E aí, como estão as variedades RB?

03/02/2021 Cana-de-Açúcar POR: RIDESA

Em comemoração aos seus 30 anos, RIDESA prepara liberação de 21 variedades além da publicação de um livro e uma revista

Em 2020, a Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroenergético (RIDESA) completou 30 anos de pesquisas com a cana-de-açúcar. Para comemorar a data, a Rede, que é formada por dez Universidades Federais, está preparando uma liberação nacional para 2021, onde serão divulgadas 21 novas variedades RB, listadas na Tabela 1. Na ocasião, a RIDESA publicará o livro “50 anos de variedades RB de cana-de-açúcar; 30 anos de RIDESA”, que contará com o histórico da Rede, sua contribuição para o setor sucroenergético e a descrição das 114 variedades RB liberadas ao longo desse período. Além da versão em português, será lançada uma versão do livro em inglês. A Rede também divulgará a “Revista de liberação das novas variedades RB”, com toda a descrição e recomendação de manejo das 21 liberações. Todo trabalho de organização e edição do livro e da revista vem sendo liderado pelo docente e coordenador de pesquisas com variedades da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Ricardo Augusto de Oliveira.

Tabela 1: As 21 novas variedades RB de cana-de-açúcar e as Universidades que as desenvolveram.

* UFV: Universidade Federal de Viçosa; UFG: Universidade Federal de Goiás; UFRRJ: Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro; UFRPE: Universidade Federal Rural de Pernambuco; UFPR: Universidade Federal do Paraná; UFSCar: Universidade Federal de São Carlos; UFAL: Universidade Federal de Alagoas.

Nesse grupo de novas variedades, algumas já aparecem nos censos varietais de seus respectivos Estados. Em São Paulo e Mato Grosso do Sul, por exemplo, a RB975033 foi uma das vinte variedades mais plantadas, segundo dados do censo varietal realizado em 2020 pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), que contou com informações de mais de 120 unidades desses dois Estados. Além da

RB975033, destacaram-se a RB005014 nas regiões de Jaú e de Ribeirão Preto e a RB975375 nas regiões de Jaú, Ribeirão Preto, Piracicaba e São José do Rio Preto. Quanto às variedades RB975201, RB975242, RB975952 e RB985476, liberadas pela UFSCar em 2015, todas estão com participação crescente nas áreas de cultivo, cada uma em seus ambientes específicos. Atualmente, a participação das RB nas áreas de cultivo em São Paulo e Mato Grosso do Sul é de 57%, chegando a mais de 60% no Brasil, com destaque para as variedades RB867515, RB92579 e RB966928.

A oferta de novas variedades pelos programas de melhoramento é crescente e se baseia na experimentação e na observação local dos técnicos, melhoristas e do corpo técnico das unidades produtoras; com isso, constatam-se em que condições de solo, clima e manejo as novas variedades podem se estabelecer e manifestar seu potencial produtivo. Continuaremos tendo variedades ecléticas, ou seja, que apresentam bom rendimento em uma ampla faixa de ambientes; por outro lado, à medida que novas variedades surgem no mercado, os produtores têm mais opções que podem se adaptar melhor em condições mais específicas.

O processo de desenvolvimento de uma nova variedade é longo e exige continuidade; por isso, a RIDESA reconhece e agradece o grande apoio das unidades produtoras na condução dos experimentos de seleção e ensaios de competição. A seguir, com o objetivo de demonstrar o potencial das novas liberações da RIDESA, apresentaremos informações mais detalhadas de duas dessas novas variedades: a RB108519, indicada para ambientes restritivos, e a RB015177, recomendada para ambientes favoráveis.

Nova variedade RB108519 (UFRRJ)

Futura variedade a ser liberada em 2021, a RB108519 é fruto de um trabalho da equipe da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), coordenada por Jair Felipe Garcia Pereira Ramalho. Essa variedade foi selecionada no norte do Estado do Espírito Santo, região de tabuleiros costeiros com argissolos arenosos e de baixa fertilidade, onde predominam ambientes de produção classificados como D ou E. Além de plana, é uma região quente e seca; as precipitações nos anos de 2015, 2016 e 2017 foram de 802, 968 e 1019 mm, respectivamente. Nessas condições, a RB108519 se destacou apresentando rusticidade, ótima produtividade agrícola e industrial, crescimento rápido, raro florescimento, ótima brotação de soqueira, excelente despalha, colheitabilidade e elevada sanidade. A RB108519 superou, na média de três cortes, o padrão RB867515, que é a variedade mais plantada no ES (Figura 1). É indicada para ambientes restritivos e para colheita nos meses de junho a outubro no Centro-Sul, por ter período útil de industrialização (PUI) longo. No momento, a RB108519 está sendo multiplicada no ES, BA, MG e RJ em maior intensidade, e nas demais Universidades da RIDESA segue em trabalho de intercâmbio.

                                                                                                       

Figura 1: Comparativo entre as variedades de cana-de-açúcar RB867515 e RB108519, para a variável toneladas de Pol por hectare (TPH). Dados experimentais médios de três cortes, obtidos na região Norte do Espírito Santo

Nova variedade RB015177 (UFSCar)

Desenvolvida no Estado de São Paulo pela equipe da UFSCar, que é coordenada por Hermann Paulo Hoffmann, a RB015177 foi obtida a partir de um cruzamento envolvendo as variedades SP70-1284 e SP80-3280. As características de maior destaque da RB015177 são alta produtividade, riqueza em açúcar, boa colheitabilidade, ótima brotação de soqueira, difícil florescimento, chochamento raro e excelente sanidade. É indicada para ambientes favoráveis e para colheita de junho a setembro; em regiões de maior déficit hídrico, recomenda-se antecipar a colheita. Em experimentos conduzidos em oito locais, a RB015177 superou, na média de dois cortes, o padrão CTC4, que é uma das variedades mais cultivadas no Centro-Sul (Figura 2). No momento, a RB0015177 está em fase acelerada de multiplicação em SP e no MS, e nas demais Universidades da RIDESA segue em trabalho de intercâmbio.

Figura 2: Comparativo entre as variedades de cana-de-açúcar CTC4 e RB015177, para a variável toneladas de Pol por hectare (TPH). Dados experimentais médios de dois cortes, obtidos em oito locais do Estado de São Paulo.

Futuras liberações

Como foi possível notar, novas opções varietais têm surgido aos produtores, que certamente contribuirão com ganhos de produtividade. Entretanto, o trabalho dos programas de melhoramento não pode parar, afinal os incrementos de produtividade devem ser contínuos.

Sobre transgenia, a RIDESA vem trabalhando para obtenção de uma cana transgênica com a sigla RB. A escolha das variedades e clones promissores que entraram no pipeline (linha de montagem) de transformação já foi realizada. As variedades transgênicas RB terão genes que conferem tolerância a herbicidas e estresses bióticos.

A transgenia, no entanto, não determinará o fim do melhoramento clássico, que ainda tem um longo caminho a ser explorado, com alto potencial para continuar produzindo genótipos superiores. A seguir, mostraremos mais exemplos disso, que consistem em dois clones RB que serão liberados futuramente: RB127825 e RB045836. Ambos demonstram a diversidade e a potencialidade dos clones dos programas de melhoramento da RIDESA; a conclusão dos ensaios finais e as avaliações em áreas comerciais darão ainda mais segurança para recomendação e, certamente, muitos outros clones chegarão, cada um em seu tempo, nas lavouras comerciais.

RB127825 (UFV)

O clone RB127825 resultou do cruzamento entre as variedades RB867515 e CTC14, e vem sendo desenvolvido pela equipe da Universidade Federal de Viçosa (UFV), que é coordenada por Márcio Henrique Pereira Barbosa, professor titular da UFV. Esse clone se destacou desde as primeiras fases de seleção, sinalizando sua potencialidade. Segundo o professor, a liberação comercial do RB127825 está planejada para daqui três a quatro anos, após a conclusão das colheitas dos experimentos, para melhor definir o seu manejo.

Figura 3: Clone de cana-de-açúcar RB127825: potencial de TCH de meio até final de safra

Como pontos positivos, o clone RB127825 apresenta elevada produtividade, rápido crescimento inicial, tolerância ao estresse hídrico na fase adulta, ótima resistência às principais doenças, ausência de florescimento e de chochamento, o que garante excelente qualidade da matéria-prima para processamento no final de safra.

É recomendada para colheita de meio até final de safra, para ambientes B e C, com algumas possibilidades de exploração em ambientes D (ainda em fase de avaliação).

Em experimentação, o RB127825 tem mostrado produtividade superior à variedade RB867515, como mostra a Figura 4.

Figura 4: Comparativo entre a variedade de cana-de-açúcar RB867515 e o clone RB127825, para a variável toneladas de ATR por hectare (TAH). Dados experimentais médios de dois cortes, sendo onze locais em cana-planta e seis locais em cana-soca, todos no Estado de Minas Gerais.

RB045836 (UFSCar)

Um dos grandes desafios para os programas de melhoramento genético é a obtenção de variedades com precocidade de maturação, prova disso é a permanência, até hoje, da RB855156 entre as variedades mais cultivadas na região Centro-Sul. No entanto, a equipe da UFSCar tem obtido com sucesso novos genótipos igualmente ou até mesmo mais precoces do que a RB855156, como a RB975952, liberada em 2015 e que tem crescido ano a ano no censo varietal.

Dentre as futuras liberações da UFSCar, está o clone RB045836, que tem se destacado justamente pela precocidade e riqueza em açúcar, como mostra a Figura 5; além disso, apresenta excelente perfilhamento, ótima brotação de soqueira, colheitabilidade e sanidade. Inicialmente, vem sendo recomendado para ambientes favoráveis e para colheita de abril a julho. Por sua superioridade em relação às variedades mais ricas e precoces do mercado, acredita-se que o clone RB045836 terá uma ascensão muito rápida a partir das primeiras introduções e multiplicações nas usinas e entre os produtores.

Figura 5: Curva de maturação do clone de cana-de-açúcar RB045836, em comparação às variedades hiperprecoces RB855156 e RB975952, considerando a variável ATR, em kg/t. Dados médios de três experimentos, conduzidos em três anos diferentes (2018, 2019 e 2020), em Araras, Estado de São Paulo.

Agradecimento

A equipe da RIDESA agradece a todas as unidades conveniadas pelo apoio e envolvimento na condução dos experimentos, que têm sido essenciais para a continuidade das pesquisas para o melhoramento genético da cultura e, consequentemente, para a liberação de novas variedades que venham a contribuir na busca por ganhos de produtividade.