Desafios da tecnologia de formulações na produção de cana-de-açúcar

Cana-de-Açúcar POR: Gustavo Prates Vigna* Bárbara Marcasso Copetti** Roberto Estevão Bragion de Toledo*** Caio Antônio Carbonari**** Edivaldo Domingues Velini*****

* engenheiro-agrônomo e gerente de cultura Cana-de-açúcar e do Programa Segnus da Ourofino Agrociência

** engenheira-agrônoma e especialista de Desenvolvimento de Produtos e Mercado Cana-de-açúcar da Ourofino Agrociência

*** engenheiro-agrônomo e gerente de Produtos Herbicidas da Ourofino Agrociência

**** engenheiro-agrônomo e professor doutor da Unesp de Botucatu

***** engenheiro-agrônomo e professor da Unesp de Botucatu

    

O domínio do mercado de defensivos agrícolas pelas empresas multinacionais é notório no Brasil. Por esse motivo, a maioria dos produtos utilizados em nosso território é desenvolvida no hemisfério Norte, onde as condições edafoclimáticas são totalmente diferentes das encontradas aqui. Culturas com ciclos mais longos, como a cana-de-açúcar, impõem aos herbicidas utilizados em pré-emergência desafios extremos devido ao período residual exigido para que o cultivo permaneça sem interferência de plantas daninhas. 

Os produtos desenvolvidos em outras condições edafoclimáticas são utilizados, porém, a eficácia do manejo pode ser comprometida por fatores como quantidade de palha na superfície, tolerância a extensos períodos de seca e a transposição da palha com quantidades de chuva muito pequenas. Além disso, a permanência de alguns herbicidas por longos períodos sem chuva sobre a palha implica em redução da quantidade de produto que irá atingir o solo após a primeira chuva. Com isso, ocorre uma redução de performance no controle de plantas daninhas, obrigando o usuário a fazer uma segunda aplicação – o que eleva os custos de produção.

A soca seca da cana-de-açúcar é um exemplo clássico, pois o herbicida é aplicado sobre a palha no período de ausências de chuva e esse produto fica exposto à radiação solar e à temperatura elevada, condições em que o risco de volatilização e fotólise (degradação por luz) são maiores e as perdas podem ser bastante significativas. Diante disso, desenvolver soluções para esse cenário específico se torna muito importante.

Nesse ambiente de complexidade do manejo de plantas daninhas no sistema de produção de cana-de-açúcar no Brasil, compreender a dinâmica dos herbicidas no ambiente, mais do que nunca, é determinante para que possamos evoluir e obter sucesso nesse desafio, pois se isso não for desenvolvido em território brasileiro, não será desenvolvido em lugar nenhum do mundo.

Dentro desse aspecto, a importância de desenvolver formulações inovadoras adaptadas às condições tropicais, e em conjunto com Instituições de pesquisa, é fundamental para promover estratégias assertivas no manejo de plantas daninhas.

Além de compreender a dinâmica dos herbicidas no ambiente, é importante e possível interferir nesse processo por meio de formulações adequadas e de alta qualidade, melhorando a dinâmica de passagem do herbicida pela palha, reduzindo a fotodegradação, reduzindo drasticamente a volatilização, melhorando sua atividade no solo, controlando a liberação, minimizando as perdas por lixiviação e, até mesmo, estendendo o período residual de ação dos produtos.

Um exemplo de benefício de uma formulação desenvolvida no Brasil, pensando nas condições locais, está relacionado ao microencapsulamento da molécula clomazone. Enquanto formulações tradicionais ocasionam em torno de 10% de perda do produto entre a barra e o alvo e mais 5% pela evaporação da gota, totalizando uma redução de 15% em termos de deposição, as formulações com a tecnologia citada eliminam essas perdas por protegerem o ativo dessas condições adversas do campo. Além disso, a microcápsula proporciona uma liberação gradual do produto, o que reduz o risco de fitotoxicidade para a cultura e maior tempo de controle. Todas as características citadas proporcionam um aumento de performance e de eficácia dos herbicidas.

Nesse contexto, empresas nacionais ganham destaque por investir na tropicalização dos defensivos, buscando alternativas para melhorar o desempenho dos produtos diante da nossa realidade, uma vez que as condições de campo encontradas aqui são sem precedentes no mundo, do ponto de vista de ação de herbicidas de pré-emergência. Com isso, a indústria nacional se fortalece e figura entre as principais desse segmento, mostrando sua força e comprovando que gestão, inovação, tecnologia e arrojo são a chave para o sucesso.