Descompactação profunda

Por: Marino Guerra
 
A compactação é um problema que começou a surgir nos canaviais principalmente após a mudança no modo de colheita manual para a mecânica e não apenas pelo tráfego da colhedora, trator e transbordo na operação de retirada da cana, mas também pela necessidade de aumento do número de pulverizadores.
 
Ao observar sintomas em algumas áreas e também problemas com o fluxo de água da chuva, o produtor José Carlos Semensato, desconfiado com a compactação, decidiu realizar em sua área um ultrassom e contratou uma empresa especializada no uso do penetrômetro, ferramenta que mede a capacidade de penetração do solo.
 
O resultado foi uma compactação muito maior do que meio metro, referente ao tamanho das hastes de subsolagem que utilizava em sua operação. Diante do diagnóstico, o produtor e seus dois filhos, William e Fábio, estudaram quais seriam as melhores alternativas para o cenário, pois se deixassem como estava haveria um impacto cada vez maior na produtividade, já que o sistema radicular não teria como atingir o seu pleno desenvolvimento.
 
Como a família, além da experiência em roça, tem também muito conhecimento em mecânica, os Semensatos encontraram uma forma de desenvolver um par de hastes subsoladoras mais profundo, com um metro, alcançando 80 cm no perfil do solo.
 
Para atingir tal tamanho, foi ampliada sua base superior em meio metro, necessitando um trator de 180 cavalos para executar o serviço em duas linhas simultâneas. Como a área de encaixe no implemento foi igual, o custo da inovação foi muito próximo de zero.
 
Claro que a passagem do implemento exigiu mais da máquina, o que consequentemente consumiu mais diesel, contudo, segundo José Carlos, o custo a mais é absorvido na hora da sulcação. Isso acontece porque como a terra já está rasgada, o trator com o sulcador trabalha de maneira bastante tranquila.
 
A primeira vez que a família utilizou esta solução foi no plantio deste ano. Diante disso, eles ainda não têm uma opinião totalmente formada sobre os benefícios da prática, mas algumas percepções, principalmente relacionadas ao comportamento do solo em dias de chuva brava e, especialmente em áreas onde a cana foi plantada quase que de ponta cabeça, deixaram os Semensatos bastante satisfeitos.
 
Uma alternativa pensada pelos produtores e que, diante a relação de preços da cana e soja, poderá ser implementada no futuro, é o uso da Brachiaria Ruziziensis, espécie que por desenvolver raízes extremamente profundas também consegue descompactar bem o solo, sendo de fácil dessecação entre o cultivo de duas sojas de verão, fazendo com que a terra fique quase um ano e meio sem cana.
 
Produtores exemplares, daqueles que conhecem cada palmo do seu chão e realizam a colheita, a compactação é um tema que os incomoda bastante. Como uma medida de prevenção, os Semensatos estão estudando a possibilidade de cultivar crotalária na entrelinha dos canaviais acima do quinto corte, o que vai, além de melhorar a absorção do solo, proporcionar ganhos nutricionais, elevar a longevidade e também deixar um ambiente mais amigável para a soja.