O veterinário da Copercana, Gustavo Lopes, ao lado do ovinocultor, José Paulo Gusmão
Ovelha prenha se alimentando em pasto irrigado - imagem feita no início de agosto. Repare ao fundo a vegetação seca, sofrendo com o longo período de seca
Dentre as diversas atrações da Capital paulista, com certeza a gastronomia é a que atrai mais atrae um grande número de visitantes, desde as feiras livres até os requintados restaurantes. Assim, não é preciso andar muito para se comer bem em São Paulo. Embora a lista de bons restaurantes seja extensa, se tornar um fornecedor não é tarefa fácil, somente os muito bons, não somente na qualidade, mas na adoção das melhores práticas e rastreabilidade do produto são itens de sobrevivência fundamentais nesse mercado. Esse é o caso da Fazenda Santa Ignácia, de Cravinhos, que há cerca de dez anos fornece cortes especiais de cordeiro para diversos estabelecimentos que sempre buscam pelo melhor na Capital, e também na região de Ribeirão Preto.
Comandada por José Paulo Gusmão, a operação teve início numa área da fazenda onde não era possível se estabelecer nenhuma lavoura: “A ovinocultura é interessante, pois é possível conseguir um plantel numeroso sem precisar de grandes extensões de terra. Então tinha uma parte da propriedade que estabeleceu um canavial que era muito complexo em razão do relevo e da proximidade com a sede e os barracões, foi quando decidi iniciar a operação”.
Desde o começo, seu objetivo sempre foi o de trabalhar o ciclo completo: criar, engordar e vender com uma marca própria. Essa estrutura ocupa um espaço de 40 hectares, 18 de pastos irrigados com aspersores e 22 de pastos não irrigados, que circulam cerca de 1200 matrizes, engordam por volta de 900 cabeças por ano, além dos animais PO destinados à venda e melhoria genética do plantel. Todo o manejo parte do princípio de garantir que as ovelhas reprodutoras mantenham o escore corporal adequado durante os doze meses e, com isso, cada fase do ciclo fica organizada numa época planejada.
O processo tem início em fevereiro, quando as ovelhas são estimuladas e entram em estro (época que elas aceitam a monta) em dois ciclos de 17 dias. A gestação acontece em cinco meses, ou seja, passam um bom período da seca prenhas e em lactação, quando se torna fundamental ter o pasto irrigado. “Aqui, na gestação inteira as ovelhas passam com pastagem de qualidade, assim eu garanto a saúde do cordeiro que nascerá, diminuo o tempo de recuperação das mães, além de conseguir reduzir muito o custo da operação com ração”, disse Gusmão.
Para ter fartura o ano inteiro, na área irrigada são plantadas duas espécies diferentes de forrageiras em consórcio, uma sobre semeadura de inverno (aveia e azevém) para se formar na seca, outra perene (grama JIGGS) consumida na época das águas: “A JIGGS entra em dormência no inverno e super produz no verão. Na área sem irrigação temos a Brachiara Brizanta aonde a lotação é ajustada conforme o ciclo de chuvas”, explicou o ovinocultor.
Um mês antes do nascimento é feita a tosquia das reprodutoras para aumentar o apetite e, com isso, elevar as chances de crias mais saudáveis. Outro detalhe planejado é a época do nascimento, no tempo seco, pois como são confinados, os cordeiros correm menos risco de desenvolver diversas doenças, inclusive verminose. Após o parto, as ovelhas e seus cordeiros são recolhidos no confinamento e alimentados com silagem e ração fabricadas na própria propriedade ao longo de 15 dias, quando entram na fase de mamada controlada, onde por dois meses os cordeiros permanecem sozinhos no confinamento ao longo do dia e suas genitoras voltam ao confinamento para passarem a noite juntos. Essa fase marca o início da desmama, quando os cordeiros aprendem a comer no cocho.
Ao finalizar os dois períodos, será final de agosto e as ovelhas darão início a um novo ciclo com a recuperação do escore em pasto, que permanece vistoso até o final da estiagem graças à i rrigação e i nício das chuvas. Das crias, são separadas as matrizes e reprodutores, raça Poll Dorset, que são comercializadas e também destinadas à reposição do plantel da fazenda, enquanto que o restante fica confinado cerca de 40 dias, até atingir o peso ideal de corte (entre 40 e 42 quilos). Posteriormente elas seguem em lote para o abate, que acontece no único frigorífico com SIF (Serviço de Inspeção Federal) para ovinos do estado de São Paulo, localizado em Jundiaí. “Quando organizamos o sistema de cobertura, nascimento e abate, conseguimos maximizar muito o trabalho, pois já sabemos os insumos que vamos precisar na época correta, os colaboradores criam uma rotina definida e reduzimos bastante o custo logístico”, explicou o criador.
Parte da produção volta para Cravinhos, já embalada, sendo armazenada em câmara fria, que vai abastecer o mercado d a região, enquanto que outra já segue r umo a Capital para atender a carteira de clientes formada por restaurantes, boutiques de carnes e um crescente número de consumidores finais que compram através do e-commerce, para maiores informações acessar: www.fazendasantaignacia.com.br. Hoje são ofertadas as seguintes opções de corte: carrés, carne moída, costela, filé mignon, hambúrguer, linguiça, lombo, paleta, pernil, picanha e t-bone.
Quando nascem, ovelhas e c ordeiros permanecem o t empo todo juntos, confinados, por 15 dias. Posteriormente é iniciado o processo de mamada controlada, o qual, por dois meses, as crias passam o dia sozinhas, para aprenderem se alimentar no cocho, com o retorno das mães no final da tarde
A produção disponibiliza para o mercado mais de dez tipos de cortes diferentes
Para quem se interessar pelo mundo da ovinocultura, a dica que Gusmão dá é começar com uma produção pequena, de 15 a 20 animais, mas focar na qualidade genética e estratégia de manejo definida. Para mais informações, basta entrar em contato e agendar uma visita. Como é referência no setor, no mês de agosto diversos produtores e fornecedores (inclusive a Copercana foi patrocinadora), se reuniram em um dia de campo para discutirem aspectos técnicos da criação.
Referência na ovinocultura, a Fazenda Santa Ignácia abriu suas portas para um dia de campo onde foram debatidos diversos aspectos técnicos da atividade. Parceira da operação, a Copercana participou do evento expondo sua linha veterinária, de rações e a energia solar para propriedades rurais
A raça PollDorset
Com origem na Oceania (Austrália e Nova Zelândia) a raça possui diversas características positivas como a excelente adaptabilidade para cruzamento industrial com fêmeas Santa Inês, gerando cordeiros com potencial ganho de peso. Além disso, o produtor relata que as ovelhas são boas leiteiras, geram muitos gemelares (gêmeos, geralmente nasce um filhote por gestação), tem facilidade no parto e habilidade materna, o que significa que é baixo o índice de recusa do filhote. Quanto a carne, por ser uma raça precoce, tem um sabor diferenciado, o que agrega valor na hora da comercialização.
Matrizes PO da raça PollDorset, genética se destaca por serem boas leiteiras, alto número de gemelares, facilidade no parto e baixo índice de recusa do filhote