Disparada do dólar trava negociação de produtos agrícolas

25/09/2015 Açúcar POR: Valor Econômico
A alta do dólar em relação ao real, que vinha acelerando as negociações de commodities agrícolas no país, passou a ter efeito contrário nos últimos dias. Muitos produtores, principalmente de soja, milho e café, começaram a reter as vendas após a moeda americana romper a barreira psicológica dos R$ 4, à espera de que fique mais claro até onde o câmbio pode chegar.
Fatia importante dos produtores de soja vendeu antecipadamente boa parte da recém-iniciada safra 2015/16, mas em real, ou seja, a preços bem inferiores aos que estão sendo pagos no momento. Assim, com a agressiva volatilidade cambial, fechar hoje uma venda pode significar a perda de R$ 1 a R$ 2 por saca amanhã, num momento em que alguns agricultores ainda tentam cobrir os custos desta temporada e outros já se preocupam com os gastos da safra que vem.
"Muitos têm vendido a R$ 60 por saca num dia, e no outro vêem que haveria liquidez para vender a R$ 61 ou 62", diz Ramicés Luchesi, da MT Corretora de Grãos, de Nova Mutum (MT). Na região, ele estima que apenas entre 15% e 20% das negociações tenham sido fechadas em dólar e nesses casos, o valor da soja, inflado pelo câmbio, surpreende. "Alguns produtores travaram a saca a US$ 17 há cerca de 60 dias. Levando em conta o dólar futuro em R$ 4,40, a saca vale agora mais de R$ 74". Segundo Luchesi, as primeiras vendas da temporada saíram entre R$ 52 a R$ 54 por saca.
O produtor Silvésio de Oliveira, de Tapurah (MT), negociou 25% da soja que pretende colher em 2015/16, o plantio deverá começar nos próximos dias. Mas como negociou tudo em real, só conseguiu travar os custos em moeda brasileira, restando em aberto os custos em dólar. "Estou esperando [o preço em] Chicago melhorar para que a trading me ofereça algo mais e em dólar", diz.
Na avaliação de Anderson Galvão, CEO da consultoria Céleres, como adiantaram bastante as vendas e já cobriram parte importante dos custos deste ciclo, é natural que os sojicultores desacelerem as negociações. Em todo o país, ele estima que, em média, 25% da safra 2015/16 de soja esteja comprometida, ante 10% há um ano. Mas a postura mais cautelosa já reflete a preocupação com o valor dos insumos na próxima safra, 2016/17. "Com essa 'paulada' do dólar, tudo vai subir. Então, o agricultor não vai vender porque não tem certeza do custo lá na frente", analisa.
Sem sinais consistentes de que a soja reagirá de forma expressiva em Chicago (as cotações já caíram 14,75% este ano), o mercado tende a seguir imprevisível porque o agricultor continuará refugiado no dólar, avalia Jerson Carvalho Pinto, da Diversa Corretora de Cereais, de Rondonópolis (MT). "A situação indica que o valor do dólar vai aumentar. Mas é um jogo, e o produtor precisará saber fazer a escolha certa".
A situação do milho se assemelha à da soja: há compradores na praça e as cotações estão sustentadas internamente, embora pressionadas em Chicago. Tanto o grão disponível quanto para entrega futura estão na casa dos R$ 20 por saca, tomando como base Nova Mutum. "Como o normal seria de R$ 13,50 a R$ 14, há produtor aproveitando para vender alguma coisa e melhorar a média da comercialização. Mas os negócios estão mais pausados", diz Luchesi.
Segundo ele, os reajustes dos preços nos portos do país (o milho está no período de pico de embarques) têm sido tão frequentes em decorrência do câmbio que muitos compradores resolveram "segurar" um pouco os prêmios de exportação.
No caso do café, a estirada do dólar também impactou os negócios nos últimos dias, embora o ritmo de comercialização ainda esteja dentro da média, avalia Rodrigo Costa, diretor de café do Société Générale. Contudo, a menor oferta brasileira já tem limitado o recuo da commodity no mercado internacional. "Os preços do café na bolsa de Nova York não estão tendo uma queda tão acentuada como se imaginaria com o real caindo tão rápido", afirma.
Costa ressalta que o cenário ficou confortável para os produtores com o encerramento da colheita de 2015/16 e a consequente menor necessidade de caixa. Já Haroldo Bonfá, diretor da Pharos Commodity Risk Management, lembra que o forte avanço nas vendas no primeiro semestre, quando o dólar já vinha em trajetória ascendente, reforçou a capitalização dos cafeicultores. "A maioria vendeu bem acima do custo. No caso dos produtores do conilon, mais ainda", afirma.
Mas as indefinições ligadas à próxima temporada de café têm dado uma contribuição adicional para reduzir o compasso de comercialização. "O produtor está com medo de quais podem ser os efeitos reais do El Niño sobre a safra 2016/17", observa Tiago Ferreira, diretor da mesa de café da consultoria FCStone. O fenômeno pode provocar chuvas irregulares na região Sudeste e prejudicar o desenvolvimento das floradas.
No mercado de açúcar, também se percebe alguma retenção nas vendas, mas mais discreta. Para Gabriel Elias, analista da trading Olam International, a menor cadência das negociações se dá porque "nem todas empresas tem acesso a instrumento de hedge cambial". Já Bruno Lima, consultor da FCStone, vê como fator mais forte a proximidade de vencimento do contrato para outubro em Nova York. "A volatilidade [do dólar] está assustando, mas não inibindo que se façam as vendas", afirma.
Lima realça que, nas duas primeiras semanas de setembro, a combinação entre o dólar valorizado e a maior cotação da commodity em Nova York fez a comercialização da próxima safra de açúcar (2016/17) avançar para 15% da safra, ou cerca de 4,8 milhões de toneladas, considerando uma estimativa de produção de 32 milhões de toneladas. 
A alta do dólar em relação ao real, que vinha acelerando as negociações de commodities agrícolas no país, passou a ter efeito contrário nos últimos dias. Muitos produtores, principalmente de soja, milho e café, começaram a reter as vendas após a moeda americana romper a barreira psicológica dos R$ 4, à espera de que fique mais claro até onde o câmbio pode chegar.
Fatia importante dos produtores de soja vendeu antecipadamente boa parte da recém-iniciada safra 2015/16, mas em real, ou seja, a preços bem inferiores aos que estão sendo pagos no momento. Assim, com a agressiva volatilidade cambial, fechar hoje uma venda pode significar a perda de R$ 1 a R$ 2 por saca amanhã, num momento em que alguns agricultores ainda tentam cobrir os custos desta temporada e outros já se preocupam com os gastos da safra que vem.

"Muitos têm vendido a R$ 60 por saca num dia, e no outro vêem que haveria liquidez para vender a R$ 61 ou 62", diz Ramicés Luchesi, da MT Corretora de Grãos, de Nova Mutum (MT). Na região, ele estima que apenas entre 15% e 20% das negociações tenham sido fechadas em dólar e nesses casos, o valor da soja, inflado pelo câmbio, surpreende. "Alguns produtores travaram a saca a US$ 17 há cerca de 60 dias. Levando em conta o dólar futuro em R$ 4,40, a saca vale agora mais de R$ 74". Segundo Luchesi, as primeiras vendas da temporada saíram entre R$ 52 a R$ 54 por saca.
O produtor Silvésio de Oliveira, de Tapurah (MT), negociou 25% da soja que pretende colher em 2015/16, o plantio deverá começar nos próximos dias. Mas como negociou tudo em real, só conseguiu travar os custos em moeda brasileira, restando em aberto os custos em dólar. "Estou esperando [o preço em] Chicago melhorar para que a trading me ofereça algo mais e em dólar", diz.
Na avaliação de Anderson Galvão, CEO da consultoria Céleres, como adiantaram bastante as vendas e já cobriram parte importante dos custos deste ciclo, é natural que os sojicultores desacelerem as negociações. Em todo o país, ele estima que, em média, 25% da safra 2015/16 de soja esteja comprometida, ante 10% há um ano. Mas a postura mais cautelosa já reflete a preocupação com o valor dos insumos na próxima safra, 2016/17. "Com essa 'paulada' do dólar, tudo vai subir. Então, o agricultor não vai vender porque não tem certeza do custo lá na frente", analisa.
Sem sinais consistentes de que a soja reagirá de forma expressiva em Chicago (as cotações já caíram 14,75% este ano), o mercado tende a seguir imprevisível porque o agricultor continuará refugiado no dólar, avalia Jerson Carvalho Pinto, da Diversa Corretora de Cereais, de Rondonópolis (MT). "A situação indica que o valor do dólar vai aumentar. Mas é um jogo, e o produtor precisará saber fazer a escolha certa".
A situação do milho se assemelha à da soja: há compradores na praça e as cotações estão sustentadas internamente, embora pressionadas em Chicago. Tanto o grão disponível quanto para entrega futura estão na casa dos R$ 20 por saca, tomando como base Nova Mutum. "Como o normal seria de R$ 13,50 a R$ 14, há produtor aproveitando para vender alguma coisa e melhorar a média da comercialização. Mas os negócios estão mais pausados", diz Luchesi.
Segundo ele, os reajustes dos preços nos portos do país (o milho está no período de pico de embarques) têm sido tão frequentes em decorrência do câmbio que muitos compradores resolveram "segurar" um pouco os prêmios de exportação.
No caso do café, a estirada do dólar também impactou os negócios nos últimos dias, embora o ritmo de comercialização ainda esteja dentro da média, avalia Rodrigo Costa, diretor de café do Société Générale. Contudo, a menor oferta brasileira já tem limitado o recuo da commodity no mercado internacional. "Os preços do café na bolsa de Nova York não estão tendo uma queda tão acentuada como se imaginaria com o real caindo tão rápido", afirma.
Costa ressalta que o cenário ficou confortável para os produtores com o encerramento da colheita de 2015/16 e a consequente menor necessidade de caixa. Já Haroldo Bonfá, diretor da Pharos Commodity Risk Management, lembra que o forte avanço nas vendas no primeiro semestre, quando o dólar já vinha em trajetória ascendente, reforçou a capitalização dos cafeicultores. "A maioria vendeu bem acima do custo. No caso dos produtores do conilon, mais ainda", afirma.
Mas as indefinições ligadas à próxima temporada de café têm dado uma contribuição adicional para reduzir o compasso de comercialização. "O produtor está com medo de quais podem ser os efeitos reais do El Niño sobre a safra 2016/17", observa Tiago Ferreira, diretor da mesa de café da consultoria FCStone. O fenômeno pode provocar chuvas irregulares na região Sudeste e prejudicar o desenvolvimento das floradas.
No mercado de açúcar, também se percebe alguma retenção nas vendas, mas mais discreta. Para Gabriel Elias, analista da trading Olam International, a menor cadência das negociações se dá porque "nem todas empresas tem acesso a instrumento de hedge cambial". Já Bruno Lima, consultor da FCStone, vê como fator mais forte a proximidade de vencimento do contrato para outubro em Nova York. "A volatilidade [do dólar] está assustando, mas não inibindo que se façam as vendas", afirma.
Lima realça que, nas duas primeiras semanas de setembro, a combinação entre o dólar valorizado e a maior cotação da commodity em Nova York fez a comercialização da próxima safra de açúcar (2016/17) avançar para 15% da safra, ou cerca de 4,8 milhões de toneladas, considerando uma estimativa de produção de 32 milhões de toneladas.