Entrevista

29/08/2019 Agricultura POR: Revista Canavieiros
Por: Fernanda Clariano
 
Principal entidade do setor no Brasil, o Sindag (Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola) iniciou o mês de junho de 2019 com novo presidente. O empresário do ramo de aviação agrícola, piloto e administrador de empresas, Thiago Magalhães Silva, foi eleito por aclamação até 2021 em substituição ao gaúcho Júlio Kämpf, que esteve por três mandatos no comando da entidade. Durante o Congresso da Aviação Agrícola 2019, realizado na cidade de Sertãozinho-SP, Silva falou com a reportagem da Revista Canavieiros. Confira.


Revista Canavieiros: Quais são os desafios do setor de aviação agrícola?
Thiago Magalhães Silva: São, além de promover uma evolução tecnológica que vem com a necessidade das culturas que aparecem com novas pragas e também os vários problemas a serem tratados com adubação foliar (como é o caso da cana-de-açúcar, que de um tempo para cá necessita de desenvolvimento e de novos equipamentos), trazer a informação que é o nosso segundo desafio. Então, além de desenvolver a aviação, é informar que somos regulados, qualificados e o único setor regulamentado de aplicação de agrotóxicos.
 
Revista Canavieiros: Atualmente podemos abrir mão da pulverização aérea no Brasil?
Silva: É praticamente impossível abrirmos mão e continuar com a produtividade que temos. Recentemente, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, citou que o Brasil poderá chegar à produção de 300 milhões de toneladas de grãos. Se tirarmos a aviação agrícola é provável que voltemos para 50 milhões de toneladas. Sabemos que o custo de produção no país é alto e se não tivermos eficiência o agronegócio deixa de existir porque é uma commodity com preço balizado no mundo todo. Assim, precisamos ter eficiência na produtividade e, para isso, sem a aviação, não vejo como existir.
 
Revista Canavieiros: Existem muitas críticas em relação à pulverização aérea, mas o que muitos não sabem é que, além de segura, é uma prática eficiente e regulamentada. O que é preciso para desmitificar que a pulverização aérea é prejudicial?
Silva: Aplicamos insumos agrícolas sim, um dos nossos trabalhos é esse. Porém, a mídia e mesmo a população quando veem um avião agrícola voando sempre associam a aplicação de insumos agrícolas e, muitas vezes, não é isso. Temos usinas que trabalham com açúcar orgânico e faz o tratamento com controle biológico - maturação através de adubo e conseguem uma produtividade orgânica usando a aviação agrícola que é regulamentada. Atualmente, 99% das frotas de avião têm DGPS, ou seja, antes de fazer uma aplicação é feito um planejamento operacional de voo, é traçado o local onde foi feito a aplicação e, após, é realizado um relatório operacional com todas as condições. Somos supervisionados por um técnico agrícola e por um agrônomo, então é difícil falar que a aviação agrícola causa mal à população.
 
Revista Canavieiros: A aviação agrícola não se resume apenas em aplicação de defensivos, mas em adubação, semeadura, combate a incêndios. Por favor, comente.
Silva: As pessoas estão acostumadas a lincar aviação agrícola à aplicação de defensivos. Atualmente temos combate a incêndios, povoamento de rios com peixes vivos - que é algo que ninguém fala no Brasil, mas é um serviço da aviação agrícola -, e a adubação foliar que hoje é fundamental nas culturas de soja, cana-de-açúcar e arroz. As usinas estão utilizando aeronaves para combater incêndios em cana e o Estado de São Paulo está contratando empresas de aviação agrícola para trabalhar nesse combate nas reservas ambientais estaduais.
 
Revista Canavieiros: O produtor de cana tem investido em pulverização aérea?
Silva: Ele sempre utiliza a ferramenta aviação agrícola quando não é possível o tratamento com trator. A aviação agrícola não concorre com o trator e nem com os outros tratamentos que são feitos na cana. Por vezes, é preciso fazer uma aplicação de fungicida ou de adubo foliar que necessita que a cana tenha uma folhagem mais densa para que seja eficiente e, se você entra com o trator, ele pode quebrar a cana, amassar e prejudicar a produtividade. Aí entra a ferramenta aviação agrícola, que fará o tratamento sem os prejuízos causados pelo trator.
 
Revista Canavieiros: Aplicação por aviação agrícola x aplicação por drone. Por favor, comente.
Silva: O drone é considerado pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) um avião e em termos de legislação é classificado em três níveis por peso. Nível até 25 quilos; de 25 a 150 quilos e de 150 quilos para cima. Acredito que num horizonte de curto prazo, os drones mais pesados vão demorar a chegar e o que vamos ver é uma entrada desses equipamentos de até 25 quilos nos próximos cinco ou dez anos. Vai depender muito de como será essa novidade no mercado, como ela se comportará para as empresas começarem a investir, assim como foi na aviação agrícola. Temos o exemplo de um avião de 1961que começou para instrução com 250 quilos e hoje contamos com aviões modernos com capacidade de três mil litros. Essa evolução provavelmente também acontecerá com o drone, que será um suplemento. As empresas poderão oferecer o serviço do avião agrícola e do drone, o que poderá levar a uma otimização, economia de produto e de tempo, e uma eficiência maior e sustentável dentro do negócio. Na cultura da cana-de-açúcar sabemos que hoje há invasões de plantas daninhas que crescem em pontos específicos da cana e o drone seria importante. A empresa ofereceria o serviço quando em grande escala com o avião e quando se tratar de um serviço mais pontual e posicionado, o drone.
 
Revista Canavieiros: Como o Sindag trabalha junto aos órgãos reguladores?
Silva: Trabalhamos dando o apoio e o suporte necessários aos órgãos reguladores. Atualmente temos como principais órgãos reguladores da aviação agrícola, o Ministério da Agricultura e a Anac. Trabalhamos tentando levar o problema do campo e dos operadores, o que realmente é necessário dentro da legislação, para dentro dos órgãos fiscalizadores. Muitas vezes os órgãos de controle têm o ímpeto fiscalizador, mas não conhecem a maneira como realmente é feito no campo, então queremos fazer o link entre o fiscal e operador, ou seja, que ele fiscalize corretamente e que tenhamos uma melhora da eficiência da aplicação. O objetivo do Sindag é levar informações do operador para a entidade fiscalizadora para que haja uma troca de informações e os dois evoluam no mesmo patamar.