Cresce fatia estrangeira na moagem de cana

27/05/2015 Cana-de-Açúcar POR: Valor Econômico
Apesar das frustrações, a presença estrangeira no segmento de etanol e açúcar no Brasil tem crescido de forma expressiva. Levantamento feito pelo Valor mostra que, juntas, as 14 principais multinacionais que investiram em usinas de cana ampliaram a moagem em 60% nas últimas cinco safras. Nesse intervalo, o processamento da matéria­prima no país cresceu apenas 6,5%.
A moagem realizada por usinas controladas por capital estrangeiro somou 154 milhões de toneladas na safra encerrada em 31 de março deste ano (2014/15). Foi um volume equivalente a 24% do total nacional, que alcançou 643 milhões de toneladas, conforme a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). No ciclo 2009/10, o "market share" foi de 16%.
Os cálculos consideram as moagens totais das usinas controladas por grupos estrangeiros mesmo quando eles têm sócios brasileiros minoritários. No caso da Shell, que "divide" a Raízen Energia em partes iguais com a Cosan, foi considerado o volume equivalente a sua participação.
O maior dinamismo estrangeiro nesse segmento não está diretamente relacionado à satisfação com o negócio.
Grande parte dessas companhias está entregando prejuízos consecutivos a seus acionistas. A questão é que, depois que se compra uma usina, é praticamente obrigatório continuar investindo no ativo, seja para ganhar escala ou para otimizar o uso da capacidade. Algumas companhias, tais como a americana Bunge e a espanhola
Abengoa, até tentaram voltar atrás e se desfazer de suas unidades, após perdas sucessivas. Mas não encontraram interessados.
Há três anos a Bunge amarga em seu balanço global prejuízos operacionais no segmento "Açúcar e Bioenergia". Essa operação está concentrada nas oito usinas brasileiras, cuja aquisição, segundo o mercado, custou mais de US$ 2 bilhões à americana. Em 2012, a perda operacional do segmento alcançou US$ 118 milhões. No ano seguinte, US$ 34 milhões e em 2014, foi de US$ 23 milhões.
Quando as cotações do açúcar começaram a despencar, em meados de 2011, e os preços do etanol passaram a sofrer uma pressão maior da política de controle de preços da gasolina no Brasil, quem havia entrado no setor, não conseguia mais sair. "As multinacionais que compraram grandes operações sofreram mais o ambiente hostil
que se desenhou nesse mercado", disse o presidente de uma das multinacionais  presentes no segmento.
Além da Bunge, também é um exemplo clássico desse perfil a francesa Louis Dreyfus Commodities (LDC). De 2009 para 2010, a múlti se tornou a segunda maior do segmento a partir de uma impulsiva estratégia de aquisições ­ concluída com a compra da Santelisa Vale, que a fez dobrar de tamanho, para uma capacidade de moagem de 40 milhões de toneladas.
Entretanto, com dificuldade para capturar sinergias e diante de um elevado endividamento, sua controlada Biosev teve que desativar no último biênio duas unidades em São Paulo (São Carlos e Jardest) para tentar ganhar eficiência. Assim, a operação
encolheu para uma capacidade de 36 milhões de toneladas ­ no último ciclo, processou apenas 28,3 milhões. Nos 24 meses encerrados em 31 de março de 2014, a companhia acumulou um prejuízo líquido superior a R$ 2,1 bilhões. No mesmo intervalo, as perdas operacionais foram de R$ 820 milhões.
Conforme especialistas, as dores do crescimento estrangeiro foram efeito da conjuntura ruim para o segmento, da dificuldade de lidar com a gigantesca operação agrícola vinda com o ativo industrial e também dos elevados valores pagos pelos ativos. A partir de 2007/08, no auge das expectativas positivas com o etanol no mundo, o Brasil recebeu bilhões de dólares de investimentos. Em alguns casos, usinas foram compradas a valores
equivalentes a US$ 160 por tonelada de capacidade, conforme cálculo da consultoria FG Agro. Já há alguns anos, é raro encontrar interessados em pagar o equivalente à metade desse valor.
A própria Biosev, quando vendeu 5% de seu capital para o IFC, braço corporativo do Banco Mundial, neste ano, o fez por um valor equivalente a US$ 86 por tonelada de capacidade ­ bem abaixo dos US$ 106 por tonelada pelos quais comprou os ativos da Santelisa Vale, em 2009. Quando a Cosan, primeira consolidadora desse segmento, iniciou de forma mais agressiva a aquisição de usinas, esses valores dificilmente superavam US$ 50 por tonelada.
Apesar das frustrações, a presença estrangeira no segmento de etanol e açúcar no Brasil tem crescido de forma expressiva. Levantamento feito pelo Valor mostra que, juntas, as 14 principais multinacionais que investiram em usinas de cana ampliaram a moagem em 60% nas últimas cinco safras. Nesse intervalo, o processamento da matéria­prima no país cresceu apenas 6,5%.
A moagem realizada por usinas controladas por capital estrangeiro somou 154 milhões de toneladas na safra encerrada em 31 de março deste ano (2014/15). Foi um volume equivalente a 24% do total nacional, que alcançou 643 milhões de toneladas, conforme a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). No ciclo 2009/10, o "market share" foi de 16%.
Os cálculos consideram as moagens totais das usinas controladas por grupos estrangeiros mesmo quando eles têm sócios brasileiros minoritários. No caso da Shell, que "divide" a Raízen Energia em partes iguais com a Cosan, foi considerado o volume equivalente a sua participação.
O maior dinamismo estrangeiro nesse segmento não está diretamente relacionado à satisfação com o negócio.
Grande parte dessas companhias está entregando prejuízos consecutivos a seus acionistas. A questão é que, depois que se compra uma usina, é praticamente obrigatório continuar investindo no ativo, seja para ganhar escala ou para otimizar o uso da capacidade. Algumas companhias, tais como a americana Bunge e a espanhola Abengoa, até tentaram voltar atrás e se desfazer de suas unidades, após perdas sucessivas. Mas não encontraram interessados.
Há três anos a Bunge amarga em seu balanço global prejuízos operacionais no segmento "Açúcar e Bioenergia". Essa operação está concentrada nas oito usinas brasileiras, cuja aquisição, segundo o mercado, custou mais de US$ 2 bilhões à americana. Em 2012, a perda operacional do segmento alcançou US$ 118 milhões. No ano seguinte, US$ 34 milhões e em 2014, foi de US$ 23 milhões.
Quando as cotações do açúcar começaram a despencar, em meados de 2011, e os preços do etanol passaram a sofrer uma pressão maior da política de controle de preços da gasolina no Brasil, quem havia entrado no setor, não conseguia mais sair. "As multinacionais que compraram grandes operações sofreram mais o ambiente hostil que se desenhou nesse mercado", disse o presidente de uma das multinacionais  presentes no segmento.
Além da Bunge, também é um exemplo clássico desse perfil a francesa Louis Dreyfus Commodities (LDC). De 2009 para 2010, a múlti se tornou a segunda maior do segmento a partir de uma impulsiva estratégia de aquisições ­ concluída com a compra da Santelisa Vale, que a fez dobrar de tamanho, para uma capacidade de moagem de 40 milhões de toneladas.
Entretanto, com dificuldade para capturar sinergias e diante de um elevado endividamento, sua controlada Biosev teve que desativar no último biênio duas unidades em São Paulo (São Carlos e Jardest) para tentar ganhar eficiência. Assim, a operação
encolheu para uma capacidade de 36 milhões de toneladas ­ no último ciclo, processou apenas 28,3 milhões. Nos 24 meses encerrados em 31 de março de 2014, a companhia acumulou um prejuízo líquido superior a R$ 2,1 bilhões. No mesmo intervalo, as perdas operacionais foram de R$ 820 milhões.
Conforme especialistas, as dores do crescimento estrangeiro foram efeito da conjuntura ruim para o segmento, da dificuldade de lidar com a gigantesca operação agrícola vinda com o ativo industrial e também dos elevados valores pagos pelos ativos. A partir de 2007/08, no auge das expectativas positivas com o etanol no mundo, o Brasil recebeu bilhões de dólares de investimentos. Em alguns casos, usinas foram compradas a valores
equivalentes a US$ 160 por tonelada de capacidade, conforme cálculo da consultoria FG Agro. Já há alguns anos, é raro encontrar interessados em pagar o equivalente à metade desse valor.
A própria Biosev, quando vendeu 5% de seu capital para o IFC, braço corporativo do Banco Mundial, neste ano, o fez por um valor equivalente a US$ 86 por tonelada de capacidade ­ bem abaixo dos US$ 106 por tonelada pelos quais comprou os ativos da Santelisa Vale, em 2009. Quando a Cosan, primeira consolidadora desse segmento, iniciou de forma mais agressiva a aquisição de usinas, esses valores dificilmente superavam US$ 50 por tonelada.