Censo Varietal IAC na Região Centro-Sul do Brasil – Safra 2021/22

07/12/2021 Noticias POR: Redação


Estudo mostra a tendência para o fim do mais do mesmo

 

É contraditório ver um processo de “evolução genética” parado no tempo. Quando isso é diagnosticado, se trata de algo extremamente errado e muito mais grave na agricultura mais dinâmica do mundo, principalmente se um produtor cultiva a mesma variedade desde o início de sua vida no campo até a sua aposentadoria, o que ultrapassa com facilidade os cinquenta anos.

E isso aconteceu com a cana-de-açúcar, não por falta de oferta (os três principais centros de desenvolvimento disponibilizam a cada ano um portfólio genético recheado), mas por diversos acontecimentos, dentre eles a virada da colheita manual para a mecanizada, que obrigou a uma releitura drástica em todos os manejos da cultura.

Assim, não sobrou tempo para um aprofundamento no mundo das cultivares. Foram quando surgiram as supervariedades (plantadas por todo território), que na verdade trazia na sua expressão genética a característica de suportarem mais as pancadas que a rápida mudança de ares dava na lavoura. Com o tempo desencadeou na derrapagem produtiva que o setor ainda pena para sair, pelo fato, já mais que comprovado, que para ter um ciclo virtuoso é fundamental casar variedade e ambiente, além de ter sempre a cabeça aberta para o novo nas reformas seguintes, aqui em time que está ganhando é necessário mexer sim.

Contudo, os números do Censo Varietal do IAC desenham um cenário que mostra, em uma boa parte do Centro-Sul, que os plantadores de cana estão deixando o senso comum e as facilidades que a “acomoditização” varietal trouxe para adotar o regionalismo, consciente e metódico (experimentos de adaptabilidade através da formação de viveiros).

A esperança é de ver confirmada nas páginas da Revista Canavieiros das edições seguintes, através da sua tradicional publicação do estudo, essa tendência, pois todos sabem que a pressão pela produtividade será cada vez maior e essa mudança de postura, que não é rápida, é fundamental na concretização do maravilhoso futuro desenhado para a cultura da bioenergia.

Trata-se de menos do mesmo. Com vocês os mestres Rubens Braga Jr. e Marcos Landell!

Apresentação


Rubens L. C. Braga Jr e Marcos G. A. Landell

O Programa Cana IAC realizou, pelo sexto ano consecutivo, o Censo Varietal IAC. Esse trabalho visa conhecer a evolução do cultivo das variedades utilizadas no Brasil, detalhando as informações pelas principais regiões produtoras de cana-de-açúcar. Deste modo, funciona como um importante veículo de difusão de tecnologia, informando aos produtores quais são as variedades que estão em crescimento ou estão sendo abandonadas de modo que eles possam ter uma visão comparativa de seu plantel de variedades em relação ao praticado na sua e nas demais regiões produtoras.

Além disso, o censo antecipa a informação das variedades que estão em rápido crescimento, permitindo aos produtores o planejamento estratégico dos seus viveiros, de modo a se manterem sempre atualizados em relação às novas variedades mais produtivas.

Na safra 2021/22, foram levantadas informações de 220 unidades produtoras (destilarias, usinas autônomas, usinas com destilarias anexas e associações de fornecedores), totalizando uma área recenseada superior a 6 (seis) milhões de hectares, o que destaca esse levantamento como o maior realizado nessa região do Brasil.

O Censo Varietal IAC iniciou a coleta das informações a partir maio/21. Os produtores que enviam as suas informações recebem relatórios analíticos com as informações consolidadas ao final de cada mês. Desta forma, estimulamos todas as unidades a encaminhar as suas informações que enriquecerão a amostra como um todo, para que venham, em contrapartida, receber os relatórios estratégicos.

A coleta de informações foi distribuída pelos principais estados produtores brasileiros, sendo 2 da Bahia, 3 do Espírito Santo, 21 de Goiás, 6 do Mato Grosso, 17 do Mato Grosso do Sul, 26 de Minas Gerais, 18 do Paraná, 126 de São Paulo e 1 de Tocantins.

Os resultados obtidos mostram que está havendo uma maior diversificação do plantel varietal entre as regiões produtoras. As figuras abaixo apresentam o Market share das 12 principais variedades considerando as áreas totais cultivadas na safra 2021/22, para os principais estados produtores da região Centro-Sul.

 

BAHIA E TOCANTINS

A Figura 1 apresenta o Market share da área cultivada das principais variedades nos estados da Bahia e Tocantins. Estes dois estados foram agrupados em função do nosso compromisso de não divulgar informações individuais dos produtores.

Nesses estados foram recenseados 59 mil hectares e as variedades mais significativas (atingiram proporção superior a 5%) foram, pela ordem: RB867515, CTC9003, CTC4, CTC15, SP83-5073 e IACSP95-5094. Essas variedades foram responsáveis por 72% da área cultivada nestes estados.


Figura 1 – Market share da área cultivada por variedades nos estados da Bahia e Tocantins – Safra 2021/22

 

Considerando os 7 (sete) mil hectares das áreas de renovação nos estados da Bahia e de Tocantins, as principais variedades utilizadas foram: CTC9003 (19,0% da área de plantio), RB0442 (18,2%), RB975201 (18,0%), RB867515 (14,2%), IACSP95-5094 (11,1%) e CTC9001 (7,0%).

 

ESPÍRITO SANTO

O Market share da área cultivada das principais variedades no estado de Espírito Santo é apresentado na Figura 2. Neste estado já foram recenseados 54 mil hectares e apenas a variedade RB867515 atingiu área superior a 5%. Os produtores capixabas estão muito concentrados nesta variedade, ocupando quase três quartos de suas áreas. Essa alta concentração é preocupante pois aumenta em muito o risco biológico desses produtores, pois eles ficam muito expostos em relação ao aparecimento de uma nova doença que afete essa variedade.


Figura 2 – Market share da área cultivada por variedades no estado do Espírito Santo – Safra 2021/22

 

Em relação às áreas de renovação, foram levantadas informações de 7 (sete) mil hectares plantados no Espírito Santo, sendo que as principais variedades utilizadas foram: RB867515 (51,2% da área de plantio), RB108519 (14,7%), RB966928 (5,8%) e RB975242 (5,6%).

 

GOIÁS

A Figura 3 apresenta o Market share da área cultivada das principais variedades no estado de Goiás. Nesse estado já foram recenseados 593 mil hectares e as variedades mais significativas foram, pela ordem: RB867515, CTC4, RB966928, IAC91-1099 e SP80-1816. Estas variedades foram responsáveis por 55% da área cultivada entre os produtores goianos.


Figura 3 – Market share da área cultivada por variedades no estado de Goiás – Safra 2021/22

 

Segundo o Censo Varietal IAC – Safra 2021/22, os produtores goianos plantaram 73 mil hectares, sendo que as principais variedades utilizadas foram: CTC4 (13,6% da área de plantio), RB867515 (11,0%), RB966928 (10,4%), CTC9003 (5,9%) e CV7870 (5,4%).

 

MATO GROSSO

A relação das principais variedades utilizadas no estado de Mato Grosso é apresentada na Figura 4. Neste estado foram levantadas informações de 167 mil hectares e as variedades mais significativas foram a RB867515, CTC4, SP83-5073, RB855453, IAC91-1099 e RB92579. Estas variedades foram responsáveis por 74% da área cultivada neste estado.

Os produtores do Mato Grosso são os que, proporcionalmente, mais utilizam das variedades IAC. Neste estado 13,8% das áreas cultivadas na safra 2021/22 foram ocupadas com variedades desenvolvidas pelo Programa Cana IAC. Essa posição deve se confirmar nas próximas safras, pois os produtores deste estado também foram os que mais plantaram as variedades IAC, ocupando 27,6% das áreas de renovação.


Figura 4 – Market share da área cultivada por variedades no estado do Mato Grosso – Safra 2021/22

 

A área de renovação recenseada entre os produtores do estado do Mato Grosso foi de aproximadamente 21 mil hectares, sendo que as principais variedades utilizadas foram: CTC4 (27,6% da área de plantio), RB867515 (13,4%), IACSP95-5094 (10,7%), IACSP01-5503 (8,2%) e RB855453 (6,2%).

 

MATO GROSSO DO SUL

No Estado de Mato Grosso do Sul, a relação das principais variedades utilizadas é apresentada na Figura 5. Neste estado foram levantadas informações de 561 mil hectares e as variedades mais significativas foram a RB867515, RB966928, CTC4, RB92579, RB855156 e CTC9001. Estas variedades foram responsáveis por 68% da área cultivada neste estado.


Figura 5 – Market share da área cultivada por variedades no estado do Mato Grosso do Sul – Safra 2021/22

 

No estado do Mato Grosso do Sul a área de renovação recenseada foi de 68 mil hectares, sendo que as principais variedades utilizadas foram: CTC4 (15,4% da área de plantio), RB867515 (12,9%), RB966928 (12,0%), RB92579 (11,7%) e CTC9001 (10,5%).

 

MINAS GERAIS

No estado de Minas Gerais foram levantadas informações referentes a 593 mil hectares (Figura 6). As variedades mais significativas cultivadas neste estado foram as seguintes: RB867515, CTC4, RB966928, CTC9001 e RB92579. Estas variedades foram responsáveis por metade da área cultivada entre os produtores mineiros. Os produtores do estado de Minas Gerais são os que estão mais diversificando as suas variedades. É interessante observar que a área de outras variedades (31%) no estado de Minas Gerais foi a maior entre os estados pesquisados.


Figura 6 – Market share da área cultivada por variedades no estado de Minas Gerais – Safra 2021/22

 

A área de renovação recenseada, na safra 2021/22, entre os produtores do estado de Minas Gerais foi de 101 mil hectares, sendo que as principais variedades utilizadas foram: RB966928 (12.4% da área de plantio), RB867515 (11,4%), CTC9002 (11,1%), CTC4 (10,0%) e CTC9001 (7,4%).

 

PARANÁ

O recenseamento do estado do Paraná resultou em 483 mil hectares levantados (Figura 7). Neste estado quatro variedades atingiram proporção superior a 5% da área cultivada (RB867515, RB966928, CTC4 e CTC9001). Estas variedades foram responsáveis por dois terços da área cultivada entre os produtores paranaenses, principalmente em função da grande proporção de área da variedade RB867515.


Figura 7 – Market share da área cultivada por variedades no estado do Paraná – Safra 2021/22

 

No estado do Paraná a área de renovação recenseada foi de aproximadamente 73 mil hectares, sendo que as principais variedades utilizadas foram: RB867515 (21,3% da área de plantio), CTC4 (14,6%), CTC9001 (10,7%), RB966928 (9,7%), RB988082 (8,7%) e CV7870 (5,6%).

 

SÃO PAULO

A Figura 8 detalha as informações das principais variedades no estado de São Paulo. Segundo a CONAB, esse estado é responsável por 57% da área utilizada com cana-de-açúcar na região Centro-Sul do Brasil. Entre os produtores paulistas já foram recenseados 3,5 milhões de hectares e as variedades que atingiram proporção superior a 5% foram: RB966928, CTC4, RB867515 e CTC9001. Estas variedades foram responsáveis 47% da área cultivada entre os produtores paulistas.


Figura 8 – Market share da área cultivada por variedades no estado de São Paulo – Safra 2021/22

 

Segundo o Censo Varietal IAC na safra 2021/22, os produtores paulistas plantaram aproximadamente 526 mil hectares, sendo que as principais variedades utilizadas foram: CTC4 e RB966928 (ambas com 11,7% da área de plantio), CTC9001 e RB867515 (ambas com 9,3%), RB975242 (7,4%) e RB975201 (5,2%).

 

CENTRO-SUL

Em relação à área total recenseada na região Centro-Sul na safra 2021/22, foram levantadas informações de 6 (seis) milhões de hectares (Figura 9). As quatro variedades atingiram proporção superior a 5% da área total cultivada foram, pela ordem, RB867515, RB966928, CTC4 e CTC9001. Estas variedades foram responsáveis por metade da área cultivada entre os produtores da região Centro-Sul.


Figura 9 – Market share da área cultivada por variedades na região Centro-Sul do Brasil – Safra 2021/22

 

A área de renovação recenseada, na safra 2021/22, pelo Censo Varietal IAC, na região Centro-Sul foi de aproximadamente 876 mil hectares, sendo que as principais variedades utilizadas foram: CTC4 (12.4% da área de plantio), RB867515 (11,4%), RB966928 (11,2%), CTC9001 (8,5%) e RB975242 (5,5%). Entre as variedades IAC a que mais se destacou foi a IACSP95-5094, com 2,3% das áreas de renovação.

 

Conclusão

Considerando as 12 variedades mais cultivadas em cada um dos cinco estados mais importantes na produção de cana-de-açúcar da região Centro-Sul (Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná e São Paulo), percebemos que apenas quatro delas (CTC4, CTC9001, RB867515 e RB966928) foram listadas em todos os estados. Isso demostra a diversificação no uso de variedades em função da sua adaptação aos diferentes ambientes edafoclimáticos.

Outras variedades com boa estabilidade foram a CTC9003 e RB92579, que apareceram na relação de quatro estados. Em seguida vêm as variedades CV7870 e RB855453 que foram listadas em três estados e, finalmente, as variedades RB975201, RB988082, SP80-1816 e SP83-2847 que estão entre as 12 mais cultivadas em dois dos maiores estados produtores.

Esses dados demonstram a crescente diversificação no uso de variedades que associada ao correto estudo do ambiente edafoclimático permite aproveitar ao máximo a interação genótipo e ambientes gerando ganhos superiores para os produtores.

O Programa Cana IAC agradece à todas as empresas que confiaram no nosso trabalho e enviaram os seus dados para que pudéssemos gerar essas análises.

• Rubens L. do C. Braga Jr. (rubenscensoiac@fundag.com) é proprietário da RBJ Consult e responsável pelo Projeto Censo Varietal IAC.

• Marcos G. de A. Landell é diretor do IAC – Instituto Agronômico de Campinas.