A afirmação é do produtor rural, ex-ministro da Agricultura, embaixador da FAO/ONU para o cooperativismo e coordenador do Centro de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas, Roberto Rodrigues. Em entrevista à Revista Canavieiros, o ex-ministro falou de um setor que é estratégico para a economia brasileira, o agronegócio, e fez um balanço a respeito da situação econômica e política do país. Acompanhe!
Revista Canavieiros: Ao mesmo tempo em que se acentua o ritmo da produção brasileira de grãos cresceu a disparidade entre os meios rural e urbano. Como o senhor vê isso?
Roberto Rodrigues: A agricultura e consumidor rural e urbano, campo e cidade, são pedaços do mesmo corpo, o corpo da nação. A nação tem o agricultor, o consumidor, o produtor de sapato, de óleo vegetal. Então tudo faz parte de um mesmo corpo, não existe a nação sem o produtor e não existe o produtor sem o consumidor. Somos uma coisa só e esse conceito que está muito claro nos países desenvolvidos, ainda não está claro aqui, onde somos nós e eles, o urbano é uma coisa e o rural é outra coisa, uma segunda classe e isso é um erro. Na medida em que esse processo educacional evoluir e florescer, esse contexto de que tudo é uma coisa só gera o desenvolvimento nacional de maneira equilibrada.
Revista Canavieiros: O agronegócio tem uma importância muito grande para o país. Nos últimos 25 anos a área plantada com grãos cresceu 53% e a produção de grãos cresceu 260%. A que isso se deve?
Roberto Rodrigues: Isso se deve a tecnologia. Os produtores rurais submetidos
ao Plano Collor e depois ao Plano Real - que estabilizaram a economia, depois geraram uma demanda de competitividade para sobreviver - foram buscar tecnologia em gestão, aumentaram a produtividade e reduziram os custos de produção, ficando competitivos. Isso teve um reflexo na sustentabilidade da atividade rural brasileira fora do comum.
Se nós tivéssemos hoje a produtividade que tínhamos há 25 anos seriam necessários mais 78 milhões de hectares para gerar a safra deste ano, ou seja, nós preservamos 78 milhões de hectares em desmatamento porque aumentamos a produção na área que já existia. Então, a ciência, a tecnologia e a inovação foram a alavanca da competitividade brasileira e continuam sendo.
Revista Canavieiros: O que podemos esperar da agricultura?
Roberto Rodrigues: Eu vejo claramente a segurança alimentar como a única garantia mundial de paz e isso não sou eu quem está inventando. Não há paz onde houver fome, a fome gera miséria, desgraça e guerra. Então, alimentar o mundo inteiro é um desafio para a humanidade ter paz e cada cidadão no mundo deveria lutar para ter alimento para todo mundo e ter paz.
O mundo contemporâneo olha para o Brasil como um grande supridor de alimentos, a expectativa é que em 10 anos possamos aumentar em 40% a exportação de alimentos e se nós aumentarmos em 40%, o mundo cresce a metade, que é 20%. Nós temos um desafio e uma solicitação internacional, uma demanda internacional fantástica. Por favor, cresça 40% para que o mundo cresça 20%.
Eu acho isso uma coisa maravilhosa, um desafio espetacular, de modo que eu vejo agricultura como um cenário de empregos nobres, de geração de uma sociedade brasileira mais desenvolvida, mais harmoniosa, economicamente mais equilibrada, com base numa agricultura igualmente sólida, sóbria e tecnificada. Eu vejo um horizonte que é oferecido ao Brasil fantástico. Ser o campeão mundial da paz.
Revista Canavieiros: Sabemos do potencial do agronegócio brasileiro, mas até onde ele é capaz de sustentar a economia brasileira?
Roberto Rodrigues: Enquanto houver produtor rural disposto a enfrentar todas as dificuldades que existem, vamos continuar crescendo, mas a grande expectativa que existe é que em algum momento a sociedade brasileira esperte
para essa demanda global e pressione os governos de qualquer natureza, municipal, estadual, federal, para uma estratégia para a agricultura. Hoje não tem política comercial adequada, não tem política de renda, não tem política tecnológica, não tem política de logística, estrutura, é tudo contra o agricultor e estamos crescendo, imagina se houver uma estratégia. Ninguém segura o Brasil.
Revista Canavieiros: O senhor foi ministro no Governo do ex-presidente Lula. Como o senhor vê o momento político e econômico do país? O agronegócio ganha ou perde com a atual conjuntura?
Roberto Rodrigues: Todo mundo perde, o agronegócio também perde porque numa situação de estabilidade política e econômica, acaba faltando crédito, os créditos ficam mais caros os custos sobem, a volatilidade cambial gera uma volatilidade comercial porque os preços mudam a cada dia para cima ou para baixo, o ajuste fiscal necessário certamente vai fazer o crédito muito mais seletivo e muito mais caro, então o agronegócio acaba sofrendo também inevitavelmente, mas ainda é ¼ do PIB Nacional que é quem sustenta a balança comercial brasileira e vamos de novo em 2016 fazer a mesma coisa.
Revista Canavieiros: Em recente entrevista a um jornal, o senhor afirmou que a presidente Dilma Rousseff perdeu o controle da gestão. O senhor é a favor ou contra o processo de impeachment?
Roberto Rodrigues: Eu acho de novo que a Dilma perdeu a capacidade de governar. Posso dar milhões de exemplos para explicar isso. Ela destruiu a Petrobras porque estabeleceu todo processo de combate a inflação com os combustíveis com preço estável. Comprava lá fora mais caro do que vendia aqui dentro, foram 34 bilhões de prejuízo só no ano passado, destruiu a Petrobras. Destruiu junto o setor sucroenergético que era um florão da agricultura brasileira, o mundo inteiro olhava com inveja e ela destruiu isso.
Prometeu que a energia elétrica não iria subir e subiu 60%, que o juro iria cair e subiu, cresceram desemprego e a inflação. Ela cometeu tantos erros na área da gestão pública que perdeu o comando e perdeu a confiança do investidor, e não se faz um país sem o setor privado. Cabe ao Estado estabelecer as regras, escrever os mecanismos e o setor privado vai lá e ocupa o espaço econômico e toca para frente. Com esse fracasso todo da presidente Dilma, o setor privado não confia e não está investindo.
O desemprego aumenta, a inflação aumenta, tudo aumenta, tudo piora. Eu acho que ela não tem condição de gestão para tocar o país e recuperar a confiança. Por outro lado, politicamente ela também se perdeu de uma forma trágica e não consegue manter uma estrutura de sustentação política adequada. Agora o PMBD desembarcou do Governo, ou uma parte desembarcou do Governo.
Com isso, eu acho que ela não tem nem condição executiva e nem condição política de tocar o país de modo que tem que haver uma mudança. Acredito que a melhor solução seria via renúncia, o que ela não vai fazer. A segunda solução para mim seria o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) impugnar a chapa por causa de crimes eleitorais, mas aí teria que fazer uma nova eleição e o país está vivendo um momento muito complicado, muito conturbado para uma nova eleição. E, por último, ela abdicou das funções dela, não renunciou ao cargo, mas abdicou das funções trazendo o Lula para um cargo de primeiro ministro, eu até acho que o Lula tem muito mais capacidade do que ela para resolver as coisas e quem sabe até sair lá na frente, mas agora precisa de confiança. Tem que criar um mecanismo qualquer para que algo aconteça e eu acho que o único mecanismo viável seria o impeachment, mas acho pouco provável que aconteça.
A afirmação é do produtor rural, ex-ministro da Agricultura, embaixador da FAO/ONU para o cooperativismo e coordenador do Centro de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas, Roberto Rodrigues. Em entrevista à Revista Canavieiros, o ex-ministro falou de um setor que é estratégico para a economia brasileira, o agronegócio, e fez um balanço a respeito da situação econômica e política do país. Acompanhe!
Revista Canavieiros: Ao mesmo tempo em que se acentua o ritmo da produção brasileira de grãos cresceu a disparidade entre os meios rural e urbano. Como o senhor vê isso?
Roberto Rodrigues: A agricultura e consumidor rural e urbano, campo e cidade, são pedaços do mesmo corpo, o corpo da nação. A nação tem o agricultor, o consumidor, o produtor de sapato, de óleo vegetal. Então tudo faz parte de um mesmo corpo, não existe a nação sem o produtor e não existe o produtor sem o consumidor. Somos uma coisa só e esse conceito que está muito claro nos países desenvolvidos, ainda não está claro aqui, onde somos nós e eles, o urbano é uma coisa e o rural é outra coisa, uma segunda classe e isso é um erro. Na medida em que esse processo educacional evoluir e florescer, esse contexto de que tudo é uma coisa só gera o desenvolvimento nacional de maneira equilibrada.
Revista Canavieiros: O agronegócio tem uma importância muito grande para o país. Nos últimos 25 anos a área plantada com grãos cresceu 53% e a produção de grãos cresceu 260%. A que isso se deve?
Roberto Rodrigues: Isso se deve a tecnologia. Os produtores rurais submetidos
ao Plano Collor e depois ao Plano Real - que estabilizaram a economia, depois geraram uma demanda de competitividade para sobreviver - foram buscar tecnologia em gestão, aumentaram a produtividade e reduziram os custos de produção, ficando competitivos. Isso teve um reflexo na sustentabilidade da atividade rural brasileira fora do comum.
Se nós tivéssemos hoje a produtividade que tínhamos há 25 anos seriam necessários mais 78 milhões de hectares para gerar a safra deste ano, ou seja, nós preservamos 78 milhões de hectares em desmatamento porque aumentamos a produção na área que já existia. Então, a ciência, a tecnologia e a inovação foram a alavanca da competitividade brasileira e continuam sendo.
Revista Canavieiros: O que podemos esperar da agricultura?
Roberto Rodrigues: Eu vejo claramente a segurança alimentar como a única garantia mundial de paz e isso não sou eu quem está inventando. Não há paz onde houver fome, a fome gera miséria, desgraça e guerra. Então, alimentar o mundo inteiro é um desafio para a humanidade ter paz e cada cidadão no mundo deveria lutar para ter alimento para todo mundo e ter paz.
O mundo contemporâneo olha para o Brasil como um grande supridor de alimentos, a expectativa é que em 10 anos possamos aumentar em 40% a exportação de alimentos e se nós aumentarmos em 40%, o mundo cresce a metade, que é 20%. Nós temos um desafio e uma solicitação internacional, uma demanda internacional fantástica. Por favor, cresça 40% para que o mundo cresça 20%.
Eu acho isso uma coisa maravilhosa, um desafio espetacular, de modo que eu vejo agricultura como um cenário de empregos nobres, de geração de uma sociedade brasileira mais desenvolvida, mais harmoniosa, economicamente mais equilibrada, com base numa agricultura igualmente sólida, sóbria e tecnificada. Eu vejo um horizonte que é oferecido ao Brasil fantástico. Ser o campeão mundial da paz.
Revista Canavieiros: Sabemos do potencial do agronegócio brasileiro, mas até onde ele é capaz de sustentar a economia brasileira?
Roberto Rodrigues: Enquanto houver produtor rural disposto a enfrentar todas as dificuldades que existem, vamos continuar crescendo, mas a grande expectativa que existe é que em algum momento a sociedade brasileira desperte para essa demanda global e pressione os governos de qualquer natureza, municipal, estadual, federal, para uma estratégia para a agricultura. Hoje não tem política comercial adequada, não tem política de renda, não tem política tecnológica, não tem política de logística, estrutura, é tudo contra o agricultor e estamos crescendo, imagina se houver uma estratégia. Ninguém segura o Brasil.
Revista Canavieiros: O senhor foi ministro no Governo do ex-presidente Lula. Como o senhor vê o momento político e econômico do país? O agronegócio ganha ou perde com a atual conjuntura?
Roberto Rodrigues: Todo mundo perde, o agronegócio também perde porque numa situação de estabilidade política e econômica, acaba faltando crédito, os créditos ficam mais caros os custos sobem, a volatilidade cambial gera uma volatilidade comercial porque os preços mudam a cada dia para cima ou para baixo, o ajuste fiscal necessário certamente vai fazer o crédito muito mais seletivo e muito mais caro, então o agronegócio acaba sofrendo também inevitavelmente, mas ainda é ¼ do PIB Nacional que é quem sustenta a balança comercial brasileira e vamos de novo em 2016 fazer a mesma coisa.
Revista Canavieiros: Em recente entrevista a um jornal, o senhor afirmou que a presidente Dilma Rousseff perdeu o controle da gestão. O senhor é a favor ou contra o processo de impeachment?
Roberto Rodrigues: Eu acho de novo que a Dilma perdeu a capacidade de governar. Posso dar milhões de exemplos para explicar isso. Ela destruiu a Petrobras porque estabeleceu todo processo de combate a inflação com os combustíveis com preço estável. Comprava lá fora mais caro do que vendia aqui dentro, foram 34 bilhões de prejuízo só no ano passado, destruiu a Petrobras. Destruiu junto o setor sucroenergético que era um florão da agricultura brasileira, o mundo inteiro olhava com inveja e ela destruiu isso.
Prometeu que a energia elétrica não iria subir e subiu 60%, que o juro iria cair e subiu, cresceram desemprego e a inflação. Ela cometeu tantos erros na área da gestão pública que perdeu o comando e perdeu a confiança do investidor, e não se faz um país sem o setor privado. Cabe ao Estado estabelecer as regras, escrever os mecanismos e o setor privado vai lá e ocupa o espaço econômico e toca para frente. Com esse fracasso todo da presidente Dilma, o setor privado não confia e não está investindo.
O desemprego aumenta, a inflação aumenta, tudo aumenta, tudo piora. Eu acho que ela não tem condição de gestão para tocar o país e recuperar a confiança. Por outro lado, politicamente ela também se perdeu de uma forma trágica e não consegue manter uma estrutura de sustentação política adequada. Agora o PMBD desembarcou do Governo, ou uma parte desembarcou do Governo.
Com isso, eu acho que ela não tem nem condição executiva e nem condição política de tocar o país de modo que tem que haver uma mudança. Acredito que a melhor solução seria via renúncia, o que ela não vai fazer. A segunda solução para mim seria o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) impugnar a chapa por causa de crimes eleitorais, mas aí teria que fazer uma nova eleição e o país está vivendo um momento muito complicado, muito conturbado para uma nova eleição. E, por último, ela abdicou das funções dela, não renunciou ao cargo, mas abdicou das funções trazendo o Lula para um cargo de primeiro ministro, eu até acho que o Lula tem muito mais capacidade do que ela para resolver as coisas e quem sabe até sair lá na frente, mas agora precisa de confiança. Tem que criar um mecanismo qualquer para que algo aconteça e eu acho que o único mecanismo viável seria o impeachment, mas acho pouco provável que aconteça.