Quando o verão chega ninguém mais lembra das queimadas, senão o produtor que vai carregar suas consequências por um bom tempo. Na foto, área incendiada infestada pelo elasmo que o agricultor ainda batalha para não reformar
É verão e não se vê mais nenhum ativista de rede social criticando os produtores de cana pelos incêndios. A época das chuvas deixa a planta vigorosa e por consequência a paisagem ganha tons de verde escuro e de tamanho nivelado, parecendo com um imenso gramado.
Contudo, o canavieiro que foi vítima do fogo não consegue esquecer o fato, isso porque além de todo o trabalho (que envolve até em colocar em risco a própria vida) na tentativa de controle, a queda da produtividade esperada, e por consequência no resultado da safra, é algo que demorará anos até ser recuperado.
Outro fantasma vindo das chamas atende pelo nome de elasmo, uma praga sem controle de defensivo que ataca a cana queimada, principalmente em ano de primavera seca, como em 2020.
No mês de setembro, a equipe de jornalismo da Revista Canavieiros visitou uma propriedade de Morro Agudo que teve quase 200 hectares atingidos por um incêndio vindo de áreas vizinhas.
Na época, em decorrência do regime climático que já se pronunciava, o produtor demonstrava o receio em sofrer com o elasmo, o que foi se confirmando com o passar do tempo.
Em janeiro, a reportagem voltou na propriedade para ver o estrago que a praga causou e registrou um cenário assustador.
Traduzido em números, foi necessário reformar mais de 60 hectares que não estavam previstos (todos com a planta no terceiro ou quarto corte de seu ciclo, o que gerará um aporte de capital não planejado de quase meio milhão de reais considerando estimativa de custo de reforma publicada pelo Pecege).
Fora áreas também atacadas pela praga e que não serão reformadas por falta de estrutura e capital, o que, embora esteja sendo feito todo esforço, principalmente nutricional e de combate às ervas daninhas (outro problema das queimadas), haverá com certeza uma queda acentuada na produtividade.
Esse é mais um exemplo da inversão de valores que o canavieiro sofre há um bom tempo quando sua lavoura é queimada, pois de vítima, o que a lógica (financeira e agronômica) prova que é. É réu perante a lei, não podendo sequer assumir sua identidade na hora de contar a sua história.
Falhas, plantas daninhas e a diferença do tamanho que era para estar o canavial. Três imagens que evidenciam quem é a verdadeira vítima dessa história