Escolha da tecnologia certa
05/02/2019
Agronegócio
POR: Revista Canavieiros
Por: Marino Guerra
Hoje, a enorme velocidade que a informação é disseminada em todas as áreas do conhecimento faz com que seja cada vez mais constante o surgimento de verdadeiras ondas de novidades que, se atingirem em cheio, podem dar um perigoso “caldo” tanto em profissionais como em empresas.
E com a agricultura não é diferente, basta reparar na quantidade de tecnologias que são apresentadas ano a ano, indo desde a organização e interpretação de dados, até máquinas e implementos que fazem quase tudo sozinhos.
É indiscutível que essa veloz e pulsante revolução trará muitos benefícios ao campo, porém o produtor precisa estar muito sereno e seguro na hora da escolha da tecnologia que vai investir, pois a escolha errada pode acarretar prejuízos não somente financeiros, mas principalmente em relação ao tempo de adequação e a mudança em como se executava serviços que davam certo no ambiente digital.
A forma como o produtor de cana-de-açúcar de Santa Rosa do Viterbo, Glauber Roberto de Moraes, toca sua operação, é um grande exemplo de como seguir essa linha de adoção tecnológica.
Ele recebeu a reportagem da Revista Canavieiros em uma tarde, ainda na primeira quinzena de janeiro, na sede da fazenda Chaparral, localizada entre os municípios de Santa Rosa do Viterbo e São Simão, área conhecida pela alta declividade do terreno.
Como não poderia ser diferente, logo no início da conversa já ficou claro que a conservação de solo seria um dos assuntos que mais renderia, sendo o de maior destaque o processo de sistematização de seu canavial (formado em 1,1 mil hectares entre área da família e arrendamento), que iniciara na safra passada em 250 hectares, tendo como objetivo facilitar o tráfego das máquinas, diminuindo o pisoteio, não somente relacionados à colheita (colhedoras e transbordos), mas em todos os tratos culturais.
Antes de iniciar o projeto, o produtor adotava prática mais comum de curva de nível (terraço embutido), quando na divisão entre um degrau e outro são plantadas oito linhas invertidas, as quais são conhecidas por diversos nomes diferentes (morredouros e matação de curva são os mais famosos), em relação ao restante do talhão.
No caso da área já sistematizada, feita com GPS, os talhões passam a ser 100% sulcados uniformemente (respeitando a mesma angulação), inclusive nas curvas, sendo criados carreadores estratégicos apenas quando a declividade se acentua (terraço de base larga para passantes), o que traz um segundo benefício, a quantidade maior de cana plantada.
O projeto ainda permitirá a adoção de mais uma tecnologia, a meiosi, a qual o produtor considera introduzi-la em seu canavial em breve, e que até então era impossível sua adoção em decorrência da falta do mapeamento das linhas com GPS, mas também pela inexistência de uma previsibilidade de colheita, problema sério que ele teve que enfrentar com a usina que colhia a sua cana.
Amarrado em um contrato de fornecimento de dez anos, Glauber, também conhecido como Binho, enumerou as dificuldades que foram aparecendo ao longo do tempo após a sua assinatura: “O grande problema do meu acordo era que a empresa não me dava nenhuma previsibilidade de quando viriam colher a minha cana, aí ficava complicado eu implantar algum projeto, como por exemplo, o da meiosi. Como eu iria conseguir fazer a preparação do solo se eles aparecessem para colher minha cana em outubro?”
Essa prestação de serviço confusa, principalmente quando ele era executado de maneira tardia, também prejudicava a soqueira do produtor, mais precisamente nos canaviais mais novos, pois o corte de uma cana planta de 18 meses em uma variedade de meio de safra, é recomendado que se colha no máximo no mês de julho. Diante disso Binho também disse que era impossível pensar em se trabalhar com um plantel varietal com precoces no elenco.
Agora livre da obrigação assumida, o produtor espera dar continuidade ao processo de evolução de seu canavial tendo a previsibilidade que lhe vai permitir adotar todas as técnicas já citadas anteriormente. "A partir dessa safra vou conseguir tirar minha cana de 18 meses entre maio e junho, e fazer o último corte das áreas que vão para a reforma no máximo em julho ou agosto.”
“Diante da minha experiência não vou mais assinar um contrato longo nos moldes que fiz o último, meu foco é construir uma relação de fidelidade com uma empresa, mas para isso ela terá que respeitar um plano de colheita”, completou Binho.
Para quem conhece um pouco de onde as usinas estão localizadas na região pode estranhar o fato do produtor querer estar livre para negociar sua cana, isso porque Santa Rosa do Viterbo sofreu demais com a última crise do setor e com a saída de duas unidades industriais do mercado, dando a impressão de que a concorrência por terra tenha caído na região.
Impressão errada, conforme explica Binho: “Comecei a operação com cana-de-açúcar em 1994, seguindo o auxílio de uma usina que incentivou bastante os agricultores da cidade a entrar para a cultura. Logo em seguida veio a primeira crise do álcool, o que fez muita gente daqui a parar de plantar, o que foi bom para quem permaneceu. Para se ter ideia, em 1999 vendemos a cana a R$ 14,00 a tonelada, já em 2000, conseguimos por R$ 33,00”.
Com menos terras e mais usinas, lógico que com o boom do setor do início do século, o valor do arrendamento subiu, porém, a crise trouxe um ponto positivo aos Canavieiros de Santa Rosa, pois os donos da terra passaram a optar por fazer negócios, embora recebendo menos, com os conhecidos, do que com empresas que poderiam apresentar problemas financeiros, gerando desconfiança no recebimento.
É curioso observar esse movimento de fornecimento de cana, isso porque não somente Santa Rosa, mas toda a extensão vinda de Cravinhos, passou a servir de escape para usinas que antes eram obrigadas a brigar dentro da região de maior concorrência por cana do Brasil, que vai de Ribeirão Preto, passa por Sertãozinho, Pontal, Pitangueiras, Viradouro e Morro Agudo, ou seja, virou praticamente um mar mais calmo para as unidades mais próximas pescar.
Manejo
Sobre os assuntos relacionados ao manejo, Binho os executa de maneira bem segura. A respeito da rotação de cultura, ele está há três anos arrendando suas áreas ou para soja ou para amendoim, sendo que os preços pagos pela segunda cultura, o estão encorajando a se aventurar em uma operação própria. Claro que ele está ciente das dificuldades que uma safra de qualidade implica, enxergando que o apoio do Projeto Amendoim da Copercana pode ser fundamental para sua decisão.
Quanto aos manejos de reforma e plantio, ele utiliza o arrancador de soqueira em toda a área e executa o plantio semimecanizado, que utiliza uma carregadeira para fazer o transporte das mudas que são colocadas nas covas manualmente, se parar para analisar, o procedimento é muito parecido com a desdobra nas áreas de meiosi.
Quando o assunto são plantas daninhas, o que dá calafrios no produtor é a Mucuna, uma planta daninha de enraizamento profundo e difícil controle, que segundo ele apareceu junto com a colheita mecanizada. No assunto pragas, ele aponta para uma variedade em si que está apresentando muita sensibilidade ao sphenophorus, mas tem consciência que a melhor forma de combate é a busca de mudas com sanidade maior, problema que com a vinda das MPBs poderá estar em grande parte solucionado.
A cigarrinha também rouba produtividade de seu canavial. Ele conta que na safra passada, em um talhão, mesmo conseguindo controlar a infestação, perdeu dez toneladas por hectare em relação a áreas com a mesma variedade, que haviam tido a mesma quantidade de adubo, recebido a mesma chuva e estavam também no terceiro corte.
Outro problema que vem causando dor de cabeça é a ferrugem e por cultivar variedades muito suscetíveis a essa doença, é fácil encontrar canas apresentando os seus sintomas, porém como ele trata com fungicida quando elas ainda estão crescendo, aparentemente o seu tamanho e desenvolvimento não têm sido afetados.
Para combater a erosão na propriedade, que apresenta alta declividade, o produtor fala que fez um terraço embutido com desvio vertical de 5 metros, porém o que garantiu o fim das erosões mesmo, segundo ele, foi a cana-de-açúcar, uma cultura sem igual para conservar o solo.