Chuvas restritas tornam o plantio de cana ainda mais complexo
O plantio é um dos momentos mais importantes numa lavoura de cana-de-açúcar. Por se tratar de uma cultura perene, problemas nessa fase podem acarretar um sabor amargo ao produtor ao longo de diversos anos, ou pior, obrigá-lo a uma reforma precoce, o que reflete e muito no caixa da operação.
Com o fim da prática do fogo, o que fez o produtor mudar totalmente a forma de trabalhar, diversas técnicas vêm sendo adotadas, como por exemplo a sistematização dos talhões, pensando principalmente na redução de pisoteio e preservação da soqueira.
Outro ponto de melhoria constante está na busca pelo uso mais racional e maior sanidade das mudas, o que gerou nas fazendas a presença de cantosis e meiosis vindas muitas vezes das MPBs (Mudas Pré-Brotadas) e ressuscitou o manejo manual e semimecanizado como maneira de aumentar a precisão na inserção das canas nos sulcos.
Além disso, há a complexa receita de defensivos e fertilizantes que precisa levar em consideração aspectos como dosagem e programação e tudo isso se encaixar com a disponibilidade da área e produtos, maquinário e mão-de-obra.
Se não bastassem todas essas variáveis, tem a influência climática, que a cada ano está mais imprevisível, tornando ainda mais complexo e tenso para o agricultor que vai iniciar a empreitada que é tocar a lavoura de cana por mais um ciclo.
É justamente aí que a atual temporada se transformou em uma das mais desafiadoras dos últimos anos, pois a falta de chuvas uniformes e constantes (salvo alguns curtos períodos) desde a primavera, época do plantio das principais culturas de rotação (soja e amendoim) tirou muita gente do eixo da programação gerando atrasos no manejo e jogando o plantio para o final de março, abril e até mesmo maio, épocas secas e agravadas já com a queda das temperaturas.
Assim, o que se vê nos campos são áreas que o trabalho foi realizado mais cedo, onde não foi feita rotação comercial de cultura, o que possibilitou aproveitar as poucas águas de fevereiro para pelo menos fazer a cana brotar.
Outros produtores, principalmente quem tem problemas sérios com pragas de solo, optaram por uma rotação, no mínimo anual de cultura, ou seja, semearam soja ou amendoim no último verão, farão uma safrinha (milho ou sorgo) e retornarão com os grãos na primavera, e então analisarão se voltarão ou não com a cana.
Por fim, têm os que vão encarar a seca e partiram para o plantio em abril ou em maio, nesse time têm produtores já acostumados com a época e, como defesa para a possível falta de água, possuem uma estratégia para conseguir somente a brotação.
A teoria da sincronicidade ou coincidências significativas, do psiquiatra suíço Carl Gustav Jung, diz que não é pura coincidência que dois ou mais eventos ocorram de maneira simultânea (sem lógica de tempo e espaço) fazendo em que essa junção se torne um gatilho para um processo de transformação.
Trazendo para o momento do produtor de cana e vendo o caminho tomado por cada um, é possível enxergar um futuro de produtividades mais altas nas três atitudes descritas, às vezes nem pelo resultado do manejo deste ano, mas pelo fato de que pior que a seca é ficar acomodado com as mesmas práticas repetidas ao longo dos anos e décadas, desconsiderando o novo.
Canavial cultivado no início de 2020 (foto feita em setembro do mesmo ano) mostra vigor mesmo tendo sofrido severa estiagem, muito por não ter tido sua terra revolvida, inclusive nem a quebra de lombo havia sido feita objetivando preservar a umidade