O espaço Multiplan Hall do Ribeirão Shopping sediou o 18º Grande Encontro de Variedades de Cana-de-açúcar & Novas Técnicas de Fertilização
O evento realizado pelo Grupo IDEA nos dias 4 e 5 de setembro, na cidade de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, reuniu mais de 500 profissionais da cadeia produtiva sucroenergética e teve como objetivo principal difundir informações sobre variedades de cana-de-açúcar e novas técnicas de fertilização, aspectos cruciais para o sucesso da produção canavieira.
Nunes: "Vamos ressurgir das cinzas muito mais fortes. O agronegócio é imbatível".
Dib Nunes, presidente do Grupo IDEA, abriu o encontro com um discurso enfático sobre a importância da cana como fonte de combustível limpo e sustentável, destacando seu papel na preservação ambiental e na melhoria da qualidade do ar nas grandes cidades. Ele também mencionou a evolução das práticas de cultivo, como a colheita crua, realizada sem queimadas, e elogiou as usinas como “santuários de conservação” focados na preservação de matas, rios e nascentes.
Por outro lado, Nunes expressou profunda tristeza e indignação pelos incêndios que devastaram São Paulo em agosto, com 2.700 focos de queimadas registrados em um único dia. Ele descreveu o episódio como uma “ação terrorista” e lamentou a destruição de canaviais, matas centenárias e fauna local.
Nunes fez um apelo por justiça e cobrou ações efetivas do governo para punir os responsáveis pelas queimadas e combater o crime organizado, que, segundo ele, está fortemente protegido. Ainda assim, ele deixou claro que o setor do agronegócio não desistirá. “Vamos ressurgir das cinzas muito mais fortes. O agronegócio é imbatível. Nós alimentamos 210 milhões de habitantes e grande parte do mundo”, afirmou com otimismo.
O evento seguiu com várias palestras que abordaram novas variedades de cana-de-açúcar, fertilização avançada e soluções tecnológicas para a produção sustentável.
Natália: "O cenário climático adverso tem sido determinante nos resultados da safra".
A especialista em inteligência de mercado do CTC, Natália Calori, destacou a quebra de produtividade de 5,7% na safra 2024/25 no Centro-Sul do Brasil, agravada por déficit hídrico e queimadas. Ela enfatizou a importância da escolha estratégica de variedades de cana para mitigar os impactos climáticos e otimizar a produção.
Outro destaque da apresentação foi a qualidade do caldo da cana, com uma leve queda na pureza, impulsionada por um aumento nos açúcares redutores devido ao estresse hídrico e outras condições adversas. Esse fator, segundo Natália, tem dificultado a cristalização do açúcar e se tornou um desafio adicional para as usinas nesta safra.
Por fim, Natália Calori fez um convite aos produtores e usinas para que explorem mais a produtividade por meio da adoção de variedades mais modernas de cana, que possam oferecer ganhos em rendimento, além de um manejo adequado das áreas de plantio. “Mitigar os efeitos de fatores incontroláveis, como o clima, é essencial para garantir a competitividade do setor”, concluiu o especialista, enfatizando a importância de boas práticas agronômicas e da escolha estratégica de variedades para maximizar a rentabilidade.
Vitti: "As práticas corretas de correção de solo, como a adição de matéria orgânica e o uso de bioinsumos, são capazes de melhorar a estrutura, a retenção de água e a atividade microbiana".
O pesquisador André Vitti, da APTA – IAC, reforçou a importância da fertilidade do solo e do fortalecimento do sistema radicular da cana. Vitti destacou que análises de solo precisas e práticas adequadas de correção, como o uso de matéria orgânica e bioinsumos, podem melhorar a produtividade, mesmo em condições climáticas desafiadoras.
Ele apresentou dados que mostraram ganhos significativos em produtividade com o uso de aminoácidos. Com exemplos práticos, o pesquisador relatou que, mesmo em um ano seco, o uso de aminoácidos proporcionou um ganho de 12 toneladas por hectare. “É fundamental formar um perfil de solo adequado para garantir um sistema radicular vigoroso, capaz de amenizar os estresses causados por condições climáticas adversárias”, disse Vitti.
Na ocasião também destacou que, especialmente em anos com condições climáticas desafiadoras, como o atual, o vigor do sistema radicular é essencial para garantir a produtividade das tarefas. “Temos que, em primeiro lugar, conhecer o solo e as suas condições, entendendo os diversos atributos como a matéria orgânica e a composição química, tanto na superfície quanto na sub-superfície”, afirmou.
Chapola destacou as liberações mais recentes da Ridesa/UFSCar e os dados sobre a produtividade média da cana nas últimas dez safras
Roberto Chapola, pesquisador da Ridesa/UFSCar, também contribuiu com uma análise sobre a produtividade agrícola ressaltando os desafios climáticos enfrentados.
O balanço hídrico das estações de Araras e Valparaíso mostrou um déficit acentuado em períodos críticos, como dezembro e janeiro de 2023/24, quando era esperado um excedente hídrico. Este déficit impactou significativamente o crescimento da cana-de-açúcar, comprometendo cerca de 35% do ganho de matéria verde no período mais crucial para o desenvolvimento da cultura.
Chapola também destacou os dados sobre a produtividade média da cana nas últimas dez safras, destacando que, apesar do maior valor registrado na safra 2023/24, a previsão para 2024/25 é de uma queda de 11% em São Paulo e 7% na região Centro-Sul, segundo estimativas da Conab. Os experimentos da Ridesa corroboram essa queda, com reduções de até 16% na produtividade da cana-planta.
Além disso, Chapola discorreu sobre o Censo Varietal de 2024, que contou com a colaboração de 129 usinas dos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul, abrangendo mais de 4 milhões de hectares. As variedades RB representaram 53% das áreas plantadas, com destaque para a RB966928 e CTC4, que superaram 10% de participação. Novas variedades lançadas pela Ridesa, como a RB 975201 e RB 985476, também ganharam destaque, e anunciou o lançamento de uma nova variedade, a RB 075322, previsto para 2025.
O encontro reuniu especialistas e produtores do setor, reafirmando a importância de um manejo criterioso e a busca por práticas sustentáveis no setor sucroenergético.