Consumo em alta segura preços do etanol
22/04/2014
Etanol
POR: Arnaldo Luiz Corrêa | Diretor Archer Consulting
O mercado futuro de açúcar em NY fechou a semana encurtada pelo feriado de Páscoa com o vencimento maio/2014 cotado a 16.66 centavos de dólar por libra-peso desvalorizando-se 14 pontos em relação ao fechamento da semana anterior. Uma queda de apenas 3 dólares por tonelada. Os vencimentos seguintes, julho e outubro de 2014, também fecharam com quedas menores, entre um e três dólares por tonelada, enquanto os demais meses fecharam com pequena variação positiva.
A semana teve altos e baixos. O vencimento maio/2014 chegou a negociar a 16.50 centavos de dólar por libra-peso e no pregão seguinte valorizou 74 pontos (mais de 16 dólares por tonelada). O spread maio/julho, como abordado aqui na semana passada, negociou com desconto equivalente a um custo e carrego de mais de 25% ao ano. Um experimentado trader do mercado contestou o valor apresentado aqui argumentando que não se poderia receber o açúcar de maio e reentregá-lo no vencimento seguinte porque o açúcar teria que ser embarcado no limite em 15 de julho e portanto não poderia ser reentregue (no limite) em 15 de setembro. Mas vale aqui a questão da substituição, ou seja, não precisa entregar o mesmo açúcar mas qualquer açúcar que esteja nos livros da trading. E aqui se sobressai um outro ponto: e se a trading não tiver nenhuma posição? O argumento é válido, sem dúvida. Mas não se perde para quem está na ponta do consumidor industrial, por exemplo. Não comprar agora significa - sim - pagar o equivalente a 25% ao ano a mais para o vencimento seguinte.
O mercado de exportação de açúcar continua devagar mas os descontos para embarque imediato estavam em torno de 5 pontos, segundo um corretor de físico de São Paulo. Já o mercado de etanol continua aquecido, o que deve fazer com que os preços não recuem de modo acentuado nesse início de safra. Como dissemos aqui nas últimas semanas, o consumo de combustível está crescendo no país em ritmo acelerado. O consumo de hidratado no acumulado de doze meses encerrado em fevereiro/2014 foi de 11.1 bilhões de litros, 14.29% acima do mesmo período no ano passado quando atingiu 9.7 bilhões de litros. O anidro foi ainda maior: 28% de crescimento comparando 10.1 bilhões acumulados em fevereiro/2014 e 7.9 bilhões no mesmo período do ano passado. No geral, o consumo de combustíveis cresceu 7.47% no ano.
Quem assistiu ao depoimento da presidente da Petrobrás na audiência pública do Senado Federal sobre a vergonhosa compra da refinaria de Pasadena, ouviu uma pérola da executiva da estatal: "aumento de preço da gasolina é prerrogativa da diretoria da Petrobrás". A empresa importa gasolina a um preço muito mais alto do que revende às distribuidoras, sangrando paulatinamente o caixa da empresa e vem com essa história pra boi dormir que é a diretoria quem decide o preço. Se tiver que quebrar a Petrobrás para eleger Dilma, o PT fará. Se tiver que quebrar o Brasil para eleger Dilma, o PT fará.
Pior ainda foi ouvir a presidente da Petrobrás afirmar que se o setor sucroalcooleiro está nessa situação de crise devido à falta de investimentos. Distorce-se a verdade com a cara de pau habitual. É o setor sucroalcooleiro, este sim, vítima da política de preços estapafúrdia da Petrobrás. Pelo modelo da Archer Consulting, tomando como base o fechamento do petróleo WTI em US$ 103.37 o barril, a gasolina deveria custar hoje na bomba R$ 3.31 por litro, implicando que o etanol teria competitividade em 2.3170 reais por litro. A política do governo inflige ao setor subsidiar a gasolina e jogar o ônus do aumento de preço do etanol em cima dos usineiros. É só ver nos sites de notícias os comentários dos leitores reclamando que os usineiros subiram o preço do etanol. O consumidor não entende que não é o etanol que está caro, mas a gasolina que é subsidiada. Uma campanha de esclarecimento seria necessária para informar o consumidor corretamente e assim, pressionar o governo.
Finalmente uma notícia boa para o setor sucroalcooleiro. Roberto Rodrigues, um dos mais admirados representantes do agronegócio brasileiro, assumirá a presidência do Conselho da UNICA, posição deixada por Pedro Parente, presidente da Bunge no Brasil, que deixará a multinacional até o meio do ano. Roberto Rodrigues deve preencher esse enorme vazio de liderança e representatividade que o setor carece nos últimos anos.
Casa de ferreiro, espeto de pau. Seria cômico se não fosse trágico. Imaginem, caros leitores, que a ICE, a Inter Continental Exchange, bolsa na qual o contrato de açúcar bruto em NY é negociado, reconheceu em seu balanço do ano de 2013 uma perda de US$ 190 milhões devido à desvalorização do real que afetou a participação acionária de 12% que ela possui na CETIP (empresa brasileira listada na Bovespa, depositária de títulos e valores mobiliários). A empresa se justifica da perda milionária informando que o investimento feito na CETIP foi feito em reais. A curiosidade nessa história é que a ICE, ela própria, tem entre seus produtos financeiros oferecidos ao mercado para hedge, o real. E mesmo se não tivesse teria instrumentos para mitigar ou eliminar esse risco. Inacreditável.
*Texto originalmente publicado no portal Archer Consulting no dia 18/04. Comentário semanal de 14 a 18/04.