Controlando os adversários da produtividade agrícola

29/08/2019 Agronegócio POR: Revista Canavieiros
Por: Fernanda Clariano
 
Os nematoides, a cigarrinha-das-raízes, o Sphenophorus levis e a broca-da-cana, pragas responsáveis por dizimar produtividades por onde passam e reduzir a longevidade das lavouras, foram os destaques da 15ª edição do Insectshow - Seminário sobre Controle de Pragas de Cana, que aconteceu em Ribeirão Preto-SP, no  mês de julho, reunindo cerca de 600 profissionais entre produtores de cana, pesquisadores, representantes de usinas e empresas que apresentaram suas soluções como moléculas inovadoras, união entre produtos químicos e biológicos, defensivos que controlam mais de um tipo de praga, implemento que aplica inseticida na soqueira, variedades de cana geneticamente modificadas, novas metodologias de amostragem, softwares que identificam infestações de pragas no canavial, entre outras importantes ferramentas.
 
O evento já entrou para o calendário do setor canavieiro e tem como objetivo promover um ambiente para a atualização técnica dos participantes e apresentar soluções para uma das principais culturas do Estado, a cana-de-açúcar, além de reforçar os resultados da produtividade.

“Estamos caçando os fantasmas que estão roubando o nosso dinheiro nos canaviais e nesta edição procuramos trazer soluções para acabar com esses fantasmas que nos assombram”, comentou o diretor do Grupo Idea e idealizador do evento, Dib Nunes.
 
Um assunto polêmico
A discussão sobre o uso de agrotóxicos ainda tem um longo caminho a ser percorrido. Em meio a tantas informações nem sempre verdadeiras sobre a agricultura e a utilização dos agrotóxicos que são difundidas, a mais popular é a de que o Brasil é o maior consumidor de defensivos agrícolas no mundo. Certamente muitos já ouviram falar que o brasileiro ingere 5,2 litros de agrotóxicos por ano - e que o morango, o pimentão, entre outros alimentos estão contaminados com substâncias tóxicas acima do permitido. Obviamente, nenhum brasileiro bebe 5,2 litros de agrotóxicos, pois se assim fosse todos estariam mortos. 

Geralmente as pessoas veem uma imagem ruim sobre os agrotóxicos, já que elas não têm informações. Se por um lado os ativistas e os artistas batem muito nisso com o interesse econômico de vender orgânicos, por outro as que utilizam esses produtos nem sempre rebatem as falsas informações.

Presente no seminário, o jornalista e escritor Nicholas Vital, autor do livro “Agradeça aos agrotóxicos por estar vivo”, afirmou que defende as boas práticas agrícolas no campo e, na ocasião, também desmistificou inverdades sobre o tema e chamou a atenção para o termo agrotóxico ser empregado com intuito pejorativo quando o nome mais correto deveria ser agroquímico ou simplesmente defensivos, como eles realmente são.
 
Tecnologia e manejo para combater as pragas
A broca-da-cana é a principal praga presente nas lavouras de cana no Brasil. Devido a sua abrangência, o produtor de cana direciona ao longo da safra diversos cuidados em relação ao combate destas lagartas, adotando práticas que fortalecem a adoção do MIP (Manejo Integrado de Pragas), como a associação de tecnologias de controle biológico e químico.
 
Palestrante no seminário, a pesquisadora do IAC, Leila Luci Dinardo Miranda, destacou que os inseticidas passaram a ser ferramentas de controle bastante importantes para a broca-da-cana nos últimos 10 anos, devido, principalmente, ao aumento do número de infestações.

O consultor da Global Cana, José Francisco Garcia, apresentou um levantamento revelando que o índice de intensidade de infestação final da praga nos Estados de São Paulo e Goiás é três vezes maior do que o revelado pelas usinas.  De acordo com o consultor, o índice de intensidade de infestação final de broca-da-cana em São Paulo é de quase 7%. Dado o tamanho de destruição, é importante que as usinas agrícolas adotem ferramentas para o melhor controle da praga.
 
 
Já o consultor Enrico Arrigoni articulou sobre os fatores que interferem na população de cigarrinhas-das-raízes. Segundo o profissional, a praga passou a ocupar um grau de maior importância. Na ocasião fez algumas recomendações de controle como monitorar e definir momento de intervenção; concentrar esforços para controlar a primeira geração de primavera; aplicar inseticidas ou microbiana nas bases das plantas, com jato dirigido; avaliar a eficiência do método de controle aplicado; monitorar a evolução das populações e aplicar controles no momento correto como também ter cuidado ao adotar métodos que visam apenas à redução de operações; a remoção de palha; a resistência varietal; o fortalecimento das plantas e a preservação de predadores e parasitoides.

O consultor José Francisco Garcia chamou a atenção em relação à maneira antiga de amostragem de cigarrinha, assegurando que a forma antiga não se encaixa mais nos modelos atuais de produção. “Olhar ninfa e espuma faz com que caiamos na mesmice”.
Na nova metodologia, é colocada uma armadilha - a 0,5m do chão - na forma de uma placa amarela que irá atrair os insetos. “Cinco adultos aderidos à armadilha indicam um nível de infestação de duas ninfas/metro. O grau de confiabilidade é de 80%”, afirmou.

O Sphenophorus levis também foi destaque nas apresentações de Leila e Garcia. Ao comentar o manejo de soqueiras infestadas, a pesquisadora afirmou que a aplicação de fipronil ou demais produtos em cima da soqueira é mais eficiente e garante mais produtividade do que nas laterais. E recomendou que a aplicação em período seco deve ser feita no corte de soqueira. Já no período mais úmido, o ideal é que seja feita em drench. Ela ainda ressaltou que a aplicação deve ocorrer logo após a colheita, independente do período em que for realizada.

No conceito de Garcia, embora haja produtos excelentes registrados, falta tecnologia de aplicação para vencer a batalha contra o Sphenophorus levis. Para ele, a destruição mecânica de soqueiras é a melhor forma de controle da praga.

Os nematoides na cultura da cana-de-açúcar foram destacados pelo diretor - proprietário da Agroanalítica, Weber Valério.  A praga vem assolando e conhecidamente subtraindo muito a produtividade dos canaviais. De acordo com pesquisas, as perdas em cana planta, em média, são de 20 toneladas, podendo chegar a 40 toneladas e em cana soca, em média, de 10 a 12 toneladas quando os níveis de infestações forem médios e altos.
“O nosso grande problema atualmente é que temos notado que outras pragas que apareceram advindas da colheita mecânica crua e da presença da praga como Sphenophorus, cigarrinha e broca, deixaram o nematoide um pouco esquecido e acho um contrassenso trabalharmos outras tecnologias maravilhosas para promover sistema radicular e esquecer-se dele, que se alimenta do sistema radicular e que pode subtrair toda a produtividade que conseguimos com essas outras tecnologias”, disse Valério.

CTC apresentou suas tecnologias
Os avanços genéticos alcançados nos últimos anos aliados à biotecnologia têm gerado combinações com melhor desempenho e máxima eficácia. O CTC (Centro de Tecnologia Canavieira) marcou presença no evento por meio do líder de produto na área de marketing, Alan Pavani, que apresentou as novidades para o setor, bem como os dados atuais de desempenho da CTC20Bt, que já é uma realidade comercial, e a CTC9001Bt. “Nosso objetivo foi apresentar os dados atuais de desempenho da CTC20 Bt e também lançar a CTC9001Bt - a segunda variedade geneticamente modificada lançada pelo CTC que tem como principal característica resistência a broca da cana-de-açúcar. Essa característica proporciona inúmeros benefícios agroindustriais como redução no custo de controle com a praga, aumento de produtividade, aumento do teor de açúcar, e também a redução do nível de insumos da indústria”, elencou.