Especialistas fazem projeções sobre o agro em 2022

12/01/2022 Noticias POR: Eddie Nascimento

O ano 2021 passou e, para muitos produtores, não vai deixar saudades. Por outro lado, em 2022 é hora de se preparar para os novos desafios. Pensando em fornecer ao nosso leitor um reflexo dos desafios que devem surgir, a Revista Canavieiros traz nesta entrevista a projeção de três especialistas do Rabobank, grupo financeiro com mais de 130 anos de história.
Periodicamente, o grupo revela projeções sobre diversos segmentos do mercado financeiro e commodities. Nessa entrevista serão abordados assuntos ligados à produção de açúcar, etanol, milho e soja, além de dicas que podem preparar o produtor para 2022. Boa leitura!

 


Andy Duff - Gerente do departamento de Pesquisa e Análise Setorial do Rabobank para América do Sul e estrategista global para o setor de açúcar e etanol

 


Revista Canavieiros: Andy, quais são as perspectivas para o agronegócio em 2022 com relação à cana, açúcar e etanol?
Andy Duff: No campo, 2021 vai deixar uma herança de complicações a serem enfrentadas em 2022: o atraso no desenvolvimento da cana por causa da seca, as falhas e os danos aos plantios e consequências por causa das geadas, e os planos de plantio não cumpridos. Por isso, mesmo com clima normal nos próximos meses, imaginamos que a recuperação da produtividade e da moagem no Centro-Sul em 2022/23 seja parcial. Por enquanto trabalhamos com uma previsão da moagem na safra atual de 2021/22 fechando em torno de 520 milhões de toneladas, e com previsão de moagem de 530 – 550 milhões de toneladas para 2022/23.
O lado bom das perspectivas é que os mercados estão sinalizando mais um ano de preços altos. Projetamos o petróleo Brent em 2022 em USD 80/bbl, e o câmbio em uma faixa de R$ 5,50 – 5,50 por USD. Essa combinação sustenta preços altos na bomba para a gasolina. E o preço internacional de açúcar é previsto firme em uma faixa de 18 – 20 US c/lp. Tudo isso aponta que o preço Consecana siga em alta em 2022/23. E não é nada para comemorar, mas vale destacar que a previsão da continuação de preços altos vale também para os insumos.
Revista Canavieiros: Qual a estimativa que você pode dar para cada um dos produtos?


Revista Canavieiros: Em que o produtor deve se atentar?
Andy Duff: O que ouvimos dos produtores é que nos próximos  meses será mais importante do que nunca focar nos tratos e em aplicar a dosagem correta na hora certa para maximizar a resposta aos insumos nos canaviais.
Revista Canavieiros: Eventos climáticos podem prejudicar essa nova safra?
Andy Duff: Pode sim, o clima é fator chave nos próximos meses. A grande preocupação seria uma continuação de condições secas durante a entressafra, algo que enfraqueceria  ainda mais um canavial que já sofreu 18 meses de seca. Mas várias regiões já receberam precipitação bem acima do normal, talvez isso seja um sinal que o São Pedro fique disposto a ajudar em 2022.
Revista Canavieiros: Em relação ao mercado internacional, o produtor brasileiro deve focar mais na produção de qual dos produtos visando à exportação?
Andy Duff: A grosso modo, o Brasil exporta dois terços do açúcar que produz, e assim domina seu mercado internacional de açúcar – por isso geralmente o mercado é muito sensível às expectativas da disponibilidade do açúcar brasileiro, e a queda da produção brasileira este ano e a probabilidade de uma recuperação apenas parcial em 2022 são fatores apoiando o preço mundial hoje. Para o etanol, as exportações são muito pequenas, e é o mercado doméstico que é o foco.
Revista Canavieiros: E no mercado interno, a demanda será grande?
Andy Duff: Os números de consumo de combustíveis disponibilizados pela ANP mostram que o volume das vendas de combustíveis este ano (jan/out) são levemente menores  do que no ano passado. Claro que a subida dos preços na bomba, junto com o aumento da inflação em geral e a erosão do poder de compra do consumidor que isso implica, acaba impactando a demanda em 2021. Para 2022, a previsão é de que os preços dos combustíveis fiquem altos e o crescimento econômico seja modesto, um quadro que não sugere grandes avanços em demanda.
Revista Canavieiros: Como vocês veem o setor de combustíveis para o ano que vem. Produzir etanol será viável?
Andy Duff: A nossa previsão é de que o preço da gasolina na bomba continue ao redor do nível atual. E a nossa projeção de moagem e produção de etanol, visto a registrar apenas um leve aumento acima do nível da safra atual, sugere que a oferta local deve se manter apertada. Como a gente viu este ano, essa combinação de preço alto da gasolina e oferta restrita de etanol resulta em preços altos de etanol, e é isso que projetamos para 2022. Dito isso, temos que ter a humildade de reconhecer que prever os mercados é difícil! Isso vale especialmente no caso do setor de combustíveis, onde existem fatores que poderiam inf luenciar o quadro, mas são ainda menos previsíveis do que fatores do mercado por serem decisões administrativas (impostos sobre combustíveis, tarifa de importação de etanol, por exemplo).

Soja e milho

 


Marcela Marini - Analista do departamento de Pesquisa e Análise Setorial do Rabobank Brasil, com foco no mercado de grãos e oleaginosas

 


Revista Canavieiros: Marcela Marini, como você vê o mercado de soja e milho nacional e internacional?
Marini: Os elevados preços de soja e milho e um cenário favorável de margens ao produtor favoreceram o aumento da área plantada em 2021/22. É esperado que a produção global de soja e de milho deva alcançar patamares recordes, porém, a demanda não deverá acompanhar o crescimento da oferta. Em meio a esse cenário, a expectativa é de recomposição parcial dos estoques globais se comparados à safra 2020/21. Apesar da recuperação, os estoques globais de milho ainda devem permanecer em níveis inferiores à média dos últimos cinco anos. Esta leve recuperação dos estoques globais de soja e milho podem pressionar os preços de soja e milho no mercado internacional.
Revista Canavieiros: Como estão os preços para o produtor, e o quais são as perspectivas para o próximo ano?
Marini: Os fundamentos relacionados à oferta e demanda e a incerteza climática foram fundamentais para que as cotações internacionais de soja e milho alcançassem patamares elevados em maio de 2021. Preços recordes em CBOT associado a um câmbio desvalorizado foram fatores que favoreceram os preços de soja e milho durante os meses de abril e maio de 2021. Porém, a perspectiva de aumento da produção no Brasil poderá trazer impactos negativos aos preços de soja e milho em 2022.
Revista Canavieiros: O produtor pode esperar uma safra maior em 2022?
Marini: A combinação de um aumento da área plantada de soja e milho e clima favorável pode levar o Brasil a safras recordes de soja e milho em 2021/22. O Rabobank estima que a área plantada em 2021/22 irá atingir 40 milhões de toneladas, o que assumindo uma linha de tendência para a produtividade resultará em uma safra recorde de 142 milhões de toneladas. Já a área brasileira de milho atingindo 20,8 milhões de hectares, o que assumindo uma linha de tendência para a produtividade, o Rabobank projeta uma safra de milho de 116 milhões de toneladas, um aumento de 29 milhões de toneladas se comparado à safra 2020/21.
Revista Canavieiros: Em que o produtor deve se atentar, o que o mercado tem mostrado?
Marini: O produtor deve se atentar não só as cotações internacionais, mas também à desvalorização cambial que pode compensar preços mais baixos das cotações de CBOT de soja e milho. Desde o início da pandemia da Covid-19, o câmbio foi fundamental para que os preços de soja e milho alcançassem patamares recordes em 2021 e esse cenário poderá voltar a acontecer em 2022.

Defensivos agrícolas

 


Bruno Fonseca - Analista Sênior de Pesquisa e Análise Setorial para o mercado de insumos do Rabobank Brasil

 


Revista Canavieiros: Bruno Fonseca, este ano o mercado de defensivos agrícolas sofreu um grande impacto com países segurando o produto dificultando o acesso a outros. O que você pode falar sobre isso e quais são as perspectivas para o ano que vem?
Fonseca: De fato, as exportações de alguns defensivos foram bastante afetadas ao longo deste ano devido a diversos fatores. O caso mais emblemático é o do glifosato, que tem na China seu principal produtor. O país asiático vem enfrentando uma crise energética que afetou toda a produção industrial do país. Incluímos aí a produção tanto do glifosato (produto acabado) quanto do fósforo amarelo,  matéria-prima para a produção do herbicida. Para o próximo ano, é esperado que a China se recupere e restabeleça a sua produção industrial e normalize assim a produção dos herbicidas, incluindo o glifosato. Até lá, o fundamento aponta que devemos continuar com as cotações elevadas.
Revista Canavieiros: Como esse mercado está atualmente e qual a visão para o ano que vem?
Fonseca: Para o próximo ano, devemos continuar a observar  as cotações internacionais dos defensivos pressionadas devido a alta demanda global por esses insumos enquanto os principais países produtores enfrentam problemas de produção. Ainda para o próximo ano, devemos somar o câmbio a essa conta, a desvalorização do Real frente ao dólar neste ultimo ano fez com que os insumos chegassem ao Brasil com preços ainda maiores.
Revista Canavieiros: O produtor deve ainda guardar um pouco mais de produto caso ele ainda tenha, aguardando preços melhores no ano que vem?
Fonseca: Como em qualquer safra, os produtores sempre devem tentar usar os insumos de forma bastante racional, evitando assim qualquer tipo de desperdício. Na situação atual, esta prática será ainda mais importante para que o produtor controle os seus custos e consequentemente as margens.
Revista Canavieiros: Diante desse cenário surgiram outras tecnologias visando diminuir um pouco a falta de produtos mais tradicionais. Como você analisa esse novo mercado que surgiu dos chamados biológicos?
Fonseca: O mercado de insumos biológicos vem crescendo ano após ano e tornando-se cada vez mais avançado em suas tecnologias, isso o torna cada vez mais acessível aos produtores. São produtos bastante interessantes, pois permitem ao produtor realizar o manejo integrado da agricultura de forma mais sustentável para o meio ambiente e mais econômica em alguns casos.
Revista Canavieiros: Qual dica você daria para o produtor que ainda tem receio de novas faltas e aumentos nos produtos?
Fonseca: A dica que sempre damos aos produtores é a que eles se mantenham atentos às oportunidades que o mercado der para tentar compor um bom custo médio para a safra ao invés de tentar acertar o momento exato de adquirir todos os insumos necessários. Para o próximo ano, dado as condições atuais do mercado, esta tática será ainda mais importante para garantir uma boa margem ao final do ano.