O Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) espera superar com tranquilidade a disputa com a BNDESPar, braço de participações do BNDES que faz parte de seu quadro de acionistas, e pretende abrir o capital em 2021. A medida será possível uma vez que o CTC, que faturou R$ 132,8 milhões na safra 2016/17, recebeu a aprovação para comercializar a primeira cana transgênica do mundo, catapultando-o ao patamar de "companhia de biotecnologia". O objetivo é lançar ações na B3 (ex-Bovespa) e na americana Nasdaq, que concentra a listagem de empresas de biotecnologia e onde os investidores já estão acostumados ao setor, afirmou o presidente do CTC, Gustavo Leite. A medida já estava prevista quando o CTC negociou a entrada da BNDESPar em seu capital, em 2014, mas a perspectiva era fazer o IPO em 2023, cumprindo o prazo máximo de sete anos após o registro na bolsa. Mas a autorização para comercializar cana com o gene tolerante ao inseto da broca-da-cana, concedida em junho pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), permitiu antecipar o plano. Até 2021, a empresa pretende começar a colher os frutos desse seu primeiro investimento em transgenia. Dessa forma, quando apresentar seu pedido de abertura de capital, o CTC pretende ter em mãos resultados para mostrar aos potenciais investidores, disse Leite. Em um prazo ainda mais curto, o CTC espera que a Câmara de Arbitragem do Mercado (CAM), da B3, resolva a disputa com a BNDESPar, que deixou de realizar um aporte de R$ 90 milhões, como acertado em acordo de acionistas. Enquanto a BNDESPar afirma que "as disponibilidades da companhia seriam suficientes para fazer frente às necessidades de caixa" desta safra, o CTC diz que não havia condicionantes para o aporte. Questionada sobre a perspectiva para a decisão da Câmara, a BNDESPar preferiu não comentar. O CTC disse esperar que a questão se resolva "o quanto antes". Leite minimizou o impacto da disputa. "Temos um relacionamento aberto com eles. Isso não é um grande risco", disse. Em nota, a BNDESPar afirmou que "continuará sócia da companhia, apoiando o CTC na implementação do seu plano de negócios e na sua trajetória para realizar um IPO nos próximos anos, um dos objetivos institucionais da subsidiária de participações do BNDES". A tarefa mais complexa até o IPO, segundo o executivo, será ao menos manter o ritmo de crescimento das vendas - hoje em 20% ao ano - para ganhar participação de mercado. As variedades comercializadas pelo CTC atualmente, todas convencionais, estão em 12% a 13% da área cultivada com cana no país. A meta é ampliar essa participação para 20% até 2021, quando o centro pretende apresentar aos investidores a projeção de elevar a fatia para entre 40% e 50% na década subsequente.
A empresa também espera chegar em 2021 com uma margem compatível com a de uma empresa de biotecnologia, em torno de 20%, segundo Leite, que já presidiu a Monsanto no Brasil e no Canadá. Na safra 2016/17, a margem Ebitda do CTC foi de 13,5%. Com a abertura de capital, o CTC pretende fortalecer os investimentos em pesquisa e desenvolvimento, hoje em R$ 200 milhões por ano. Desse montante, mais da metade é destinada ao desenvolvimento de variedades de cana e pesquisas com transgenia. O restante é destinado à planta-piloto de etanol celulósico e ao desenvolvimento de sementes. O próximo passo do CTC é inserir na cana um gene resistente ao bicudo - que ataca a planta - e outro gene tolerante a herbicidas, sobretudo o glifosato. A ideia é que as três transgenias ocorram concomitantemente nas plantas. O negócio de biotecnologia do CTC deve ganhar impulso com o laboratório que a empresa deve instalar nos Estados Unidos, onde o acesso a fornecedores de insumos é mais fácil. O local da unidade deve ser apresentado ao conselho de administração até o fim do ano. A preferência é pela região de Saint Louis, o "Vale do Silício" da biotecnologia. Enquanto a empresa tem apenas um evento transgênico aprovado, a tarefa é replicar a técnica em suas mais de dez variedades de cana adaptadas a diferentes microclimas. Além disso, o CTC busca garantir que o açúcar produzido a partir da cana transgênica tenha as vendas aprovadas fora do Brasil. Por isso, já pediu autorização nos EUA e no Canadá, e até março deve requerer o aval a Japão, Rússia, China, Índia, Tailândia, Taiwan e Coreia do Sul. A expectativa de Leite é que essas aprovações ocorram em dois a três anos, quando as usinas brasileiras devem começar a processar a cana geneticamente modificada. Nos primeiros anos, as mudas transgênicas ficarão nos viveiros das usinas, sendo replicadas até atingirem escala para produção comercial.
Por Camila Souza Ramos
O Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) espera superar com tranquilidade a disputa com a BNDESPar, braço de participações do BNDES que faz parte de seu quadro de acionistas, e pretende abrir o capital em 2021. A medida será possível uma vez que o CTC, que faturou R$ 132,8 milhões na safra 2016/17, recebeu a aprovação para comercializar a primeira cana transgênica do mundo, catapultando-o ao patamar de "companhia de biotecnologia". O objetivo é lançar ações na B3 (ex-Bovespa) e na americana Nasdaq, que concentra a listagem de empresas de biotecnologia e onde os investidores já estão acostumados ao setor, afirmou o presidente do CTC, Gustavo Leite. A medida já estava prevista quando o CTC negociou a entrada da BNDESPar em seu capital, em 2014, mas a perspectiva era fazer o IPO em 2023, cumprindo o prazo máximo de sete anos após o registro na bolsa. Mas a autorização para comercializar cana com o gene tolerante ao inseto da broca-da-cana, concedida em junho pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), permitiu antecipar o plano. Até 2021, a empresa pretende começar a colher os frutos desse seu primeiro investimento em transgenia. Dessa forma, quando apresentar seu pedido de abertura de capital, o CTC pretende ter em mãos resultados para mostrar aos potenciais investidores, disse Leite. Em um prazo ainda mais curto, o CTC espera que a Câmara de Arbitragem do Mercado (CAM), da B3, resolva a disputa com a BNDESPar, que deixou de realizar um aporte de R$ 90 milhões, como acertado em acordo de acionistas. Enquanto a BNDESPar afirma que "as disponibilidades da companhia seriam suficientes para fazer frente às necessidades de caixa" desta safra, o CTC diz que não havia condicionantes para o aporte. Questionada sobre a perspectiva para a decisão da Câmara, a BNDESPar preferiu não comentar. O CTC disse esperar que a questão se resolva "o quanto antes". Leite minimizou o impacto da disputa. "Temos um relacionamento aberto com eles. Isso não é um grande risco", disse. Em nota, a BNDESPar afirmou que "continuará sócia da companhia, apoiando o CTC na implementação do seu plano de negócios e na sua trajetória para realizar um IPO nos próximos anos, um dos objetivos institucionais da subsidiária de participações do BNDES". A tarefa mais complexa até o IPO, segundo o executivo, será ao menos manter o ritmo de crescimento das vendas - hoje em 20% ao ano - para ganhar participação de mercado. As variedades comercializadas pelo CTC atualmente, todas convencionais, estão em 12% a 13% da área cultivada com cana no país. A meta é ampliar essa participação para 20% até 2021, quando o centro pretende apresentar aos investidores a projeção de elevar a fatia para entre 40% e 50% na década subsequente.
A empresa também espera chegar em 2021 com uma margem compatível com a de uma empresa de biotecnologia, em torno de 20%, segundo Leite, que já presidiu a Monsanto no Brasil e no Canadá. Na safra 2016/17, a margem Ebitda do CTC foi de 13,5%. Com a abertura de capital, o CTC pretende fortalecer os investimentos em pesquisa e desenvolvimento, hoje em R$ 200 milhões por ano. Desse montante, mais da metade é destinada ao desenvolvimento de variedades de cana e pesquisas com transgenia. O restante é destinado à planta-piloto de etanol celulósico e ao desenvolvimento de sementes. O próximo passo do CTC é inserir na cana um gene resistente ao bicudo - que ataca a planta - e outro gene tolerante a herbicidas, sobretudo o glifosato. A ideia é que as três transgenias ocorram concomitantemente nas plantas. O negócio de biotecnologia do CTC deve ganhar impulso com o laboratório que a empresa deve instalar nos Estados Unidos, onde o acesso a fornecedores de insumos é mais fácil. O local da unidade deve ser apresentado ao conselho de administração até o fim do ano. A preferência é pela região de Saint Louis, o "Vale do Silício" da biotecnologia. Enquanto a empresa tem apenas um evento transgênico aprovado, a tarefa é replicar a técnica em suas mais de dez variedades de cana adaptadas a diferentes microclimas. Além disso, o CTC busca garantir que o açúcar produzido a partir da cana transgênica tenha as vendas aprovadas fora do Brasil. Por isso, já pediu autorização nos EUA e no Canadá, e até março deve requerer o aval a Japão, Rússia, China, Índia, Tailândia, Taiwan e Coreia do Sul. A expectativa de Leite é que essas aprovações ocorram em dois a três anos, quando as usinas brasileiras devem começar a processar a cana geneticamente modificada. Nos primeiros anos, as mudas transgênicas ficarão nos viveiros das usinas, sendo replicadas até atingirem escala para produção comercial.
Por Camila Souza Ramos