Combate à fome requer inovação e liderança forte - FAO
23/10/2012
Geral
POR: Agrolink com informações de assessoria
Uma a cada oito pessoas ou 870 milhões de habitantes passam fome no mundo. Apesar dos avanços registrados nos últimos anos no combate à fome - entre 1990 e 2012 o índice recuou de 23,3% para 14,9% -, o representante da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) no Brasil, o moçambicano Hélder Muteia, considera "estes números inaceitáveis".
Entre as recomendações da FAO para amenizar esta situação e atingir a meta de reduzir para 11,6% a taxa de pessoas que passam fome no mundo até 2015, o que significa um corte pela metade em números absolutos, Muteia destacou a necessidade de se encontrar lideranças fortes, apostar no cooperativismo e incrementar os investimentos em tecnologia, desenvolvimento e inovação.
Muteia participou no dia 19 do IV Fórum de Inovação, Agricultura e Alimentos, em Campinas (SP), na sede do Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL). O representante da FAO também apontou a contribuição da governança e o apoio a redes de proteção social como iniciativas em prol do combate à fome. "Não é uma solução definitiva, mas parte de um caminho em busca da erradicação deste problema", disse, citando como exemplo o programa Bolsa-Família, do governo federal brasileiro.
Em relação ao combate à fome no Brasil, o representante acredita que o país está na rota certa e que a situação já foi bem mais constrangedora para um país que é uma potência agrícola. A FAO aponta que atualmente 13 milhões de pessoas passam fome no Brasil. Em 1990, este número era de 23 milhões. O índice despencou de 14,9% para 6,9% no período.
O evento fez parte das comemorações da Semana da Alimentação da FAO, que em 2012, ano internacional do cooperativismo, teve como tema "Cooperativas Agrícolas Alimentam o Mundo". Muteia fez questão de destacar o papel do cooperativismo na erradicação da fome. Para ele, as cooperativas são o futuro que queremos em termos de aumento da produção agrícola com sustentabilidade e combate à fome. "A essência das cooperativas é o bem comum".
Dados da FAO indicam que as cooperativas geram 100 milhões de empregos, com faturamento anual de US$ 1,1 trilhão. No Brasil, o setor envolve 18 milhões de pessoas e é responsável por 40% do PIB agrícola do país.
Desafios
Muteia citou os principais desafios a serem enfrentados na erradicação da fome, destacando o crescimento populacional, a alta volatilidade dos preços das commodities, a escassez de água, as mudanças climáticas, o aumento da demanda por alimentos, a urbanização e a mudança nos hábitos alimentares.
A questão dos biocombustíveis também tem merecido atenção redobrada da FAO. "O etanol e o biodiesel se constituem em uma oportunidade na geração de renda e emprego, mas é um assunto que tem que ser tratado com inteligência, pois disputam espaço com a produção de alimentos", disse, lembrando que a cana para a produção do etanol rouba espaço dos cereais. No caso americano, que o combustível é derivado do milho, a competição com a destinação para a agropecuária é direta.
Devido à seca, a safra americana de milho deve ficar entre 10% e 12% menor que a do ano anterior, reduzindo os estoques globais e aumentando a volatilidade dos preços dos alimentos. Em decorrência deste quadro, a FAO pediu aos Estados Unidos um relaxamento no mandato que fez com que 40% da colheita americana fossem destinados à fabricação de etanol. "A recomendação da FAO é que o cultivo de cereais para a produção de biocombustíveis não utilize as terras mais férteis e que sejam eliminados os subsídios", completa.
Por Dylan Della Pasqua, de Campinas/SP