Contribuição para a produtividade

29/08/2019 Agronegócio POR: Revista Canavieiros
Por: Fernanda Clariano


O setor sucroenergético é de grande importância para o agronegócio brasileiro, principalmente para o Estado de São Paulo, que concentra parte representativa da cana-de-açúcar. Em evento realizado no mês de julho, em Piracicaba-SP, mais de 700 participantes puderam conferir as estratégias técnicas, financeiras e inovadoras para otimizar a produção e a qualidade das lavouras, bem como a produtividade e a preservação ambiental. Organizado pelo Gape (Grupo de Apoio à Pesquisa e Extensão) da Esalq/USP, e sediado no Teatro da Unimep, o evento recebeu renomados palestrantes, técnicos de usinas e empresas, produtores, pesquisadores, acadêmicos e empresas.

Custos de produção do setor sucroenergético
A busca pelo aumento da produtividade, e quem sabe alcançar a cana de três dígitos, é o sonho de consumo da maior parte dos usineiros, gerentes agrícolas e dos profissionais do setor. No painel “Perspectivas do setor sucroenergético”, o palestrante e professor do Pecege na área de boas práticas agrícolas, João Rosa, argumentou em sua apresentação que “produzir cana de três dígitos com a tecnologia que temos é fácil, o problema é fazer dar dinheiro”. Rosa ainda alertou que é preciso tomar muito cuidado com alguns conceitos.

Sobre quanto custa plantar cana, o professor pontuou os custos de produção do setor. De acordo com ele, o plantio da cana para o produtor na safra 18/19 custou, em média, R$ 7.100/ha (incluindo tratos culturais e plantio de cana planta). O valor de referência para as usinas para a formação dos canaviais foi de R$ 9.200/ha. Já em relação aos custos industriais, Rosa comentou que para processar a matéria-prima, o custo foi de R$ 105,22/tc e o custo de processamento industrial de R$ 23,91/tc.

Ao falar sobre as perspectivas para a safra 19/20, destacou: “Ainda que o cenário seja de melhora, o setor não pode ficar refém do preço. Temos que trabalhar a produtividade”.

Como fazer a produtividade voltar a crescer?
O consultor Fábio Vidal Mina Júnior mencionou que nos últimos anos temos convivido com uma acentuada queda na produtividade das usinas. Com exceção de uma minoria, todas tiveram uma redução de TCH nas últimas safras. De acordo com Júnior, essa queda pode ter sido ocasionada por diversos fatores, dentre eles: a expansão da área de cana em áreas até então não cultivadas com cana-de-açúcar (pastagens, eucalipto, citrus) em áreas menos férteis; alterações no pisoteio de safras (adiantamento no início da safra, assim como extensão do seu término); problemas com nutrição e manejo (agravado com as últimas crises interna e externa); diminuição das áreas de reforma e consequente aumento do número médio de corte (historicamente a taxa média de renovação do canavial era de 17%, atualmente é de 13,5%); idade média de corte; plantio de cana de inverno, cana de ano e/ou plantio o ano inteiro e a crescente expansão de áreas com colheita mecanizada.

 “Acho difícil a curto/médio prazo conseguirmos uma alta significativa de produtividade, mas acredito que podemos alcançar, inclusive já estamos em algumas unidades neste processo e com os primeiros resultados satisfatórios, surpreendentes, embora saibamos também que temos que esperar mais algumas safras e consequentemente ‘anos agrícolas’ variados para podermos aprimorar os nossos trabalhos nessa busca, visando expurgar os efeitos climáticos”, disse Júnior.

O consultor também chamou a atenção em relação à busca pela tão falada cana de três dígitos e ressaltou: “Não adianta pensarmos apenas em produtividade, não podemos nos esquecer do ATR (Açúcar Total Recuperável). Foi muito difícil nos últimos anos conseguir melhorar a qualidade da matéria-prima, desenvolver variedades que a fornecessem. Estamos buscando conhecimentos e trocas de informações para alcançarmos a cana de três dígitos, quem sabe com ATR e sem também criarmos problemas colaterais na cadeia produtiva”.

De acordo com o produtor rural Daine Frangiosi, conseguir uma produtividade média de 120 t/ha é bem simples, basta olhar a cana como um todo. “A cana não é de uma tecnologia só, onde se pensa de forma isolada. Cada tecnologia é um conjunto, é uma soma - manejo varietal; preparo adequado de plantio; uso de tecnologias com micronutrientes na folha; fungicida, misturador e inibidor. Temos que olhar a cana como um conjunto, dar importância para todas as tecnologias e implementá-las”. O produtor ainda destacou que a cana é uma cultura preguiçosa que precisa de estímulo através da nutrição, mas é preciso estar atento à tecnologia e a quantidade de nutrição que se coloca nela.

Nutrição e adubação
Especialistas em nutrição de plantas e cana-de-açúcar apresentaram atualizações, novas linhas de pesquisa e outras novidades sobre manejo nos canaviais.
 
Segundo o professor da Esalq/Usp, Rafael Otto, a vinhaça localizada é uma tendência que veio para ficar e a ideia é economizar. “Estamos no momento de otimizar as práticas e tentar reduzir custos para tentar manter ou aumentar a produtividade”.
Otto também frisou que do ponto de vista econômico a ureia é o principal fertilizante utilizado no Brasil e no mundo, contribuindo para o menor preço.
 
O uso de calcário na soqueira foi um dos assuntos abordados pelo consultor Gaspar Henrique Korndorfer, que lembrou que no passado aplicava-se calcário na soqueira a lanço e, na maioria das vezes, vinha uma incorporação através de uma enxada rotativa. “Apesar de não conseguir uma rotação muito boa, de tirar uma mostra de 0 a 20, conseguia-se em parte incorporar o calcário ainda que a 10 cm e assim por diante. Porém, muita coisa mudou e ninguém mais usa uma enxada rotativa na soqueira. Temos uma série de ensaios atualmente demonstrando que 300 quilos de calcário reativo sobre a soqueira faz um resultado melhor do que uma tonelada a lanço e com um custo muito mais baixo. Acho que temos que abrir a caixinha e pensar um pouco diferente, pelo menos no que diz respeito ao fornecimento de cálcio e magnésio em soqueira”, disse.
 
Homenagem
Durante o simpósio, foi prestada uma homenagem póstuma ao esalquiano dr. Manoel Carlos de Azevedo Ortolan, que foi presidente da Copercana, Canaoeste, Orplana e um grande entusiasta do setor e do cooperativismo. A homenagem contou com a presença de Rodrigo, Érica e Vanessa, filhos de Ortolan e do genro Danilo.