Copom segue Tombini e mantém juro

21/01/2016 Geral POR: Valor Econômico
Depois de o presidente do BC, Alexandre Tombini, acenar uma mudança de estratégia na terça, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a taxa básica de juros, a Selic, em 14,25% ao ano.
No entanto, persiste a falta de consenso dentro do colegiado, já que dois membros votaram, novamente, pela elevação do juro em 0,50 ponto percentual. 
Os dissidentes foram os mesmos da reunião anterior, o diretor de assuntos internacionais, Tony Volpon, e o diretor de organização do sistema financeiro, Sidnei Corrêa Marques.
O comunicado apresentado após a reunião agrega novas informações, que justificam a posição da maioria, mas não dá indicações sobre os próximos passos da política monetária, deixando o colegiado dependente da evolução dos dados para tomar sua próxima decisão. O comitê volta a se reunir nos dias 1 e 2 de março.
O Copom aponta que considerou "a elevação das incertezas domésticas e, principalmente externas", além do cenário macroeconômico, o atual balanço de riscos e as perspectivas para a inflação. No encontro de novembro, o comunicado dizia, apenas, que a decisão considerou a conjuntura econômica e as perspectivas para a inflação.
A estabilidade não chega a ser uma surpresa para o mercado, depois que o presidente do BC, Alexandre Tombini, decidiu comentar e assim relacionar a revisão das projeções de crescimento feitas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) com a decisão do Copom.
Em nota divulgada na manhã de terça­feira, primeiro dia de reunião do Copom, Tombini disse que as revisões nos prognósticos foram "significativas" e também ressaltou que "todas as informações econômicas relevantes e disponíveis até a reunião do Copom são consideradas nas decisões do colegiado".
Com essa nova informação, o mercado passou por forte reposicionamento e passando a embutir um aperto de 0,25 ponto percentual, saindo de 0,50 ponto na véspera. Mas a estabilidade não estava fora do radar.
Para a economista do Santander Tatiana Pinheiro, que esperava elevação de 0,50 ponto percentual, a decisão do Copom foi uma surpresa. "Desde o fim do ano passado, a comunicação do Banco Central indicava um ajuste nos juros", diz. A economista avalia que será preciso aguardar a divulgação da ata da reunião para identificar quais os fatores que levaram à manutenção. "Mas já é possível afirmar que, mesmo uma taxa de juros a 14,25%, tem um custo alto e é preciso ajustar a política fiscal".
A economista considera que houve uma alteração importante no comunicado divulgado após a reunião. "Ficou claro que há uma preocupação maior com a atividade econômica e com a situação externa", afirma. Ela considera ainda que a manutenção da Selic não significa menor preocupação com a inflação. O IPCA deve ficar em 7% neste ano, acima do teto da meta, de 6,5%. "Mas a inflação deve desacelerar com a menor pressão dos preços administrados neste ano".
A projeção do Santander é de que a Selic fechará 2016 em 13% ao ano, com o início de um afrouxamento monetário a partir do segundo semestre.
O juro real, que é o que importa em termos de política monetária, teve ajuste de baixa, ontem, para 7,85%, menor desde o fim de novembro, considerando o swap de 360 dias, de 15,22%, e a inflação esperada em 12 meses, de 6,83%. Quando o BC começou a subir a Selic em abril de 2013, o juro real estava na casa de 2,5%. Mesmo com o acentuado ajuste, as expectativas não mostram inflação na meta até 2019.
O economista­chefe da Icatu Vanguarda, Rodrigo Alves de Melo, considera que a decisão de não aumentar os juros era controversa, mas poderia ser defendida do ponto de vista técnico. "Havia justificativas para não elevar, mas a maneira como essa decisão foi tomada, o processo que foi feito, arranhou a credibilidade do BC ­ ele vinha sinalizando algo e mudou bruscamente de opinião", diz.
Mesmo quem não se surpreendeu com a decisão avalia que o BC causou "ruídos" em sua comunicação nos últimos dias. "Não acho que foi uma decisão política ou inadequada", diz o economista­chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, que apostava em estabilidade da Selic nesta reunião e mantém essa aposta para a próxima. "Não há clareza, ainda, de que a inflação não vá convergir para a meta no fim de 2017".
O FMI estimou uma contração de 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2016, ante projeção anterior de queda de 1%. Para 2017, reduziu a previsão de um crescimento de 2,3% para zero. O BC, conforme o Relatório Trimestral de Inflação (RTI) de dezembro, prevê queda de 1,9% do PIB neste ano.
Trabalhando com essa estimativa de contração de 1,9%, dólar a R$ 3,90 e Selic de 14,25%, a projeção de inflação do BC apontava para IPCA de 6,2% em 2016 e de 4,8% no fim de 2017. O risco de estouro da meta é de 41% nesteano e de 21% em 2017.
Com sua nota, Tombini apontou que possivelmente rodaria o modelo de inflação do BC com uma contração do PIB superior a 1,9%, ou que pelo menos incorporaria essa hipótese no cenário de risco. Mas outras variáveis também mudaram desde o RTI de dezembro. O dólar consolidou posição acima de R$ 4, tarifas de ônibus em diversas capitais foram reajustadas e as expectativas de inflação pioraram considerando a mediana da pesquisa Focus, que mostram IPCA de 7% neste ano, acima do teto da meta de 6,5%, e de 5,4% para 2017. 
Dentro do Top
Five, as expectativas para 2017, estão em 5,5% desde o fim do ano passado. Para o professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEAUSP), Fabio Kanczuk, o BC apenas postergou a decisão de aumentar os juros. Na próxima reunião, vão aumentar as evidências de que as expectativas de inflação estão fugindo ao controle", afirma. Para ele, as pressões do dólar e inflação em alta tendem a diminuir o peso do argumento sobre a preocupação com a atividade econômica. "Nesse jogo, a inflação sempre ganha da atividade. Pode reclamar da produtividade, do sofrimento da sociedade, mas a inflação ganha, nem que seja por seus efeitos sobre o eleitorado".
Para o economista do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, mesmo que o BC elevasse a Selic, poderia acabar não conseguindo reduzir a inflação. "O peso de um enfraquecimento na economia chinesa e os reflexos imediatos para o país não estavam sendo considerados pelo BC até agora. Eles deixaram claro que passaram a olhar para o atual balanço de riscos", afirma. 
Depois de o presidente do BC, Alexandre Tombini, acenar uma mudança de estratégia na terça, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a taxa básica de juros, a Selic, em 14,25% ao ano.
No entanto, persiste a falta de consenso dentro do colegiado, já que dois membros votaram, novamente, pela elevação do juro em 0,50 ponto percentual. 
Os dissidentes foram os mesmos da reunião anterior, o diretor de assuntos internacionais, Tony Volpon, e o diretor de organização do sistema financeiro, Sidnei Corrêa Marques.
O comunicado apresentado após a reunião agrega novas informações, que justificam a posição da maioria, mas não dá indicações sobre os próximos passos da política monetária, deixando o colegiado dependente da evolução dos dados para tomar sua próxima decisão. O comitê volta a se reunir nos dias 1 e 2 de março.
O Copom aponta que considerou "a elevação das incertezas domésticas e, principalmente externas", além do cenário macroeconômico, o atual balanço de riscos e as perspectivas para a inflação. No encontro de novembro, o comunicado dizia, apenas, que a decisão considerou a conjuntura econômica e as perspectivas para a inflação.
A estabilidade não chega a ser uma surpresa para o mercado, depois que o presidente do BC, Alexandre Tombini, decidiu comentar e assim relacionar a revisão das projeções de crescimento feitas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) com a decisão do Copom.

 
Em nota divulgada na manhã de terça­feira, primeiro dia de reunião do Copom, Tombini disse que as revisões nos prognósticos foram "significativas" e também ressaltou que "todas as informações econômicas relevantes e disponíveis até a reunião do Copom são consideradas nas decisões do colegiado".
Com essa nova informação, o mercado passou por forte reposicionamento e passando a embutir um aperto de 0,25 ponto percentual, saindo de 0,50 ponto na véspera. Mas a estabilidade não estava fora do radar.
Para a economista do Santander Tatiana Pinheiro, que esperava elevação de 0,50 ponto percentual, a decisão do Copom foi uma surpresa. "Desde o fim do ano passado, a comunicação do Banco Central indicava um ajuste nos juros", diz. A economista avalia que será preciso aguardar a divulgação da ata da reunião para identificar quais os fatores que levaram à manutenção. "Mas já é possível afirmar que, mesmo uma taxa de juros a 14,25%, tem um custo alto e é preciso ajustar a política fiscal".
A economista considera que houve uma alteração importante no comunicado divulgado após a reunião. "Ficou claro que há uma preocupação maior com a atividade econômica e com a situação externa", afirma. Ela considera ainda que a manutenção da Selic não significa menor preocupação com a inflação. O IPCA deve ficar em 7% neste ano, acima do teto da meta, de 6,5%. "Mas a inflação deve desacelerar com a menor pressão dos preços administrados neste ano".
A projeção do Santander é de que a Selic fechará 2016 em 13% ao ano, com o início de um afrouxamento monetário a partir do segundo semestre.
O juro real, que é o que importa em termos de política monetária, teve ajuste de baixa, ontem, para 7,85%, menor desde o fim de novembro, considerando o swap de 360 dias, de 15,22%, e a inflação esperada em 12 meses, de 6,83%. Quando o BC começou a subir a Selic em abril de 2013, o juro real estava na casa de 2,5%. Mesmo com o acentuado ajuste, as expectativas não mostram inflação na meta até 2019.
O economista­chefe da Icatu Vanguarda, Rodrigo Alves de Melo, considera que a decisão de não aumentar os juros era controversa, mas poderia ser defendida do ponto de vista técnico. "Havia justificativas para não elevar, mas a maneira como essa decisão foi tomada, o processo que foi feito, arranhou a credibilidade do BC ­ ele vinha sinalizando algo e mudou bruscamente de opinião", diz.
Mesmo quem não se surpreendeu com a decisão avalia que o BC causou "ruídos" em sua comunicação nos últimos dias. "Não acho que foi uma decisão política ou inadequada", diz o economista­chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, que apostava em estabilidade da Selic nesta reunião e mantém essa aposta para a próxima. "Não há clareza, ainda, de que a inflação não vá convergir para a meta no fim de 2017".

 
O FMI estimou uma contração de 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2016, ante projeção anterior de queda de 1%. Para 2017, reduziu a previsão de um crescimento de 2,3% para zero. O BC, conforme o Relatório Trimestral de Inflação (RTI) de dezembro, prevê queda de 1,9% do PIB neste ano.
Trabalhando com essa estimativa de contração de 1,9%, dólar a R$ 3,90 e Selic de 14,25%, a projeção de inflação do BC apontava para IPCA de 6,2% em 2016 e de 4,8% no fim de 2017. O risco de estouro da meta é de 41% nesteano e de 21% em 2017.
Com sua nota, Tombini apontou que possivelmente rodaria o modelo de inflação do BC com uma contração do PIB superior a 1,9%, ou que pelo menos incorporaria essa hipótese no cenário de risco. Mas outras variáveis também mudaram desde o RTI de dezembro. O dólar consolidou posição acima de R$ 4, tarifas de ônibus em diversas capitais foram reajustadas e as expectativas de inflação pioraram considerando a mediana da pesquisa Focus, que mostram IPCA de 7% neste ano, acima do teto da meta de 6,5%, e de 5,4% para 2017. 
Dentro do Top

 
Five, as expectativas para 2017, estão em 5,5% desde o fim do ano passado. Para o professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEAUSP), Fabio Kanczuk, o BC apenas postergou a decisão de aumentar os juros. Na próxima reunião, vão aumentar as evidências de que as expectativas de inflação estão fugindo ao controle", afirma. Para ele, as pressões do dólar e inflação em alta tendem a diminuir o peso do argumento sobre a preocupação com a atividade econômica. "Nesse jogo, a inflação sempre ganha da atividade. Pode reclamar da produtividade, do sofrimento da sociedade, mas a inflação ganha, nem que seja por seus efeitos sobre o eleitorado".
Para o economista do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, mesmo que o BC elevasse a Selic, poderia acabar não conseguindo reduzir a inflação. "O peso de um enfraquecimento na economia chinesa e os reflexos imediatos para o país não estavam sendo considerados pelo BC até agora. Eles deixaram claro que passaram a olhar para o atual balanço de riscos", afirma.