Regularidade no manejo reduz a dependência do clima
Antes de mais nada, é preciso deixar bem destacada a palavra “reduz” do subtítulo acima, isso porque todos sabem que, pelo menos com o que temos de avanço tecnológico consolidado hoje, é impossível manter uma lavoura de cana sem a alta dependência do clima.
Mas, na operação conduzida por Marcos Jacinto da Silva e Leonardo Lopes da Silva (pai e filho), essa relação é amenizada em decorrência de uma estratégia de manejo padronizada, que lógico, vai melhorando com o passar das safras.
O primeiro detalhe da lavoura, que conta com 900 hectares de extensão, é sua altitude média de 800 metros (entre os municípios de Ituverava e Buritizal), o que já traz traços diferentes em relação ao cultivo em áreas mais baixas.
Essas alterações já começam no plantio, que hoje está meio a meio, dividido entre o sistema de meiosi e cantosi (devido ao fato de colherem um pedaço do canavial do meio para o final da safra, não dando tempo de trabalhar o solo de maneira adequada para receber a linha-mãe), executado após a primeira quinzena de março - estratégia que visa fazer a planta passar a seca sem a produção de colmos, evitando o encarratelamento dos mesmos, fenômeno que acontece com mais facilidade em terras altas.
Diante desse cenário, fica claro que o atraso das chuvas de primavera na época do plantio da rotação de cultura no ano passado em nada atrapalhou o cronograma, visto que os Silvas também são produtores de soja.
O padrão da fazenda na adubação no sulco é considerado pelos próprios produtores como “pesado”, distribuindo-se 630 toneladas por hectare na hora do plantio de cana, formulado, preferencialmente, com 8-30-10 (NPK) e reforçado com 160 toneladas de KCL, molibdênio e enraizador.
Vale destacar que parte da operação recebe anualmente uma lâmina de 25 a 30 milímetros de vinhaça. Mediante esse fato, a estratégia de adubação muda, sendo adicionado somente o nitrogênio.
Segundo Marquinhos, como é conhecido, esse trabalho garante uma produtividade de, no mínimo, 130 toneladas por hectare em cana planta e também influencia em chegar com uma área total de seis ciclos de idade e peso acima dos três dígitos.
Dentro do assunto produtividade, é destacado outro processo da casa, a decisão pela reforma de um talhão, tomada a partir do momento que o mesmo entregar menos de 80 toneladas por hectare.
O plano de ação de defesa contra os principais insetos da cana também é algo muito bem desenhado e, quase que em sua totalidade, baseado em ações preventivas e com o uso integrado de agentes biológicos e químicos.
Cana desenvolvida, sadia e limpa - sim o clima ajudou, mas na operação de Marcos e Leonardo, o cenário é parecido até em anos mais rigorosos
Os biológicos entram no canavial em quatro momentos do crescimento da cana: corte da soqueira, passagem do herbicida e nas duas aplicações foliares, seguindo a orientação de que para começar a dar resultados é preciso um trabalho de inundação do canavial; enquanto que as soluções químicas são utilizadas, em cana planta, para o controle principalmente da broca, no corte da soqueira, visando às pragas de solo e junto com a aplicação do fungicida para o controle da cigarrinha em sua primeira geração.
Quanto à briga com o mato, os produtores ressaltaram que em verões como o atual, com alta ocorrência de chuvas, o trabalho de combate precisa ser mais intenso. Assim, além da rotina habitual, que consiste com uma entrada contendo uma solução de pré-emergência antes da rebrota, o número de catações, tanto químicas como na enxada, aumentou, em especial pelo surgimento significativo de focos com capim-colonião.
Outro processo que está padronizado na fazenda é a maturação. Nele, também se inclui a prevenção ao florescimento, que ocorre com muito mais facilidade na altitude. Dessa forma, é aplicado o Ethrel em 100% da área, aliando um mix formado por potássio, magnésio, boro e enxofre, objetivando o ganho de açúcar como um estímulo natural à maturação da planta.
A ampliação e a adoção de novas variedades também fazem parte do dia a dia. Para esse plantio, estão sendo introduzidas cinco cultivares (RB855453, IACSP95-5094, SP80-1816, SP80-3280 e RB855476), sendo todas destinadas para ambientes A, B e C e com flexibilidade de corte entre maio e outubro.
Falando em tecnologia, eles contam que há quatro anos todas as áreas de plantio foram sulcadas de modo sistematizado. Para isso, eles dispõem de uma frota de tratores (nos três níveis de potência) dotados de GPS, além disso, pensando em aumentar ainda mais a precisão, possuem também, em sua garagem, máquina para aplicação de calcário e gesso em taxa variável e um autopropelido.
Quando questionados se toda essa padronização veio da experiência com a soja e o algodão, culturas que Marquinhos trabalhou antes de implementar o canavial, eles comentam que na comparação, a cana-de-açúcar, num ambiente de corte mecânico, é bem mais complexa que as outras duas.
“Se for contar, tenho que entrar no canavial no corte da soqueira, na aplicação de herbicida, na correção do solo, nas duas adubações, nas duas aplicações de fungicida, no inibidor de florescimento e na colheita, sem mencionar a catação. Na soja, com a tecnologia RR, fazemos no máximo umas quatro entradas de herbicida e fungicida, acrescidas ao fato de ser uma cultura perene em que preciso tomar todo o cuidado para manter sadia a minha soqueira. Assim, tenho certeza que cultivar cana hoje, para quem busca produtividade, é mais complicado que o próprio algodão”, disse Marquinhos.
Finalizando a conversa, o produtor faz questão de ressaltar a importância da Copercana na formação de seu sistema de trabalho. “A cooperativa é fundamental no fornecimento de insumos, defensivos e prestação de serviço de assistência técnica desde que entrei na cultura, antes mesmo da inauguração da filial de Ituverava. Após a abertura das portas aqui na cidade, então, o atendimento melhorou mais de 100% ”.
Soja na meiosi - lógico que em ano bom de água o produtor sabe tirar vantagem da situação