“Com clima, crédito, câmbio e commoditie alinhados, nada segura o agronegócio”
18/06/2018
Agronegócio
POR: Revista Canavieiros
Por: Fernanda Clariano
Revista Canavieiros: Há 5 anos teve renovação de frota e houve grande volume de venda de tratores, máquinas agrícolas, mas foi o suficiente para renovar a frota do país?
João Carlos Marchesan: Houve um programa específico chamado PSI (Programa de Sustentação do Investimento). Essa linha foi oportuna naquele momento e fez com que parte da frota fosse renovada, já que ainda hoje tem idade média de 10 anos e precisamos de muitos programas como esse para voltar a ativar novamente para termos uma frota renovada. O Brasil em relação a máquinas agrícolas evoluiu muito nos últimos cinco anos, e muitos agricultores ainda estão desatualizados com plantadeiras, tratores e colheitadeiras. Foi uma grande evolução, principalmente naquilo que se refere à agricultura de precisão - muito mais tecnologia embarcada nas máquinas para proporcionar maior produtividade e redução de custos. Essa parte da agricultura 4.0 progrediu bastante e é preciso que as máquinas evoluam também, mas para isso elas precisam estar atualizadas. No Brasil quem planta cana e produz açúcar, por exemplo, faz o uso mais intensivo de máquinas quase que o ano inteiro e são máquinas em sua grande maioria com mais de 10 anos em média. Então não foi suficiente, é preciso continuar havendo renovação.
Revista Canavieiros:Evolução tecnológica, revolução das máquinas, conectividade. O senhor acredita que o agricultor está preparado para essas tecnologias?
Marchesan: Sim, está, e aquele que não estava, está se preparando. Hoje não é apenas o agricultor, o filho dele está se especializando - foi fazer faculdade, é técnico agrícola e está inclusive preparando mão de obra para esses desafios.
Revista Canavieiros:Como está o mercado de máquinas? O que o setor pode esperar para o segundo semestre deste ano?
Marchesan: Estamos vivendo um momento virtuoso. A questão do dólar que melhorou, do real que se desvalorizou frente ao dólar. Isso se reflete em renda. Os preços dos produtos estão em patamares desejáveis e fazem com que o agricultor tenha renda ou pelo menos veja a sua renda garantida. Isso o leva a prosperar o futuro e ele investe porque tem a necessidade de crescer. Hoje temos o Moderfrota – Programa de Modernização da Frota de Tratores Agrícolas e Implementos Associados e Colheitadeiras, que é uma boa linha de financiamento e propicia essa facilidade para que o agricultor possa investir. O Brasil é o país que vai se tornar o maior produtor agrícola do mundo nos próximos 20 anos. Hoje nós alimentamos 213 milhões de brasileiros e 1,7 bilhão de pessoas no mundo todo, com tendência a aumentar. Até 2050 vamos atender 40% da população mundial e precisamos renovar máquinas, melhorar a eficiência e a produtividade, o já vem acontecendo, e reduzir custos para se tornar cada vez mais eficiente.
Revista Canavieiros:Quais são os desafios do mercado de máquinas?
Marchesan: Os desafios sãoconstantes e o mercado deve estar atualizado. As fábricas estão avançando, evoluindo com suas máquinas, plantadeiras, colhedeiras, tratores inteligentes, com tudo aquilo que chamamos de agricultura 4.0, que é a revolução das máquinas. Tratores com piloto automático, autônomos e plantadeiras mais eficientes. É a agricultura tendo informações em tempo real através da internet das coisas, telemetria, este é o desafio que as fábricas acompanham atualmente e estão até à frente desse desafio hoje.
Revista Canavieiros:O senhor pode comentar sobre os quatro Cs do agronegócio: clima, câmbio,commoditie e crédito?
Marchesan: Quando o clima está bom, como estamos vendo, com exceção do Paraná, que está passando por uma seca, mas não deverá ter perdas, não tem geada. Quando o clima está bom existe crédito suficiente para o agricultor investir em longo prazo, com juros civilizados. Quando as commodities estão boas, como presenciamos agora com preços suficientes e necessários para o agricultor continuar investindo e temos um câmbio favorável exportador no campo de 3,50-3,55 - ele remunera melhor o agronegócio. Com a conjugação desses quatro fatores alinhados - clima, crédito, câmbio e commoditie, nada segura o agronegócio.
Revista Canavieiros:Quais as expectativas para o Plano Safra?
Marchesan: A expectativa é de que não deverá ser um Plano Safra com valores maiores do que foi no ano passado. O Governo tem hoje o teto dos gastos e não pode gastar mais do que a inflação do ano anterior. Com isso, deverá ter pouca variação dos valores, principalmente no custeio e nos investimentos, quer seja Moderfrota e todas as outras linhas, não deverá sofrer mais aumento. Esperamos também grandes reduções de juros como poderiam ocorrer, deveremos ter algo como 1% a menos na parte de investimentos nas taxas de juros. Os agricultores estão capitalizados, muitos deles investindo com recursos próprios para não fazer dívidas para o futuro. Eu acredito que teremos um Plano Safra igual ao ano passado, mas com uma visão mais positiva do mercado, o que leva o agricultor procurar fazer os seus investimentos.
Revista Canavieiros:Por gentileza, gostaria que comentasse sobre a questão da logística.
Marchesan: Isso no Brasil ainda é totalmente custosa e ineficiente. O Governo perdeu-se no tempo no momento em que deveria ter feito nos últimos 30 anos grandes parcerias - programas de parcerias e investimentosque são as grandes concessões ou privatizações para que pudéssemos construir mais ferrovias, portos, melhores formas de distribuição, quer seja por hidrovias ou mesmo por rodovias, pois o custo do frete é caro e a logística é muito ruim. Toda a safra que produz no Centro-Oeste deveria estar sendo escoada pelo arco Norte, que seria pela ferrovia Norte-Sul, mas desde 1986 ainda não está completa. A mesma coisa com o Ferrogrão que não saiu do papel. A BR-163, que grande parte do ano fica intransitável.
Revista Canavieiros: O que a Agrishow (Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação) representa para o setor de máquinas?
Marchesan: A Agrishow, assim como todas as outras feiras que acontecem no país, tem a sua importância, mas a Agrishow tem um apelo diferente - é a maior feira em campo aberto do mundo, onde são feitos grandes lançamentos e mudanças de tecnologias - paradigmas na agricultura brasileira e está num centro muito importante e forte do Brasil e já tem uma tradição. A Agrishow é a maior feira de máquinas agrícolas voltadas ao agronegócio.