Na economia mundial e brasileira
• O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) cresceu 0,61% em abril, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os três principais segmentos que registraram alta mensal foram o de “Saúde e Cuidados Pessoais”, que cresceu 1,49%; o de “Vestuário”, cuja alta foi de 0,79%; e o de “Alimentação e Bebidas”, com crescimento de 0,71%. No caso da categoria de saúde, o aumento foi puxado pelo reajuste de até 5,60% nos preços dos medicamentos ao final de março e de 1,20% nos planos de saúde.
Nos alimentos, a alta veio por parte dos itens básicos, como o tomate (+ 10,64%), o leite longa vida (+ 4,96%) e o queijo (+ 1,97%). Para os alimentos fora do domicílio, a inflação teve uma variação de 0,60% para 0,66% entre março e abril, sendo que a refeição saiu de 0,41% e foi a 0,51%.
• No Boletim Focus de 12 de maio, o Banco Central do Brasil trouxe a atualização das previsões para a economia brasileira neste ano e no próximo. Em relação ao IPCA, foi estimado em 6,03% (alta em comparação a previsão de um mês atrás) para 2023 e em 4,75% para 2024 (baixa). Já o Produto Interno Bruto (PIB) deve crescer 1,02% ao final deste ano (alta mensal) e 1,38% no término do próximo (baixa). O câmbio deve encerrar 2023 em torno de R$ 5,20 (baixa em comparação há 4 semanas) e fechar 2024 em R$ 5,20 (baixa). Por fim, a taxa Selic foi mantida nos níveis indicados um mês atrás: em 12,50% em 2023 e 10,00% no próximo ano.
No agro mundial e brasileiro
• Após 12 meses consecutivos de baixas nos Preços de Alimentos da FAO (Agência das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação), o indicador registrou alta mensal em abril, de 0,8%, em relação a março, fechando em 127,2 pontos. Apesar da alta na comparação ao mês anterior, os preços ainda estão 20% abaixo do mesmo mês de 2022. Já o índice internacional de preços de cereais fechou abril em 136,1 pontos, quase 20% abaixo de abril passado, justificado pela baixa em diversos produtos da categoria. No caso do milho, a queda mensal foi de 2,3%, impulsionada pela maior oferta na América do Sul. Já o trigo, os preços caíram 2,3% por conta da disponibilidade do cereal para exportação na Rússia e Austrália.
• Neste mês de maio, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) divulgou o 1° acompanhamento mensal para a safra global de grãos em 2023/24. No milho, o órgão projeta uma produção mundial em 1,219 bilhão de t, alta de 6,0% em comparação a 2022/23 ou 69,4 milhões de t adicionais. A alta é justificada pela previsão de “retorno” na oferta do cereal em países como Estados Unidos e Argentina, ambos fortemente afetados pelo clima no ciclo passado. Entre os principais produtores, o cenário será o seguinte: Estados Unidos irão produzir 387,7 milhões de t (+11,2); China deve entregar 280,0 milhões de t (+ 1,0%); Brasil outros 129,0 milhões de t (-0,7%); e Argentina outros 54,0 milhões de t (+ 45,9%). Na Ucrânia, por conta do triste cenário de guerra que ainda persiste, a produção será a menor das últimas 10 safras com 22 milhões de t (-18,5%).
• Ainda em relação ao milho, vale o destaque de que a “baixa” de 0,7% na estimativa para a produção brasileira é justificada não por fatores negativos que afetam a produção, mas sim pelo resultado excelente que o ciclo atual deve entregar ao final de 2022/23. Vale lembrar que a produção de 2021/22 foi de 116,0 milhões de t; em 2022/23 a previsão é de 130,0 milhões de t; e para a próxima, o USDA reajusta para 129,0 milhões de t. Em nossa visão, há chances de superarmos estes resultados, a depender do clima e dos preços do grão (estímulo aos agricultores).
• Já em relação ao comércio internacional, vale o destaque de que o Brasil deve exportar 56,0 milhões de t neste próximo ciclo, passando de vez os Estados Unidos, que irão embarcar 54,0 milhões de t. Ou seja, estamos diante de uma mudança estrutural e não mais conjuntural, como observado em 22/23. Como resultado da maior oferta de milho em 2023/24, os estoques finais devem ficar em 312,9 milhões de t, alta de 5,2% no comparativo com o ciclo anterior.
• Para a cultura da soja, os números chamam bastante atenção! Isso porque o USDA estima uma oferta global de 410,6 milhões de t da oleaginosa, um crescimento de 10,9% ou 40,2 milhões de t a mais do que 2022/23. No Brasil, principal produtor, a oferta deve crescer de 155,0 (22/23) para 163,0 (23/24) milhões de t, alta de 5,2%. Com esse resultado, aproximadamente 40% da soja produzida no mundo será do nosso país. Outros países se destacam: Estados Unidos irão ofertar 122,7 milhões de t (+ 5,4%); Argentina outros 48,0 milhões de t (+ 48,1%); e China deve produzir 20,5 milhões de t (+1,0%).
• Em relação as transações envolvendo a soja, 56,0% do comércio global será do Brasil, com exportações em 96,5 milhões de t (+ 3,8%). Na sequência, aparece os Estados Unidos com 53,8 milhões de t (-2,0%) e 31,2% de participação. Consequência da alta expressiva na produção, os estoques globais de soja devem somar 122,5 milhões de t ao final de 2023/24, o maior valor da história, 21,2% superior ao do ciclo passado ou 21,5 milhões de t a mais. Vamos ficar de olho se estes números se confirmam, uma vez que eles serão a principal referência para o comportamento dos preços.
• No algodão, o USDA indica que a produção deve ser menor em 2023/24, em 0,5%, estimada em 25,2 milhões de t. O principal impacto deve ser registrado na China, cuja oferta será de 5,98 milhões de t (- 10,5%). Índia, Estados Unidos e Brasil completam a lista com produções em 5,55 (+4,1%), 3,38 (+7,9%) e 2,89 (+1,9%), respectivamente. Já o consumo global deve crescer 6,0% neste novo ciclo, totalizando 25,3 milhões de t. Por fim, do lado das exportações, os Estados Unidos devem seguir na ponta com 2,93 milhões de t embarcadas da pluma (+7,1%), mas veem o Brasil se aproximar com 1,89 milhão de t (+ 26,0%) e já responder por 20,0% do comércio mundial da pluma.
• E por falar nos Estados Unidos, o ritmo de plantio segue acelerado por lá. No milho, até o dia 14 de maio, 65% das áreas já haviam sido plantadas, contra 45% há um ano e 59% na média das últimas 5 safras. Já na soja, o progresso era de 49% no mesmo período, contra 27% na mesma data de 2022 e 36% na média dos 5 ciclos anteriores. Já em relação à emergência das plantas, 30% das lavouras de milho já emergiram (25% na média histórica) e 20% para a soja (11% nos últimos 5 ciclos). Dados são também do USDA.
• No Brasil, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgou o 8° levantamento com o acompanhamento da safra 2022/23 de grãos no país, revisando para cima a estimativa de produção: era de 312,5 milhões de t (abril) e foi a 313,9 milhões de t (maio). Se confirmada, a oferta será 15,2% superior a do ciclo passado. O reajuste veio, principalmente, em função da boa evolução das lavouras de milho 2ª safra pelo país. Ao todo, o cereal deve entregar 125,5 milhões de t (+11,0%), sendo 27,04 milhões de t (+ 8,1%) na 1ª safra; 96,14 milhões de t (+ 11,9%) na 2ª safra; e 2,35 milhões de t na 3ª safra (+ 6,2%).
• Com a colheita praticamente finalizada no país, a produção de soja foi também revista para cima pela Conab, de 153,63 milhões de t em abril para 154,81 milhões de t agora em maio. Com isso, a colheita da oleaginosa deve crescer 23,3% 96 Revista Canavieiros este ciclo. Já no algodão, a previsão é de 2,90 milhões de t de pluma, 13,6% a mais do que as 2,55 milhões de t colhidas em 2021/22.
• Em relação à comercialização da soja, até o dia 05 de maio, 51% do volume produzido em 2022/23 havia sido vendido pelos agricultores brasileiros (versus 61% no mesmo período de 2021/22). Já em relação à próxima safra, 2023/24, o ritmo de venda antecipada também segue lento: 6,0% de avanço contra 12,0% na mesma data de 2022/23. Os dados fazem parte de levantamento da consultoria Safras & Mercado.
• Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) o déficit de armazenagem de grãos em 2023 no Brasil pode chegar a 118,5 milhões de t; resultado de uma produção em torno de 312,5 milhões de t versus capacidade de armazenagem em 194,0 milhões de t. Este déficit é 41,2% superior ao registrado na safra passada (83,9 milhões de t), comportamento que tem impactado diretamente o mercado e preços internos dos grãos.
• Nas culturas de inverno, a Conab indica uma queda de 9,4% na produção total de 2022/23, que podem ser impactadas pelo clima e investimentos nas lavouras. A previsão é de 11,2 milhões de t, com destaque para o trigo (9,55 milhões de t |- 9,4%). Vale lembrar que os cultivos de inverno ainda estão em fase inicial de plantio, ou seja, os números ainda estão sujeitos a variações mais significativas.
• No campo, as lavouras de milho 2ª safras encontram-se diante dos seguintes estágios fenológicos, segundo a Conab: 49,3% estão em enchimento de grãos; 32,0% em floração; 14,1% em desenvolvimento vegetativo e apenas 4,1% em maturação. Nenhuma área registrou colheita do cereal de safrinha, até o momento. Já no algodão, temos o seguinte cenário: 61,6% das lavouras se encontram em formação das maças; 37,9% estão sob maturação; e 0 ,2% já foi colhido.
• Em relação ao trigo, a colheita tem evoluído bem nas últimas semanas, especialmente nos estados de Goiás, Minas Gerais e Bahia, onde os avanços são de 90,0%, 97,4% e 90,0%, respectivamente. Na região Sul do Brasil, principal produtora, apenas o estado do Paraná já registra operações de colheita, com 39,0% de progresso. Rio Grande do Sul e Santa Catarina ainda estão em estágios anteriores, em vista do período de cultivo durante a safra de inverno. Com isso, a média nacional de colheita do trigo alcançou 25,3% até o dia 13 de maio, segundo a Conab, contra 16,2% no mesmo período do ano passado.
• Na atualização mensal de maio, o Valor Bruto da Produção (VBP) Agropecuária de 2023 foi estimado em R$ 1,215 trilhão, alta de 4,7% em relação ao ano anterior. Nas cadeias de produção agrícola (lavouras), o VBP deve ser de R$ 868,9 bilhões (+ 8,0%), enquanto que na pecuária o resultado esperado é de R$ 347,9 bilhões (- 2,6%). Segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), as culturas que devem ter melhor desempenho neste ano são a mandioca (+ 37,3%), laranja (+ 28,3%), o feijão (+ 20,9%), enquanto soja, milho e cana-de-açúcar devem crescer 10,5%, 6,5% e 10,1%, respectivamente. Os destaques negativos ficam para as carnes bovinas e de frango.
• Nas exportações, o agronegócio brasileiro vendeu US$ 14,75 bilhões em abril, queda de 0,6% no comparativo com o mesmo mês de 2022, segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Com o resultado, o setor representou 53,9% de todas as exportações brasileiras no mês. Segundo o Mapa, foram 14,3 milhões de t embarcadas de soja (+25,0%), 134 mil t de carne bovina (- 27,8%), 369 mil t de milho (-31,9%), 969 mil t de açúcar (-26,2%) e o etanol com 193 milhões de litros (+ 104,7%).
• O top 5 dos produtos mais exportados pelo setor, em função da receita, foi formado em 1° lugar o complexo soja com US$ 8,89 bilhões, alta de 10,3% no comparativo mensal, sendo que a soja em grãos participou de 87,2% (US$ 7,75 bilhões). O volume total da categoria também cresceu 21,2%, somando 16,2 milhões de t. Em 2° aparecem as carnes, segmento que registrou queda de 19,2% nas receitas com US$ 1,74 bilhão exportado, dos quais: US$ 827 milhões foram relativos a carne de frango (+ 3,2%); US$ 619 milhões a carne bovina (-43,8%); e US$ 249 milhões para a suína (+ 30,5%). Em 3° ficaram os produtos florestais com US$ 1,24 bilhão (-16,3%), sendo que celulose, madeiras e papel participaram com 53,0%, 30,8% e 16,2%, respectivamente. Na sequência (4°) ficou o complexo sucroalcooleiro com US$ 617 milhões (+ 3,8%), destaque para alta de 84,8% nas receitas de etanol (US$ 157 milhões). Por fim, em 5°, ficou o café com receita de US$ 583 (-20,7%).
• Do lado das importações, o agro adquiriu US$ 1,22 bilhão em abril (- 7,0%), o que resulta em um saldo de US$ 13,52 bilhões, praticamente o mesmo registrado em abril passado. No acumulado de 2023, exportamos US$ 50,60 bilhões (+ 4,3%), importamos US$ 5,69 bilhões (+11,9%) e somamos um saldo de US$ 44,91 bilhões (+ 3,38%).
• Ainda sobre o comércio internacional, uma boa Maio de 2023 97 notícia é que o Brasil já recebeu autorização de 18 novos mercados para exportações de agroprodutos em 2023; é o que informou o Mapa em nota. Entre os destaques estão a abertura da carne suína no México, a ampliação das cotas de carne de frango no Reino Unido e a reabertura de alguns produtos pela Argentina.
• Um estudo feito pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) e Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais) indicou que o PIB da cadeia produtiva da soja e do biodiesel somou R$ 673,7 bilhões em 2022, 27% de todo o PIB do agro nacional. Quando o acompanhamento foi iniciado, em 2010, a participação era de apenas 9,0%. Já em relação aos empregos, a cadeia gerou 2,05 milhões de ocupações no último ano, 80% a mais do que em 2012, ampliando a participação no setor de 5,8% para 10,8%.
• Na cadeia da laranja, o Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus) divulgou, no último dia 10 de maio, a 1ª estimativa para a safra 2023/24 de laranja no Cinturação Citrícola de São Paulo e Triângulo/Sudoeste de Minas Gerais. O órgão prevê uma colheita de 309,34 milhões de caixas (40,8 kg), alta de 1,55% no comparativo com a safra passada (2022/23). Entre os fatores que sustentam a projeção estão: 1) a bienalidade negativa de produção, o que resulta em menor carga de frutos por árvore; 2) o índice de chuvas acima da média histórica; 3) o florescimento menos expressivo em algumas variedades tardias; e 4) a incidência e severidade do greening.
• Outro fato relevante neste mês foi o registro dos três primeiros casos de gripe aviária de alta patogenicidade no Brasil, detectados em aves marinhas no estado do Espirito Santo. O comunicado foi feito pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), que declarou “estado de alerta”, com a finalidade de ampliar a mobilização do setor em prol dos cuidados veterinários e zootécnicos. Apesar do relato, o Brasil segue com o status de país livre de influenza aviária e não há riscos para a alimentação humana.
• Maio também foi mês de realização da edição de 2023 da Agrishow, uma das maiores feiras de tecnologia e inovação agrícola do mundo, que acontece em Ribeirão Preto - SP. O evento registrou R$ 13,29 bilhões em vendas, alta de 9,5% na comparação com a edição anterior (2022). Participaram do evento mais de 195 mil pessoas, 5 mil a mais do que o público do ano passado. Já a Prefeitura de Ribeirão preto informou que a feira gerou 5 mil empregos temporários na cidade, além do aumento de 24% nos resultados de comércios, bares e restaurantes.
• E concluindo a nossa análise do agronegócio, seguem os preços dos principais produtos do setor na data de fechamento da nossa coluna. A soja, para entrega em cooperativa do estado de São Paulo, estava cotada em R$ 134,30/sc (60 kg) no preço FOB e em R$ R$ 129,30/sc para mar/24. Já o milho físico registrava preços em R$ 57,00/sc e futuros (B3) em R$ 62,95/sc para nov/23 e R$ 68,60/sc para mar/24. O algodão (Base Esalq) estava em R$ 125,48/@. Outros produtos registravam os seguintes preços com base no Cepea/Esalq: o boi gordo em 273,60/@; café arábica em R$ 1.037,39/sc (60kg); o trigo Paraná em R$ 1.438,83/t; e a laranja para indústria em R$ 40,00/cx (40,8kg) a prazo.
Os cinco fatos do agro para acompanhar em maio são:
1. Seguir olhando semanalmente para as atualizações do progresso da safra de grãos nos Estados Unidos. Como vimos, o ritmo de plantio e desenvolvimento das lavouras segue bastante positivo. Com a nova projeção da oferta global de grãos bastante superior em 2023/24, o comportamento da mega safra americana deve balizar bastante os preços nos próximos meses.
2. No Brasil, seguir de olho no clima e desenvolvimento da nossa 2ª safra de milho. Ao que parece, a expectativa é cada vez mais positiva, com a previsão de 125 milhões de t se confirmando. Vamos torcer para que as frentes frias a caminho ou mesmo os efeitos do El Niño não prejudicam as lavouras.
3. Observar o câmbio, que segue tendência de queda. Há um mês, estava em R$ 5,08, foi a R$ 4,88 em 13 de maio e registrava R$ 4,94 na data de fechamento da nossa coluna. Nossa análise é de que deve seguir oscilando para baixo até o final do ano. Vale lembrar que isso é positivo do ponto de vista dos preços dos insumos (boa parte com matérias-primas importadas), mas impacta também as cotações das commodities agrícolas negociadas em dólar.
4. Seguir acompanhando as definições relativas ao Plano Safra 2023/24. A previsão inicial é de que seria lançado em maio, mas até o fechamento do nosso artigo (16) ainda não haviam sido divulgadas informações. Importante analisar a questão de juros e disponibilidade de crédito.
5. Por fim, seguir acompanhando os outros fatos de conjuntura no cenário nacional e internacional: 98 Revista Canavieiros Guerra entre Rússia e Ucrânia; economia global; as discussões do arcabouço fiscal no Brasil e outros.
Reflexões dos fatos e números da cana em abril/maio e o que acompanhar em junho
Na cana
• O primeiro mês da safra 2023/24 na região Centro-Sul fechou bastante produtivo. Foram 34,8 milhões de t de cana-de-açúcar moídas (+ 18,8%) contra 29,3 milhões de t no mesmo período do ano passado, segundo a União da Indústria de Cana-de-açúcar e Bioenergia (Unica). Ainda assim, vale destacar que a 2ª quinzena do mês registrou um grande volume de chuvas que inviabilizou as operações de colheita em algumas regiões.
• Segundo a Unica, as usinas da região Centro-Sul perderam até 10 dias de colheita em abril em função das chuvas. Somado a isso, a chance de El Niño no 2° semestre é um grande ponto de atenção que pode novamente levar ao alongamento da safra, além de prejudicar a qualidade da cana.
• Ao término de abril, 209 usinas estavam em operação na região (eram 184 no mesmo período do ano passado), sendo 197 unidades para processamento de cana, 7 exclusivas para fabricação do etanol de milho e outras 5 usinas “flex” (que produzem etanol tanto com a cana como com o milho).
• Em relação ao teor de ATR (Açúcar Total Recuperável) na cana, a 2ª quinzena de abril registrou melhora no indicador com 112,79 kg por t (+ 2,34%). Já abril fechou com 110,88 kg de ATR por t de cana-de-açúcar, alta de 2,5% em relação ao mesmo mês de 2022.
• No mercado de CBios, dados da Bolsa de Valores Brasileira (B3) indicam que até o dia 09 de maio, 10,93 milhões de CBios foram emitidos. No contexto do programa RenovaBio, 44,30 milhões de créditos de descarbonização haviam sido adquiridos pela parte obrigada no programa até a data em questão. Vale lembrar que esse valor representa o estoque de passagem em 2021, mais os créditos adquiridos em 2022 e 2023, considerando a postergação do prazo vigente no programa.
No açúcar
• A produção do adoçante em abril somou 1,53 milhão de t, alta de 43,65% em comparação ao mesmo período de 2022/23, quando foram produzidas 1,07 milhão de t, segundo a Unica.
• Já as exportações de açúcar fecharam abril em queda, quando comparado ao mesmo mês de 2022. Foram US$ 458,3 milhões (-9,7%) e 969 mil t (-26,2%). A queda no faturamento tem relação direta com a baixa nos volumes embarcados; foram 344 mil t do adoçante a menos. No entanto, no acumulado de 2023 (janeiro a abril), os volumes estão maiores do que em 2022 e somam 5,96 milhões de t (+ 2,4%), enquanto as receitas totalizam US$ 2,70 bilhões (+19,8%). Os dados foram compilados pelo Mapa.
• E com as preocupações relacionadas à quebra de safra na Ásia, bem como a maior chance de ocorrência do El Niño no Brasil, os preços do açúcar seguem comportamento de alta. No fechamento da nossa coluna, o bruto em Nova York para julho/23 estava cotado em 26,29 centavos de dólar por libra-peso; enquanto que o de outubro/ 23 estava em 25,95 cts/lb. Em Londres, o crescimento também veio: contratos de julho/23 fecharam em US$ 717 a t; enquanto que para outubro/23 estava em US$ 707/t.
• No Brasil, o açúcar cristal branco em São Paulo (Cepea/Esalq) estava em R$ 134,59/sc (60kg) há 30 dias e foi a R$ 149,09/sc na data de fechamento da nossa coluna (16/05), alta de 10,8%.
No etanol
• Abril registrou produção de 1,76 bilhão de litros do biocombustível, alta de 17,45% na comparação com abril passado. Destes, 1,12 bilhão de litros ou 63,6% correspondem ao hidratado (-10,42%), enquanto o anidro mais que dobrou, com 634,40 milhões de litros produzidos (+ 161,2%). Ainda de acordo com a Unica, 24,6% do total fabricado (ou 432,3 milhões de litros) teve o milho como matéria-prima, alta de 53,8% em relação ao mesmo período do ciclo anterior.
• Já em relação às vendas, foram comercializados 2,08 bilhões de litros de etanol em abril, queda de 6,0%, sendo que 93,75% foram vendidos no mercado doméstico e 6,25% destinados à exportação.
• Em relação às vendas domésticas, 1,12 bilhão de litros do hidratado foi comercializado pelas usinas com as distribuidoras em abril, queda de 18,5%; e do anidro, foram 833,8 milhões de litros, alta de 13,8%. Já no mercado externo, foram vendidos 90,76 milhões de litros do hidratado (+ 143,52%) e 36,48 milhões de litros do anidro (+47,7%). Os dados foram também compilados pela Unica.
• Por fim, em relação os preços, o Indicador Semanal do Hidratado Combustível em São Paulo (Cepea/Esalq) estava em R$ 2,6373/litro em 12 de maio. Há um mês, os preços eram de R$ 2,8953/l, ou seja, estão aproximadamente 26 centavos de real mais barato ou 8,9% a menos. Vale lembrar que na semana de 20 de abril, os preços chegaram a R$ 3,0917/l. O início da safra na região Centro-Sul, que ampliou a oferta do biocombustível, é o principal fator que explica o comportamento de baixa.
Para concluir, os cinco principais fatos para acompanhar em abril na cadeia da cana:
1. Observar o clima na região Centro-Sul neste próximo mês, especialmente o regime de chuvas, buscando compreender os impactos nas operações de colheita e andamento da moagem.
2. Alinhado ao item anterior, acompanhar as previsões meteorológicas para o 2° semestre, considerando o aumento da probabilidade de ocorrência do fenômeno El Niño no Brasil. A depender de como será o clima, há chances de prolongamento da colheita/moagem. Vamos acompanhar.
3. Resultados de produtividade e qualidade da matéria- prima neste início de safra. Com as novas lavouras sendo colhidas, estes indicadores serão decisivos para compreender o que pode acontecer com os preços do ATR, bem como com os resultados agrícolas e industriais.
4. Vendas de etanol pelas usinas, bem como o consumo do hidratado nos postos de combustível. Com o início da safra e maior oferta do biocombustível, o que tem amenizado os preços, é importante acompanhar como será a decisão de compra do consumidor, especialmente considerando a política de preços do novo governo, que já prevê redução de preços da gasolina.
5. Por fim, no açúcar, vamos observar como os preços elevados no mercado internacional têm impactado na decisão do mix de produção das usinas no Brasil, bem como continuar de olho nos importantes players globais: Índia, Tailândia, China e outros.
Valor do ATR: a safra 2022/23 encerrou com o acumulado em R$ 1,1707/kg, a nossa aposta aqui na coluna durante boa parte do ciclo. Relembrando o histórico: começamos a safra com R$ 1,2453/kg em abril; fomos a R$ 1,2037/kg em julho; caímos para R$ 1,1079/kg em outubro; voltamos a R$ 1,1682/kg em fevereiro; e março fechamos com R$ 1,2019/kg, o que possibilitou o reajuste para cima no valor final. Para 2023/24, nossa expectativa inicial é de que os preços se mantenham neste nível. Vamos torcer! Marcos Fava Neves é professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP, em Ribeirão Preto, e da FGV, em São Paulo, especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos e outros materiais em doutoragro.com e veja os vídeos no Youtube (Marcos Fava Neves). Vinícius Cambaúva é associado na Markestrat Group, mestrando em Administração de Organizações pela FEA-RP/USP e especialista em comunicação estratégica no agronegócio. Vitor Nardini Marques é associado na Markestrat Group e mestrando em Administração de Organizações pela FEA-RP/USP.
Homenageado do mês
Neste mês, nossa singela homenagem vai para o Francisco Matturro, o “Chiquinho”, que acaba de concluir sua gestão como presidente de uma das maiores feiras de tecnologia agrícola do mundo, a Agrishow. Pelo sucesso da edição 2023, que teve mais de 195 mil visitantes e movimentou R$ 13,3 bilhões em negócios, fica aqui o nosso reconhecimento a esse grande líder do nosso setor!