É hora da enxada

16/11/2021 Noticias POR: MARINO GUERRA

Muda em um projeto de restauração de APP recebe irrigação

 

O manual traz uma chave de tomada de decisão que tem como objetivo fazer com que o profissional responsável pelo projeto aprofunde o conhecimento da área conforme vai respondendo até chegar à melhor maneira de se fazer a sua recomposição.
Nele, a primeira questão é sobre se a vegetação é uma floresta ou não. Qualquer sendo a resposta à pergunta seguinte propõe descobrir se há ou não indivíduos (árvores ou plantas) em processo de regeneração natural. A partir dessas duas informações, até certo ponto básicas, a chave chega à conclusão ao responder se a regeneração natural será suficiente para atingir os prazos do PRA e se há a intenção ou permissão para a exploração sustentável, desaguando em cinco possibilidade de metodologias diferentes, que são: condução de regeneração natural de espécies nativas, condução de regeneração natural de espécies nativas conjugado com o plantio de espécies nativas regionais, condução da regeneração natural de espécies nativas conjugado com o plantio de espécies nativas regionais de interesse, plantio de espécies nativas regionais e plantio de árvores nativas, consorciadas ou não com espécies exóticas (exceto as com potencial de invasão), inclusive culturas agrícolas, em sistemas agroflorestais (SAF).

Preparo do solo

Escolhido qual direção seguir, é hora de iniciar a caminhada e a primeira estrada é o preparo da área, o qual se realizado de maneira correta, vai reduzir o trabalho de formação e manutenção da área. Com o objetivo de diminuir a interferência de plantas competidoras e deixar preparado para receber as mudas, recomenda-se que se termine o preparo do solo com no mínimo 30 dias antes do plantio. A incorporação de restos da cultura, em regiões canavieiras, pelo fato de possuir soqueira, que pode impedir o desenvolvimento de sementes ou mudas de espécies nativas, demanda o uso de grade pesada nos terrenos planos. Em lugares íngremes, a recomendação é que o preparo aconteça somente na linha ou nos berços de plantio. Pensando no combate das daninhas invasoras, o material fala na observação de três características: estágio de desenvolvimento, infestação parcial ou em área total e disponibilidade de mão de obra e equipamentos para controle. A briga deverá ser constante, com foco nas proximidades do plantio por pelo menos 12 meses após a implantação, prazo estimado para o desenvolvimento das plantas a ponto de não serem mais suscetíveis à presença das gramíneas, sendo permitidos os seguintes manejos: capina manual (enxada), capina semimecânica (roçadeira costal), aplicação de herbicida apropriado à espécie invasora (linha ou berço) e plantio de adubo verde ou cultura anual nas entrelinhas (o que gera uma competição com as daninhas). Em caso de incidência de arbustos e árvores exóticas é permitido o uso até da motosserra, porém antes do corte, a orientação é buscar a confirmação se tal planta é mesmo de potencial invasor através de uma base de dados, livros ou consultoria de especialistas.

Isolamento da área e aceiros

No texto, a necessidade de cercas fica somente para as propriedades que têm a pecuária dentre suas atividades. Para as fazendas 100% agrícolas o carreador e as medidas de proteção contra a deriva de defensivos e propagação do fogo já bastam como isolamento. É aí que surge a figura dos aceiros, faixas livres de vegetação (sem material passível de entrar em combustão) cuja finalidade é a quebra da continuidade do material combustível, prática bastante trabalhada, dentre os produtores de cana-de-açúcar. São basicamente duas as recomendações sobre sua constituição, lembrando que não é objetivo da publicação definir as regras de tamanho, para isso há uma portaria específica, e as duas ligadas ao desenvolvimento de um planejamento no mesmo momento que for feita a escolha da área que receberá a vegetação.

Exemplo de um aceiro bem feito

 

A primeira fala sobre a logística para a chegada ao local em caso de incêndios, pois considerando que as próprias vias de acesso podem ser consideradas aceiros (desde que mantidas limpas) a chegada rápida do comboio brigadista pode ser determinante para salvar a área em recuperação. Em segundo lugar está a questão da conservação do solo pensando em evitar problemas com erosão, principalmente em áreas de Área de Preservação Permanente - APP que por, quase sempre, estarem localizadas em baixeiros, na época das águas podem sofrer sérias danificações, podendo atingir até mesmo o espaço da recomposição.

Ou o produtor acaba com as saúvas, ou as saúvas acabam com o PRA

Se o problema não fosse tão sério o tema não ocuparia um bom número de páginas dos manuais, pode-se confirmar que as formigas cortadeiras são a maior praga contra a recomposição vegetal. Assim, são propostos diversos tipos de controle, indo desde os químicos, que são as iscas granuladas, que por fazer com que as formigas levem o produto para o ninho levando à morte principalmente das jardineiras (as que cuidam da produção do alimento dentro do ninho); a termonebulização, introdução de um formicida na forma gasosa dentro do ninho (utilizada principalmente em sauveiros) e o pó seco, que são bombas injetadas dentro do formigueiro por meio de mangueiras (não sendo indicado em colônias muito grandes, pois o inseticida não chegará até as galerias mais profundas). O produtor também pode adotar o controle mecânico, o qual consiste no uso de uma escavadora (pá ou enxada) para que seja feita a remoção dos ninhos. Atenção para a idade do ninho, pois se esse for de saúva, o trabalho pode se tornar inviável devido a sua profundidade. Quanto ao retorno delas, a forma mecânica indicada é a utilização de cones, que se colocados nos caules das mudas e suas paredes lambuzadas de graxa ou vaselina, impedirão o acesso das danadas.

Plantio

A forma de plantio mais popular para a atividade é a distribuição de mudas que precisa ocorrer preferencialmente na primeira metade da estação chuvosa.

A questão do espaçamento é aberta, contudo o guia orienta uma prévia avaliação quanto a estrutura de manutenção (mão de obra e maquinário) e o tamanho da área como referência que irá determinar a população que será instalada.

Caso a adoção seja pelas linhas de plantio, é possível utilizar as plantas de preenchimento (crescimento rápido) e de diversidade (crescimento mais lento e estruturas mais robustas, como o jacarandá-paulista, jequitibá-rosa e cedro) podendo ser distribuídas aleatoriamente ou alternadas.

Um custo que o produtor precisa levar em consideração é quanto ao replantio das mudas, uma vez que a morte de parte das plantadas é comum. O guia orienta ao produtor calcular se a mortalidade ultrapassar os 5% iniciar uma investigação sobre os motivos e posteriormente realizar o replantio.

Para minimizar os riscos, é bom o produtor buscar conhecer o viveiro de origem das unidades, pois além da mortalidade, caso o processo de formação não tenha contemplado medidas de sanidade, pode levar doenças e/ou pragas que tornarão a resolução do problema ainda mais difícil.

Outro manejo de plantio que vem ganhando adesão em áreas totais ou em conjunto com a utilização de mudas ou complementar à regeneração natural é a semeadura direta (distribuição das sementes diretamente sobre o solo ou levemente incorporadas).

Sua grande vantagem é o uso de espécies com as mais variadas características (arbustos, árvores, crescimento lento e rápido) além de poder acrescentar indivíduos que são denominados como adubo verde (feijão-guandu, feijão-de-porco e crotalária) que vão realizar uma severa competição com as gramíneas invasoras além de fertilizar o ambiente para desfrute das plantas nativas.

Uma técnica interessante é a denominada “muvuca de sementes” ou plantio a lanço, que consiste na mistura das nativas com leguminosas (que farão o papel da adubação verde), substrato (areia, terra seca ou serragem) e fertilizantes para posterior distribuição, podendo ser manual ou mecânica (plantadeiras ou espalhadora de adubos). Nesse trabalho é preciso fazer uma grade aradora pensando na retirada de folhas estreitas e resquícios da cultura e, após a semeadura, a área deve ser gradeada para recobrir o material distribuído.

Para áreas de floresta, com possibilidade de mecanização, o plantio em linha é bastante indicado, enquanto que em situação oposta, terreno inclinado e de difícil acesso de máquinas, o produtor deve optar pelas covetas.

Muvuca de sementes