Com pagamento e sem demanda, BNDES encolhe

30/05/2016 Geral POR: Valor Econômico
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) deve ter seu tamanho reduzido, na esteira da devolução antecipada de R$ 100 bilhões do banco ao Tesouro proposta na semana passada, mas também, pelo menos por enquanto, pela baixa demanda. Boa parte dos economistas considera que seja positivo ter um BNDES menor, no entanto, ainda existem divergências sobre qual seria o tamanho ideal do banco de fomento e como fazer a transição para um encolhimento mais expressivo dos desembolsos.
Com os pagamentos antecipados ao Tesouro, se não houver nenhum novo aporte, seria preciso se desfazer de ativos e readequar a estrutura de financiamentos a esta nova configuração, até por conta das regras, explica Sérgio Lazzarini, pesquisador do Insper especialista no estudo da eficiência de empresas e órgãos estatais. Na visão de Lazzarini e de outros economistas, como Carlos Kawall, economista­chefe do Banco Safra, isso seria bastante positivo, porque o banco acabou ficando muito inchado nos últimos anos. "O ideal é que os desembolsos não ultrapassem 2% do PIB, algo como R$ 120 bilhões", diz o professor do Insper.
Outros economistas como o ex­secretário de Política Econômica Julio Gomes de Almeida, ou o presidente do Banco BRP, Nelson Rocha Augusto, avaliam que essa poderia ser uma redução muito radical. Para Almeida, em um momento no qual a retomada da confiança e dos investimentos pode estar próxima, o recurso do BNDES fará falta. Para Augusto, um nível razoável de empréstimos ficaria em R$ 170 bilhões, mas o mercado de capitais também está apto a voltar de maneira rápida para ajudar no financiamento de projetos.
No momento, no entanto, nem é preciso entrar em tanta polêmica. Não há demanda. Os empréstimos do BNDES despencaram quase 30% em 2015. Nas contas de Kawall, o empréstimo total de R$ 18 bilhões do BNDES no primeiro trimestre deste ano ­ uma redução de 46% em comparação aos R$ 33 bilhões emprestados no mesmo trimestre de 2015 ­ corresponde a um volume anualizado de apenas R$ 72 bilhões. "A demanda está desabando".
Antes da crise financeira global em 2008, o Brasil passava por um momento de ouro no mercado de capitais, com um "boom" de operações de captação e lançamentos de ações na bolsa. Com isso, o volume de operações no mercado de capitais, apontado como a grande alternativa ao BNDES para financiar projetos de longo prazo no país, ultrapassou os desembolsos que eram feitos pelo banco de fomento. 
Após a crise, o banco voltou a ter forte atuação, com novos aportes do Tesouro, e os desembolsos atingiram seu pico em 2013, com R$ 190 bilhões, sob críticas de ter desestimulado o mercado de capitais e de não ter, ainda assim, elevado a taxa de investimentos. O banco e os defensores desta política afirmam que sem a atuação do BNDES a taxa de investimentos teria sido ainda pior.
Kawall, que também foi secretário do Tesouro, diz que o banco tem que ter uma atuação mais comedida no crédito subsidiado, algo que, segundo o Valor apurou, é partilhado inclusive por diversos profissionais do próprio banco. E que o encolhimento do BNDES ajudaria o processo de redução da taxa Selic e de recuperação da confiança, com foco maior na estruturação de operações de infraestrutura e no financiamento da pequena e média empresa.
Já economistas mais ligados ao setor industrial, como Júlio Gomes de Almeida, avaliam que o momento não é o mais adequado. "É um dinheiro que pode fazer falta num momento em que podemos começar a ver uma retomada de investimentos", diz ele. Para Almeida, o ideal seria esperar para implementar essas antecipações de pagamento em um momento que se tivesse mais clareza de que as taxas de juros estão caindo. Este movimento, diz, ajudaria empresas e projetos a encontrarem mais fontes de recursos alternativas ao BNDES. "Recurso para longuíssimo prazo, como são os projetos de infraestrutura, ainda praticamente não tem no Brasil fora do banco", diz ele. O argumento também foi usado pelo presidente do BNDES, Luciano Coutinho, em entrevista recente ao Valor.
É justamente o financiamento de longuíssimo prazo o foco mais adequado ao BNDES mais enxuto, diz o economista­chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges. "O prazo do setor bancário privado hoje é cinco anos e projetos de infraestrutura olham para horizonte muito além disso". Para Borges, a devolução antecipada de R$ 100 bilhões ao Tesouro certamente vai reduzir o potencial de financiamento em relação ao auge, quando emprestava quase R$ 200 bilhões por ano. O economista estima que hoje, só com recursos próprios, o BNDES tem uma capacidade de empréstimo de R$ 100 bilhões a R$ 120 bilhões por ano.
A medida divulgada, diz Borges, representa basicamente um encontro de contas entre BNDES e Tesouro, já que o banco tem R$ 90 bilhões em títulos do Tesouro. Ao receber R$ 100 bilhões do banco, o Tesouro cancelaria essa dívida. "No curto prazo, a operação não afeta tanto a capacidade de financiamento do banco, dado que existe ociosidade hoje no BNDES. De 2017 em diante, sem sombra de dúvida, a capacidade de desembolso vai ser reduzida pela metade, o que vai exigir uma mudança de foco do banco", diz Borges que vê como prioridade os setores de infraestrutura e inovação.
Para Nelson Rocha Augusto, do Banco Ribeirão Preto, não faltará doador de recurso no setor privado para projetos consistentes. "Tivemos algumas operações de captação recentemente que foram bem-sucedidas, o mercado está precisando colocar o dinheiro para trabalhar, o próprio volume de investimento direto continua alto no país", avalia. Ele não acredita, contudo, que a redução do BNDES deva ser tão brutal e os desembolsos poderiam ficar na casa dos R$ 170 bilhões. "Em relação aos R$ 190 bilhões de 2013, considerando a inflação, é uma redução bem razoável", diz. O que ele não vê ainda, no entanto, é ânimo do empresário para retomar investimentos.
Pedro Jucá Maciel, assessor econômico do Senado, lembra que a operação com o Tesouro pode ter alguma restrição legal, baseada na Lei de Responsabilidade Fiscal, que veda ao governo receber antecipadamente recursos de empresas públicas nas quais é controlador. "O que está em avaliação é se título público emprestado pelo Tesouro ao BNDES é caracterizado como recebível ou não", diz Maciel. Segundo ele, cabe ao governo construir um argumento justificável. "Seria ótimo se conseguisse".
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) deve ter seu tamanho reduzido, na esteira da devolução antecipada de R$ 100 bilhões do banco ao Tesouro proposta na semana passada, mas também, pelo menos por enquanto, pela baixa demanda. Boa parte dos economistas considera que seja positivo ter um BNDES menor, no entanto, ainda existem divergências sobre qual seria o tamanho ideal do banco de fomento e como fazer a transição para um encolhimento mais expressivo dos desembolsos.
Com os pagamentos antecipados ao Tesouro, se não houver nenhum novo aporte, seria preciso se desfazer de ativos e readequar a estrutura de financiamentos a esta nova configuração, até por conta das regras, explica Sérgio Lazzarini, pesquisador do Insper especialista no estudo da eficiência de empresas e órgãos estatais. Na visão de Lazzarini e de outros economistas, como Carlos Kawall, economista­chefe do Banco Safra, isso seria bastante positivo, porque o banco acabou ficando muito inchado nos últimos anos. "O ideal é que os desembolsos não ultrapassem 2% do PIB, algo como R$ 120 bilhões", diz o professor do Insper.
Outros economistas como o ex­secretário de Política Econômica Julio Gomes de Almeida, ou o presidente do Banco BRP, Nelson Rocha Augusto, avaliam que essa poderia ser uma redução muito radical. Para Almeida, em um momento no qual a retomada da confiança e dos investimentos pode estar próxima, o recurso do BNDES fará falta. Para Augusto, um nível razoável de empréstimos ficaria em R$ 170 bilhões, mas o mercado de capitais também está apto a voltar de maneira rápida para ajudar no financiamento de projetos.
No momento, no entanto, nem é preciso entrar em tanta polêmica. Não há demanda. Os empréstimos do BNDES despencaram quase 30% em 2015. Nas contas de Kawall, o empréstimo total de R$ 18 bilhões do BNDES no primeiro trimestre deste ano ­ uma redução de 46% em comparação aos R$ 33 bilhões emprestados no mesmo trimestre de 2015 ­ corresponde a um volume anualizado de apenas R$ 72 bilhões. "A demanda está desabando".
Antes da crise financeira global em 2008, o Brasil passava por um momento de ouro no mercado de capitais, com um "boom" de operações de captação e lançamentos de ações na bolsa. Com isso, o volume de operações no mercado de capitais, apontado como a grande alternativa ao BNDES para financiar projetos de longo prazo no país, ultrapassou os desembolsos que eram feitos pelo banco de fomento. 
Após a crise, o banco voltou a ter forte atuação, com novos aportes do Tesouro, e os desembolsos atingiram seu pico em 2013, com R$ 190 bilhões, sob críticas de ter desestimulado o mercado de capitais e de não ter, ainda assim, elevado a taxa de investimentos. O banco e os defensores desta política afirmam que sem a atuação do BNDES a taxa de investimentos teria sido ainda pior.
Kawall, que também foi secretário do Tesouro, diz que o banco tem que ter uma atuação mais comedida no crédito subsidiado, algo que, segundo o Valor apurou, é partilhado inclusive por diversos profissionais do próprio banco. E que o encolhimento do BNDES ajudaria o processo de redução da taxa Selic e de recuperação da confiança, com foco maior na estruturação de operações de infraestrutura e no financiamento da pequena e média empresa.
Já economistas mais ligados ao setor industrial, como Júlio Gomes de Almeida, avaliam que o momento não é o mais adequado. "É um dinheiro que pode fazer falta num momento em que podemos começar a ver uma retomada de investimentos", diz ele. Para Almeida, o ideal seria esperar para implementar essas antecipações de pagamento em um momento que se tivesse mais clareza de que as taxas de juros estão caindo. Este movimento, diz, ajudaria empresas e projetos a encontrarem mais fontes de recursos alternativas ao BNDES. "Recurso para longuíssimo prazo, como são os projetos de infraestrutura, ainda praticamente não tem no Brasil fora do banco", diz ele. O argumento também foi usado pelo presidente do BNDES, Luciano Coutinho, em entrevista recente ao Valor.
É justamente o financiamento de longuíssimo prazo o foco mais adequado ao BNDES mais enxuto, diz o economista­chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges. "O prazo do setor bancário privado hoje é cinco anos e projetos de infraestrutura olham para horizonte muito além disso". Para Borges, a devolução antecipada de R$ 100 bilhões ao Tesouro certamente vai reduzir o potencial de financiamento em relação ao auge, quando emprestava quase R$ 200 bilhões por ano. O economista estima que hoje, só com recursos próprios, o BNDES tem uma capacidade de empréstimo de R$ 100 bilhões a R$ 120 bilhões por ano.
A medida divulgada, diz Borges, representa basicamente um encontro de contas entre BNDES e Tesouro, já que o banco tem R$ 90 bilhões em títulos do Tesouro. Ao receber R$ 100 bilhões do banco, o Tesouro cancelaria essa dívida. "No curto prazo, a operação não afeta tanto a capacidade de financiamento do banco, dado que existe ociosidade hoje no BNDES. De 2017 em diante, sem sombra de dúvida, a capacidade de desembolso vai ser reduzida pela metade, o que vai exigir uma mudança de foco do banco", diz Borges que vê como prioridade os setores de infraestrutura e inovação.
Para Nelson Rocha Augusto, do Banco Ribeirão Preto, não faltará doador de recurso no setor privado para projetos consistentes. "Tivemos algumas operações de captação recentemente que foram bem-sucedidas, o mercado está precisando colocar o dinheiro para trabalhar, o próprio volume de investimento direto continua alto no país", avalia. Ele não acredita, contudo, que a redução do BNDES deva ser tão brutal e os desembolsos poderiam ficar na casa dos R$ 170 bilhões. "Em relação aos R$ 190 bilhões de 2013, considerando a inflação, é uma redução bem razoável", diz. O que ele não vê ainda, no entanto, é ânimo do empresário para retomar investimentos.
Pedro Jucá Maciel, assessor econômico do Senado, lembra que a operação com o Tesouro pode ter alguma restrição legal, baseada na Lei de Responsabilidade Fiscal, que veda ao governo receber antecipadamente recursos de empresas públicas nas quais é controlador. "O que está em avaliação é se título público emprestado pelo Tesouro ao BNDES é caracterizado como recebível ou não", diz Maciel. Segundo ele, cabe ao governo construir um argumento justificável. "Seria ótimo se conseguisse".