Desenvolvimento genético

06/03/2023 Noticias POR: Marino Guerra

Ninguém duvida que uma das principais atrizes para o Brasil ser referência na agropecuária tropical é a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, mais conhecida como Embrapa. Seja no desenvolvimento de novos manejos, como o plantio direto e a integração lavoura-pecuária, ou no desenvolvimento genético, como o trigo do cerrado. Basta se aprofundar na história das cadeias produtivas para identificar sua influência como grande agente de evolução. No amendoim, pensando no modo de produção para a indústria alimentícia e exportação, pode-se dizer que ela vive ainda um processo de ambientação, mas já com cultivares interessantes lançadas, porém, o que chama mais atenção é no que está por vir, o que poderá ser compreendido na entrevista com um dos representantes do programa de melhoramento da cultura, Jair Heuert. Não há dúvidas que a cadeia como um todo vai ganhar muito com esse reforço, basta ter paciência para as vagens se desenvolverem.

Revista Canavieiros: Gostaria que você contasse brevemente um pouco sobre a história do melhoramento genético no amendoim dentro da Embrapa. Quando nasceu? Seus objetivos? Conquistas já realizadas?

Jair Heuert: A Embrapa é uma instituição pública de pesquisa, desenvolvimento e inovação na agropecuária, vinculada ao Ministério da Agricultura e Pecuária. A Embrapa está completando 50 anos com a missão de viabilizar soluções com foco na sustentabilidade da agricultura, em prol da segurança alimentar brasileira. A Embrapa Algodão é responsável pela pesquisa com a cultura do amendoim, localizado em Campina Grande-PB. Essa oleaginosa tem importância na região nordeste, principalmente ocupando áreas de pequenos agricultores e com pouca mecanização que atende o mercado regional, o qual tem seu cultivo predominante do amendoim de película vermelha e de porte ereto. Com a demanda crescente por alimentos e expansão da agricultura no cerrado, foi direcionado uma linha de pesquisa e desenvolvimento de novas cultivares de amendoim de porte rasteiro, do tipo Runner, adaptado a mecanização para grandes áreas. Este programa de melhoramento genético é recente se comparado com as grandes culturas. A base da pesquisa do Programa de Melhoramento do Amendoim está localizada em Santo Antônio de Goiás-GO, no Núcleo do Cerrado da Embrapa Algodão. As atividades estão espalhadas por diversas regiões do Brasil (GO, MT, MS, MG, BA, TO, PR e SP). Em 2017 fomos convidados para estar iniciando um trabalho de pesquisa e validação de cultivares para atender as demandas dos produtores de São Paulo.

Revista Canavieiros: Quais são os alvos do Programa de Melhoramento do Amendoim da Embrapa?

Heuert: A pesquisa para o desenvolvimento de novas cultivares pode ser considerada um processo contínuo e fundamental para o sucesso da cadeia produtiva. O melhoramento genético permite gerar novas cultivares mais produtivas, com melhor adaptação regional, ciclo adequado, hábito de crescimento adaptado a colheita mecanizada, com níveis mais elevados de resistência a pragas, doenças e ao estresse hídrico. Além disso, as características mercadológicas dos grãos precisam estar em consonância com às exigências do mercado consumidor.

Revista Canavieiros: Sobre o ciclo adequado, o que o Programa de Melhoramento do Amendoim da Embrapa está buscando?

Heuert: Dentro de um programa de melhoramento genético, precisamos trabalhar com diferentes grupos de maturação porque possibilita ao produtor ter um melhor escalonamento de colheita que proporciona um melhor equilíbrio na unidade de grãos da cooperativa no momento da entrega da produção, o que tente a diminuir a fila de espera no descarregamento, assim, nós trabalhamos com cultivares do grupo de maturação de ciclo tardio, médio e o precoce. Estamos identificando a pesquisa para buscar novas cultivares que se enquadram melhor em áreas de renovação da cana de açúcar com ciclo super precoce (115 – 125 dias). Isso devido ao fato da soja ter evoluído na preferência de produtores e usinas de cana-de-açúcar nessas regiões, onde tradicionalmente o amendoim tinha mais espaço, pois seu ciclo varia de 110 a 120 dias, enquanto o ciclo das cultivares de amendoim mais plantadas na atualidade variam de 130 a 150 dias. Este novo grupo de maturação de ciclo super precoce tende a ter competitividade pelas áreas que estão sendo destinadas a soja.

Revista Canavieiros: Quais são as principais cultivares já lançadas da Embrapa do tipo runner e suas características?

Heuert: BRS 421 OL, cultivar de amendoim de alto teor de ácido oleico com excelente padrão de grãos, com tamanho de grãos graúdos, predominante 38/42, do formato alongado e com bom rendimento industrial. Na parte agronômica se destaca como moderadamente resistente a mancha preta e as viroses. BRS 423 OL, cultivar de alto teor de ácido oleico com elevado potencial produtivo, de ciclo precoce, moderadamente suscetível as principais doenças foliares causadas por fungos e moderadamente resiste as viroses. Predominância dos grãos graúdos do calibre 38/42 e 40/50, no formato arredondado e ovalado. A BRS 425 OL, é a primeira cultivar brasileira derivada de espécies silvestres, conferindo uma excelente sanidade e rusticidade. Essa cultivar de alto teor de ácido oleico é de ciclo médio com tamanhos de grãos de tamanho médio, predominantemente 40/50, de formato arredondados, requisitados no mercado de drageados, além disso pode ser uma boa opção para a indústria de óleo de amendoim devido ter uma porcentagem um pouco acima das anteriores.

Revista Canavieiros: Há quanto tempo e como funciona o relacionamento que vocês têm com a Copercana?

Heuert: Estamos completando três anos de parceria, uma interação perfeita onde recebemos as principais demandas agronômicas que os cooperados enfrentam no campo, que precisam de cultivares mais resistentes e de ciclo mais adequado. A Copercana por ser um dos principais players de exportação de amendoim tem know-how na parte mercadológica, com isso conseguimos direcionar a nossa pesquisa com as exigências do mercado internacional. No amendoim essas demandas contam muito, onde os grãos são avaliados pelos compradores pelo seu aspecto visual, nutricional, química, sensorial, formato e granulometria.

Revista Canavieiros: É perceptível a expansão da cultura do amendoim para novas regiões do país. A Copercana tem produtores do projeto amendoim que tem lavouras em áreas de cerrado. A Embrapa tem realizado algum trabalho de pesquisa nessas regiões de expansão?

Heuert: Na Embrapa temos a visão de atender os produtores de diferentes regiões com novas cultivares. Temos percebido o crescimento do amendoim nessas regiões de expansão, onde atendemos com informações geradas através das pesquisas realizadas em conjunto com instituições de ensino superior, a exemplo da UEM (Universidade Estadual de Maringá-PR), UEMS (Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul, campus de Mundo Novo e Cassilândia-MS), UFTM (Universidade Federal do Triângulo Mineiro, campus de Iturama-MG) e o IFMT (Instituto Federal do Mato Grosso de Campo Verde-MT e Sorriso-MT). As cultivares da Embrapa estão no Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC) dos principais estados considerados de expansão, permitindo que os produtores possam identificar a melhor época de plantio, nos diferentes tipos de solo e ciclos de cultivares.