De Fornecedores a Produtores Integrados de Cana (PIC)

24/05/2013 Colunista POR: Marcos Fava Neves
Efeitos da Macroeconomia: diversos economistas estão fazendo prognósticos... negativos... Nosso crescimento está muito baixo. A expansão no primeiro trimestre ficou aquém do esperado. É o setor manufatureiro principalmente que não consegue reagir, e um dos fatores de maior impacto é o custo do trabalho, que cresceu acima da produtividade. Ligado ao custo do trabalho...
Mas o agro vai bem... Em abril o desempenho da balança comercial do agro surpreendeu positivamente pela alavancada e excelente desempenho. As exportações do agro (US$ 9,65 bilhões) se comparadas com o mesmo período de 2012 (US$ 7,03 bi), aumentaram incríveis 37,3%. O saldo na balança do agro de abril é de US$ 8,21 bi, um valor 43,9% superior a abril de 2012. 
O valor exportado acumulado no ano (US$ 30,2 bilhões), por sua vez, aumentou (14,6%) quando comparado com o mesmo período de 2012 (US$ 26,4 bilhões), contribuindo para um saldo positivo acumulado no ano de US$ 24,5 bilhões (17,6% maior que o mesmo período em 2012).
Falta de Oportunidades ou Excesso de Impunidades: confesso que não consigo entender as pessoas que acham que o problema da crescente criminalidade no Brasil é a falta de oportunidade. O Brasil está praticamente a pleno emprego, recentemente estive em uma empresa que tenta contratar 60 pessoas registradas para um período, na nossa região, e não encontra. Como então dizer que é falta de oportunidade? O que temos sim é excesso de impunidade, que vem desde lá de cima e reflete no comportamento da população. Sinto que parte do Brasil está passando por um processo que chamo de “vagabundização”. O negócio é ficar pendurado. O problema mais sério que tenho sentido em parte do país é o da laborfobia (aversão ao trabalho). Precisamos mudar os valores.
Pessoas Canavieiras (homenagem do mês): Este mês queria fazer uma homenagem especial ao Hermínio Jacon e seu maravilhoso trabalho pelo setor e pela ASCANA (Associação dos Plantadores de Cana do Médio Tietê) de Lençóis Paulista. 
Aprendizado de Viagem: tive oportunidade de fazer uma palestra em Lima (Peru). O Peru vem crescendo 7% ao ano, apresenta uma série de desafios, mas um desenvolvimento incrível. Lima é uma cidade muito interessante, incrivelmente não chove nada, apesar de ser ao lado do mar. Dois bairros são muito bonitos, Miraflores e San Isidro. A culinária é hoje referência mundial, seu centro histórico é emocionante e lembrar tudo o que este país já passou em termos de Governos, grupos terroristas, é de se tirar o chapéu.
Cana: a colheita vem progredindo bem, o clima ajudando. A UNICA (União da Indústria de Cana-de-açúcar) soltou a projeção de safra, com a perspectiva de produção de 589,6 milhões de toneladas no Centro-Sul. Com uma safra mais alcooleira, devem ser produzidos no ciclo 13/14 cerca de 11,2 bilhões de litros de anidro, 14,17 bilhões de litros de hidratado e 35,5 milhões de toneladas de açúcar. As perspectivas para o açúcar não têm sido boas. Continuam os preços estagnados e com isto os reflexos no preço do ATR são muito ruins.
Para o etanol, um ligeiro aumento da gasolina, que poderia até ser uma elevação da CIDE (Contribuição de Intervenção no Dominio Econômico) por quatro a cinco meses daria uma boa aliviada. O etanol ficaria competitivo, a frota flex consumiria em grande volume e com isto os preços do açúcar subiriam, além de aliviar mais ainda as importações de gasolina. Se os 19 milhões de carros flex no Brasil resolverem abastecer uma única semana com etanol (50 litros) sabe o que aconteceria? Consomem 118 mil hectares de cana em uma semana ou consomem 9,5 milhões de toneladas de cana em uma semana... Olha que loucura. Pena que o Governo não consiga entender uma estratégia onde todo o setor e o próprio país se beneficiaria. Aliás, outra coisa que me incomoda. O etanol está R$ 1,15 na Usina enquanto finalizo a coluna e R$ 2,00 nos postos de Ribeirão Preto. Uma incrível diferença de 85 centavos. 
ORPLANA (Associação dos Plantadores de Cana da Região Centro-Sul do Brasil): Fica meu registro ao admirável Manoel Ortolan, que será o presidente da ORPLANA nos próximos três anos, acompanhado do Pedro Lorenzetti. Dupla de primeira, tenho certeza que continuarão fazendo um ótimo trabalho. Meus parabéns também ao Ismael Perina pela dedicação neste período, investimento de tempo, viagens em prol do setor. Ismael é um craque da bola da cana, exceto pela opção futebolística, que tem trazido muitos dissabores ao amigo Ismael. 
Dentro das modernizações de nomes, lanço aqui uma ideia que já venho dizendo nas palestras. O álcool mudou para etanol, a usina está mudando para central energética, por que não mudarmos de fornecedor para produtor integrado, mostrando já a nova cara de modernidade que deve ter o produtor de cana, trabalhando integrado em redes, com alta tecnologia e controle de custos? Fica aqui registrada a sugestão, passar a chamar de produtor integrado de cana (PIC).
Vida nos EUA: Este mês queria mostrar a vocês uma bomba de etanol nos EUA, o chamado E85. Vejam que interessante. Ela tem um chamativo que evoca para o milho. Fica lançada a ideia de decorarmos as bombas de etanol nos postos do Brasil da mesma forma, com um design verde, pró cana. Eu também trabalharia para que uma regulamentação obrigasse a comunicação das emissões de CO2 por litro nas bombas, embaixo da identidade de cada combustível. Assim a questão ambiental também vai passando aos consumidores.  
Haja limão: finalmente o Governo atendeu a uma reivindicação de quatro anos para remoção do PIS e COFINS ao etanol. Mais uma que deu certo. Agora o foco deve ser em redução do ICMS nos Estados e uma ação tributária em cima do setor de bens de capital para que os necessários investimentos voltem. Um plano de longo prazo para o etanol, com sua missão na matriz energética brasileira em 2020, 2025 acho que podemos esquecer por parte do Governo.
MARCOS FAVA NEVES é professor titular de planejamento e estratégia na FEA/USP Campus Ribeirão Preto e coordenador científico do Markestrat.Em 2013 é Professor Visitante Internacional da Purdue University.