Irmãos Delarco conseguem colocar em prática todo o seu conhecimento
Quem já teve a oportunidade de conhecer a forma com que os irmãos Delarco, Ricardo e Renato, sediados em Monte Azul, trabalham, sabem do alto nível de tecnicidade que condicionam ao seu canavial.
Para produtores como eles, atravessar condições climáticas próximas da normalidade é o cenário perfeito para colocar em prática o imenso arsenal de técnicas de manejo que se tem conhecimento.
Mediante a relação enorme de atividades, a conversa começou pela adubação e correção, ações que são conduzidas através da filosofia de depositar no solo o que a cana tem capacidade de utilizar ao longo de uma safra.
Atualmente é feito o uso do calcário reativo na quantidade de 300 kg/ha acrescido de 60 kg de enxofre pastilhado a 90% com o objetivo de corrigir o pH do solo e mantê-lo entre 6 e 7, perante o enriquecimento do ambiente com cálcio e magnésio.
Implemento utilizado para fazer cipós em cima da cana e cercas (1), bordadura e carreador (2) e boca de rua (3)
Quanto à adubação, é praxe o uso dos organominerais, mais especificamente uma mistura da formulação 10-05-10 de NPK adicionado com esterco de galinha poedeira, tendo essa receita mudanças conforme o resultado do talhão na safra anterior e também a adoção de novas tecnologias, tanto de produtos como de aplicação.
A dose direcionada para o solo nos canaviais de primeiro ao terceiro corte é de mil quilos por hectare e, a partir da quarta safra, a quantidade é reduzida em 20%.
Ricardo justifica a prática pela importância do composto orgânico na estruturação do solo, pois a presença do carbono contribui para a evolução de seu CTC, o que diminui a lixiviação de nutrientes e eleva o tempo de presença dos insumos disponíveis para o sistema radicular.
Ainda faz parte da estratégia de nutrição o uso de foliares, dos quais são aplicados ao longo de três meses (novembro, dezembro e janeiro). Sendo as duas primeiras aplicações acompanhadas do fungicida, contendo na calda 2,5 kg de nitrogênio e um complexo de micronutrientes. É válido ressaltar que na aplicação de novembro também vai uma dose de enraizador, enquanto que na de janeiro o nitrogênio vai apenas acompanhado do defensivo para a broca.
Entretanto, a grande novidade no manejo de correção e adubação está em fase final de testes, devendo entrar em operação já no início de reforma dos talhões, que acontecerá imediatamente após a colheita de 2020.
Trata-se de um subsolador profundo (haste com cerca de 60 cm) dotado, em suas costas, de um aplicador ligado a uma turbina, despejando o produto que estiver na caixa de modo pressurizado.
Visão geral do conjunto trator mais implemento (esse é um protótipo disponibilizado para testes pelo fabricante)
A busca pela solução partiu do momento em que os agricultores entenderam que ao aplicar o calcário somente sobre a linha aproveita-se pouco do potencial do insumo. Por isso, a ideia de desenvolvimento de uma máquina que não apenas deposite o produto, mas o fixe com pressão tanto no fundo como nas paredes do rasgo feito pelo subsolador.
O equipamento terá duas hastes e ainda será acoplado a uma plantadora de crotalária. Claro que, para empurrar tudo isso, os produtores investiram em um trator com 250 cavalos de potência.
Os meses que fecham e abrem o ano em condições climáticas normais, ou seja, molhados, é sinal de um grande desafio em todo canavial - o controle das plantas daninhas. Para esse manejo, os Delarcos, que também contam na equipe com o sobrinho e engenheiro agrônomo Fábio, executam trabalhos distintos com alvos para folhas estreitas e largas.
Para as gramíneas, a estratégia é de aplicação da mistura industrial do Isoxaflutole com o Indaziflam, conhecido comercialmente como Provence Total, produto de aplicação na fase de pré-emergência, logo após o corte ou o plantio, com alto poder residual. Eles justificam a escolha apontando que a tecnologia, que está há quase um ano no mercado, perdeu o perigo da fitotoxidade de seu antecessor (o tradicional Provence) muito em decorrência dele ser uma suspensão concentrada, e ficar ativa por muito mais tempo.
Quando o papo muda para as folhas largas, a tecnologia também aparece. Isso porque eles contam que contrataram os serviços de uma empresa que sobrevoa toda a operação (a mil metros de altitude e com precisão de oito centímetros) quando a cana já está formada, identificando as reboleiras (mucuna, mamona, entre outras).
Com a localização georreferenciada, logo após o corte, é possível trabalhar o banco de sementes com precisão. Para isso, o princípio ativo predileto é a Amicarbazona, conhecido no mercado como Dinamic.
Como desenvolveram em seu autopropelido um sistema de bicos duplos, que pode carregar dois produtos separados na mesma barra, após a colheita eles fazem 100% do canavial com o Provence Total. Já nas áreas identificadas pelo avião, o autopropelido abre o bico contendo o Dinamic para atacar os resistentes bancos de sementes das largas com taxa variável.
Na operação há uma terceira frente de combate, que tem como alvo a limpeza dos carreadores, bordaduras, entradas de ruas e outros lugares mais pitorescos onde o mato pode se alocar e transferir sementes para o canavial.
Utilizando o mesmo conceito do autopropelido (com dois bicos), os produtores fazem uso de um pulverizador contendo três blocos de aplicação. O primeiro é uma barra localizada na traseira do implemento, a qual alcança as daninhas de carreadores e bordaduras com dois produtos que não precisam, especificamente, ser seletivos como o Glifosato, pois há proteção atrás e dos lados contra eventuais névoas que poderiam trazer alguma fito às folhas da cana.
Para executar esse serviço é necessário pelo menos um trator de 200 cv
O segundo recurso são outros dois bicos instalados do lado direito e posicionados na horizontal, capazes de atingir uma distância confortável para combater a propagação de invasoras na boca de rua. Vale lembrar que como o bico é duplo, pode ser aplicado ao mesmo tempo defensivos para folhas largas e estreitas.
Para finalizar as virtudes do implemento, o seu terceiro dispositivo está localizado também do lado direito, com pouco mais de um metro de altura e utilizado para combater as plantas que sobem na própria cana, como os cipós numa eventual catação, e também em cercas e porteiras.
Com o mesmo zelo dispensado para o adubo e o mato, os irmãos também protegem sua lavoura contra as pragas. Para isso, adaptaram o cortador de soqueira, trocando a botinha para o jato dirigido atrás do disco de corte.
Outro detalhe desse processo é a opção por utilizar apenas duas linhas do implemento, isso porque, segundo eles, o risco de não cortar a soqueira - mesmo em áreas sistematizadas e com uso de GPS e o implemento de triplo - é muito alto, ao ponto de não valer a pena a redução de tráfego no talhão.
A razão que determinou essa mudança foi o fato de perceberem que, além de acumular palha, a botinha também abalava algumas soqueiras por onde passava.
As caldas são preparadas conforme o regime de precipitações, contendo na seca Fipronil (Regent, para primordialmente brigar com o Sphenophorus, mas com residual para cigarrinha e broca), acrescido de um enraizador, boro e zinco.
Na época úmida a única mudança é no inseticida. Entra o Imidacloprido (Imida Gold), elevando consideravelmente a dose por se tratar de um ganho expressivo na pressão de cigarrinha e Sphenophorus.
É válido destacar ainda que o processo de corte de soqueira pode ser abortado, caso a leitura do levantamento de pragas e o desempenho da cana não apresentem pressão de insetos.
Com o canavial formado, na mesma aplicação da nutrição (descrita anteriormente), se necessário, entra uma ferramenta para a broca seletiva aos inimigos naturais, de preferência algum produto do grupo das Diamidas, tendo como marcas prediletas dos Delarcos, o Belt ou o Altacor. Já em novembro e em janeiro é pulverizado o Triflumurom (Certero).
O mais interessante é que esse show de manejo não para por aí. Há ainda um amplo espectro de variedades, desde cultivares recentes como a CTC-9001BT até as que se perderam em algum lugar no passado, como a CV 618.
Perante esse conjunto de trabalhos de excelência, a operação cresce ultrapassando os dois mil hectares de cana produtiva e, o que é mais importante - de forma rentável - por ter sua qualidade reconhecida pelas unidades industriais onde é processada, o que se traduz em boas negociações, inclusive já sendo colocada na mesa as questões envolvendo o RenovaBio.
CV 618, cultivar esquecida no tempo, para ambiente E, é resgatada pelos produtores
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