Apesar da alta produção, setor sofre com falta de reajuste nos preços.
Na última sexta-feira Catanduva recebeu a visita de Antonio Pádua Rodrigues, diretor Técnico da ÚNICA (União da Indústria de Cana-de-Açúcar). Ele ministrou uma palestra, a convite da Biocana (Associação de produtores de açúcar, etanol e energia da região).
Durante a palestra, Pádua falou sobre a safra 15/16, que já ultrapassou 65%, além de produção, produtividade, comportamento de preço e cenário de médio e longo prazo e como a situação da crise poderá ser resolvida.
Ele afirma que desde o ano de 2008 foram fechadas 80 unidades produtoras na região Centro-Sul, a qual Catanduva pertence. “Somente neste ano foram fechadas 10 unidades e o ano que vem algumas empresas também podem fechar”.
Mas a grande questão neste ano é se terão tempo disponível para processar toda a cana que está no campo. “A safra, mesmo com o canavial mais velho pelo menor nível de reforma nos últimos quatro anos. As condições climáticas vão fazer com que a produtividade fique maior de 5 a 6 toneladas por hectare, mas com redução na quantidade de produtos por cana produzida. A cana cresce, diminui o teor de sacarose. A grande dúvida é o mês de setembro. Na primeira quinzena houve uma perda significativa de moagem, 5 ou 6 dias em toda a região Centro-Sul. Em agosto também tivemos algumas regiões muito afetadas. Tem uma previsão de chuva para a segunda quinzena de setembro, que de novo pode paralisar”.
Já em relação à quantidade de cana e o quanto será processado, ele afirma que a disponibilidade deve ultrapassar 620 milhões de toneladas, sendo que no ano passado foram 570 milhões de toneladas. “O número que será processado dependerá muito das condições climáticas. É uma safra longa e poucas unidades vão parar as atividades em novembro. Muitas unidades vão até a véspera do Natal e algumas estão até falando que terão atividades até o início da próxima safra, que é o mês de março do próximo ano. Isso, no ponto de vista de produção é altamente positivo”.
POR QUE A CRISE?
Apesar do setor estar com alta produção, o lado negativo e que leva à crise é que os produtos não têm preços que possam levar ao lucro, novamente. “O preço hoje é formado por um grande número de produtores que não têm condições financeiras de segurar o produto, de segurar o estoque, que não tem condições de tomar um novo financiamento. Esse pessoal é que está formando um preço”.
Ele afirma que atualmente o produtor está vendendo o líquido do produto (etanol hidratado), pouco mais de R$ 1,20. “Isso não remunera nem o produtor e nem a indústria. Por isso estamos batendo recorde de vende todos os meses. Enquanto o consumo de outros combustíveis não está aumentando, o etanol está crescendo 50%”.
“ Isso é devido à relação de competitividade de preço de bomba do etanol em relação à gasolina. Em média tem ficado de 60% a 65% do preço da gasolina. Varia de posto para posto e isso faz com que as pessoas continuem usando etanol. Porque tem um espaço muito grande para crescer”.
Pádua explica que o setor não tem problemas com produção. “A questão que fica é que em algum momento o preço terá de se ajustar. Mesmo a safra crescendo, terminando mais tarde, mesmo que a safra comece mais cedo, o volume de vendas em algum momento vai ficar muito acima da oferta. E nesse momento vai haver uma reação de preço ao produtor”.
Ressalta que essa safra vai aumentar o endividamento das empresas e que provavelmente terá os preços iguais. “Há cinco anos não temos reajuste de preços, o faturamento das usinas diminui e o setor terá de conviver com o aumento de custos. Essa é a principal causa dessa situação difícil pela qual o setor passa”.
“É uma atividade que tem de continuar, tem que reformar canavial, tem que adubar, reformar máquinas, usinas. Os gastos aumentam e a conta não fecha. Aqueles que podem fazem empréstimo e vão se endividando ainda mais. Aqueles que não podem, não fazem nada, não reformam, não adubam, reduzem a cana e acabam fechando as portas”.
Explica que muitas empresas fazem de tudo para ganharem produtividade, reduzir custo da produção, mas não tem fôlego e perspectiva.
CRISE
Pádua ainda conta que a situação difícil não é somente em Catanduva e região. “O problema é geral. Existem unidades em melhor situação e unidades e situação crítica. As usinas que estão em situação de dificuldade são aquelas que acreditaram muito no período de 2003 a 2008 e que expandiram muito a sua produção. Tem grupos que dobraram o número de unidades. Esse pessoal se endividou muito, porque tinha um ambiente favorável a essa expansão. Esse ambiente foi cortado em 2008. O Governo mudou a regra do jogo a partir da crise financeira mundial, quando houve mudanças nas condições de financiamento”.
O Governo mudou a forma do preço da gasolina no mercado interno e isso teria levado a um desajuste do setor, explica o diretor técnico.
“O endividamento do setor é 1,2 vezes o seu faturamento. Levou a uma situação difícil que foi repassada aos produtores de cana e também ao fechamento de tantas empresas de bens capitais”.
Toda a cadeia que é envolvida na atividade, tem sofrido as consequências da crise. No ano passado o setor perdeu 87 mil empregos. Evidentemente é pelo crescimento da mecanização, do plantio, da colheita, além do fechamento das unidades. Isso tudo levou às demissões.
EXPECTATIVA
Pádua lembra que o setor ainda tem uma expectativa, uma esperança. “Nesse momento temos uma grande aposta, que é a oportunidade de retomar a expansão de rentabilidade do setor. A alternativa que o Governo teria era voltar o imposto ambiental na gasolina, que é a CIDE, tirada em 2012 e voltou no dia 1º de maio deste ano por R$ 0,10. O mundo todo discute a questão ambiental, do efeito estufa. O Brasil tem uma proposta de aumentar a participação do etanol na matriz do combustível. Não vemos nenhuma política pública favorável ao etanol. Precisamos de uma CIDE a R$ 0,60. É isso que a gasolina teria de pagar por sua poluição. O etanol não emite carbono na atmosfera. Tínhamos essa expectativa, mas surpreendidos, porque nada sobre a CIDE foi falado”.
E finaliza afirmando que o etanol continua sendo a grande solução e esperança. “Dependemos de uma sinalização do Governo. Hoje o setor está estagnado, com previsão de diminuição, devido à falta de previsibilidade”.
Apesar da alta produção, setor sofre com falta de reajuste nos preços. Na última sexta-feira Catanduva recebeu a visita de Antonio Pádua Rodrigues, diretor Técnico da ÚNICA (União da Indústria de Cana-de-Açúcar). Ele ministrou uma palestra, a convite da Biocana (Associação de produtores de açúcar, etanol e energia da região).
Durante a palestra, Pádua falou sobre a safra 15/16, que já ultrapassou 65%, além de produção, produtividade, comportamento de preço e cenário de médio e longo prazo e como a situação da crise poderá ser resolvida.
Ele afirma que desde o ano de 2008 foram fechadas 80 unidades produtoras na região Centro-Sul, a qual Catanduva pertence. “Somente neste ano foram fechadas 10 unidades e o ano que vem algumas empresas também podem fechar”.
Mas a grande questão neste ano é se terão tempo disponível para processar toda a cana que está no campo. “A safra, mesmo com o canavial mais velho pelo menor nível de reforma nos últimos quatro anos. As condições climáticas vão fazer com que a produtividade fique maior de 5 a 6 toneladas por hectare, mas com redução na quantidade de produtos por cana produzida. A cana cresce, diminui o teor de sacarose. A grande dúvida é o mês de setembro. Na primeira quinzena houve uma perda significativa de moagem, 5 ou 6 dias em toda a região Centro-Sul. Em agosto também tivemos algumas regiões muito afetadas. Tem uma previsão de chuva para a segunda quinzena de setembro, que de novo pode paralisar”.
Já em relação à quantidade de cana e o quanto será processado, ele afirma que a disponibilidade deve ultrapassar 620 milhões de toneladas, sendo que no ano passado foram 570 milhões de toneladas. “O número que será processado dependerá muito das condições climáticas. É uma safra longa e poucas unidades vão parar as atividades em novembro. Muitas unidades vão até a véspera do Natal e algumas estão até falando que terão atividades até o início da próxima safra, que é o mês de março do próximo ano. Isso, no ponto de vista de produção é altamente positivo”.
POR QUE A CRISE?
Apesar do setor estar com alta produção, o lado negativo e que leva à crise é que os produtos não têm preços que possam levar ao lucro, novamente. “O preço hoje é formado por um grande número de produtores que não têm condições financeiras de segurar o produto, de segurar o estoque, que não tem condições de tomar um novo financiamento. Esse pessoal é que está formando um preço”.
Ele afirma que atualmente o produtor está vendendo o líquido do produto (etanol hidratado), pouco mais de R$ 1,20. “Isso não remunera nem o produtor e nem a indústria. Por isso estamos batendo recorde de vende todos os meses. Enquanto o consumo de outros combustíveis não está aumentando, o etanol está crescendo 50%”.
“ Isso é devido à relação de competitividade de preço de bomba do etanol em relação à gasolina. Em média tem ficado de 60% a 65% do preço da gasolina. Varia de posto para posto e isso faz com que as pessoas continuem usando etanol. Porque tem um espaço muito grande para crescer”.
Pádua explica que o setor não tem problemas com produção. “A questão que fica é que em algum momento o preço terá de se ajustar. Mesmo a safra crescendo, terminando mais tarde, mesmo que a safra comece mais cedo, o volume de vendas em algum momento vai ficar muito acima da oferta. E nesse momento vai haver uma reação de preço ao produtor”.
Ressalta que essa safra vai aumentar o endividamento das empresas e que provavelmente terá os preços iguais. “Há cinco anos não temos reajuste de preços, o faturamento das usinas diminui e o setor terá de conviver com o aumento de custos. Essa é a principal causa dessa situação difícil pela qual o setor passa”.
“É uma atividade que tem de continuar, tem que reformar canavial, tem que adubar, reformar máquinas, usinas. Os gastos aumentam e a conta não fecha. Aqueles que podem fazem empréstimo e vão se endividando ainda mais. Aqueles que não podem, não fazem nada, não reformam, não adubam, reduzem a cana e acabam fechando as portas”.
Explica que muitas empresas fazem de tudo para ganharem produtividade, reduzir custo da produção, mas não tem fôlego e perspectiva.
CRISE
Pádua ainda conta que a situação difícil não é somente em Catanduva e região. “O problema é geral. Existem unidades em melhor situação e unidades e situação crítica. As usinas que estão em situação de dificuldade são aquelas que acreditaram muito no período de 2003 a 2008 e que expandiram muito a sua produção. Tem grupos que dobraram o número de unidades. Esse pessoal se endividou muito, porque tinha um ambiente favorável a essa expansão. Esse ambiente foi cortado em 2008. O Governo mudou a regra do jogo a partir da crise financeira mundial, quando houve mudanças nas condições de financiamento”.
O Governo mudou a forma do preço da gasolina no mercado interno e isso teria levado a um desajuste do setor, explica o diretor técnico.
“O endividamento do setor é 1,2 vezes o seu faturamento. Levou a uma situação difícil que foi repassada aos produtores de cana e também ao fechamento de tantas empresas de bens capitais”.
Toda a cadeia que é envolvida na atividade, tem sofrido as consequências da crise. No ano passado o setor perdeu 87 mil empregos. Evidentemente é pelo crescimento da mecanização, do plantio, da colheita, além do fechamento das unidades. Isso tudo levou às demissões.
EXPECTATIVA
Pádua lembra que o setor ainda tem uma expectativa, uma esperança. “Nesse momento temos uma grande aposta, que é a oportunidade de retomar a expansão de rentabilidade do setor. A alternativa que o Governo teria era voltar o imposto ambiental na gasolina, que é a CIDE, tirada em 2012 e voltou no dia 1º de maio deste ano por R$ 0,10. O mundo todo discute a questão ambiental, do efeito estufa. O Brasil tem uma proposta de aumentar a participação do etanol na matriz do combustível. Não vemos nenhuma política pública favorável ao etanol. Precisamos de uma CIDE a R$ 0,60. É isso que a gasolina teria de pagar por sua poluição. O etanol não emite carbono na atmosfera. Tínhamos essa expectativa, mas surpreendidos, porque nada sobre a CIDE foi falado”.
E finaliza afirmando que o etanol continua sendo a grande solução e esperança. “Dependemos de uma sinalização do Governo. Hoje o setor está estagnado, com previsão de diminuição, devido à falta de previsibilidade”.