Cooperativismo de crédito e desenvolvimento econômico

28/07/2020 Noticias do Sistema POR: Fernanda Clariano, com informações da assessoria

Entrevista: Giovanni Rossanez, presidente do Conselho de Administração da Sicoob Cocred

O agronegócio e o cooperativismo sempre mantiveram um elo forte e fundamental no país. A força da agropecuária brasileira, responsável por alimentar 1,6 bilhão de pessoas, ou quase 21% da população mundial, conta com a capacidade das cooperativas de assegurar que pequenos e médios produtores se tornem tão competitivos quanto os grandes.

Nesse sentido, as cooperativas de crédito se destacam por garantir a saúde e o desenvolvimento do setor, na medida em que oferecem recursos e crédito com prazos e juros melhores do que as instituições financeiras tradicionais. Sem visar ao lucro, mas o auxílio às pessoas que integram o sistema, o cooperativismo de crédito cresceu muito no país, e não apenas no campo.

Fundada há 51 anos, justamente com o objetivo de estimular a atividade agrícola na região de Sertãozinho, a Sicoob Cocred é exemplo de que as cooperativas de crédito se tornaram a opção mais vantajosa no sistema financeiro, oferecendo os mesmos produtos e serviços dos bancos convencionais, mas com condições mais favoráveis.

Presente em 27 cidades do interior paulista, a Sicoob Cocred é considerada uma das maiores cooperativas de crédito do país, com quase 42 mil cooperados, sendo que 70% deles são pessoas físicas, principalmente empresários e profissionais liberais. Já entre as pessoas jurídicas cooperadas, 92% são micro e pequenas empresas.

Isso reforça que, apesar de ter nascido do agro, a Cocred está aberta a pessoas e empresas de diversos segmentos. E, mesmo em tempos de pandemia, a cooperativa continua crescendo. Até o fim de abril, quando a economia já era fortemente impactada pela Covid-19, o quadro social da Cocred cresceu 1,8% e os ativos apresentaram evolução de 4,6%, alcançando R$ 4,18 bilhões.

No mesmo período, a carteira de crédito passou de R$ 2,72 bilhões para R$ 2,83 bilhões, uma evolução de 4,35%. Esse crescimento representa a concessão de R$ 118 milhões em crédito aos cooperados, que foram introduzidos na economia regional, amenizando as dificuldades impostas pelo novo coronavírus e proporcionando desenvolvimento às comunidades locais.

Os resultados vão ao encontro das expectativas do Banco Central de que as cooperativas de crédito serão as principais fornecedoras de recursos a micro e pequenas empresas, bem como às famílias brasileiras de um modo geral, neste período de crise sanitária e econômica, assumindo um papel fundamental na recuperação do país.

Presidente do Conselho de Administração da Sicoob Cocred, Giovanni Bartoletti Rossanez destaca que, historicamente, é nos momentos de crise que as cooperativas mais crescem, justamente por estarem próximas da comunidade e entenderem suas reais necessidades. Na entrevista a seguir, Rossanez explica a importância do cooperativismo de crédito no SFN (Sistema Financeiro Nacional) e como se deu o crescimento da Cocred em 51 anos.

Revista Canavieiros: O que torna o cooperativismo de crédito vantajoso e como ele contribui para o desenvolvimento da economia?

Giovanni Bartoletti Rossanez: Ao longo do tempo, as cooperativas se tornaram uma importante fonte de crédito não só aos produtores rurais, mas a micro e pequenas empresas, profissionais autônomos e até pessoas físicas, que buscam taxas menores. As cooperativas de crédito têm um perfil de gestão simplificado, com estruturas adaptáveis e executivos mais próximos dos cooperados, o que as tornam mais competitivas e garantem um atendimento personalizado, que tende a ser mais positivo. Segundo o SNCC (Sistema Nacional de Crédito Cooperativo), até dezembro havia 6.830 unidades de cooperativas de crédito em funcionamento no Brasil. Só no ano passado foram inauguradas 632 unidades, enquanto os quatro maiores bancos do país fecharam, juntos, 871 agências. Em 204 municípios brasileiros, as cooperativas de crédito atuam sozinhas na prestação dos serviços financeiros.

Outra vantagem é que todos os cooperados são vistos da mesma forma, independentemente de sua cota de participação no capital social. E como não existe o conceito de lucro, mas de sobras, eles recebem esses valores proporcionalmente ao final de cada ano, além dos juros sobre o capital social. Esses resultados rateados são isentos de tributos. Além disso, as sobras capitalizam a cooperativa para mantê-la cada vez mais forte e em condições de continuar oferecendo os diferenciais em relação ao serviço bancário tradicional.

Além disso, as cooperativas de crédito são instituições seguras porque têm obrigações para que possam operar, já que o funcionamento delas é autorizado pelo Banco Central, que também supervisiona e fiscaliza as atividades. E assim como acontece nos bancos convencionais, os depósitos feitos pelos cooperados são assegurados pelo Fundo Garantidor do Cooperativismo de Crédito, o FGCoop, no limite de até R$ 250 mil.

Enfim, as cooperativas de crédito têm o compromisso de promover igualdade e justiça financeira e, obviamente, contribuir para o desenvolvimento dos municípios onde estão inseridas, a partir dos créditos liberados e do fomento das atividades econômicas, das ações de sustentabilidade, de educação financeira, de incentivo cultural e de promoção social.

Revista Canavieiros: Neste momento em que a maioria dos bancos registra queda nos resultados e, de certa forma, até se recolhem temendo a inadimplência, como as cooperativas de crédito têm se comportado? Como a Sicoob Cocred tem reagido?

Rossanez: Essa não é a primeira crise vivenciada pela Cocred ao longo dos seus 51 anos de história e, pela experiência obtida, temos certeza de que é nos momentos de fragilidade que o espírito cooperativista de unir esforços por um objetivo comum faz toda a diferença. As cooperativas de crédito, assim como a Cocred, estão disponibilizando produtos financeiros com condições especiais, postergando prazos, oferecendo financiamentos e empréstimos com condições ainda melhores.

Nós prorrogamos as parcelas de empréstimos e financiamentos por 90 dias, ampliamos o crédito pré-aprovado e a possibilidade de contratação de produtos e serviços pelos canais digitais, como Internet Banking e aplicativo, reforçamos a limpeza e assepsia das agências e, com intuito de amenizar o sofrimento da comunidade, doamos 5 mil cestas básicas – o equivalente a 120 toneladas de alimentos – aos Fundos Sociais de Solidariedade dos 27 municípios onde estamos presentes, além de um respirador à Santa Casa de Sertãozinho.

É importante reforçar que a Cocred não opera e não comercializa títulos no mercado de capitais, que foi altamente impactado pela pandemia. Dessa forma, os efeitos da crise não atingem os investidores da cooperativa, já que os RDC (Recibos de Depósito Cooperativo) e as LCA (Letras de Crédito do Agronegócio) são títulos de renda fixa, tendo seus rendimentos pactuados no momento da aquisição.

A confiança gerada pelo alto grau de relacionamento e pela proximidade entre a cooperativa e o cooperado fortalecem a atividade da Cocred e possibilitam aos associados continuar sendo assistidos normalmente, dando prosseguimento aos seus projetos pessoais. Portanto, para nós, os desafios são os mesmos dos nossos cooperados, uma vez que estamos ao lado deles nesta luta, auxiliando para que possam superar esta fase com tranquilidade e segurança financeira.

Revista Canavieiros: Qual o papel do cooperativismo no SFN e como ele contribui para a inclusão bancária, um dos maiores desafios do segmento atualmente?

Rossanez: O Banco Central tem, atualmente, uma pauta prioritária de trabalho definida a partir da Agenda BC#, que é voltada ao aumento da competitividade e à ampliação do acesso e do uso de serviços financeiros pela população, principalmente pessoas físicas e pequenos empreendedores. O Banco Central traçou como meta ampliar de 9% para 20% a participação das cooperativas na concessão de crédito nos próximos dois anos. Isso porque as cooperativas têm grande potencial e vantagem competitiva, uma vez que conhecem as realidades regionais e são comprometidas com o desenvolvimento local. Nos momentos de crise, como esse que estamos vivendo, conhecer o contexto local, as prioridades e os desafios das pessoas são pontos essenciais para entregar produtos e serviços relevantes. Ao mesmo tempo, elas têm se despontado como fonte de recursos variados por oferecerem condições mais favoráveis. Um estudo feito pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, a Fipe, apontou que nas comunidades onde as cooperativas estão presentes, cada R$ 1 em crédito concedido gera R$ 2,45 na economia local. Ao mesmo tempo, a presença das cooperativas de crédito gera um incremento de 5,6% no PIB per capita dessas cidades. Então, o cooperativismo tem potencial para contribuir, e muito, com as metas da Agenda BC#.

Revista Canavieiros: Que conceitos e práticas garantem a gestão eficaz de uma cooperativa de crédito?

Rossanez: A Cocred trabalha com o propósito de conectar pessoas para promover justiça financeira e prosperidade. Nossa missão é promover soluções e experiências inovadoras e sustentáveis por meio da cooperação para nos tornarmos referência em cooperativismo e conseguirmos promover o desenvolvimento econômico e social das comunidades onde estamos inseridos. Para isso, nosso trabalho é pautado pelos seguintes valores: respeito e valorização das pessoas; excelência, cooperativismo e sustentabilidade; ética e integridade; liderança inspiradora, inovação e simplicidade. Os resultados do primeiro quadrimestre de 2020, como, por exemplo, o crescimento de 7,35% em depósitos e LCAs, que atingiram a marca de R$ 2,65 bilhões ao final de abril, demonstram a confiança que os cooperados depositam na Cocred. Mais do que isso, apontam que estamos no caminho certo, crescendo com solidez e responsabilidade, valorizando o cooperado e contribuindo para a construção de uma sociedade melhor. Vale destacar ainda que a Cocred possui o mais alto grau de avaliação de risco, o Rating A3, que atesta a credibilidade, a solidez e a resistência da cooperativa a mudanças estruturais e conjunturais da economia.

Revista Canavieiros: Os desafios do financiamento agropecuário são muito discutidos. Como a Sicoob Cocred tem trabalhado nesse sentido?

Rossanez: A Cocred nasceu do agro, da necessidade de estimular a atividade rural. Por isso, desde sempre, a cooperativa ofereceu todas as modalidades de crédito rural, seja para custeio, investimento ou comercialização, com as melhores taxas e serviços personalizados, conforme a necessidade e a área de atuação do cooperado. O produtor pode financiar a aquisição de insumos, a produção de mudas e sementes, o beneficiamento, as vacinas e medicamentos, o maquinário agrícola, comprar animais para cria e recria. O Crédito Verde Cocred, que fomenta o uso de energias renováveis, e o Trato Forte Cocred, destinado à compra de tratores e GPSs, são as linhas de crédito mais recentes, sem incidência de IOF diário e com possibilidade de pagamento a longo prazo. A cooperativa também repassa os recursos do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) para empresas de todos os segmentos e tamanhos.

Revista Canavieiros: Quais os planos de expansão da Sicoob Cocred?

Rossanez: Como já foi dito, nosso objetivo é ser referência em cooperativismo financeiro. Hoje, a Cocred conta com 32 agências em 27 cidades do interior paulista. Em janeiro deste ano, inauguramos uma nova agência em Serrana e, mais recentemente, em 1º de junho, o posto de atendimento em frente à Praça 21 de Abril, em Sertãozinho, que passará a atender os cooperados da unidade que funcionava na Rua Expedicionário Lellis. Nosso objetivo é expandir a área de atuação, chegando às regiões de São José do Rio Preto, Uberaba e Uberlândia, por exemplo.

Revista Canavieiros: Qual a sua avaliação sobre as mais de cinco décadas de história da Sicoob Cocred?

Rossanez: A Cocred foi construída com trabalho sério e responsável desde os primórdios. Por isso, nunca apresentou resultados negativos. Sempre prezamos pelas melhores práticas de governança. Exemplo disso é que a Diretoria Executiva é contratada e totalmente segregada do Conselho de Administração, que define as diretrizes e estratégias da cooperativa. E todo esse trabalho é supervisionado pelo Conselho Fiscal. O sucesso está na equipe de colaboradores qualificados, que não mede esforços para fazer o melhor pela cooperativa e, principalmente, pelos cooperados, que são tratados pelo nome e não por números, afinal, a Cocred é deles. Quem progrediu ao longo de 51 anos foram os cooperados, e a Cocred só evoluiu junto.