Após o advento da agricultura de precisão, a busca por tecnologias e inovações cresce cada dia mais, tendo como objetivo o avanço das plantações com mais sustentabilidade e qualidade. Embora a curva de aprendizado tenha sido morosa e a “toque de caixa” para o setor sucroenergético, os progressos são muitos e se intensificam a cada nova safra.
Neste contexto, acompanhando a evolução digital empregada nas lavouras, a Canaoeste, dentro do seu plano de reestruturação, resolveu investir em uma ferramenta de geotecnologia possibilitando ao seu associado conhecer melhor sua realidade e suas possibilidades. Para isso, firmou parceria com a IDGeo (Inteligência em Dados Geográficos), uma empresa especializada na gestão, modelagem e produção de geoinformação para agricultura, com destaque ao desenvolvimento de análise espacial e monitoramento remoto do ambiente produtivo e ligada à ESALQ/USP.
O novo contrato possibilitará aos fornecedores de cana associados à entidade ter disponível o QualiAGRO, um mapa que destaca a variabilidade das condições vegetais existentes na lavoura, com base na diferenciação dos padrões de vigor, sanidade, desenvolvimento e manejo da cultura, oferecendo uma referência visual para avaliação da qualidade agrícola. “O QualiAGRO é uma ferramenta operacional para auxiliar as visitas no campo, contribuindo para o reconhecimento imediato das áreas que apresentam expectativa de produtividade abaixo do potencial, contribuindo com estimativas mais coerentes e assertivas”, explica o diretor comercial da IDGeo, Ronan José Campos.
Com o novo serviço, o produtor rural poderá, por exemplo, verificar o desenvolvimento do canavial, a presença de anomalias vegetais, manejo inadequado ou presença de agentes externos em disputa com o desenvolvimento da cana-de-açúcar, evitando perdas de produção.
Para o presidente da Canaoeste, Manoel Ortolan, a metamorfose da associação é necessária para atender às demandas dos novos tempos. “A diretoria entendeu que a Canaoeste precisa participar de um modo mais efetivo no cenário canavieiro, contribuindo também com dados, informações não só para a ala produtiva, mas também para o setor como um todo”, afirmou, explicando que com o novo serviço será possível ter em mãos um levantamento completo, por exemplo, das variedades utilizadas pelos fornecedores, áreas de reforma, idade dos canaviais, solo, entre outros.
“A expectativa para a safra atual, baseada em levantamento feito pelos agrônomos da entidade, é de que os associados da Canaoeste entreguem a mesma quantidade de cana da temporada 2016/17, que foi de 9,2 milhões de toneladas”, afirmou o presidente da entidade, Manoel Ortolan. Segundo ele, a área de plantio é um pouco menor este ano, mas como os canaviais estão apresentando mais qualidade, a produtividade deve ficar em 79 toneladas por hectares, o que deverá equilibrar o volume de cana produzido com o do ano passado.
“Com o mapeamento fica mais fácil fazer estimativas de colheita, participar de um censo varietal, ter dados precisos para assim poder fazer nossas projeções, como outras consultorias fazem. A partir daí, além das projeções da UNICA, Canaplan, DATAGRO, IDEA e outras, teremos a da Canaoeste”, afirmou, pontuando que o convênio com a startup pode contribuir com o trabalho dos agrônomos da associação, no senti do de orientar cultivares, práticas, adubação, controle de pragas, tudo fica mais viável de ser feito com mais precisão, com mais eficiência”, pontua.
Opinião compartilhada com a gestora técnica operacional da Canaoeste, Alessandra Durigan, ao afirmar que o serviço é uma ferramenta que auxiliará muito o trabalho do associado na gestão da sua propriedade e no manejo de sua lavoura.
“Além da elaboração do mapa físico de suas áreas, com atualizações frequentes, ele também receberá o mapa de biomassa que é muito importante para o posicionamento de ações e tomada de decisões que podem refletir em aumentos de produtividade e consequentemente de lucros financeiros. Sempre amparado pelo suporte técnico agronômico da Canaoeste, o associado terá acesso a um trabalho diferenciado e moderno”, assegura a profissional.
“A associação já tinha um departamento de topografia e fazia os mapas a partir de solicitações, agora, com a ajuda do satélite, ganha-se escala e em um ano conseguiremos fazer todos”, explica Almir Torcato, gestor corporativo da Canaoeste, reforçando que 2017 será um ano piloto para atendimento generalizado dos 2.400 associados e depois, o serviço tenderá a ser mais personalizado, atendendo demandas direcionadas.
“A inovação é estratégia para a sobrevivência da Canaoeste e desde o início de sua reestruturação, seu portfólio vem sendo sedimentado, agregando valor aos serviços prestados”, destaca o gestor, lembrando que a implantação do projeto de renovação visando os próximos 10 anos da entidade, iniciada em 2015, quando a mesma completou 70 anos, vislumbrava exatamente a modernização exigida na atualidade. “A Canaoeste já oferecia serviços de qualidade, tinha uma equipe bem qualificada, fazia ações de representatividade da classe, mas precisava de uma nova estrutura, para estar mais próxima do fornecedor; gerar conhecimento; informações de valor e ser reconhecida como entidade de liderança em nosso segmento”, elucidou.
Processo evolutivo contínuo
A importância da tecnologia incorporada na rotina do campo cada vez mais é destacada por especialistas, como ocorreu durante a apresentação da palestra “A Transformação Digital” proferida durante a Agrishow 2017, por Lucas Pinz, diretor de Tecnologia da Logicalis. “O produtor agrícola precisa entender que sua adaptação à total digitalização é estratégico para aumentar sua competitividade e eficiência”, afirmou ele, destacando que seu uso já contribuiu para alcançar bons índices de produtividade, dando como exemplo, o fato de que em 1930, um agricultor norte-americano produzia alimento suficiente para sustentar 9,8 pessoas; em 1950, um produtor conseguia alimentar 55 pessoas; saltando para 72 pessoas, em 1970, chegando em 2017 a 155 pessoas alimentadas por um agricultor. “A digitalização será decisiva para continuar nesse processo evolutivo”, disse, lembrando que para isso, é necessário avançar na transformação digital e aperfeiçoar a conectividade.
Não basta ter, tem que saber lidar com a tecnologia Para Silvio Crestana, ex-presidente da Embrapa e atual chefe geral da Embrapa Instrumentação, recursos avançados como drones, bionanotecnologia, agricultura de precisão, armazenamento de dados na nuvem, internet das coisas e impressão 3D, entre outros, já estão num estágio de desenvolvimento suficiente para auxiliar na modernização da produção agrícola. “O avanço tecnológico tem possibilitado a criação de um Big Data enorme, fato que pode se tornar um empecilho para quem não sabe lidar com este banco de dados gigantesco ou uma vantagem para quem entende do assunto”, disse.
Um limitante para se conseguir melhores resultados diante de toda essa tecnologia disponível é a dificuldade de conectividade em algumas regiões do país. “Temos nos esforçado para integrar cada vez mais dados e tecnologia para entregar mais valor ao produtor rural”, afirmou, lembrando a complexidade que alguns novos sistemas produtivos acrescentam ao esforço de inovação. “Um exemplo disso é o Sistema de iLPF (Integração Lavoura Pecuária Floresta), que envolve desafios de manejo e, principalmente, de se ter uma mão de obra mais qualificada”, ressaltou.
Crestana participou do Fórum Inovação da ABAG (Associação Brasileira do Agronegócio), primeiro evento organizado pela entidade na Agrishow, e ao lado de outros profissionais reforçou a importância da agricultura brasileira para o mundo e de seu avanço nos últimos anos.
Como fez Alex Foessel, diretor de Tecnologia da John Deere, ao falar sobre Agricultura de Precisão e analisar a tendência crescente de tratores mais conectados com o uso das modernas ferramentas para melhorar a gestão no campo. Neste contexto, a analista de negócios da Labware, Sileine Rodrigues, mostrou que a empresa oferece uma plataforma de soluções que protege o conhecimento e pode garantir a qualidade dos resultados.
Já André Pozza, diretor da Unidade de Negócios da Syngenta, apresentou as Soluções Integradas, detalhando o Plano de Agricultura Sustentável da empresa, com foco em maior produção, aumento da biodiversidade e melhoria da qualidade de vida do homem do campo e Cristiano Mendonça, diretor comercial da Michelin, fez uma apresentação sobre A Escolha do Pneu Certo para Incremento da Produtividade Agrícola. Mendonça enfatizou que os pneus radiais podem indicar redução do uso de combustível em torno de 28%.
Fez parte ainda do debate, André Salvador, diretor de Digital Farming da BAYER, que falou sobre Plataforma de Integração, com a criação do Centro de Expertise em Agricultura Tropical (CEAT); Cristiano Pontelli, gerente de negócios da Otmis, braço tecnológico da Jacto, abordou as Inovações Tecnológicas em Agricultura de Precisão, focando automação de máquinas, gestão à vista e consultoria no campo.
Almir Araújo Silva, gerente de Marketing Digital da América Latina da BASF, observou que o mundo está no momento da tecnologia, sem volta. Para isso, a empresa implantou a AgroStart, uma aceleradora de startups que busca ideias e soluções para o campo.
Lavoura conectada
“Tecnologia bem aplicada é sinônimo de produtividade, por isso sempre investimos muito, sendo um dos pioneiros a implantar inovações na cana-de-açúcar, isso em 2005, quando ninguém ainda falava nisso”, afirma Victor Campanelli, produtor e diretor executivo da Agro Pastoril Paschoal Campanelli, explicando que a curva de aprendizado foi severa devido a estarem na vanguarda do uso de tecnologias em todos os níveis da produção canavieira, adquiriam know how e contabilizaram histórias de sucesso.
Referência em excelência na produção de cana-de-açúcar, milho e gado de corte, Campanelli, comenta que falta ainda um despertar do setor para o uso da tecnologia. “Algumas usinas já entenderam que 80% de seus custos são agrícolas e já começaram a investir em tecnologia, mas outras ainda não, e não sabemos se isso vai acontecer um dia e se dará tempo de colherem os resultados (antes de fecharem)”, pondera ele, apontando que o trabalho feito pelas cooperativas tem contribuído para a atividade do pequeno produtor. “Não é fácil de fazer, de gerenciar, não é barato, portanto, o auxílio oferecido pelas cooperativas é o caminho para a expansão da implantação da tecnologia”, disse, afirmando que isso vem se intensificando nos últimos anos.
Campanelli foi um dos palestrantes da STARTAGRO - A revolução das máquinas, evento realizado pela primeira vez também na Agrishow, sob a tutela da DATAGRO, no painel “A máquina do futuro: quando algoritmos, tratores autônomos e Internet das Coisas se encontram”, do qual participou também Luís Otavio Fonseca, Líder de Agronegócio Digital da IBM.
Fonseca reforçou a aproximação da IBM junto ao agronegócio, mas enfatizou que recentemente foi criada uma plataforma de desenvolvimento de novas tecnologias para o setor. Entre elas, citou a plataforma Watson de Inteligência Artificial da empresa, que concentra dados de meteorologia, solos, sementes, defensivos, etc, compila e envia recomendações aos agricultores sobre as melhores ações a seguir. “Caberá aos produtores tomarem a decisão ou não”, disse, comentando ainda sobre a conectividade no campo, fato que deverá melhorar com a instrumentação das máquinas. “Com o passar do tempo, vamos conseguir ver a democratização da tecnologia no campo e é natural que a última milha de comunicação venha junto”, frisou.
Apesar da tecnologia contribuir com a geração de dados, Fernando Martins, CEO da Agrotools, ressalta que as informações ainda não são bem utilizadas pelos agricultores, citando uma pesquisa feita nos Estados Unidos que mostra que 83% dos agricultores que utilizam equipamentos de última geração sentem-se perdidos com tantos dados.
Sua empresa tem registros de 1.200 camadas de dados do território, uma tecnologia exclusiva que armazena informações de 3,8 milhões de propriedades rurais brasileiras, sendo 1,1 milhão delas no mais alto nível de produção. “Temos um banco de dados mais preciso que o Ministério da Agricultura e o Incra, coletando imagens de satélite há dez anos”, disse.
Gerações e inovações diferentes
A rapidez com que a tecnologia avança sobre as atividades rurais tem impressionado até mesmo quem sempre foi considerado um visionário no setor agrícola, como é o caso do empresário Maurílio Biagi Filho, presidente do Grupo Maubisa e presidente de honra da Agrishow, ao participar do painel ‘Diálogo de Gerações – como a tecnologia e o empreendedorismo podem ajudar na retenção do jovem no campo”, no evento da STARTAGRO, na Agrishow, com a jovem empreendedora Danielle Fonseca, cofundadora da startup Uller Agro, conhecida como a Uber das Máquinas. “É o mundo do compartilhamento, são inovações extraordinárias que estão acontecendo e este é um negócio que será muito bem-sucedido”, afirmou.
Sob a admiração do empresário, Danielle explicou para uma plateia atenta seu modelo de negócio baseado no compartilhamento de máquinas agrícolas. “Hoje contamos com uma rede de usuários de 119 fazendas cadastradas e de 65 produtores que disponibilizaram máquinas para serem alugadas”, disse, comentando que o interesse pelo serviço vem crescendo. Daniella é neta de Antônio Aureliano Chaves de Mendonça, ex-governador de Minas Gerais e vice-presidente da República. “Aureliano foi meu amigo e um dos profissionais extraordinários deste país, tendo contribuído para a implantação do Proalcool. Este encontro mostra que a tecnologia une pessoas além de trazer todo o desenvolvimento para o setor”, concluiu Biagi.
Após o advento da agricultura de precisão, a busca por tecnologias e inovações cresce cada dia mais, tendo como objetivo o avanço das plantações com mais sustentabilidade e qualidade. Embora a curva de aprendizado tenha sido morosa e a “toque de caixa” para o setor sucroenergético, os progressos são muitos e se intensificam a cada nova safra.
Neste contexto, acompanhando a evolução digital empregada nas lavouras, a Canaoeste, dentro do seu plano de reestruturação, resolveu investir em uma ferramenta de geotecnologia possibilitando ao seu associado conhecer melhor sua realidade e suas possibilidades. Para isso, firmou parceria com a IDGeo (Inteligência em Dados Geográficos), uma empresa especializada na gestão, modelagem e produção de geoinformação para agricultura, com destaque ao desenvolvimento de análise espacial e monitoramento remoto do ambiente produtivo e ligada à ESALQ/USP.
O novo contrato possibilitará aos fornecedores de cana associados à entidade ter disponível o QualiAGRO, um mapa que destaca a variabilidade das condições vegetais existentes na lavoura, com base na diferenciação dos padrões de vigor, sanidade, desenvolvimento e manejo da cultura, oferecendo uma referência visual para avaliação da qualidade agrícola. “O QualiAGRO é uma ferramenta operacional para auxiliar as visitas no campo, contribuindo para o reconhecimento imediato das áreas que apresentam expectativa de produtividade abaixo do potencial, contribuindo com estimativas mais coerentes e assertivas”, explica o diretor comercial da IDGeo, Ronan José Campos.
Com o novo serviço, o produtor rural poderá, por exemplo, verificar o desenvolvimento do canavial, a presença de anomalias vegetais, manejo inadequado ou presença de agentes externos em disputa com o desenvolvimento da cana-de-açúcar, evitando perdas de produção.
Para o presidente da Canaoeste, Manoel Ortolan, a metamorfose da associação é necessária para atender às demandas dos novos tempos. “A diretoria entendeu que a Canaoeste precisa participar de um modo mais efetivo no cenário canavieiro, contribuindo também com dados, informações não só para a ala produtiva, mas também para o setor como um todo”, afirmou, explicando que com o novo serviço será possível ter em mãos um levantamento completo, por exemplo, das variedades utilizadas pelos fornecedores, áreas de reforma, idade dos canaviais, solo, entre outros.
“A expectativa para a safra atual, baseada em levantamento feito pelos agrônomos da entidade, é de que os associados da Canaoeste entreguem a mesma quantidade de cana da temporada 2016/17, que foi de 9,2 milhões de toneladas”, afirmou o presidente da entidade, Manoel Ortolan. Segundo ele, a área de plantio é um pouco menor este ano, mas como os canaviais estão apresentando mais qualidade, a produtividade deve ficar em 79 toneladas por hectares, o que deverá equilibrar o volume de cana produzido com o do ano passado.
“Com o mapeamento fica mais fácil fazer estimativas de colheita, participar de um censo varietal, ter dados precisos para assim poder fazer nossas projeções, como outras consultorias fazem. A partir daí, além das projeções da UNICA, Canaplan, DATAGRO, IDEA e outras, teremos a da Canaoeste”, afirmou, pontuando que o convênio com a startup pode contribuir com o trabalho dos agrônomos da associação, no senti do de orientar cultivares, práticas, adubação, controle de pragas, tudo fica mais viável de ser feito com mais precisão, com mais eficiência”, pontua.
Opinião compartilhada com a gestora técnica operacional da Canaoeste, Alessandra Durigan, ao afirmar que o serviço é uma ferramenta que auxiliará muito o trabalho do associado na gestão da sua propriedade e no manejo de sua lavoura. “Além da elaboração do mapa físico de suas áreas, com atualizações frequentes, ele também receberá o mapa de biomassa que é muito importante para o posicionamento de ações e tomada de decisões que podem refletir em aumentos de produtividade e consequentemente de lucros financeiros. Sempre amparado pelo suporte técnico agronômico da Canaoeste, o associado terá acesso a um trabalho diferenciado e moderno”, assegura a profissional.
“A associação já tinha um departamento de topografia e fazia os mapas a partir de solicitações, agora, com a ajuda do satélite, ganha-se escala e em um ano conseguiremos fazer todos”, explica Almir Torcato, gestor corporativo da Canaoeste, reforçando que 2017 será um ano piloto para atendimento generalizado dos 2.400 associados e depois, o serviço tenderá a ser mais personalizado, atendendo demandas direcionadas.
“A inovação é estratégia para a sobrevivência da Canaoeste e desde o início de sua reestruturação, seu portfólio vem sendo sedimentado, agregando valor aos serviços prestados”, destaca o gestor, lembrando que a implantação do projeto de renovação visando os próximos 10 anos da entidade, iniciada em 2015, quando a mesma completou 70 anos, vislumbrava exatamente a modernização exigida na atualidade. “A Canaoeste já oferecia serviços de qualidade, tinha uma equipe bem qualificada, fazia ações de representatividade da classe, mas precisava de uma nova estrutura, para estar mais próxima do fornecedor; gerar conhecimento; informações de valor e ser reconhecida como entidade de liderança em nosso segmento”, elucidou.
Processo evolutivo contínuo
A importância da tecnologia incorporada na rotina do campo cada vez mais é destacada por especialistas, como ocorreu durante a apresentação da palestra “A Transformação Digital” proferida durante a Agrishow 2017, por Lucas Pinz, diretor de Tecnologia da Logicalis. “O produtor agrícola precisa entender que sua adaptação à total digitalização é estratégico para aumentar sua competitividade e eficiência”, afirmou ele, destacando que seu uso já contribuiu para alcançar bons índices de produtividade, dando como exemplo, o fato de que em 1930, um agricultor norte-americano produzia alimento suficiente para sustentar 9,8 pessoas; em 1950, um produtor conseguia alimentar 55 pessoas; saltando para 72 pessoas, em 1970, chegando em 2017 a 155 pessoas alimentadas por um agricultor. “A digitalização será decisiva para continuar nesse processo evolutivo”, disse, lembrando que para isso, é necessário avançar na transformação digital e aperfeiçoar a conectividade.
Não basta ter, tem que saber lidar com a tecnologia Para Silvio Crestana, ex-presidente da Embrapa e atual chefe geral da Embrapa Instrumentação, recursos avançados como drones, bionanotecnologia, agricultura de precisão, armazenamento de dados na nuvem, internet das coisas e impressão 3D, entre outros, já estão num estágio de desenvolvimento suficiente para auxiliar na modernização da produção agrícola. “O avanço tecnológico tem possibilitado a criação de um Big Data enorme, fato que pode se tornar um empecilho para quem não sabe lidar com este banco de dados gigantesco ou uma vantagem para quem entende do assunto”, disse.
Um limitante para se conseguir melhores resultados diante de toda essa tecnologia disponível é a dificuldade de conectividade em algumas regiões do país. “Temos nos esforçado para integrar cada vez mais dados e tecnologia para entregar mais valor ao produtor rural”, afirmou, lembrando a complexidade que alguns novos sistemas produtivos acrescentam ao esforço de inovação. “Um exemplo disso é o Sistema de iLPF (Integração Lavoura Pecuária Floresta), que envolve desafios de manejo e, principalmente, de se ter uma mão de obra mais qualificada”, ressaltou.
Crestana participou do Fórum Inovação da ABAG (Associação Brasileira do Agronegócio), primeiro evento organizado pela entidade na Agrishow, e ao lado de outros profissionais reforçou a importância da agricultura brasileira para o mundo e de seu avanço nos últimos anos.
Como fez Alex Foessel, diretor de Tecnologia da John Deere, ao falar sobre Agricultura de Precisão e analisar a tendência crescente de tratores mais conectados com o uso das modernas ferramentas para melhorar a gestão no campo. Neste contexto, a analista de negócios da Labware, Sileine Rodrigues, mostrou que a empresa oferece uma plataforma de soluções que protege o conhecimento e pode garantir a qualidade dos resultados.
Já André Pozza, diretor da Unidade de Negócios da Syngenta, apresentou as Soluções Integradas, detalhando o Plano de Agricultura Sustentável da empresa, com foco em maior produção, aumento da biodiversidade e melhoria da qualidade de vida do homem do campo e Cristiano Mendonça, diretor comercial da Michelin, fez uma apresentação sobre A Escolha do Pneu Certo para Incremento da Produtividade Agrícola. Mendonça enfatizou que os pneus radiais podem indicar redução do uso de combustível em torno de 28%.
Fez parte ainda do debate, André Salvador, diretor de Digital Farming da BAYER, que falou sobre Plataforma de Integração, com a criação do Centro de Expertise em Agricultura Tropical (CEAT); Cristiano Pontelli, gerente de negócios da Otmis, braço tecnológico da Jacto, abordou as Inovações Tecnológicas em Agricultura de Precisão, focando automação de máquinas, gestão à vista e consultoria no campo.
Almir Araújo Silva, gerente de Marketing Digital da América Latina da BASF, observou que o mundo está no momento da tecnologia, sem volta. Para isso, a empresa implantou a AgroStart, uma aceleradora de startups que busca ideias e soluções para o campo.
Lavoura conectada
“Tecnologia bem aplicada é sinônimo de produtividade, por isso sempre investimos muito, sendo um dos pioneiros a implantar inovações na cana-de-açúcar, isso em 2005, quando ninguém ainda falava nisso”, afirma Victor Campanelli, produtor e diretor executivo da Agro Pastoril Paschoal Campanelli, explicando que a curva de aprendizado foi severa devido a estarem na vanguarda do uso de tecnologias em todos os níveis da produção canavieira, adquiriam know how e contabilizaram histórias de sucesso.
Referência em excelência na produção de cana-de-açúcar, milho e gado de corte, Campanelli, comenta que falta ainda um despertar do setor para o uso da tecnologia. “Algumas usinas já entenderam que 80% de seus custos são agrícolas e já começaram a investir em tecnologia, mas outras ainda não, e não sabemos se isso vai acontecer um dia e se dará tempo de colherem os resultados (antes de fecharem)”, pondera ele, apontando que o trabalho feito pelas cooperativas tem contribuído para a atividade do pequeno produtor. “Não é fácil de fazer, de gerenciar, não é barato, portanto, o auxílio oferecido pelas cooperativas é o caminho para a expansão da implantação da tecnologia”, disse, afirmando que isso vem se intensificando nos últimos anos.
Campanelli foi um dos palestrantes da STARTAGRO - A revolução das máquinas, evento realizado pela primeira vez também na Agrishow, sob a tutela da DATAGRO, no painel “A máquina do futuro: quando algoritmos, tratores autônomos e Internet das Coisas se encontram”, do qual participou também Luís Otavio Fonseca, Líder de Agronegócio Digital da IBM.
Fonseca reforçou a aproximação da IBM junto ao agronegócio, mas enfatizou que recentemente foi criada uma plataforma de desenvolvimento de novas tecnologias para o setor. Entre elas, citou a plataforma Watson de Inteligência Artificial da empresa, que concentra dados de meteorologia, solos, sementes, defensivos, etc, compila e envia recomendações aos agricultores sobre as melhores ações a seguir. “Caberá aos produtores tomarem a decisão ou não”, disse, comentando ainda sobre a conectividade no campo, fato que deverá melhorar com a instrumentação das máquinas. “Com o passar do tempo, vamos conseguir ver a democratização da tecnologia no campo e é natural que a última milha de comunicação venha junto”, frisou.
Apesar da tecnologia contribuir com a geração de dados, Fernando Martins, CEO da Agrotools, ressalta que as informações ainda não são bem utilizadas pelos agricultores, citando uma pesquisa feita nos Estados Unidos que mostra que 83% dos agricultores que utilizam equipamentos de última geração sentem-se perdidos com tantos dados.
Sua empresa tem registros de 1.200 camadas de dados do território, uma tecnologia exclusiva que armazena informações de 3,8 milhões de propriedades rurais brasileiras, sendo 1,1 milhão delas no mais alto nível de produção. “Temos um banco de dados mais preciso que o Ministério da Agricultura e o Incra, coletando imagens de satélite há dez anos”, disse.
Gerações e inovações diferentes
A rapidez com que a tecnologia avança sobre as atividades rurais tem impressionado até mesmo quem sempre foi considerado um visionário no setor agrícola, como é o caso do empresário Maurílio Biagi Filho, presidente do Grupo Maubisa e presidente de honra da Agrishow, ao participar do painel ‘Diálogo de Gerações – como a tecnologia e o empreendedorismo podem ajudar na retenção do jovem no campo”, no evento da STARTAGRO, na Agrishow, com a jovem empreendedora Danielle Fonseca, cofundadora da startup Uller Agro, conhecida como a Uber das Máquinas. “É o mundo do compartilhamento, são inovações extraordinárias que estão acontecendo e este é um negócio que será muito bem-sucedido”, afirmou.
Sob a admiração do empresário, Danielle explicou para uma plateia atenta seu modelo de negócio baseado no compartilhamento de máquinas agrícolas. “Hoje contamos com uma rede de usuários de 119 fazendas cadastradas e de 65 produtores que disponibilizaram máquinas para serem alugadas”, disse, comentando que o interesse pelo serviço vem crescendo. Daniella é neta de Antônio Aureliano Chaves de Mendonça, ex-governador de Minas Gerais e vice-presidente da República. “Aureliano foi meu amigo e um dos profissionais extraordinários deste país, tendo contribuído para a implantação do Proalcool. Este encontro mostra que a tecnologia une pessoas além de trazer todo o desenvolvimento para o setor”, concluiu Biagi.