“O etanol se caracteriza como um produto pronto para atender às demandas necessárias de mitigação de gases efeito estufa não só do Brasil, mas de todo o mundo. O Brasil dispõe de recursos naturais para viabilizar o atendimento dessa demanda, de modo sustentável”. A afirmação é de Luís Roberto Pogetti, presidente do Conselho Deliberativo da UNICA - União da Indústria de Cana-de-Açúcar, que assumiu o cargo em fevereiro, em substituição ao ex-ministro Roberto Rodrigues.
Formado em Administração de Empresas pela PUC-SP, com especialização em Finanças e Mestrado em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), Pogetti é também presidente do Conselho Deliberativo da Copersucar, do CTC (Centro de Tecnologia Canavieira), da Alvean Sugar e da Eco Energy Biofuels. Além de integrar o Conselho de Administração da Logum Logística S.A., empresa responsável pelo projeto do etanolduto no Brasil.
Para o executivo, após forte investimento nos anos 2000, a crise de 2008 acabou afetando fortemente toda a cadeia produtiva, pegando algumas empresas altamente endividadas, o que dificultou a recuperação de muitas delas. “Agora, o momento é de acomodação, de arrumação de casa, investindo na redução de custos e ganhos de eficiência e em produtividade. Além disso, o desenvolvimento e disseminação de novas tecnologias têm sido fundamentais para a retomada da competividade”.
Nesta entrevista, Pogetti fala sobre seus desafios no novo cargo. Confira: Luís Roberto Pogetti
Revista Canavieiros: O senhor acaba de assumir a presidência do Conselho Deliberativo da UNICA. Qual é a sua missão frente ao novo cargo?
Luís Roberto Pogetti: As mais de 120 companhias associadas à UNICA são responsáveis por mais de 50% do etanol e 60% do açúcar produzidos no Brasil. Nosso trabalho é defender os interesses dos produtores brasileiros de açúcar, etanol e bioeletricidade no País e no mundo, além de garantir a sintonia e harmonização desses interesses.
Também estamos concentrados em desenvolver as condições para aperfeiçoar o ambiente institucional a fim de favorecer a competitividade do setor
sucroenergético no Brasil, um dos mais estratégicos para o futuro do País.
Revista Canavieiros: Na sua visão, o aumento da mistura de etanol anidro à gasolina, de 25% para 27%, beneficiará o setor sucroenergético a ponto de alavancar a sua retomada?
LRP: O aumento da mistura deve elevar a demanda por anidro em torno de 1 bilhão de litros por ano. O setor sucroenergético, que passa pela maior crise de sua história, está preparado para atender a esse aumento da mistura de etanol à gasolina porque a capacidade de produção instalada nas unidades produtoras garante o atendimento dessa nova demanda de consumo. Entretanto, a retomada de crescimento do setor só ocorrerá por meio de um marco regulatório para o etanol e a bioeletricidade, que permita previsibilidade para investimentos.
Revista Canavieiros: Aportes de grandes tradings para operação conjunta no setor sucroenergético, através de novas joint ventures, têm sido cada vez mais comuns no segmento. O senhor acredita que este tipo de negociação, de concentração de grandes grupos, seja um caminho para o desenvolvimento da cadeia produtiva canavieira?
LRP: No início dos anos 2000, observou-se uma grande movimentação de aquisições e fusões de empresas, formação de joint ventures, e houve um forte investimento no setor. A crise de 2008 acabou afetando fortemente toda a cadeia produtiva, pegando algumas empresas altamente endividadas, o que dificultou a recuperação de muitas delas.
Agora, o momento é de acomodação, de arrumação de casa, investindo na redução de custos e ganhos de eficiência e em produtividade. Além disso, o desenvolvimento e disseminação de novas tecnologias têm sido fundamentais para a retomada da competividade.
Revista Canavieiros: Especialistas do setor alegam que é essencial o Governo definir o papel do etanol e da bioeletricidade na matriz energética, contribuindo assim para o retorno da confiabilidade na agroindústria da cana-de-açúcar, consequentemente atraindo novos investimentos. O senhor concorda com essa afirmação?
LRP: A UNICA está trabalhando para contribuir com o governo na construção de uma proposta de demarcação do setor. É preciso definir qual o papel do etanol no longo prazo, o que assegurará previsibilidade e viabilizará a definição das ações que o setor deverá tomar para o futuro. É fundamental para a indústria sucroenergética a existência
de políticas públicas estáveis, de longo prazo, que reconheçam as externalidades positivas dos biocombustíveis, sobretudo ao meio ambiente. Estudos realizados apontam que cada 1.000 m³ de etanol, em substituição ao combustível fóssil, resulta na mitigação de 2 toneladas de CO² equivalentes. Assim, a produção brasileira de etanol combustível da ordem de 27 milhões de m³ propicia a redução anual de 48 mil toneladas de CO². Outro dado relevante: em 2014, estima-se que o uso de etanol no Brasil evitou a ocorrência de 1.400 óbitos decorrentes de doenças vasculares e respiratórias associadas à utilização de combustíveis fósseis.
Por tudo isso, a UNICA continuará buscando junto ao Governo a aprovação de uma diferenciação tributária entre etanol e gasolina, de forma a remunerar o biocombustível pelo efeito positivo que ele traz ao ambiente e, por consequência, à saúde pública.
Revista Canavieiros: Como está o diálogo entre o Governo Federal e o setor sucroenergético? O posicionamento da ministra da Agricultura, Pecuária e bastecimento, Kátia Abreu, até o momento, têm sido bom para o setor?
LRP: A UNICA sempre manteve e mantém um diálogo franco com os Governos nas três esferas, federal, estadual e municipal, e mantém abertos seus canais de comunicação com a opinião pública e sociedade em geral influindo junto ao poder público na defesa dos interesses do setor de uma maneira assertiva, clara e eficaz. No caso da ministra
Kátia Abreu, assim como em relação às demais autoridades, mantemos um diálogo constante e trabalhamos em conjunto para alcançar as metas traçadas no planejamento estratégico do setor.
Revista Canavieiros: Na sua opinião, quais são as prioridades para a recuperação do segmento? Como a UNICA poderá contribuir para que isso aconteça?
LRP: Em fevereiro deste ano, o Governo autorizou a volta da incidência da CIDE (Contribuições de Intervenção no Domínio Econômico) e aumento da alíquota de PIS/COFINS (Programas de Integração Social/Contribuição para Financiamento da Seguridade Social) sobre a gasolina, em um montante de R$ 0,22 por litro, mas essa recomposição foi parcial. De acordo com a UNICA, trazida para valores de 2015, a CIDE deveria incidir em R$ 0,50 por litro. Trata-se de diferenciação tributária necessária para compensação dos benefícios que o etanol proporciona ao meio ambiente, comentados anteriormente. Outro eixo será a defesa do livre mercado de açúcar, buscando afastar a criação de subsídios e atitudes protecionistas que distorcem a concorrência e competitividade da indústria.
Por isso, no ano passado, a UNICA, por meio do Itamaraty, fez questionamentos
à Índia na OMC (Organização Mundial do Comércio) para entender mecanismos de incentivos dados pelo país a seus produtores. Neste ano, fez o mesmo com a Tailândia. Ainda não obteve resposta, mas está preparada para iniciar, se for o caso, um contencioso internacional para ambos os casos.
Revista Canavieiros: A produção de energia via biomassa tem potencial para crescer cerca de 15% este ano, de acordo com especialistas. Na sua avaliação, a cogeração poderá servir de trampolim para o setor sair da crise?
LRP: A geração e comercialização de energia pela biomassa contribuem de forma importante para o desempenho econômico e financeiro da nossa indústria, mas, por si só, não são suficientes para redundar na saída da crise.
Revista Canavieiros: Seu antecessor, Roberto Rodrigues, defendia a criação de um Proer (Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional) - implementado no governo de Fernando Henrique Cardoso para ajudar os bancos – dedicado às usinas. Qual é a sua opinião a respeito?
LRP: Devemos buscar um conjunto de ações que restabeleça a competitividade
do setor, que permita então a geração de recursos suficientes para fazer frente às obrigações financeiras da indústria.
Revista Canavieiros: O senhor já afirmou que o etanol contempla o tripé da sustentabilidade, ou seja, é econômico, social e ambiental. Mesmo assim, enfrenta muitas barreiras. Então, o que esperar do etanol brasileiro? A 2ª geração do produto pode ser considerada passagem garantida para um futuro promissor?
LRP: Acredito na reabilitação da competitividade do etanol. O etanol se caracteriza como um produto pronto para atender às demandas necessárias de mitigação de gases efeito estufa não só do Brasil, mas de todo o mundo. O Brasil dispõe de recursos naturais para viabilizar o atendimento dessa demanda, de modo sustentável. Além disso, o setor está investindo fortemente em inovação tecnológica através, principalmente, do CTC (Centro de Tecnologia Canavieira), na busca de variedades de cana mais produtivas e processos de produção mais eficientes. O etanol de segunda geração integra este esforço de inovação tecnológica e deverá contribuir para a melhoria de competitividade da produção.
“O etanol se caracteriza como um produto pronto para atender às demandas necessárias de mitigação de gases efeito estufa não só do Brasil, mas de todo o mundo. O Brasil dispõe de recursos naturais para viabilizar o atendimento dessa demanda, de modo sustentável”. A afirmação é de Luís Roberto Pogetti, presidente do Conselho Deliberativo da UNICA - União da Indústria de Cana-de-Açúcar, que assumiu o cargo em fevereiro, em substituição ao ex-ministro Roberto Rodrigues.
Formado em Administração de Empresas pela PUC-SP, com especialização em Finanças e Mestrado em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), Pogetti é também presidente do Conselho Deliberativo da Copersucar, do CTC (Centro de Tecnologia Canavieira), da Alvean Sugar e da Eco Energy Biofuels. Além de integrar o Conselho de Administração da Logum Logística S.A., empresa responsável pelo projeto do etanolduto no Brasil.
Para o executivo, após forte investimento nos anos 2000, a crise de 2008 acabou afetando fortemente toda a cadeia produtiva, pegando algumas empresas altamente endividadas, o que dificultou a recuperação de muitas delas. “Agora, o momento é de acomodação, de arrumação de casa, investindo na redução de custos e ganhos de eficiência e em produtividade. Além disso, o desenvolvimento e disseminação de novas tecnologias têm sido fundamentais para a retomada da competividade”.
Nesta entrevista, Pogetti fala sobre seus desafios no novo cargo. Confira: Luís Roberto Pogetti
Revista Canavieiros: O senhor acaba de assumir a presidência do Conselho Deliberativo da UNICA. Qual é a sua missão frente ao novo cargo?
Luís Roberto Pogetti: As mais de 120 companhias associadas à UNICA são responsáveis por mais de 50% do etanol e 60% do açúcar produzidos no Brasil. Nosso trabalho é defender os interesses dos produtores brasileiros de açúcar, etanol e bioeletricidade no País e no mundo, além de garantir a sintonia e harmonização desses interesses.
Também estamos concentrados em desenvolver as condições para aperfeiçoar o ambiente institucional a fim de favorecer a competitividade do setor
sucroenergético no Brasil, um dos mais estratégicos para o futuro do País.
Revista Canavieiros: Na sua visão, o aumento da mistura de etanol anidro à gasolina, de 25% para 27%, beneficiará o setor sucroenergético a ponto de alavancar a sua retomada?
LRP: O aumento da mistura deve elevar a demanda por anidro em torno de 1 bilhão de litros por ano. O setor sucroenergético, que passa pela maior crise de sua história, está preparado para atender a esse aumento da mistura de etanol à gasolina porque a capacidade de produção instalada nas unidades produtoras garante o atendimento dessa nova demanda de consumo. Entretanto, a retomada de crescimento do setor só ocorrerá por meio de um marco regulatório para o etanol e a bioeletricidade, que permita previsibilidade para investimentos.
Revista Canavieiros: Aportes de grandes tradings para operação conjunta no setor sucroenergético, através de novas joint ventures, têm sido cada vez mais comuns no segmento. O senhor acredita que este tipo de negociação, de concentração de grandes grupos, seja um caminho para o desenvolvimento da cadeia produtiva canavieira?
LRP: No início dos anos 2000, observou-se uma grande movimentação de aquisições e fusões de empresas, formação de joint ventures, e houve um forte investimento no setor. A crise de 2008 acabou afetando fortemente toda a cadeia produtiva, pegando algumas empresas altamente endividadas, o que dificultou a recuperação de muitas delas.
Agora, o momento é de acomodação, de arrumação de casa, investindo na redução de custos e ganhos de eficiência e em produtividade. Além disso, o desenvolvimento e disseminação de novas tecnologias têm sido fundamentais para a retomada da competividade.
Revista Canavieiros: Especialistas do setor alegam que é essencial o Governo definir o papel do etanol e da bioeletricidade na matriz energética, contribuindo assim para o retorno da confiabilidade na agroindústria da cana-de-açúcar, consequentemente atraindo novos investimentos. O senhor concorda com essa afirmação?
LRP: A UNICA está trabalhando para contribuir com o governo na construção de uma proposta de demarcação do setor. É preciso definir qual o papel do etanol no longo prazo, o que assegurará previsibilidade e viabilizará a definição das ações que o setor deverá tomar para o futuro. É fundamental para a indústria sucroenergética a existência de políticas públicas estáveis, de longo prazo, que reconheçam as externalidades positivas dos biocombustíveis, sobretudo ao meio ambiente.
Estudos realizados apontam que cada 1.000 m³ de etanol, em substituição ao combustível fóssil, resulta na mitigação de 2 toneladas de CO² equivalentes. Assim, a produção brasileira de etanol combustível da ordem de 27 milhões de m³ propicia a redução anual de 48 mil toneladas de CO². Outro dado relevante: em 2014, estima-se que o uso de etanol no Brasil evitou a ocorrência de 1.400 óbitos decorrentes de doenças vasculares e respiratórias associadas à utilização de combustíveis fósseis.
Por tudo isso, a UNICA continuará buscando junto ao Governo a aprovação de uma diferenciação tributária entre etanol e gasolina, de forma a remunerar o biocombustível pelo efeito positivo que ele traz ao ambiente e, por consequência, à saúde pública.
Revista Canavieiros: Como está o diálogo entre o Governo Federal e o setor sucroenergético? O posicionamento da ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Kátia Abreu, até o momento, têm sido bom para o setor?
LRP: A UNICA sempre manteve e mantém um diálogo franco com os Governos nas três esferas, federal, estadual e municipal, e mantém abertos seus canais de comunicação com a opinião pública e sociedade em geral influindo junto ao poder público na defesa dos interesses do setor de uma maneira assertiva, clara e eficaz.
No caso da ministra Kátia Abreu, assim como em relação às demais autoridades, mantemos um diálogo constante e trabalhamos em conjunto para alcançar as metas traçadas no planejamento estratégico do setor.
Revista Canavieiros: Na sua opinião, quais são as prioridades para a recuperação do segmento? Como a UNICA poderá contribuir para que isso aconteça?
LRP: Em fevereiro deste ano, o Governo autorizou a volta da incidência da CIDE (Contribuições de Intervenção no Domínio Econômico) e aumento da alíquota de PIS/COFINS (Programas de Integração Social/Contribuição para Financiamento da Seguridade Social) sobre a gasolina, em um montante de R$ 0,22 por litro, mas essa recomposição foi parcial.
De acordo com a UNICA, trazida para valores de 2015, a CIDE deveria incidir em R$ 0,50 por litro. Trata-se de diferenciação tributária necessária para compensação dos benefícios que o etanol proporciona ao meio ambiente, comentados anteriormente. Outro eixo será a defesa do livre mercado de açúcar, buscando afastar a criação de subsídios e atitudes protecionistas que distorcem a concorrência e competitividade da indústria.
Por isso, no ano passado, a UNICA, por meio do Itamaraty, fez questionamentos
à Índia na OMC (Organização Mundial do Comércio) para entender mecanismos de incentivos dados pelo país a seus produtores. Neste ano, fez o mesmo com a Tailândia. Ainda não obteve resposta, mas está preparada para iniciar, se for o caso, um contencioso internacional para ambos os casos.
Revista Canavieiros: A produção de energia via biomassa tem potencial para crescer cerca de 15% este ano, de acordo com especialistas. Na sua avaliação, a cogeração poderá servir de trampolim para o setor sair da crise?
LRP: A geração e comercialização de energia pela biomassa contribuem de forma importante para o desempenho econômico e financeiro da nossa indústria, mas, por si só, não são suficientes para redundar na saída da crise.
Revista Canavieiros: Seu antecessor, Roberto Rodrigues, defendia a criação de um Proer (Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional) - implementado no governo de Fernando Henrique Cardoso para ajudar os bancos – dedicado às usinas. Qual é a sua opinião a respeito?
LRP: Devemos buscar um conjunto de ações que restabeleça a competitividade
do setor, que permita então a geração de recursos suficientes para fazer frente às obrigações financeiras da indústria.
Revista Canavieiros: O senhor já afirmou que o etanol contempla o tripé da sustentabilidade, ou seja, é econômico, social e ambiental. Mesmo assim, enfrenta muitas barreiras. Então, o que esperar do etanol brasileiro? A 2ª geração do produto pode ser considerada passagem garantida para um futuro promissor?
LRP: Acredito na reabilitação da competitividade do etanol. O etanol se caracteriza como um produto pronto para atender às demandas necessárias de mitigação de gases efeito estufa não só do Brasil, mas de todo o mundo.
O Brasil dispõe de recursos naturais para viabilizar o atendimento dessa demanda, de modo sustentável. Além disso, o setor está investindo fortemente em inovação tecnológica através, principalmente, do CTC (Centro de Tecnologia Canavieira), na busca de variedades de cana mais produtivas e processos de produção mais eficientes.
O etanol de segunda geração integra este esforço de inovação tecnológica e deverá contribuir para a melhoria de competitividade da produção.