Dólar forte pode fazer China comprar mais soja do Brasil
16/10/2014
Agronegócio
POR: Leonardo Gottems - Agrolink
Quando o FED (Banco Central dos Estados Unidos anunciou uma revisão da política de estímulos à economia visando, podendo aumentar as taxas de juros, a decisão trouxe mudanças ao panorama internacional. O Dólar tende a se fortalecer, e as moedas da América do Sul devem se desvalorizar ainda mais por conta de problemas locais – favorecendo o principal competidor dos EUA no fornecimento internacional de grãos.
Segundo William Tierney, economista-chefe da AgResource company de Chicago, moedas enfraquecidas em países como a Argentina ou Brasil tendem a estimular a produção e exportação agrícola nesses países, bem como desaquecer a produção norte-americana. “Dependendo de quando a colheita sul-americana começar, é possível que alguns contratos de soja e farelo sejam trocados pela matéria-prima de origem sul-americana", diz Tierney.
"Por outro lado, os EUA têm mais disponibilidade e a maior parte da soja já foi contratada por importadores chineses", declarou ele correspondente do Agriculture.com na América Latina, jornalista Luís Henrique Vieira.
No caso do Brasil, os fatores que se somam à desvalorização do Real são a falta de disciplina fiscal da presidente atual, algumas políticas intervencionistas e incertezas, além das especulações com a eleição presidencial. Somente em Setembro o dólar subiu 9,9% comparado ao Real. Com o temor dos mercados de uma reeleição de Dilma Roussef já em primeiro turno, a moeda americana bateu casa dos R$ 2,50 no início de Outubro.
Na Argentina, apesar da situação da moeda local ser muito pior, os produtores locais devem continuar a reter soja e milho. Atualmente, o país tem um estoque estimado em 20,6 milhões de toneladas de soja e 14,5 milhões de toneladas de milho. De Janeiro a Agosto, o valor oficial da moeda americana no país caiu 21,7% e agora vale AR$ 8,40. Mas o dólar paralelo, comprado no mercado negro, é comprado com AR$ 14,83. No início do ano, o valor era a inferior a R$ 12. Ao contrário de outros países, no entanto, a força da moeda na Argentina é mais impactada por problemas domésticos, como o calote técnico e a repressão ao câmbio, do que pelas políticas do Fed.
"As decisões de vendas são feitas com base no dólar que é recebido e no valor que temos. Na Argentina, há uma falta de dólares e há menos impacto sobre o que está acontencendo no mundo. As decisões dos produtores têm mais a ver com o dólar do que com o valor da soja", afirma Lorena D'Angelo, uma analista independente de Rosario, prevendo que os agricultores argentinos não devem se apressar para as vendas de grãos.
Para o Paraguai, o quarto maior exportador de soja, não há estoques significativos da oleaginosa para vender, mas há uma expectativa de produção de 10 milhões de toneladas, segundo o Ministério da Agricultura. "Aqui, o valor do dólar tem menos impacto que em outros países sul-americanos. A totalidade do mercado agrícola já é em dólar. Não é como no Brasil, onde existem indústrias nacionais", explica Liliana Báez, diretora da consultoria Agridatos de Ciudad del Este.