Entidades querem aproveitar Copa do Mundo para estimular consumo de produtos à base de soja
27/12/2013
Agronegócio
POR: ZERO HORA
Apenas 4% do grão brasileiro é destinado ao consumo humano. No mundo, índice chega a 10%
Entidades querem aproveitar Copa do Mundo para estimular consumo de produtos à base de soja Fernanda Ramos/especial
Brasil pode atingir marca de campeão mundial na produção de soja nesta safra
Foto: Fernanda Ramos / especial
A visibilidade dos gramados brasileiros durante a realização da Copa do Mundo servirá como oportunidade para fomentar um negócio com potencial de crescimento no país e no mundo: a utilização da soja para consumo humano. A Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja) e a Associação dos Produtores Americanos de Soja (American Soybean Association) firmaram parceria para incentivar o consumo do produto durante o Mundial no Brasil, justamente no ano em que o país pode atingir a marca de campeão mundial na produção do grão, batendo os Estados Unidos.
Atualmente, apenas de 3,5% a 4% da soja brasileira é destinada ao consumo humano – no mundo, chega a 10% –, segundo pesquisa feita em parceria pela Embrapa Soja e universidades do Paraná. No Estado, uma das pioneiras na industrialização de soja para esta finalidade é a Olvebra, de Eldorado do Sul, com quase 60 anos.
Além dos produtos, fornece matéria-prima para empresas dentro e fora do país – com distribuição para a América Latina, Estados Unidos, Europa, África e Ásia.
– Nossa expectativa é de alta de até 15% no consumo dos produtos à base de soja. Linhas de chocolate que fabricamos com o grão crescem neste ritmo, assim como o condensado de soja, nosso líder em exportações – diz Marcus Ambrosini, o gerente comercial.
Intolerância virou oportunidade de negócio
Também investindo no avanço desse mercado, a Cooperativa Piá, com sede em Nova Petrópolis, na Serra, investiu R$ 34,5 milhões em obras de ampliação do setor lácteo, que possibilita aumentar a escala de fabricação do Piá Vitta, uma linha de extrato de soja com adição de sucos de frutas.
O objetivo é atender principalmente à demanda da Região Sul, de acordo com Tiago Haugg, assessor da cooperativa.
O segmento também desperta o interesse de novas indústrias e empresários, como o técnico em alimentos Ariel Tusset. Ele viu na própria intolerância à lactose um nicho de mercado. Em 2010, criou a Alfa Soy, pequena empresa de iogurtes à base de soja em Santa Rosa. A dificuldade em escoar a produção, entre outros fatores, levou à transferência da indústria para Estância Velha.
– Na Grande Porto Alegre, há possibilidade de atingir até 6 milhões de pessoas com hábitos alimentares mais abertos – afirmou Jonas Fogaça, um dos sócios da empresa.
Escala de produção ainda é um desafio
Na esteira dos produtos funcionais, do mercado alimentado pela intolerância à lactose e de olho nas exportações, a indústria busca estimular o consumo de soja por seres humanos. De acordo com o professor de pós-graduação em agronegócios da UFRGS Glauco Schultz, essa é uma tendência dos sistemas agroindustriais para as próximas décadas, em razão de mudanças demográficas (envelhecimento) e aumento da renda da população, mas também devido às campanhas do setor de alimentos que ressaltam os benefícios dos itens à base de soja.
O desafio está na ainda reduzida escala de produção, aponta Schultz. No setor de bebidas, no entanto, há possibilidade de compartilhamento de equipamentos utilizados pela indústria de leite. E a estratégia de diversificação é uma oportunidade para exportar produtos com maior valor agregado e para um mercado com altas taxas de crescimento, mesmo com a volatilidade dos preços.
– Cabe às empresas que demandam esse tipo de commodity utilizarem mecanismos de seguro de preço, como hedge, bolsas de futuro e de opções – avalia Schultz.
De acordo com o presidente da Associação Gaúcha de Supermercados, Antônio Longo, a venda do suco de soja estagnou de 2012 para 2013, em parte pela diversidade e pelo crescimento do consumo de outros produtos à base do grão, como iogurtes:
– O consumo geral aumenta devido a preocupação com os benefícios dos produtos, mas segue a lógica do custo-benefício. O preço ainda é 40% mais alto que os similares, o que limita o consumo.