Desafios e oportunidades para a cultura do amendoim nos próximos anos

06/09/2021 Noticias POR: FERNANDA CLARIANO

Evento on-line de lançamento da 3ª Feira Nacional do Amendoim e 18º Encontro sobre a Cultura do Amendoim de Jaboticabal contou com ilustres representantes do agronegócio

 

A cada ano a cultura do amendoim bate novos recordes. Pelos dados da Conab, a área plantada no estado de São Paulo foi de 154 mil hectares na última colheita de 2020 e de acordo com a Câmara Setorial do Amendoim, a estimativa é de que essa área já está passando de 220 mil hectares. A produção, segundo a Conab, é de 558 mil toneladas, já as exportações no ano passado atingiram 264 mil toneladas de amendoim em grãos e 73 mil toneladas de óleo. No comércio global de amendoim somos o 5º colocado, mas participamos com 8,4% desse comércio. Isso mostra o grande potencial que o amendoim tem de crescimento e é esse momento de forte expansão que estamos vivendo agora.

“Esses números são pequenos se compararmos com as commodities - soja, milho, café, açúcar, suco de laranja, mas são muito significativos e importantes para mais de 200 municípios do nosso estado que plantam, beneficiam e exportam amendoim”, afirmou o presidente da Câmara Setorial do Amendoim, Luiz Antônio Vizeu.

No dia 28 de julho, a comissão organizadora da 3ª edição da Feira Nacional do Amendoim de Jaboticabal e do 18º Encontro, principal evento brasileiro sobre a cultura e referência na América Latina, que este ano vem com o tema “Desafios e oportunidades para a cultura do amendoim nos próximos anos”, reuniu craques do agronegócio para o lançamento do evento. Participaram o coordenador do Centro de Agronegócios da FGV e Embaixador especial da FAO para as cooperativas, Roberto Rodrigues, a presidente do Conselho Diretor da ABAG; presidente executiva do Ibisa – Instituto Brasi-leiro para Inovação e Sustentabilidade do Agronegócio e secretária executiva do Instituto CNA e presidente do Lide Agronegócios, Mônika Bergamaschi, o presidente executivo da Abramilho - Associação Brasileira dos Produtores de Milho, ex-ministro da Agricultura e candidato ao Prêmio Nobel da Paz, Alysson Paolinelli, e como moderador, o presidente da Câmara Setorial do Amendoim, Luiz Antonio Vizeu, que na ocasião abordaram a agricultura e o grande potencial da cultura do amendoim, bem como as expectativas, desafios e oportunidades da cultura do amendoim.

Agricultura – De 1990 até hoje, a área plantada de grãos no Brasil cresceu 82% e a produção de grãos 351% (cresceu mais de 4 vezes), graças à tecnologia. Hoje o Brasil tem 9 milhões de hectares de floresta plantada (é quase a mesma área de cana) para fazer papel celulose, carvão vegetal ou mesmo para alimentar a indústria siderúrgica com ferro. É um país que tem uma agricultura sustentável importante, sem falar na agroenergia, a matriz energética brasileira é 48% renovável. O etanol da cana emite 11% CO2 e o biodiesel de soja emite 20% do CO2 que o diesel fóssil emite. A agroenergia também traz uma sustentabilidade espetacular ao agro brasileiro.

Mas o que vai acontecer com a agricultura mundial depois da pandemia? Para Roberto Rodrigues, a pandemia abriu duas janelas centrais para o mundo do futuro, que é a segurança alimentar de um lado e a sustentabilidade do outro. “Com a pandemia muitos países tiveram dificuldade em abastecer suas populações por questões logísticas, ou de produção ou de estoque disponível no mundo, tanto que os preços subiram espetacularmente e a segurança alimentar voltou a ser uma questão central no mundo por uma razão óbvia”, disse Rodrigues, que também destacou a questão da sustentabilidade. “Atualmente em qualquer lugar do mundo os jovens querem preservar o meio ambiente e estão lutando por isso. Não sabem bem como fazer, quais são os motivos reais e a forma correta de fazer, mas querem defender o meio ambiente e o Brasil vai liderar esse processo de sustentabilidade com segurança alimentar”.

Descarbonização - O Brasil tem uma condição notável de descarbonização e nesse cenário pode ter um papel de protagonismo. “Temos que estar na vanguarda desse processo e quem fará isso é a ciência e a tecnologia que vão ditar as normas da descarbonização criando segu­rança alimentar sustentável, resolvendo o maior pro­blema da humanidade apontado no começo do século

pela ONU, que era compatibilizar a oferta de alimen­tos de qualidade para a população crescente no mundo inteiro, com a preservação também solúvel com tecno­logia”, destacou Rodrigues. Ele pontuou também que “estamos nesse grande projeto de decarbonização do qual o amendoim forma uma parte notável, seja como cultura solteira ou como intercalada com a cana-de-açú­car. O amendoim é um novo produto para a fronteira agrícola para exportação inestimável e vai ocupar o seu espaço com tecnologia, ciência e com pessoas prepara­das”.

Mônika Bergamaschi na ocasião reforçou “temos hoje um consumo per capita interno de amendoim de um pouco mais de 1 kg/ano e uma oportunidade enorme de crescermos no mercado internacional não só em grãos, mas também em óleo e em outros produtos. É claro que a pesquisa tem papel fundamental nisso, fico muito feliz que as pesquisas dentro do nosso Instituto sigam evo­luindo, mas é preciso que as universidades também se integrem e é preciso parceria com outras regiões”.

Mônika também citou os desafios da cadeia em torno da defesa sanitária, em quebra de barreias, os desafios em melhorar as estatísticas e a importância de eventos que disseminem a cultura e divulgue a imagem do agro bra­sileiro. “Estamos trabalhando na criação de um observa­tório da agropecuária, junto também virá o observató­rio de Bioeconomia que está sendo criado na Fundação Getúlio Vargas. A ideia é que possamos trazer mais inteligência, que tenha uma condição entregar dados técnicos, informações para todos aqueles que militam no setor. Dizer também da minha satisfação em ver a persistência e a perseverança na manutenção desses eventos, onde toda parte técnica vem reunida trazendo o pesquisador junto com os produtores rurais. Temos que continuar seguindo os nossos trabalhos com os olhos na tecnologia, tentando resolver os nossos problemas do passado e de olho nessas questões que têm no futuro. Temos condições sim de entregar produtos seguros, pro­dutos com a marca Brasil de uma agricultura sustentável para esse mercado que é aberto, amplo, que deseja e que necessita dos nossos produtos”.

Uma visão do mundo e do futuro do agronegócio - Um dos fatos econômicos e sociais mais marcantes da segunda metade do século 20 foi a inédita revolução agrícola sustentável realizada nos trópicos. A partir dos anos 70 esse evento mudou o cenário de segurança ali­mentar no Brasil e no mundo. Foi uma revolução pacífica embasada na sustentabilidade, na ciência e liderada pelo visionário Alysson Paolinelli, que abriu uma nova página na história da agricultura mundial, contribuiu e continua contribuindo para o agronegócio.

Paolinelli passou uma visão histórica sobre o desenvol­vimento do Brasil da qual ele fez parte de todo esse pro­cesso sendo uma mola propulsora dos impressionantes números que o agro tem hoje em dia e não é à toa que ele é candidato ao Prêmio Nobel da Paz. Na oportuni­dade, ele destacou que é preciso ter confiança no Brasil. “Passamos por períodos difíceis, quase impossíveis. O Brasil teve uma agricultura insipiente que não era capaz sequer de fazer o alto abastecimento do país. Mas hoje um dos maiores players na exportação de alimento do mundo. Cabe ao Brasil a segurança alimentar, pois é o único país do mundo que tem condições para fazer isso. Se hoje criamos uma agricultura tropical sustentá­vel brilhante, não podemos nos acomodar. Estamos em outra fase e o Brasil não pode perder essa oportunidade e eu quero agradecer ao produtor brasileiro e pedir que ele continue nesta senda evolutiva que ele mais do que ninguém hoje está procurando. O Brasil precisa de nós”.

De acordo com Paolinelli vem aí a fase da bioeconomia que irá influenciar na produção de alimentos de forma extraordinária, como também irá influenciar na própria indústria brasileira que ainda é muito dependente tam­bém de produtos químicos.

“Tenham certeza que a influência desta bioeconomia vai atingir mais de 50% do PIB nacional que será modifi­cado e terá novos princípios, novos fundamentos que, no caso do setor agrícola, vão nos facilitar. É por isso que estamos entusiasmados com os esforços dos nossos pesquisadores hoje, na busca da solução, da presença da biotecnologia no campo. O Brasil atualmente está na frente de forma brilhante e eu falo com todo orgulho, principalmente a iniciativa privada está na frente tra­balhando e exercendo um papel na mudança de muitos conceitos do nosso setor agrícola, seja na fertilização, seja na defesa, seja na manutenção de nossos produtos que precisamos equilibrá-los em relação à descarboni­zação. Essas mudanças serão fundamentais daqui por diante e que os agricultores brasileiros tenham a cer­teza que o mercado não vai parar de crescer. Essa é uma mensagem que eu queria deixar para os produtores inovadores do nosso amendoim, tenham certeza que os mercados vão crescer, o amendoim não é só um pro­duto de sobremesa, ele tem propriedades, condições que sem dúvida nenhuma dá vantagens comparativas como outros grãos competitivos”

No encerramento, o professor Pedro Luís da Costa Aguiar Alves, que responde pela coordenação da feira e do encontro, falou sobre o lançamento do evento e esfor­ços que têm sido feitos para a realização da feira. “Esta­mos nos esforçando mesmo que virtualmente em rea­lizar uma feira e um encontro que atendam à demanda dos produtores e de toda a comunidade, os pesquisado­res, técnicos e alunos. Para nós tem sido um prazer e um desafio muito grande, pois esses eventos são muito importantes colocando Jaboticabal e as demais regiões produtoras do amendoim no cenário nacional e inter­nacional. Hoje foi possível ver pela apresentação dos convidados o quanto o agronegócio é importante para o Brasil e o quanto ele alavanca a balança comercial do nosso país. E o amendoim tem um potencial muito grande para fazer parte dessa balança comercial. Pre­cisamos lógico da participação do agricultor, das coo­perativas e de toda a cadeia do amendoim para tornar a cultura ainda mais representativa hoje”.

A III Feira Nacional do Amendoim de Jaboticabal e do 18º Encontro aconteceu entre os dias 10 e 12 de agosto e assim como nas edições anteriores contou com uma programação técnica científica bastante variada e rica em conteúdo. Na próxima edição da Revista Canavieiros você poderá acompanhar a cobertura do evento.