneladas de CO2. Porém, o ritmo de crescimento vem diminuindo, e em 2015 devem ser instalados apenas 36% do que foi investido em 2010. 
 Com um pouco mais de luz na política energética brasileira, é muito provável que as fontes renováveis ganhem impulso. 
 Há interesse crescente de fundos na aquisição de ativos de cogeração e mesmo de investimentos no setor. No leilão os preços foram de R$ 270 por megawatt/h e preços de mercado acima disto. 
Penso que a coleção de notícias que coloquei acima mostram boas luzes!
Quem é o homenageado do mês? 
Todos os meses esta coluna homenageia uma personagem do setor de cana. Este mês faremos uma homenagem ao amigo Nehemias Alves de Lima, diretor da Coopercitrus, e um grande entusiasta da educação no Brasil. Estamos juntos na luta, amigo!
Haja Limão: 
O Brasil caiu mais posições no ranking de competitividade mundial, no recente relatório publicado pelo IMD. Estamos na posição 56. Éramos em 2010 o País número 38 em competitividade. Eu imaginei que a experiência do Brasil com a esquerda seria muito negativa, mas não imaginava um desastre dessa dimensão. Haja limão.
Marcos Fava Neves é professor titular da FEA/USP, Campus de Ribeirão Preto.
Em 2013 foi professor 
visitante Internacional da Purdue University (EUA)
O que acontece com nossa cana?
Temos que destacar o efeito do câmbio no setor de cana. Uma desvalorização de cerca de 35% no real frente ao dólar faz com que em reais, mesmo os baixos preços do açúcar, tenham alguma compensação, encarece a gasolina no mercado interno e dá mais competitividade às exportações de etanol, inibindo também a entrada de etanol americano. Uma importante injeção não só no setor, mas no agro brasileiro. 
 Para a UNICA (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), a safra será de 590 milhões de toneladas (3,27% maior que em 2014/15), com produção 4,33% maior de etanol (27,27 bilhões de litros, sendo o hidratado 6,1% a mais com 16,33 bilhões de litros e o anidro 1,8% maior, com 10,94 bilhões de litros). A safra será mais alcooleira, com 58,1% destinada ao etanol. A produção de açúcar deve ficar ao redor de 32 milhões de toneladas.
 O processamento em abril de 2015 foi 11,54% maior que o de 2014. Safra vem vindo firme!
 Em termos de políticas, segundo a UNICA, ainda temos que facilitar a recuperação de créditos tributários da desoneração do PIS/COFINS (retenções de R$ 2 bilhões por ano), a descontinuidade do programa de financiamento à estocagem do etanol e o programa de incentivo ao ganho de eficiência dos motores. 
 Apesar da crise, a BP (British Petroleum) prevê processar em 15/16, 10 milhões de toneladas de cana, 43% a mais que na safra anterior. A Glencore (trading suíça) prevê moer ao redor de 2,7 milhões de toneladas, cerca de 20% acima que na última safra. Já a Guarani deve moer ao redor de 20 milhões de toneladas, sendo 40% para o etanol.
O que acontece com nosso açúcar?
 Relatório trimestral da OIA prevê deficit de açúcar de 2,3 milhões de toneladas em 2015/16 e ainda maior em 2016/17 se não houver investimentos em produção, que foi desestimulada em alguns países, pelos preços baixos da commodity. Estima que o deficit poderia chegar até a 6 milhões de toneladas. Pode ser uma luz no final do longo túnel do açúcar.
 Para a safra 2014/15, prevê superavit de 2,2 mi ton, com produção mundial crescendo para 173,63 mi ton, puxada principalmente por safras boas na Índia e Tailândia, que surpreenderam. 
 Interessante como as consultorias internacionais que fazem previsão de safras e produções são surpreendidas em curto intervalo de tempo. Uma que projetava no trimestre anterior um deficit de mais de 100 mil t de açúcar para esta safra, reviu para um superavit de mais de 3,2 milhões de toneladas. Apenas em um trimestre...
 Segundo a UNICA, subsídios à produção de açúcar na Índia e Tailândia podem ter custado mais de US$ 1,2 bilhão ao Brasil, e estudamos contestá-los na OMC (Organização Mundial do Comércio). Devemos sim ameaçar e ir em frente caso não haja retrocesso por parte destes países.
 Já o consumo de açúcar também apresenta boa recuperação, com crescimento de 2,14% (média dos últimos 5 anos foi de 2,06%) e alcançará o recorde de 171,42 milhões de toneladas. A relação estoque consumo ainda permanece elevada, próxima a 48%. 
 A título de curiosidade, as importações do Iraque vêm aumentando e devem atingir mais de 1 milhão de toneladas em 2015, provando a importância dos mercados emergentes no açúcar.
 Ainda sobre os efeitos do dólar, algumas usinas estão fixando o açúcar que vem sendo produzido em 2015/16 em mais de R$ 1050/tonelada, acima dos preços de 2014/15, permitindo, no caso das usinas mais eficientes, retornos acima de 10%.
O que acontece com nosso etanol?
 Com a escalada nos preços internacionais do petróleo, é muito provável que tenhamos novo aumento do preço da gasolina no Brasil, que pode chegar a 10%.  A gasolina já está dando prejuízo à Petrobras novamente, e o problema grave do caixa da empresa e uma promessa que os preços seguirão o mercado dão alento ao etanol. 
 O consumo do hidratado segue firme, e podemos chegar ao final do ano entre 14 a 15 bilhões de litros. Estamos consumindo mais de 1,3 bilhão de litros por mês, contra menos de 1 bilhão nestes primeiros meses, em 2014. Se o consumo seguir firme e com rentabilidade, com a perspectiva dos preços chegarem a patamares entre 1,40 a 1,50/l na usina, pode-se retirar mais de 1 milhão de toneladas de açúcar do mercado internacional, beneficiando os preços.
 Em abril, as usinas do Centro-Sul venderam 1,46 bilhões de litros, simplesmente 49% a mais que em abril de 2014. Estamos vendendo hidratado como água, uma verdadeira injeção na veia do setor!
 Falta ainda o aumento de 0,5% na mistura de anidro na gasolina, aprovada, e que hoje está em 27%. Como os testes da ANFAVEA (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) aparentemente não apresentaram problemas nos automóveis, resta esperar por este aumento.
 Estimativa de Alexandre Figliolino, do Itau-BBA, é que a retirada da CIDE (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico) na gasolina em 2012 até sua volta neste ano impactou em R$ 16 bilhões o setor de cana. Vejam o desastre causado pela política populista do governo.
O que acontece com nossa cogeração?
 A UNICA estima que a capacidade instalada para cogeração nas usinas atingiu 10 mil megawatts, representando 7% da matriz energética brasileira, atrás apenas da fonte hidroelétrica e de gás natural. Em 2014, o uso desta fonte energética evitou a emissão de mais de 8 milhões de toneladas de CO2. Porém, o ritmo de crescimento vem diminuindo, e em 2015 devem ser instalados apenas 36% do que foi investido em 2010. 
 Com um pouco mais de luz na política energética brasileira, é muito provável que as fontes renováveis ganhem impulso. 
 Há interesse crescente de fundos na aquisição de ativos de cogeração e mesmo de investimentos no setor. No leilão os preços foram de R$ 270 por megawatt/h e preços de mercado acima disto. 
Penso que a coleção de notícias que coloquei acima mostram boas luzes!
Quem é o homenageado do mês? 
Todos os meses esta coluna homenageia uma personagem do setor de cana. Este mês faremos uma homenagem ao amigo Nehemias Alves de Lima, diretor da Coopercitrus, e um grande entusiasta da educação no Brasil. Estamos juntos na luta, amigo!
Haja Limão: 
O Brasil caiu mais posições no ranking de competitividade mundial, no recente relatório publicado pelo IMD. Estamos na posição 56. Éramos em 2010 o País número 38 em competitividade. Eu imaginei que a experiência do Brasil com a esquerda seria muito negativa, mas não imaginava um desastre dessa dimensão. Haja limão.

Marcos Fava Neves é professor titular da FEA/USP, Campus de Ribeirão Preto.
Em 2013 foi professor 
visitante Internacional da Purdue University (EUA)