E a safra está no final!

05/11/2021 Marcos Fava Neves POR: * MARCOS FAVA NEVES ** VÍTOR NARDINI MARQUES *** VINÍCIUS CAMBAÚVA

* Marcos Fava Neves é professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP, em Ribeirão Preto, e da FGV, em São Paulo, especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos, vídeos e outros materiais no site doutoragro.com e veja os vídeos no canal do Youtube (Marcos Fava Neves).

** Vítor Nardini Marques é mestrando em Administração de Organizações pela FEA-RP/USP.

*** Vinícius Cambaúva é associado na Markestrat Group e mestrando pela FEA-RP/USP.

 

Reflexões dos fatos e números do agro em setembro/outubro e o que acompanhar em novembro

Na economia mundial e brasileira 

  • O fato do mês é a crise energética mundial, que vem trazendo graves impactos. Visando reverter a situação e a escassez de carvão mineral, autoridades chinesas estão adotando medidas para intensificar a produção nas principais regiões mineradoras do país, devendo adicionar mais de 100 milhões de t à atual capacidade. Com isso, o governo chinês busca aumentar a oferta de sua principal fonte, reequilibrando o preço e minimizando os estragos ao setor industrial, decorrentes do racionamento energético.
  • Na Índia, a situação é ainda mais alarmante. O país se encontra com baixos estoques de carvão mineral em suas termoelétricas, que respondem por 70% da geração de energia do país. No entanto, a produção interna é limitada, gerando a necessidade de importação. Especialistas afirmam que a crise pode se estender por até seis meses no país. Consequência das crises nesses países pode ligar um sinal de alerta no mundo todo!
  • O cenário de inflação vem se agravando na economia nacional. A taxa acumulada nos últimos 12 meses atingiu 10,25%, superando os dois dígitos pela primeira vez desde fevereiro de 2016. A energia elétrica e o gás são considerados os grandes vilões dessa história, com aumentos de, respectivamente, 28,8% e 34,67%, no período de setembro de 2020 a setembro de 2021. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em setembro alcançou 1,16%, valor mais elevado para o mês desde 1994, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A intensidade da inflação tem levado o governo a dosar aumentos na taxa Selic, agora em patamares de 6,25%.
  • Segundo o relatório do Banco Central do Brasil (Bacen) de 18 de outubro, a inflação deve fechar 2021 em 8,69% e voltar a patamares mais controlados de 4,18% em 2022. Assim, a Selic deve ser ajustada para controlar esse cenário, projetada em 8,25% no final deste ano e em 8,75% no próximo. Por sua vez, o PIB deve crescer 5,01% em 2021 e 1,50% em 2022, enquanto que no câmbio espera-se R$ 5,25 em ambos os fechamentos.

No agro mundial e brasileiro

 O Índice de preços de alimentos da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) atingiu 130 pontos no mês de setembro, alta de 1,2% frente a agosto, alcançando seu maior patamar dos últimos 10 anos. O crescimento no último mês foi impulsionado pelo aumento nos preços dos cereais em 2%, principalmente trigo e arroz; óleos vegetais em 1,7%; e leite em 1,5%.

Diversos fatores inferem sobre esse comportamento, como a alta nos preços de petróleo (maior custo de produção e transporte de alimentos); a falta de mão de obra nos períodos de pandemia; a demanda aquecida com a retomada econômica, problemas na oferta, entre outros. Aglomeram-se os problemas.

  • Ainda no cenário internacional, o relatório de outubro do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), relativo à safra global 2021/22, estimou um volume de milho 0,1% maior nos EUA este mês, de 381,5 milhões de t (+6,4% na comparação com a safra 2020/21).

A União Europeia também apresentou um acréscimo neste relatório, com uma produção prevista em 66,3 milhões de t (+1,2%); no comparativo com a safra passada, o aumento é de 2,9%. No total, a produção global atingiu 1.198 milhões de t, +7,4% maior que em 20/21. Na China, a produção deve ficar em 273 milhões de t (+4,7%); no Brasil em 118 milhões de t (+37,2%); e a Argentina deve produzir 53 milhões de t (+6,0%). Não houve alteração para os três países neste mês. Já os estoques globais do cereal foram ampliados para 301,7 milhões de t contra 297,6 milhões do relatório anterior, e 289,9 milhões da safra 2020/21.

  • Na soja, o USDA ampliou a produção norte-americana em 1,7% neste mês; de 119,04 para 121,06 milhões de t. Os volumes foram mantidos para o Brasil em 144 milhões de t, 5,1% maior que a produção de 2020/21. Já a produção da Argentina foi reduzida em 1 milhão de t; de 52 milhões de t (setembro) para 51 milhões neste mês (-1,9%). Com isso, a produção global da oleaginosa deve ficar em 385,1 milhões, 5,4% maior que o da safra 2020/21. Por fim, os estoques foram estimados em 104,6 milhões de t; alta de 5,8% em comparação com o relatório passado e de 5,4% em relação à safra 2020/21. Ou seja, já se observa reação na oferta, que pode ser baixista aos preços, a depender do comportamento do consumo.
  • Em seu primeiro boletim para a safra de grãos 2021/22, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) projeta produção de 288,61 milhões de t, aumento de 14,2% frente ao ciclo passado, em uma área cultivada total de 71,5 milhões de ha (+3,6%). Na soja, é esperada uma produção de 140,75 milhões de t (+2,5%), considerando uma área semeada de quase 40 milhões de há (+2,5%). Por sua vez, no milho verão devemos produzir 28,33 milhões de t (+14,5%), somando 4,41 milhões de ha (+1,6%). Finalmente, o volume esperado de pluma de algodão é de 2,68 milhões de t (+13,7%), fruto da área plantada estimada em 1,51 milhão de ha (+10,2%). O otimismo com relação aos preços segue sendo o grande motivador do aumento da área cultivada.
  • Na atualização de setembro, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) estimou o Valor Bruto da Produção (VBP) Agropecuária em R$ 1,103 trilhão, um avanço de 10,0% em comparação com o registrado em 2020. Desse total, R$ 746,82 bilhões serão entregues pelas lavouras (67,7%) e outros R$ 356,71 bilhões pelas cadeias da pecuária (33,3%). Para os dois segmentos, o crescimento anual será de 12,0% e 6,1%, respectivamente.
  • As exportações de setembro do agronegócio brasileiro atingiram novo recorde para o mês, US$ 10,10 bilhões, sendo 21% superior à cifra do mesmo período de 2020, de acordo com estatísticas do Mapa. Esse resultado é atribuído principalmente ao aumento nos preços internacionais das commodities (+27,6%), uma vez que o volume de produto embarcado caiu (-5,1%). Com isso, o setor já exportou algo próximo a US$ 94 bilhões neste ano.
  • Líder na pauta de exportação, o complexo soja foi o responsável por vendas de US$ 3,19 bilhões (+50%), com preços médios dos grãos superando os US$ 500/tonelada.

Já as carnes consolidaram novo recorde de embarques para o mês com US$ 2,21 bilhões (+62,3%), sendo quase US$ 1,2 bilhão na carne bovina (+77,7%), resultado impressionante mesmo com a suspensão temporária das exportações à China devido a casos isolados de “vaca louca” atípica. Na terceira colocação aparecem os produtos florestais, somando US$ 1,15 bilhão (+23,8%), também com novo recorde para o mês. Na sequência, o complexo mercado externo, com o açúcar respondendo por 87% dessa cifra. Por fim, o setor de cereais, farinhas e preparações comercializou US$ 624,19 milhões (-43,2%), reflexo da falta de disponibilidade de milho no mercado doméstico com a quebra da safrinha 2020/21.

  • Por sua vez, as importações do agronegócio totalizaram US$ 1,25 bilhão, alta de 19,2%. Assim, o saldo da balança comercial do setor alcançou US$ 8,85 bilhões em setembro, valor 16,3% maior que o de 2020.
  • De acordo com um levantamento da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), a escassez global de containers já gerou um impacto negativo de pelo menos US$ 1 bilhão sobre as receitas de exportações do agronegócio brasileiro.

O setor de café foi o mais prejudicado até então, com impacto estimado em US$ 500 milhões entre maio a agosto, enquanto aves, suínos e ovos tiveram prejuízos de US$ 436,9 milhões entre janeiro a julho. Representantes do setor na câmara pedem um plano urgente para escoar as cargas que estão paradas nos portos. Críticas recaem também sobre a concentração no mercado de cargas marítimas, uma vez que as cinco maiores empresas detêm 65% do mercado a nível global.

  • Entre os cenários de seca e geadas que afetaram as culturas agrícolas brasileiras no primeiro semestre, estima-se que as perdas na produção de café superam as 500 mil toneladas, volume suficiente para atender à demanda dos americanos durante quatro meses. Torrefadores e varejistas do mundo todo estão buscando novos fornecedores para atender sua demanda, o que elevou drasticamente os preços. Considerando os últimos 12 meses, o indicador CEPEA saltou 134%, alcançando US$226/saca. Especialistas afirmam que a lacuna de oferta pode permanecer por alguns anos.
  • A crise energética na China, mencionada no início desta coluna, traz impactos para o agronegócio brasileiro, visto que o país asiático é um dos maiores fornecedores de insumos para fabricação de defensivos agrícolas. Como muitas indústrias chinesas estão com a produção limitada visto o racionamento energético, surgem dúvidas quanto a capacidade de abastecimento. Com a oferta restrita, os preços seguem aumentando. O glifosato, por exemplo, já está 233% mais caro que em 2020. Podem ocorrer casos de dificuldade de abastecimento.
  • Ainda no setor de insumos, as entregas de fertilizantes em 2021 devem alcançar 44 milhões de t, um crescimento de 8% frente as 40,56 milhões de t do ano anterior. O cenário só não é mais favorável devido ao problema global de logística marítima, enfrentado nos últimos meses. Para o segundo semestre de 2021, estima-se que as negociações de fertilizantes já estejam praticamente finalizadas, enquanto que, para o primeiro semestre de 2022, 34% dos insumos demandados já foram negociados. O problema maior se continuar a crise de energia no mundo seria para a segunda-safra e para a safra do hemisfério norte, a ser plantada em abril/maio de 2022. Temos que torcer para produtores não terem um comportamento de corrida às compras visando a estoques que podem não ser usados, complicando a vida de outros produtores. Devemos ter muita ação coletiva nestes momentos de escassez.
  • O Brasil vem se tornando referência no descarte das embalagens dos defensivos agrícolas, graças ao Sistema Campo Limpo, programa gerenciado pelo inpEV (Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias).

Atualmente, o agronegócio brasileiro apresenta um índice de cerca de 94% no encaminhamento sustentável das embalagens comercializadas no Brasil. Desde a criação do programa de logística reversa pelo inpEV, em 2002, mais de 630 mil toneladas de embalagens vazias tiveram destinação correta. Além da redução no impacto ambiental, a implementação do programa a nível nacional gerou uma economia de 36 bilhões de mega joules, valor suficiente para abastecer 5,2 milhões de casas por um ano. Além disso, o sistema evitou o lançamento de 823 mil toneladas de CO2 eq. na atmosfera, o mesmo que 1,8 milhão de barris de petróleo.

  • A Cocamar Cooperativa Agroindustrial, sediada em Maringá (PR), deve inaugurar em dezembro a sua planta de produção de biodiesel. A unidade, que contou com R$ 40 milhões de investimentos e integra o plano estratégico da companhia, terá capacidade para moagem de 1.500 t de soja por dia, produzindo diariamente até 300 t do biocombustível.

Outra unidade produtora de biodiesel deve ser construída em Tomé-Açu, no estado do Pará, e foi anunciada recentemente pela empresa gaúcha Oleoplan.

A planta vai contar com R$ 148 milhões em investimentos e, quando em funcionamento, deve gerar mais de 50 vagas de emprego no município.

  • Dados do Relatório Global do Estado da Economia Islâmica indicam que o Brasil é o maior exportador de produtos halal do mundo, totalizando receita de US$ 16,2 bilhões. Essa categoria de produtos atende a necessidades específicas para os muçulmanos, ancoradas no código da lei islâmica. Além disso, já existe 1,9 bilhão de consumidores muçulmanos e estima-se que devam atingir um terço da população global até 2060. É um mercado que precisamos ficar de olho.
    • Para a pecuária, apesar das exportações não terem caído, os preços da arroba caíram, principalmente pela redução de abates com a incerteza de como serão os próximos meses.
    • Esta nova fase de escassez de energia e insumos no mundo deve trazer impactos positivos para empresas de produtos alternativos (energia, biológicos...); empresas que permitam economia no uso de recursos (eficiência de aplicação, gestão por metro quadrado), empresas que potencializem o compartilhamento de ativos (mecanismos que facilitem encontros de ofertantes com estoques e compradores precisando), entre outras.
  • E ao governo, três ações imediatas: redução do ICMS sobre combustíveis (com o grande aumento de preços e do consumo aumentou a arrecadação dos Estados, dá para segurar temporariamente), buscar entendimento entre os três poderes para diminuir os problemas das variáveis sob nosso controle e acalmar os mercados e despejar dólares no mercado para trazer o câmbio para uma posição de maior equilíbrio e tentar controlar a inflação.
  • Para concluir a nossa análise geral do agro, os preços dos principais produtos no fechamento desta coluna eram: a soja para entrega em cooperativa de São Paulo estava em R$ 165,50/sc e R$ 150/sc para fevereiro de 2022. Há um ano estava em R$ 147/sc. No milho, a cotação atual está em R$ 88,00/sc e a entrega em maio de 2022 fechou em R$ 86/sc (B3). Há um ano estava em R$ 64/sc. O algodão fechou em R$ 194/arroba e estava em R$ 108/arroba há um ano; e o boi gordo em R$ 270/arroba, sensivelmente abaixo do mês passado. 

Os cinco fatos do agro para acompanhar em novembro são: 

  1. Outubro vem sendo bem melhor em termos de clima. Acompanhar diariamente torcendo pela velocidade de plantio da primeira safra, visando principalmente ajudar a segunda para que esta saia mais do período de seca.
  2. Os impactos das restrições de exportação de carne bovina, que derrubaram a arroba, torcendo para a rápida abertura da China, que vem dando trabalho;
  3. A grave situação mundial de crise energética (escassez de carvão, preços do petróleo, do gás natural e outros). Acompanhar dia a dia o que acontece na China, Índia e em outros produtores de químicos e fertilizantes para entendermos o que serão os próximos meses.
  4. A atuação do governo em relação ao câmbio;
  5. A finalização da safra americana em outubro/novembro. Acompanhar os números finais do USDA a serem divulgados e as expectativas de plantios e produtividades da safra do hemisfério sul, principalmente o Brasil. O quanto que a escassez de produtos pode afetar a produtividade é a pergunta do mês, uma vez que área estimada deve ser quase toda plantada.

Reflexões dos fatos e números da cana em setembro/outubro e o que acompanhar em novembro Na cana 

  • A moagem acumulada de cana-de-açúcar na safra 2021/22 até 1º de outubro na região Centro-Sul está em 467,44 milhões de t, contra 501,88 milhões de t no mesmo período do ciclo passado (-6,8%); dados são da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica). Até a referida data, 36 unidades produtivas já encerraram a safra, enquanto outras 225 permanecem em operação. Até o final da primeira quinzena de outubro, outras 52 unidades já programam finalizar suas atividades.
  • No acompanhamento da produtividade dos canaviais feita pelo Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), o resultado para o mês de setembro foi de 58,2 t por hectare, uma queda de 21,0% em comparação com o mesmo mês do ano passado (era de 74,0 t por hectare).
  • Para o próximo ciclo, analistas esperam um consumo de 32,3 bilhões de litros de etanol (consumo interno + exportações), sendo que 29 bilhões seriam produzidos por meio da cana-de-açúcar e outros trêsbilhões advindos do biocombustível à base de milho. Considerando que a próxima safra também pode apresentar uma redução na oferta de cana para moagem (não comparada ao ciclo atual, mas já há indícios de queda), a oferta de açúcar pode ser comprometida, elevando ainda mais os preços no mercado global, já que o Brasil é o maior produtor da commodity.
  • A trading inglesa Czarnikow divulgou suas primeiras estimativas para a safra 2022/23 de cana-de-açúcar na região Centro-Sul do Brasil. Segundo a trading, 540 milhões de t serão moídas no próximo ciclo (+3,8%), produzindo 32,9 milhões de t de açúcar (+1,2%) e 23,8 bilhões de litros de etanol (+0,8%). Assim, o mix de açúcar deve ficar em aqui em ATR (Açúcar Total Recuperável) deve atingir 139 kg/t (-2,7%). Os valores estimados levam em consideração novas ocorrências de eventos climáticos (destaque para seca) neste ciclo.
    • Recentemente, a Cosan tornou-se investidora do Fifth Wall Climate Tech, uma venture capital dos Estados Unidos, voltada a soluções para descarbonização do setor de combustíveis e energia. A ação do grupo tem como objetivo o acesso preferencial a tecnologias e startups voltada à baixa emissão de carbono.
    • O governo do maior estado produtor de açúcar na Índia, Uttar Pradesh, aumentou o preço que as usinas devem desembolsar para aquisição de cana-de-açúcar no ciclo 2021/22 em 7,9%, agora em 340 rúpias por 100 kg, equivalente a US$ 4,61 por libra-peso. Trata-se da primeira elevação de preços nos últimos quatro anos e acontece um ano antes das eleições para assembleia estadual.

No açúcar

  • A produção de açúcar na segunda quinzena de setembro foi 19,9% menor que a do mesmo período de 2020, somando 2,32 milhões de toneladas. No acumulado da safra 2021/22, 29,19 milhões de t do adoçante foram produzidas, contra 32,06 milhões de t no acumulado do ciclo passado, uma redução de 7,0% no período.
  • Nos preços, as cotações do açúcar nas últimas semanas na Bolsa de Nova York fecharam em torno de 20,30 centavos de dólar por libra-peso para contratos com vencimento em março de 2022; o que reflete forte valorização na commodity. Para as safras 2022/23 e 2023/24, as operações de NDF (Non-Deliverable Forward) chegaram em R$ 2,580 e R$ 2,429, respectivamente; preços bastante remuneradores.
  • Em relação à comercialização, de acordo com cálculos da Archer Consulting, até o dia 31 de agosto, 8,3 milhões de t de açúcar já estavam fixadas para o ciclo 2022/23, com preços médios de 15,37 centavos de dólar por libra-peso; convertidos para o FOB Santos, o preço da t estaria em R$ 1,950. A consultoria também calculou o custo médio de produção do adoçante na região Centro-Sul, com base em dados da Unica (produção e ATR), o que indicou um custo de R$ 71,22 por saca na usina; ou 13,00 centavos de dólar por libra-peso FOB Santos, sem polarização.
  • Em suas atualizações mais recentes, a trading Alvean prevê que o consumo global de açúcar deve crescer 1,2% em 2021/22, frente aos 0,7% de crescimento da safra anterior. Por outro lado, a oferta brasileira de açúcar deve ficar em torno de 32,5 milhões de t, em vista a safra menor neste ciclo, que deve fechar em 530 milhões de t de cana-de-açúcar moída. Como resultado, o déficit global deve duplicar neste período, podendo alcançar até 6 milhões de t.
  • Na Índia, a Alvean indica que os estoques tiveram queda de 46,7% em comparação com o ano passado; ao final de 2020, estavam em 15 milhões de t, e agora giram em torno de 8 milhões de t.A Alvean prevê, ainda, que a produção tailandesa de açúcar deverá ser de 9,5 milhões de t no ciclo 2021/22; 9,5% menor do que era esperado pelo mercado (10,5 milhões de t).
  • Já na Austrália, a produção de açúcar deve fechar a safra 2021/22 em torno de 4,4 milhões de t, crescimento de 2,3% em comparação ao ciclo anterior, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Já as exportações devem apresentar ritmo maior de crescimento, de 6,9%, saltando para 3,63 milhões de t. A moagem de cana, por fim, deve fechar em torno de 31 milhões de t. Teremos menos açúcar no mundo.

No etanol

  • Na segunda quinzena de setembro, a produção de etanol atingiu 847,02 milhões de litros, um crescimento de 8,2% em comparação com o mesmo período do ano passado. No acumulado, desde 1° de abril, já foram produzidos 22,79 bilhões de litros de etanol, sendo que 8,90 bilhões do tipo anidro (39,1%) e 13,89 bilhões do tipo hidratado (60,9%). Do total produzido até o momento, 1,65 bilhão de litros (7,2%) teve o milho como matéria-prima.
  • No mês de setembro, as usinas do Centro-Sul comercializaram 2,46 bilhões de litros de etanol, queda de 15,0% em relação ao mesmo mês do ciclo passado.

Do total comercializado, 2,26 bilhões de litros (91,9%) foram internamente, e outros 194,45 milhões de litros (8,1%) foram exportados. No acumulado da safra 2021/22, as vendas do biocombustível somam 14,75 bilhões de litros, praticamente o mesmo volume registrado no ciclo anterior. Desse total, 13,92 bilhões de litros (94,4%) foram consumidos internamente e outros 929,06 milhões de litros (5,6%) foram comercializados com o mercado externo.

  • No setor de combustíveis, o consumo parece estar voltando à normalidade. Segundo a ANP (Agência Nacional do Petróleo), o consumo de gasolina equivalente acumulado nos últimos doze meses (setembro de 2020 até agosto de 2021) aumentou cerca de 3,8%, o que simboliza a mesma taxa de crescimento anual no período pré-pandemia.
  • Mas os preços da gasolina comum estão mais competitivos que os, do etanol em todos os estados brasileiros e no DF, segundo levantamento da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis). A paridade do etanol sobre a gasolina está em 78,05%, com preços médios de R$ 4,774/litro para o biocombustível e de R$ 6,177/litro para o combustível fóssil, o que leva muitos consumidores a optarem pelo segundo.
  • Por sua vez, os preços do diesel tiveram reajuste de 8,9% no final de setembro, passando de R$ 2,81/litro para R$ 3,06/litro, conforme anunciado pela Petrobras. A estatal afirma que os preços devem se manter estáveis por 85 dias e que o aumento é reflexo do incremento nos preços do petróleo e do câmbio.

 Para concluir, os cinco principais fatos para acompanhar em novembro na cadeia da cana:

  1. As chuvas voltaram neste outubro, se não trará efeitos agora já que a colheita se aproxima do final, ajudará na cana de 2022. Terminando a safra com cerca de 525 toneladas moídas, e com o consumo semelhante ao de 2020, esta entressafra trará emoções.
  2. Consumo de combustíveis. Qual o efeito do grande aumento de preços no consumo? Precisamos acompanhar de perto. A gasolina subiu novamente e o etanol hidratado, ao fechar esta coluna, pelos dados da SCA, estava em R$ 4,14/l com impostos nas usinas, e o anidro em R$ 4,08/l, aumento considerável em relação ao mês passado e devem seguir aumentando; 3. O barril do petróleo tipo Brent estava em incríveis US$ 84, trazendo grande impacto na inflação, nos custos e nos preços. O que será que acontecerá em novembro? Especialistas não creem em mudança rápida, e estamos perante uma situação de escassez de energia no mundo; 4. Ao fechar esta coluna, o açúcar estava em 19,9 cents/libra peso na tela de outubro de 2021. Um preço muito alto pode não ser bom, colocando em risco a velocidade da Índia na adoção do etanol e trazendo de volta produções em outros locais, este é o receio neste momento; 5. Os problemas de abastecimento de insumos e as necessidades da cana para boa performance na safra 2022/23.

Valor do ATR: a safra 2021/22 teve início com valores de ATR em abril e maio de, respectivamente, R$ 1,0141/kg e R$ 1,0564/kg. Já para o mês de junho, o valor manteve a tendência de alta, alcançando R$ 1,0630/kg. Em julho, o indicador voltou a crescer, atingindo R$ 1,0878/kg, comportamento que se manteve em agosto, chegando a R$ 1,1425/kg. Em setembro mais um grande aumento, chegando a 1,209. Assim, o valor acumulado até agora é de R$ 1,10/kg. Persistindo estes aumentos, ao final desta safra pode ainda chegar a algo entre R$ 1,15 a 1,18.

HOMENAGEADO DO MÊS

Neste mês, nossa singela homenagem vai para um dos grandes cientistas e professores da área de meteorologia agrícola, prof. Paulo Cesar Sentelhas, que nos deixou no mês de setembro devido a complicações da Covid. Paulo era professor na ESALQ-USP e CTO na Agrymet, gerou grandes contribuições na área, inclusive no setor sucroenergético. Deixou enorme legado dentro e fora das salas de aula, e fará muita falta nos eventos de cana e do agro. Que suas filhas tenham orgulho do pai!