Datagro vê preços remuneradores da soja para a próxima safra

22/09/2021 Noticias POR: MARINO GUERRA

Projeção aponta para números abaixo dos picos de 2021, mas acima da média de 2020

 

Depois de uma diversificada projeção de cená­rios dos mais variados especialistas de mer­cado, que se reuniram de maneira virtual, no início do mês de agosto, para realizar a edição de 2021 da Abertura da Safra de Grãos da Datagro, a expectativa que se criou é de que a temporada 21/22 de soja deverá ter ganho de produção e manterá os preços remunerado­res, não no patamar do corrente ano, mas acima da média de 2020.

Essa perspectiva foi confirmada na palestra ministrada pelo head (inteligência de negócios) de grãos da Datagro, Flávio França Junior, que a desenhou utilizando uma mistura de informações conjunturais com o conteúdo discutido ao longo dos painéis do evento.

Dessa maneira, França apontou para um ganho de área de soja em torno de 4%, chegando assim a uma lavoura acima dos 40 milhões de hectares e que produzirá 5% a mais em relação ao último ano, fazendo com que a produção nacional atinja números em torno das 144 milhões de toneladas.

No estado de São Paulo, a consultoria acredita num cres­cimento de área com percentuais bem parecidos com os nacionais, saindo dos 1,18 mil hectares e chegando a algo em torno de 1,23 mil.

Para a confirmação desses números, o especialista alerta que a manutenção da previsão ou de um La Niña fraco no início do plantio, ou até mesmo um cenário de nor­malidade da temperatura do pacífico equatorial, é fun­damental.

Outra variante de forte influência na questão dos pre­ços é o andar da marcha de colheita do grão nos Estados Unidos, que ao longo do período de cultivo teve algu­mas áreas prejudicadas pela falta de chuva, mas nada que impeça que a produção saia das 112 milhões de toneladas da última temporada e feche próximo das 120 milhões.

Contudo, França alertou que como o plantio norte-ame­ricano foi antecipado, o USDA anunciaria seu primeiro levantamento real da colheita no meio do mês, mais especificamente no dia 12, o que realmente aconteceu e foi revelado um número menor em dois milhões de tone­ladas no comparativo com a previsão do especialista, o que colocou muito mais pressão sobre a estimativa do preço. “O mercado está muito tenso, mesmo dando tudo certo, o cenário para o ano que vem é de preços acima da média e qualquer enrosco, ou do final da safra americana ou no início na América do Sul, será explosivo para o mercado internacional”, disse França.

Assim, no contexto do “tudo certo” a consultoria enxerga para 2022 valores em Chicago da soja produzida no Sul e Sudeste brasileiro variando entre US$ 13,50 e US$ 14,50 o bushel, o que com uma visão bastante otimista de câmbio (R$ 5,00) deve pagar ao produtor algo entre R$ 133,00 e R$ 144,00 a saca.

O economista do Itaú BBA, Igor Barreto, imagina o dólar fechando 2020 a R$ 5,10

 

A abertura do evento contou com a palestra do economista do Itaú BBA, Igor Barreto, que teve a incumbência de posicionar os participantes dos principais índices que influenciam na ati­vidade dos produtores de grãos.

E o principal deles é o câmbio, o qual Barreto acredita que considerando apenas os fundamentos econômicos, deixando de lado as questões políticas que ganharão proporção com a proximidade da próxima corrida presidencial, deva fechar 2021 em R$ 4,75 e 2022 em R$ 5,10.

Na sua argumentação para a visão otimista, o economista enxerga a evolução nos juros (7,5% no final do ano), as refor­mas necessárias aprovadas e a retomada da atividade econô­mica pós-pandemia.

Para o mercado de petróleo, a expectativa é mais conserva­dora, isso porque ao perceber que a demanda pelo combustí­vel fóssil já atingiu os níveis pré-pandemia, mas a retomada da oferta é lenta, assim 2021 deve fechar com o barril valendo US$ 77,00 enquanto que no ano seguinte seu valor deve se aproximar dos US$ 80,00.

Insumos

Para falar sobre os fertilizantes, participou o diretor execu­tivo da Anda (Associação Nacional para Difusão de Adubos), Ricardo Tortorella, que expôs a dependência da importação cada vez maior, no caso do NPK ultrapassando os 90%, como um dos principais desafios para conseguir atender a demanda crescente.

Pensando em logística, esse cenário precisa de investimen­tos constantes na melhoria, tanto da estrutura dos portos para recebimento como na evolução da malha de distribuição, que se pensando em grãos, precisa chegar com maior eficiência no Mato Grosso.

Contudo, na visão do líder, é vital evoluir com a implanta­ção do Plano Nacional de Fertilizantes lançado recentemente pelo Ministério da Agricultura, o que será um marco no sur­gimento de uma estrutura interna que faça evoluir a produção interna.

Representando os defensivos, o convidado foi o presidente da Crop Life Brasil (associação que reúne especialistas, instituições e empresas que atuam na pesquisa e desenvolvimento de tecnologias nos segmentos de mudas e sementes, biotec­nologias, defensivos químicos e produtos biológicos) Chris­tian Lohbauer, que mostrou o orçamento quatro vezes maior em relação ao começo do século da indústria em pesquisa e desenvolvimento de novas soluções químicas sempre em busca da relação de queda na toxicidade e ganho na eficiência.

Porém, Lohbauer aponta para a lentidão do sistema regula­tório brasileiro como o principal entrave que não permite a aceleração desse processo. Para ilustrar, mostrou dados alar­mantes como os de registro de novas moléculas nos últimos três anos, que em 2019 foi 19, em 2020 caiu para nove e até agosto de 2021 haviam sido apenas duas. “Nosso setor regula­tório é afetado por uma visão arcaica de autoridades que ainda têm um forte viés ideológico, não pensam como ciência. Até 2016 tinha gente que comemorava quando uma molécula não era aprovada”, disse Lohbauer.

Ricardo Tortorella disse que é preciso evoluir com a produção nacional de fertilizantes, enquanto que Lohbouer enfatizou a necessidade de se rever o sistema de regulatórios para os defensivos nacionais.

O líder setorial também falou sobre o ganho de espaço por parte das ferramentas biológicas, que hoje repre­sentam a fatia de 2% do mercado de defesa vegetal e tem como perspectiva de atingir, com um sistema regu­latório mais amigável, 20% do mercado.

Para se ter ideia dessa influência, 36% das proprieda­des que cultivam soja já adotam alguma ferramenta do nicho, enquanto que no algodão esse percentual atinge os 50%.

Finalizando sua participação, Lohbauer acredita que não haverá uma falta generalizada de defensivos para a temporada de cultivo de grãos que deve se iniciar em breve. O que poderá haver são faltas pontuais em decorrência de problemas na cadeia de suprimentos, como por exemplo entraves logísticos ou até mesmo falta de embalagens.

Indústria e produtores

O presidente executivo da Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais), André Nassar, iniciou sua apresentação destacando que os produtores de soja honraram com seus compromissos de entrega da produ­ção de venda antecipada. Segundo o executivo, estudos da entidade revelaram que em apenas 1,3% dos contratos foram registradas inadimplência ou algum tipo de rene­gociação.

Na safra atual, o grande problema é a redução da mistura do biodiesel no diesel S-10, o qual deixou a perspectiva de mistura em 13% (B13) se reduzir em até 10% e recupe­rando até chegar ao B12 no último leilão.

Entretanto, Nassar disse que se em 2022 a mistura de biodiesel ao óleo diesel seguir o que prevê a lei (B13 em janeiro e fevereiro e a partir de março a mistura passar a ser B14) o esmagamento deverá ser entre 3 a 3,5 milhões de toneladas maior. Ele ainda ressaltou que esse ganho significaria o processamento de quase 50 milhões de toneladas, volume que influenciaria na pressão sobre o preço das rações, pois se elevaria proporcionalmente a oferta de farelo.

Quem representou os produtores do grão foi o presidente da Aprosoja Brasil (Associação Brasileira dos Produto­res de Soja), Antonio Galvan, que fez um alerta sobre a perspectiva de aumento de área da lavoura na safra 21-22, onde a preocupação com a escalada dos preços dos insu­mos, aliada a falta de garantia se haverá alguns produ­tos fundamentais para o plantio direto, como o glifosato, podem ser fatores decisivos para um crescimento menor que o esperado.