Aplicações aéreas com drones ou avião?

03/04/2019 Agronegócio POR: Revista Canavieiros
* Luís César Pio
** Fernando Colombo de Amo
 
Falar da importância da agricultura e das novas tecnologias para o crescimento do Brasil é desnecessário. Quem acompanha a leitura desta revista sabe bem disso. 
É importante conversar como essa tal tecnologia da era 4.0, na prática, ajudará no crescimento da produção com resultados sustentáveis (financeiro, ambiental e social). 
 
Em tecnologia de aplicação, os drones começam a fazer parte do cotidiano e é necessário saber como está sendo utilizada. 
 
A ideia é que os drones possam substituir os aviões na agricultura. Será? 
 
Existem três categorias de drones de acordo com o peso máximo total. No Brasil, a categoria até 25 kg se apresenta como a grande maioria e, por isso, vamos tratar sobre ela. 
 
O desenvolvimento do equipamento de voo, o drone propriamente dito, evoluiu muito nos últimos anos. 
Motores, baterias e softwares de plano de voo evoluíram deixando o equipamento muito estável, dirigível e amigável para qualquer usuário. 
Rapidamente os sistemas de imagens com câmeras simples (RGB) e até multiespectrais, para aerolevantamentos da produção agropecuária, solo, sistema urbano e outras aplicações cresceram, sendo base para mapeamento e tomadas de decisões de ações mais localizadas. A visão geral e detalhada dos problemas é, sem dúvida, uma das maiores possibilidades de uso. 
 
Porém, ao tratar as imagens com filtros para detectar o problema e definir quais são e onde estão localizados, podemos resolver pontualmente. 
 
O consumo de bateria é um fator restritivo para voos de longa duração, as escolhas de serviços precisam ser bem planejadas e existem vários softwares para isso, como: Sky Drones, Drone Deploy, Precision Flight, DJI GS Pro, entre inúmeros outros. Dizem que o olho do dono faz crescer a lavoura. Desta forma, aumenta muito a nossa visão, com o objetivo de  render a nossa produção. Sabemos do problema e precisamos encontrar o método de controle. 
 
As aplicações em área total de agentes biológicos em posições definidas, como é o caso de Cotésia - aplicando de 6 a 10 tubetes por hectare em cana-de-açúcar, em um único voo de 15 minutos, podem tratar de 12 a 15 hectares com uma melhor distribuição que a manual (no meio de uma lavoura de mais de 2 m de altura), sendo essa uma operação extremamente vantajosa para fazer com o drone.
 
Já nas aplicações de defensivos em grandes áreas, os aviões convencionais podem tratar mais de 300 ha por dia e são a grande opção, mas não são adequados para voos em pequenas áreas e problemas em reboleiras, pois toda a estrutura de apoio logístico encarece a operação. 
 
Para essas aplicações em reboleiras, o drone pode ser uma grande oportunidade. 
 
A capacidade de voo desses drones não irá substituir o avião, porém eles conseguem fazer as aplicações não viáveis para o avião como as aplicações em reboleiras em cana, soja, amendoim e outras culturas. 
 
Agora, o grande desafio está na boa pulverização das culturas. 
 
Para as pulverizações, precisamos nos atentar aos critérios e normas da aplicação aérea. Não basta ter um conjunto de aplicação com tanque, bomba, comandos e bicos para ser um pulverizador. Temos que saber se as gotas lançadas estão chegando ao alvo, com menor perda por deriva, com boa distribuição e tantas outras observações devido aos diferentes modos de ação dos produtos aplicados. 
 
Quando se faz uma aplicação com um pulverizador de barras, a faixa tratada está muito próxima do tamanho da barra. Já no avião, a faixa é muito maior. Os bicos estão posicionados em espaçamentos diferentes nas asas e na barriga do avião.? 
Os drones existentes no mercado são montados com barras e espaçamentos fixos de bicos como se fosse um pulverizador de barra. 
 
A faixa de aplicação mais utilizada está próxima de seis metros, mas na prática isso é muito variável e desconhecemos qualquer estudo técnico dentro das normas aéreas, considerando a distribuição e a deriva como os realizados em aeronaves agrícolas. 
 
Nas observações de campo é possível ver os efeitos de vórtice de ponta de hélice muito forte em algumas condições. A esteira do ar gerado para o voo é diferente do avião e do helicóptero e do drone parado. Tudo isso interfere na distribuição. 
 
Outro ponto importante está nas observações do clima. 
 
Os mesmos parâmetros usados para o avião devem ser respeitados para as aplicações com drones, portanto, elas só devem ser realizadas com temperaturas inferiores a 25ºC e umidade superior a 50%, lembrando que a umidade é o fator mais crítico quando se trata de gotas pequenas. 
 
O drone não é uma bomba costal que voa. É uma aeronave. 
 
Devemos nos atentar às variações climáticas durante o dia. 
 
Testes de campo para aplicação em reboleiras estão com aplicações muito desuniformes, como pode ser visto em dois papéis sensíveis utilizados na coleta da distribuição e confirmados na análise dos resultados. 
 
 
Outra alternativa é a redução da vazão das pontas, mas isso traz problemas de entupimento e geração de gotas muito finas. 
 
Para concluir, a análise de capacidade operacional é um fator decisivo. Na prática, em quatro horas de trabalho por dia podemos fazer de 10 a 12 ha. 
 
Existe a grande possibilidade de voo noturno permitindo incrementar a quantidade de área tratada no dia, mas o voo noturno deve ser muito bem planejado para evitar que a aeronave colida com algum obstáculo como, por exemplo, árvores ou redes de energia elétrica. 
 
Temos que lembrar que apesar da aplicação ser de forma autônoma, o operador está sempre atento à operação e retoma o controle da aeronave caso necessário. 
 
Não podemos aumentar a área tratada colocando em risco a eficácia do produto ou riscos ambientais associados. 
 
No Brasil tem uma empresa desenvolvendo um drone para até 250 kg, o que poderá permitir capacidade de tanques próximos a 100 litros e com faixas de 10 a 12 metros. 
Provavelmente, o drone dessa categoria poderá ser uma oportunidade para tratar áreas maiores, mesmo considerando nesse momento como uma aplicação complementar ao avião em áreas de tiro curto, topografia mais acidentada, áreas menores entre outras condições que não viabilizem as grandes aeronaves. 
 
Em áreas de arroz inundado, as aplicações de fungicidas onde o sistema tratorizado é impossível, as aplicações com drone também estão evoluindo. 
 
Estudos de faixa de aplicação, risco de deriva, volumes de calda mais ajustados, entre outros pontos, ainda são considerados desafios tão grandes quantos outros do passado, mas foram resolvidos, assim como esses certamente também serão. 
 
Não existe futuro sem as novas tecnologias. 
 
* Luís César Pio é presidente  da Herbicat 
** Fernando Colombo de Amo é assistente de Pesquisa e Desenvolvimento da Herbicat 
 

OBS.: PARA CONFERIR AS FIGURAS COMPLETAS DESTE ARTIGO ACESSE NOVA VERSÃO DIGITAL.