Controle biológico no contexto atual

09/08/2022 Coluna Boas Práticas POR: Daniela Aragão Bacil - Alessandra Durigan


Da esquerda para a direita: a agrônoma de Pontal, Daniela Aragão Bacil e a gestora tecnica da Canaoeste, Alessandra Durigan

 

Nos últimos anos, o setor sucroenergético vem passando por mudanças que têm acarretado o aumento da ocorrência de pragas e doenças. O Brasil, por ser um país de clima tropical, favorece a incidência de certos patógenos, por isso, aumentou-se a necessidade de controle e, algumas vezes, mais do que uma aplicação com defensivos nos canaviais é necessária para evitar maiores prejuízos o que acarreta aumento de custos de produção.

Em decorrência da dificuldade de controle de pragas e doenças, o setor vem buscando opções de controle que deixam a infestação abaixo do nível de dano econômico. Uma forma de melhorar a eficiência de controle é rotacionar grupos químicos, porém a disponibilidade no mercado muitas vezes não possibilita uma rotação tão eficiente. O MIP (Manejo Integrado de Pragas) é o manejo mais indicado para garantir sucesso no controle de pragas. Além de aplicações químicas, adotam-se medidas de controles culturais, mecânicas e o controle biológico.

Nos últimos anos, o aumento do uso de insumos biológico vem crescendo, tanto como aliado ao MIP como também uma forma de alcançar a sustentabilidade. No mundo estão ocorrendo diversos protocolos e agendas para o cumprimento de metas a fim de minimizar danos ao meio ambiente e às pessoas. A busca necessária pela sustentabilidade e aos compromissos globais vem fazendo com que produtores, empresa multinacionais, nacionais e sucroenergéticas incentivem o uso de insumos biológicos com o objetivo de melhorar as condições ambientais, equilibrar os ecossistemas e melhorar as condições dos trabalhadores.

O controle biológico é um método já utilizado há algumas décadas. Um excelente exemplo é a aplicação da vespa Cotesia flavipes, para o controle da broca da cana-de-açúcar que tem sido utilizada em grande escala.

"O controle biológico visa ao controle de pragas e doenças a partir de inimigos naturais que podem ser outros insetos benéficos, predadores, fungos, bactérias e vírus. Trata-se de um método de controle racional e sadio que não deixa resíduos e é inofensivo ao meio ambiente e à saúde humana" (EMBRAPA).

As vantagens do controle biológico são: eficiência, especificidade para os patógenos que causam os danos, protegendo assim as demais populações de inimigos naturais e o fato dos produtos não serem tóxicos ao meio ambiente e ou pessoas. Algumas considerações, porém, devem ser observadas: cuidados no armazenamento e às condições recomendadas para a aplicação. Cada produto biológico tem sua característica que deve ser cuidadosamente analisada para não comprometer a eficiência do controle.

Os primeiros trabalhos de eficiência do controle biológico na cana-de-açúcar são datados há mais de 50 anos. Na década de 80, o controle com a Cotesiaflavipes apresentou eficiências significativas, ganhou espaço no setor e ainda é um dos principais métodos de controle da broca da cana. O controle biológico da cigarrinha das raízes com o fungo Metarhizium anisopliae teve maior crescimento a partir do ano de 2000 e efetivou-se nos últimos anos devido a maior disponibilidade de ativos biológicos, melhores tecnologias de formulação e maiores estudos na área.

O produto biológico pode ser utilizado junto com o químico desde que verificados alguns pontos, como por exemplo, a compatibilidade, inclusive pode ocorrer o melhor aproveitamento das moléculas químicas em relação à performance e resistência por patógenos.

Desde 2020 ocorre um aumento significativo de registro de biodefensivos no MAPA, caracterizado pela maior oferta de ativos biológicos, novas formulações e técnicas de aplicação.

Dessa forma, temos no mercado produtos cada vez mais eficientes, que têm resultados semelhantes e muitas vezes superiores aos químicos.

Atualmente são mais de 100 biodefensivos registrados no MAPA. Em alguns casos, mesmo sendo os ativos biológicos iguais, as cepas podem ser diferentes. O que diferencia a qualidade do produto é o sistema de produção. Por isso, o produtor deve ficar atento e comprar produtos registrados que tenham a qualidade comprovada para garantir que o produto adquirido tenha boa eficácia.

Observando trabalhos realizados no campo junto com produtores, em relação ao desempenho nos últimos cinco anos do controle biológico, pode-se afirmar que é necessário conhecer primeiramente o produto (concentração), aplicar os produtos nas condições climáticas indicadas pelo fabricante e aplicar quando a praga ou doença está abaixo do nível de controle. Alguns produtos tendem a ter uma ação mais lenta, por isso é necessário fazer a aplicação quando a infestação do patógeno está baixa, a fim de não comprometer a eficiência do controle biológico. Em caso, de infestações médias e altas, o ideal é que o controle químico ocorra primeiro ou concomitantemente a fim de abaixar a população porque a ação é mais rápida. Em avaliações a longos prazos, quando o controle é realizado com fungos, bactérias, vírus, verifica-se o controle geralmente após 60 dias. É necessário enfatizar que o depoimento acima não vem de dados científicos, mas sim de relatos baseados em observações e levantamentos de campo ao longo de um período.

Os resultados do controle biológico podem variar de acordo com a época de aplicação, com o estágio da cultura, com a infestação do patógeno, por isso é primordial o acompanhamento de um agrônomo responsável com conhecimento técnico a fim de recomendar o melhor produto para cada situação.

Na cana-de-açúcar, além das vespas Cotesia e Trichogramma para o controle da broca, temos fungos que controlam eficientemente a cigarrinha: Metarhizium anisopliae, nematicidas biológicos à base de Bacillus e outros, fungos para o controle de Sphenophorus como Beauveria bassiana, entre outros microrganismos. Com a comprovação científicada importância da saúde do solo para a obtenção de altas produções, a recomendação de biológicos principalmente no plantio e corte de soqueira, como é o caso dos Bacillus e Azospirillum, também está ganhando evidência na cultura da cana-de-açúcar para essa finalidade.

Os insumos biológicos, em 2021, movimentaram mais de R$ 1 bilhão no Brasil. Foram aplicados em mais de 6 milhões de hectares de cana, entre macro e microbiológicos, sendo um crescimento de 50% entre 2020 e 2021, com uma tendência a triplicar o mercado até 2030.

O uso de insumos biológicos é uma realidade sem volta que está em evidência crescente, caracterizando a era da Agricultura 4.0. Além da exigência do mercado por produtos mais sustentáveis, os produtores vêm buscando produzir de forma mais eficiente, mais segura e mais rentável, portanto, aqueles que ainda não estão nessa direção com certeza deverão se adequar. Além de tudo, o uso de insumos biológicos vem para melhorar a atuação dos insumos químicos, proporcionando um manejo equilibrado a todo o ecossistema. Procure um agrônomo da Canaoeste para saber mais sobre o assunto.