Estratégia “bang bang”

30/04/2021 Cana-de-Açúcar POR: MARINO GUERRA

Quem decidiu “sacar” seus implementos e mudas primeiro contou com um plantio mais seguro

 

Os filmes sobre o “Velho Oeste” norte-americano são marcados pela aridez dos cenários, um ambiente de poucas escolhas conquistando o respeito de todos aqueles que conseguem sacar suas armas e atirar com maior destreza e velocidade, eliminando assim os seus desafetos.

Para muitos produtores de cana, a sobrevivência, que passa por um plantio de sucesso, também está ligada à velocidade e assertividade no tiro.

Fazendo um recorte entre os pequenos e de porte médio, essa é quase uma regra, pois são constantes as questões de escala comparada ao alto risco financeiro de se plantar grãos em rotação, principalmente em anos instáveis sob o ponto de vista climático, pois além da quebra na produção, o maior castigo é perder a época boa de plantio da cana, o que pode significar um grande problema ao longo de muitos anos.

Como exemplo hipotético, considere um fornecedor com 500 hectares de cana, pensando que o ciclo médio perdure por cinco anos, teoricamente ele reforma 10% por ano ou 50 hectares.

Se fizer soja ou amendoim em área tão pequena, a conta do investimento em maquinário e sem uma estrutura própria (pelo menos parte dela), o risco de se perder a época de determinado manejo será constante, o que eleva o risco na queda de produtividade.

Outro ponto é que via de regra, esse produtor não conta com um número expressivo de colaboradores, e se mudar o foco para os grãos, pode faltar braço para as obrigações de verão do canavial, podendo perder rendimento com a principal cultura, pois acabou deixando de lado uma aplicação de cigarrinha, por exemplo.

A tentação para o arrendamento é algo forte que bate na porteira todos os anos, principalmente em períodos com preços recordes, como os de agora. E se trata de um excelente negócio para muita gente, mas antes de embarcar nessa viagem é preciso fazer a conta de um cenário onde acontece o atraso no plantio (como na atual temporada) e, consequentemente, uma colheita tardia, o que empurrará a formação do novo canavial para o outono, ou seja, com precipitações mais restritas.

Em resumo, é necessário o investimento maior em nutrição, indutores e defensivos como proteção das mudas enterradas que podem levar um tempo maior até ter a umidade mínima e conseguir brotar (num cenário menos caótico).

Nessa viagem 10% de área é muita coisa para um produtor médio se dar ao luxo de ter que partir para uma reforma precoce ou ainda amargar cinco anos com produtividades abaixo do esperado.

Contudo, não optar pelos grãos tão pouco significa deixar a terra em pousio, pelo contrário, ainda mais pensando no alto preço do nitrogênio e também valorizar a umidade do solo, adotar a adubação verde (crotalária) tem que fazer parte dos manejos da casa.

A realidade exemplificada é algo bastante corriqueira na região de Santa Cruz das Palmeiras-SP, que engloba produtores da Tambaú e Casa Branca, sendo a Copercana representada pelo engenheiro agrônomo José Bortolo Zavaglia. Segundo ele, 90% dos cooperados que atende fecharam seus respectivos plantios no início de março, não tendo muitos problemas com a brotação.

“Grande parcela do produtor que atendo prefere a segurança de se plantar mais cedo e não ter problemas com a brotação do que o risco em se fazer uma rotação comercial de cultura, lembrando que muitos deles fazem uso da crotalária no verão e já há casos da execução do plantio direto de cana nela em pé, visando ao máximo à preservação da umidade do solo. Outro ponto importante é a adoção, quase como regra do uso de fungicida, nematicida e indutores vegetativos biológicos no sulco de plantio”, disse Bortolo.

 

Pressão dos grãos para assumir em definitivo áreas de cana é enorme, e se não tiver acordo entre as partes, logo a falta de matéria-prima vai atrapalhar o futuro brilhante que está reservado ao setor sucroenergético