Empresários queixam-se de Dilma com Padilha

10/02/2014 Geral POR: Valor
A ofensiva do pré-candidato do PT ao governo de São Paulo, ex-ministro Alexandre Padilha, em busca do apoio do agronegócio pelo interior do Estado esbarrou no descontentamento do setor em relação à política econômica do governo Dilma Rousseff.
Em encontros com empresários em Ribeirão Preto e em Barretos, desde sexta-feira, Padilha ouviu críticas sobre a falta de incentivos para melhorar a competitividade do etanol em relação à gasolina. Lideranças do agronegócio queixaram-se da política de exportação e da falta de diálogo com Dilma.
No jantar promovido pelo empresário Maurílio Biagi Filho (PR) na sexta-feira para apresentar Padilha ao agronegócio – foto - , em Ribeirão Preto, empresários aproveitaram a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para reclamar da crise do setor. Os ataques à gestão Dilma foram aplaudidos de pé.
A presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Elizabeth Farina, disse que o setor sucroenergético não sobrevive da forma como está. Citou que 40 usinas foram fechadas em 2013 e outras 15 deverão seguir o mesmo caminho neste ano. Foi ovacionada pelos presentes por cinco minutos. Na mesma linha seguiram o empresário e ex-ministro Roberto Rodrigues e o presidente da Sociedade Brasileira Rural, Gustavo Diniz Junqueira.
O empresário Luiz Clemente Lunardi disse que o clima era de "forte descontentamento". "O governo não precisa ajudar, mas pelo menos não tem que atrapalhar". O evento foi fechado à imprensa.
Lula tentou diminuir a tensão e disse que a crise é passageira. Em discurso de 1h10, defendeu as ações de sua gestão para ampliar o uso do etanol e fortalecer o setor e minimizou as críticas a Dilma.
Padilha disse que o Estado precisa assumir papel de liderança para definir políticas para o agronegócio, inclusive com a defesa da proposta de aumento do percentual do etanol na gasolina. O pré-candidato propôs aumentar investimentos em infraestrutura, com a ampliação do transporte de cargas por hidrovias e ferrovias. "Vamos construir o compromisso de que o governo do PT, no comando de São Paulo, vai assumir uma postura de defesa desse setor", disse. "Temos potencial de crescer e de ter ganhos de produtividade".
Com custo estimado em R$ 30 mil, o jantar foi feito a pedido do PT e pago por Maurílio, empresário cotado para ser vice de Padilha. A previsão era que entre 150 e 200 pessoas participassem, mas foram mais de 250. "Isso mostra o desespero e a busca por alguém que dê perspectiva, que faça a intermediação com o governo", disse Maurílio. Liderança do setor sucroalcooleiro, Maurílio disse que os empresários estavam "sem esperança". "São pessoas que estão sendo sufocada por políticas míopes".
O empresário e ex-ministro Pedro Parente disse que Lula é "o maior embaixador do etanol", mas colocou em xeque a possibilidade de mudanças. "Ele não pode falar pelo futuro governo", disse.
Em Barretos, sem Lula, o encontro de Padilha com empresários teve reclamações mais discretas sobre o governo federal, já que eles não discursaram.
No sábado, em jantar organizado pelo pecuarista Henrique Prata, diretor do Hospital do Câncer, Padilha defendeu que o Estado seja "mais ousado" em seus investimentos e evitou falar sobre a crise. Prata disse que a reclamação dos lideranças do setor de cana e álcool é exagerada. "A receita da pecuária é a metade da cana e não vejo esse descontentamento generalizado", disse.
Para o presidente da Associação Comercial e Industrial de Barretos, Roberto Arutin, os micro e pequenos empresários que ascenderam socialmente no governo Lula poderão quebrar em 2015. "Muitos dos que saíram da informalidade não vão aguentar", disse. "Lula deu impulso a todos os setores. Dilma começou bem, mas fechou a torneira. Ele foi bom, ela não". Empresário do comércio, Carlos Miziara reclamou do governo Dilma e disse que deve repetir o voto no PSDB.
A tentativa de aproximação do PT junto ao agronegócio e ao eleitor conservador é uma das estratégias de Padilha para ampliar sua base social. O petista começou na sexta-feira a primeira de dez caravanas que fará até julho.