Na 22ª edição do Congresso da ABAG, a inovação e a governança emergiram como dois pilares fundamentais dessa nova era, moldando o futuro de maneira decisiva
O agronegócio, pilar fundamental da economia global, está em meio a uma revolução impulsionada pela inovação tecnológica e pela governança eficiente. Neste cenário, a combinação desses dois elementos tem moldado profundamente a forma como produzimos, gerenciamos e comercializamos alimentos.
Em sua 22ª edição, o Congresso da ABAG (Associação Brasileira do Agronegócio) 2023 abordou o tema Brasil Agro: Inovação e Governança reunindo especialistas e profissionais de diversos segmentos relacionados com os elos da cadeia produtiva do agro brasileiro.
O evento foi marcado pelas discussões profundas sobre os desafios e oportunidade que moldarão o futuro da agricultura brasileira e questões cruciais para o setor, como a busca pela eficiência produtiva aliada à conservação ambiental.
A programação contou com quatro painéis destacando: Cadeias Produtivas e Inovação; Inovação e Mercados; Governança e Perspectivas; e Geopolítica e Governança, onde craques do setor debateram os temas sob uma visão prospectiva a geopolítica e a realidade brasileira com fundamental equilíbrio público-privado que precisamos muito.
Na abertura, o presidente da ABAG, Luiz Carlos Corrêa Carvalho, ponderou que o setor cresceu em produtividade com tecnologia tropical e de baixa emissão de carbono e que a produtividade depende da tecnologia e de inovação, mas ainda não é suficiente. “São necessárias políticas públicas que melhorem o ambiente de negócios, garantir investimentos e ampliar o processo de inclusão”.
Na ocasião, Caio prestou homenagem a Alysson Paolinelli e anunciou em primeira mão a criação de um Centro de Memória, Cultura e Informação dedicado ao agronegócio que irá de chamar “Espaço Alysson Paolinelli”.
“A ABAG precisa valorizar os verdadeiros heróis do agro. Acabamos de perder Alysson Paolinelli, o maior revolucionário do agro tropical, comandante da maior revolução mundial para segurança alimentar. É o nosso primeiro congresso da ABAG sem ele e procurar na plateia o seu olhar de aprovação e não encontrar mais é muito difícil. Temos que agradecer muito por termos tido a chance de conviver com esse grande brasileiro”, disse emocionado.
O presidente da ABAG, o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, em rápida passagem destacou a importância da parceria entre indústria e agricultura. “Quanto mais forte o agro, mais ajuda a indústria, e quanto mais desenvolvida for a indústria, mais tecnologia para o agro”.
Já o governador de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas, destacou que o CAR (Cadastro Ambiental Rural) será mais efetivo quanto mais automático for. “Esse é nosso objetivo para conseguir cadastrar todas as 415 mil propriedades rurais, a fim de ter acesso ao crédito mais barato”, disse Freitas, que também anunciou que haverá um resgate da malha ferroviária paulista para escoamento de safra.
O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, por sua vez, afirmou que o desenvolvimento sustentável da agropecuária brasileira pode e vai ser a salvação alimentar para o mundo e ressaltou o crescimento da produtividade em 580%, nos últimos 50 anos. “Que outro país do mundo conseguiu isso? Temos um código florestal eficiente, produtores competentes, qualificados e treinados. Somos um exemplo nesse setor para o mundo”, enfatizou.
Segundo o CEO da B3, Gilson Finkelsztain, apesar do crescimento contínuo da capacidade de produção do agronegócio brasileiro nos últimos anos, ainda há muito a evoluir, especialmente em governança, inovação e investimento, área de atuação da B3 que, ao interligar o agro e o mercado de capitais, posiciona-os como importantes aliados no desenvolvimento e evolução do setor como um todo.
A solenidade de abertura também contou com as participações do secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Antônio Junqueira de Queiroz; do governador de Goiás, Ronaldo Caiado; da senadora Tereza Cristina; do deputado federal, presidente da FPA (Frente Parlamentar da Agropecuária), Pedro Lupion; do presidente da ApexBrasil, Jorge Viana, e do presidente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), João Martins.
Cadeias produtivas e inovação - O quão é importante a inovação dentro do processo produtivo e o quanto o Brasil tem oferecido? O primeiro painel, moderado pela presidente da EMBRAPA, Silvia Massruhá, reuniu os painelistas: Davide Ceper (CEO da Varda); Luiz Lourenço (CEO da Cocamar); Malu Nachreiner (CEO da Bayer Brasil) e Ricardo Scheffer de Figueiredo (CEO da Sonda Brasil).
“É importante pensarmos no protagonismo da agricultura brasileira em relação à agricultura mundial justamente porque ele está embasado em alguns pilares como a ciência, inovação e a governança”, disse Silvia.
“Quando falamos de inovação pensamos em novos produtos, novas tecnologias, isso sim é parte importante e, como integrantes de um setor que hoje é um dos principais pilares econômicos do país, entendemos a nossa responsabilidade em levar produtos e soluções inovadoras que impactem positivamente o produtor e o meio ambiente. E temos o papel de apoiar a evolução do setor em relação aos temas regulatórios e de ESG”, comentou a CEO da Bayer Brasil.
O painel mostrou que sem inovação, não teremos futuro. A capacidade de inovar de sonhar, de trazer visões é fundamental para o futuro do ser humano, da sociedade, do Brasil e do mundo. E que é a parceria público-privada é fundamental, sem ela a cadeia produtiva global e a inovação não progridem.
Inovação e mercados - O segundo painel foi moderado pelo vice-presidente da ABAG, Ingo Plöger e contou com a participação do vice-presidente da ANFAVEA, Alexandre Bernardes, do vice-presidente de Produtos e Clientes da B3, Juca Andrade, e do diretor da Brasilseg, Pablo Ricoldy, para sobre o processo de construir mercados dentro de um processo inovador.
De acordo com o vice-presidente da ANFAVEA - Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores, o agro está passando por uma grande revolução que traz cada vez mais benefícios. “Toda inovação tem a premissa de trazer mais eficiência na produção de alimentos. Nossas máquinas hoje pensam, falam e abordam toda a tecnologia existente”, explicou.
Governança e Perspectivas - O tema do terceiro painel trouxe para análise a evolução da governança e seus efeitos para o desenvolvimento do agro e do país e teve como moderador o jornalista William Waack e como debatedores a vice-presidente de Relações Institucionais e Sustentabilidade LATAM da Syngenta, Grazielle Parenti; o presidente da Cargill, Paulo Sousa; e o presidente do Conselho de Administração da Jacto, Ricardo Nishimura.
Na ocasião, Nishimura ressaltou a relevância da governança para harmonizar e equacionar questões fundamentais para o agro. “Precisamos equacionar as nossas métricas sobre agro, sustentabilidade, trazer um alinhamento interno para que possamos ir para fora e aí sim poder com muita força estabelecer as nossas conversas e o que queremos como agricultura tropical. Se conseguirmos equacionar no mais alto nível a governança do agro, a governança do nosso país, vamos resolver uma série de problemas”.
Já Grazielle destacou que é preciso trazer a conversa que está no campo para a cidade e aproximar os dois. “Tem um trabalho muito grande dentro da governança que é dar transparência, visibilidade pra que a gente construa a credibilidade. Não podemos nos esquecer que precisamos também de visibilidade sobre a questão ambiental”.
O presidente da Cargill na oportunidade enfatizou o atual momento de safra recorde e rendimentos jamais vistos e pontuou também as questões de falta de armazenagem e logística. “A preocupação com a armazenagem e logística nos mostra que há necessidade do setor como um todo continuar investindo na sua capacidade de armazenar, ainda mais com a safrinha. É necessário a visão do setor sobre a necessidade de investimentos constante, em um marco regulatório claro e previsibilidade em relação à infraestrutura”.
Geopolítica e governança - O estabelecimento de regras e legislações protecionistas e precaucionistas tem provocado mudanças na geopolítica global, com efeitos para o agronegócio brasileiro, que possui papel relevante no comércio mundial de alimentos, fibras e de energias renováveis. O último painel, também moderado pelo jornalista William Waack, contou com a análise de três especialistas no assunto: o ex-ministro da Agricultura e presidente do Conselho Consultivo da ABPA - Associação Brasileira de Proteína Animal), Francisco Turra; o presidente-executivo da IBA - Indústria Brasileira de Árvores), Paulo Hartung; e o embaixador Roberto Azevedo (ex-diretor Geral da OMC - Organização Mundial do Comércio).
Para Azevedo, a transição para a economia verde não tem mais volta e transitar para a economia verde é algo complexo, trabalhoso, com algumas medidas são mais drásticas e outras menos. A importância de se ter uma visão integrada sobre essa transição para a economia verde, a fim de o país participar e ajudar na definição do marco regulatório global, também foi destacada por ele.
Já Hartung afirmou que apesar dos desafios há um mundo de oportunidades para o Brasil. Segundo ele, o país tem uma matriz energética diferenciada em relação ao mundo, com sol e ventos constantes e experiência notável com biomassa em processo de evolução. “Precisamos ter um ativismo compatível com o tamanho das potencialidades do país, fazendo com que o mundo nos conheça pelo que somos”.
Turra, na ocasião, disse que o mundo deveria olhar para o Brasil como um santuário na seara da produção alimentar, mas que o país precisa mostrar condições incomparáveis, com responsabilidade ambiental. “Tenho certeza que, mudando narrativas, nos envolvendo mais, discutindo e vendendo mais vamos chegar a algum lugar com acordos multilaterais a condições mais justas”.
No encerramento do 22º Congresso Brasileiro do Agronegócio, o presidente da ABAG, Luiz Carlos Corrêa Carvalho, apresentou um balanço do evento e destacou que o Brasil tem um desenvolvimento da ciência tropical, diferentemente de outros países que adaptaram a ciência temperada e não possuem a mesma competitividade, mas que é preciso liderar a regulamentação do mercado de carbono, além da produção de alimentos e energia.
Homenagem
Evandro Gussi (presidente da Unica) e Luiz Carlos Corrêa Carvalho (presidente da ABAG) fizeram a entrega da homenagem a Miguel Ivan Lacerda de Oliveira
Prêmio Norman Borlaug - Sustentabilidade 2023
O engenheiro agrônomo Norman Borlaug transformou-se em sinônimo de sustentabilidade. Ele foi um dos agrônomos que mais contribuíram para melhorar a vida no planeta. Assim como Borlaug que recebeu o título informal de “pai da revolução verde”, o homenageado este ano com o prêmio é o pai de outra revolução, a dos biocombustíveis. Miguel Ivan Lacerda de Oliveira é o principal nome por trás do RenovaBio. Por onde passa deixa sua marca coordenando importantes iniciativas públicas, um visionário que enxerga no campo os caminhos para o desenvolvimento do país.
“Agradeço muito essa homenagem. Talvez as pessoas não entendam, mas quando saímos para ocupar cargos púbicos muitas vezes vamos para o sacrifício da nossa própria vida. E está atrás desse sacrifício a crença de que vamos fazer a diferença, de que estamos construindo algo para um mundo melhor. O grande símbolo desse prêmio é que, além da gente fazer a diferença, eu fiz grandes amigos que mudaram a minha vida, mudaram o meu caminho e os carrego no meu coração para sempre”, afirmou Oliveira.
Roberto Rodrigues (ex-ministro da Agricultura) e Luiz Carlos Corrêa Carvalho (presidente da ABAG) entregaram a homenagem a José Luiz Tejon Megido
Prêmio Personalidade do Agronegócio 2023 - Ney Bittencourt de Araújo
A homenagem que leva o nome do engenheiro agrônomo Ney Bittencourt de Araújo é um reconhecimento às personalidades do agronegócio brasileiro que também trilham o mesmo caminho vitorioso. Este ano, o homenageado é José Luiz Tejon Megido pelo conjunto da sua obra, pela diferença que fez e que faz especialmente para o agronegócio. Um especialista em valorizar o agro, mas sua maior competência está em valorizar o ser humano e por isso é reconhecido por suas inúmeras realizações.
“Receber essa premiação é para descarregar todas as emoções da alma e a minha responsabilidade com esse prêmio aumenta demais. Na comunicação, se você não conquista corações, você não chega ao cérebro. Precisamos de um trabalho de conquista de corações e não é muito difícil conquistarmos corações se tivermos a consciência da própria sociedade brasileira. Temos que aprender a usar o poder da boa palavra porque somente ela pode chegar aos cérebros através dos corações”, disse Tejon.