Almir Torcato - Gestor corporativo da Canaoeste
"Não se gerencia o que não se mede, não se mede o que não se define, não se define o que não se entende, e não há sucesso no que não se gerencia." (William Edwards Deming)
Gerenciamento. No dicionário é o ato ou efeito de gerenciar. É administrar, comandar, coordenar, direcionar, gestar. O termo é muito ligado às empresas e no meio corporativo, mas na vida será que é possível usar esses mesmos ideais para traçar uma trajetória profissional que traga sucesso? Nosso homenageado deste mês na Revista Canavieiros é a resposta de que sim.
Quem é o gestor corporativo da Canaoeste?
Almir Aparecido Torcato nasceu no dia 17 de dezembro de 1983. De origem simples, filho de Edgard Aparecido Torcato e Marlene Aparecida Geraldo Torcato (in memoriam), e irmão de Edgard Aparecido Torcato Júnior.
Graduado em Comércio Exterior e em Tecnologia de Bicombustíveis, especializado em Agroenergia, Gestão Estratégica do Agronegócio e Gestão Estratégica de Cooperativas do Agro.
Na Canaoeste (Associação dos Plantadores de Cana do Oeste do Estado de São Paulo) desempenhou diversas funções administrativas com foco nos recursos advindos das unidades industriais e a regularização da relação dos associados. Este ano, Torcato completa 18 anos de trabalho na associação.
Casou-se em 2014 com a advogada Amaranta Marques Sarti Torcato e desde 2016 ocupa a função de gestor corporativo, coordenando e supervisionando toda a estrutura de maneira que as ações da entidade sejam sempre de acordo com a proposta da diretoria constituída.
“Comecei o namoro com a Amaranta em 2010, me casei, e essa é parceria para toda vida. Ela sempre me apoiou e me ajudou durante meus estudos, dando suporte naquilo que mais precisei, estando sempre ao meu lado. Hoje é meu braço direito na Casa das Mangueiras, projeto social que cuida de 100 crianças, em Ribeirão Preto”, destaca. “Eu auxiliava na tesouraria e, após o falecimento do sr. Manoel Ortolan, em junho de 2019, assumi a presidência. Um tempo depois houve uma eleição, e escolheram a Amaranta como segundo vice-presidente do projeto”, explica.
Já na Canaoeste, além do elo da diretoria entre equipe e associados, Torcato é responsável por conduzir os processos de mudança organizacional, visando conquistar o engajamento de todos os integrantes para a busca da qualidade nos padrões de desempenho individual e coletivo dentro da organização.
Almir durante aniversário de um ano, com os pais Marlene e Edgard
Almir e a sua esposa Amaranta
Foto tirada no projeto Casa das Mangueiras, em Ribeirão Preto
Curiosidades
Almir Torcato possui hobbies totalmente diferentes. Enquanto alguns deles demandam concentração e calmaria, o outro é puro esforço e resistência. Amante das artes e da música, Torcato é violonista e pianista. O esporte preferido é o ‘crossfit’ e, nas horas vagas se dedica a pintura.
Ele nos revela que na Canaoeste existem quadros que foram pincelados por ele que se considera um ‘amador dedicado’ apesar das belas telas criadas. “Sou um amador dedicado. No esporte pratico ‘crossfit’ e gosto muito - tenho dúvida se é pelo esporte em si, ou pela turma das 6 horas da manhã”, ri e completa “é a dose de algo no inicio do dia que faz o dia começar mais leve. Participo às vezes dos campeonatos internos, mas sempre no sentido de me divertir, se não for para ser legal, está errado”, comenta
Um dos quadros pintados por Almir Torcato
Torcato durante a prática de exercícios ‘crossfit’
Infância empreendedora
Almir Torcato com um ano de idade
Desde pequeno sempre teve ao seu lado exemplos de empreendedorismo, esforço e dedicação, vindos principalmente através de sua mãe Marlene Torcato, conhecida em Sertãozinho não somente por suas massas caseiras, molhos e quitutes, mas também pelo carinho, doação e amor ao próximo que desenvolvia através da participação em projetos sociais, junto à Casa de Abrigo Nosso Lar “Orfanato das Meninas”, onde ensinava uma profissão e fonte de renda para as meninas da casa.
“Ela sempre foi uma mulher empreendedora. Sempre fez negócio, dava cursos, fazia bolo, salgado, comida. Acordávamos na madrugada do sábado com o cheiro do molho de tomate das encomendas de domingo, ela fazia tudo. Aos finais de semana eu era responsável por despachar as encomendas. Então, ela cozinhava e eu gerenciava as entregas com os mototaxistas, isso com 12 anos. Aprendi muito com ela nesse sentido”, destaca Torcato.
Início da trajetória
Almir Torcato iniciou sua trajetória na Canaoeste em 2004. Na época, era responsável por digitar os boletins de entrada de cana dos associados que os fiscais de sacarose produziam. Dentro do departamento foi se desenvolvendo e com o passar dos anos adquiriu uma visão aprofundada sobre os processos da associação.
Também na mesma época, Torcato começou a Faculdade de Comércio Exterior, algo incomum para usar em uma associação. “Para mim não parecia fazer muito sentido. Pensava, como vou usar aqui o que estudei? Quando menos percebi, estava colocando em prática parte dos conhecimentos na área diplomática bem como a econômica, entendendo o mercado de açúcar, bolsa de valores, comercialização, tipos de preço, impostos intrínsecos do Consecana-SP, que mais tarde seria uma das minhas das principais áreas de atuação.
Logo destacou o traço e o seu novo desafio foi trabalhar com o controle dos recebíveis. Nessa oportunidade passou a entender como funcionava a obtenção de receitas e nessa função, que talvez ele tenha executado o seu primeiro grande trabalho dentro da instituição.
Almir observou uma falha no recebimento das receitas, que tornava praticamente impossível a configuração de qualquer planejamento financeiro baseado na receita. Naquela época, o então assistente, com apenas 28 anos, enfrentou uma grande resistência cultural, mas com bons argumentos empíricos conseguiu implantar um sistema eficiente de cobrança ativa que com o projeto em andamento foi promovido a Analista de Planejamento.
A forma de cobrança mudou, quando a unidade industrial não repassava a taxa, seja por problema cadastral ou alteração de unidade esmagadora, o fornecedor passou a receber um boleto em casa com o valor referente àquela entrega de cana que não havia sido feito o recolhimento, facilitando, assim, a sua regularização com a associação.
Através desse sistema mais eficiente e minucioso começou-se a garantir a sua perenidade, viabilizando o recolhimento da taxa associativa, bem como facilitando a vida do associado, que regularizava sua pendência sem precisar se deslocar até a entidade ou escritório regional.
O orientador Manoel Ortolan
Com toda a experiência de anos dentro da Canaoeste e o networking que a instituição proporcionava, Almir encarou mais uma formação em sua carreira, a de Tecnologia de Biocombustíveis. Durante o processo de conclusão de seu curso, em 2012, Torcato usou como base de estudo o tema “O reflexo da concentração sucroenergética na remuneração aos fornecedores independentes da região de Sertãozinho”, que tratava da internacionalização dos grupos industriais e a formação de grandes blocos econômicos de indústrias moedoras de cana-de-açúcar, e neste trabalho teve a grata satisfação de ter como orientador do tema o presidente da associação, Manoel Carlos de Azevedo Ortolan (in memorian). Maneco, como era carinhosamente chamado, teve a missão de orientar e apontar os caminhos para o TCC.
“Eu precisava de alguém que ia além do campo acadêmico, que tivesse conhecimento histórico, além de contato para conseguirmos uma base de dados importante. Quando falei para ele do projeto, ele me fez a pergunta: nunca fiz isso, você vai dar conta de mim? Rimos bastante, e disse: fica tranquilo quero de você as perguntas certas para estudarmos e respondermos no trabalho, e conforme for desenvolvendo a parte técnica eu me garanto com o pessoal da coordenação!” Naquele ano o trabalho fez jus ao “Prêmio Tecnologia em Biocombustíveis”, atribuído pela Comissão de Estágios e Trabalhos de Graduação, ao melhor trabalho de graduação desenvolvido.
A parceria que resultou na premiação teve também outro grande companheiro o engenheiro-agrônomo Oswaldo Alonso.
Oswaldo Alonso, Manoel Ortolan e Almir Torcato
A reestruturação da Canaoeste e a busca pelo CEO
Um plano que visava adequar a associação para uma nova realidade. Foi assim que em 2015, o presidente, Manoel Ortolan, contratou a Markestrat (Centro de Pesquisas e Projetos em Marketing e Estratégia da USP), sob a condução do professor Marcos Fava Neves para o desenvolvimento de um plano estratégico da entidade.
O plano se resumiu em um conjunto de doze ações sendo a principal delas, a revisão mais o acompanhamento do orçamento, dentre outras que garantissem a inovação para a perenidade da associação.
Para que o plano de Ortolan e Fava funcionasse, era fundamental uma liderança focada nessas ações, e com isso, a busca por um profissional renomado no mercado de trabalho que possuísse as qualidades para assumir o desafio.
Almir foi incumbido nesse aspecto de organizar o plano, sendo uma espécie de braço direito do CEO que estaria por vir. “A Canaoeste precisava contratar essa pessoa para fazer a gestão administrativa. Não olhar somente para as receitas e despesas, mas olhar para departamentos, áreas, estrutura, ter uma visão mais administrativa. Nesse aspecto foram buscar no mercado esse profissional enquanto a consultoria fazia os trabalhos e os auxiliava”, explica.
Durante todo o período, Almir até então não se imaginara ocupando “a vaga”, mas sim organizando a casa para a vinda de um profissional. Ao mesmo tempo, em que dedicava a seguir o plano, foi também nesse mesmo ano, que Torcato enfrentou o período mais difícil de sua vida, a perda de sua mãe Marlene, no dia 19 de outubro, aos 65 anos. “Muitos nem souberam, o planejamento financeiro executado em 2015 foi construído em um dos quartos do Hospital Netto Campello, enquanto ficava com minha mãe. Foi um momento bem difícil na minha vida”, relata.
A oportunidade da vida
A implantação do projeto na associação era urgente! O presidente Manoel Ortolan e a empresa de consultoria resolveram agilizar o processo consultando nomes de profissionais dentro da própria entidade. O profissional teria o papel de articulador nos 12 projetos de mudança necessários, relativa proximidade com os seus números e conhecimento da operação de maneira globalizada.
Uma pesquisa interna foi feita onde cada membro da Canaoeste poderia apontar qual colega achava mais eficiente para gerir determinado processo, como, por exemplo: orçamento, governança, revisão da área técnicaa gronômica, banco de dados, retomada das contribuições, entre outras, tendo Almir Torcato como indicado em todas de forma expressiva na grande maioria delas.
Foi nesse momento o convite para o profissional dar o pontapé inicial de maneira interina. Era a oportunidade da vida! "Não me considero uma pessoa ambiciosa, mas tenho objetivos profissionais definidos, adquiro bastante conhecimento e informação. Por outro lado, não sou imediatista, invisto e deixo o universo responder, seguindo a isso as coisas foram acontecendo naturalmente”, lembra.
O desafio estava aceito. Antes de tudo, Torcato fez uma proposta para a presidência e para o diretor tesoureiro na época, Francisco César Urenha, apresentando um plano para que todas as ações fossem feitas ainda em 2015, custos, recursos e impactos. "Precisava começar 2016 leve e equilibrado para organizar o orçamento anual”.
Com o resultado do trabalho interino e ainda acreditando que estaria atuando de forma a aplainar o terreno que viria ser ocupado pelo novo CEO, Almir Torcato seguiu gerenciando as questões administrativas da Canaoeste. A estratégia do executivo para atingir os objetivos foi simples: não se gastar mais do que se arrecada, ou seja, enxugou custos para fazer a estrutura caber dentro de uma visão de receita conservadora. “Eu tinha planos, pessimista, conservador e otimista, apresentava para diretoria com as três possibilidades, fazíamos as ponderações e sempre tinha o apoio da diretoria para a execução”.
A surpresa
E assim se passaram sete meses. O trabalho continuava e a Canaoeste intensificava a busca pelo tão sonhado CEO. O perfil, um profissional com bagagem corporativa, entre 40 e 50. Almir seguia de perto se dedicando, cuidando e zelando por todo o projeto. "Eu já via como um grande salto ser esse braço direito do CEO que viria. Eu havia saído de uma função, cumprindo com as metas estabelecidas de organização, e estava à espera desse profissional. Foi uma época muito ativa da minha vida, apesar de todas as questões pessoais que estava passando”, ressalta.
Foi dessa maneira, de surpresa, que em novembro de 2016, com seus 32 anos, Torcato receberia uma proposta que significaria o reconhecimento de todo esforço que ele havia feito, em meio a uma conversa, durante um evento promovido no Centro de Cana, em Ribeirão Preto. “Numa dessas reuniões de final de ano que tem no IAC o Marcos Fava estava. Ele virou e me chamou para uma conversa, com o Maneco. Lembro que eu estava carregando umas três agendas dessas de final de ano. O Marcos na época, embora muito cordial, foi categórico. Ele disse: vou falar duas coisas para você, todo o projeto na vida da gente é um filho e é importante que a pessoa esteja em condições de assumir determinada situação. Você está pronto para ter um filho? Porque vai demandar dedicação’. E continuou ‘não sei o seu momento de vida, se está pronto, precisa ver se isso é importante para você", lembra Torcato e acrescenta.
"Vimos em você muito potencial e, antes de contratarmos um CEO, a gente quer…, o Maneco o interrompeu dizendo 'o CEO já está contratado, está aqui dentro, só preciso acertar se eu vou mudar a função dele ou não’.
Fiquei surpreso com a situação e respondi, ‘preciso de ajuda, preciso de mentoria, do resto dou conta’, ele falou “nesse sentido você pode contar comigo inclusive o Fava” que também se disponibilizou, e assim fomos fazendo as intenções, completa Torcato.
A parceria com toda a diretoria da Canaoeste
O CEO, ou melhor, Gestor Corporativo (cargo criado pelo próprio Almir Torcato) realizou transformações na associação. A parceria de sucesso contou com o apoio de toda a diretoria, em especial, do presidente Manoel Ortolan. “Precisávamos tomar decisões difíceis, organizar a empresa e tinham áreas que não estavam sendo eficientes, questões que precisavam ser reajustadas e contratos renegociados”, explica.
Desde o seu primeiro ano de trabalho, as ações tiveram o efeito esperado. A associação saiu de R$ 2,4 milhões negativos em 2015, para R$ 1,7 milhão no azul, seguindo com resultados satisfatórios até hoje.
Foram várias transformações na Canaoeste, criação de novos serviços aos associados e parcerias. O projeto de banco de dados virou uma vitrine da Associação, recebendo recurso internacional para continuar as ações de sustentabilidade. A mais recente batizada de “Programa de Boas Práticas e Certificações”, recebe pela segunda vez o apoio da Solidaridad, organização internacional da sociedade civil, e da Orplana (Organização de Associações e Produtores de Cana do Brasil).
Essa é somente uma parte da história de sucesso de um jovem que, com dedicação, conseguiu alcançar seus objetivos, mostrando que é possível com muito conhecimento e aplicação traçar metas e cumpri-las.
“Na minha vida como um todo, sempre fui aberto a oportunidades, nunca tive um objetivo “engessado”. Sou uma pessoa bastante determinada, e estar aberto às oportunidades que surgem dentro de um padrão ético e justo me encoraja. Invisto e depois a vida se encarrega e as coisas vão acontecendo”, Almir Torcato.