Estratégia “seja o que deus (e a sabedoria) quiser”

03/05/2021 Cana-de-Açúcar POR: MARINO GUERRA


Plantar no seco exige conhecimento técnico e muita fé

 

Por mais avanço tecnológico que se possa ter, pode-se evoluir por mais cinco séculos, mas rezar sempre será uma função do agricultor.

As duas táticas anteriores (abrir mão da renda dos grãos para plantar cedo e deixar a área sem cana por um ano) ganharam muito volume perante tudo que aconteceu da seca de primavera para cá, mas a opção da grande realidade da maioria dos fornecedores de cana e usinas é a de encarar a cova seca e esperar que alguma água caia dos céus, ou apareça alguma forma de irrigação.

E ela chegou, para alguns afortunados que haviam executado o manejo até o dia sete de abril em dois triângulos, um formado por Barretos, Severínia e Bebedouro e o outro correspondente a algumas áreas do mineiro, onde a precipitação foi acima dos 20 mm, quantidade considerada o mínimo para garantir a brotação do novo canavial.

Até o fechamento desta edição, o mês de abril já havia atingido a sua metade, e a previsão era simplesmente assustadora, tendo algumas previsões para o dia 20 e outras mais para o final do mês que apontam para chuvas volumosas, que podem variar entre 50 e 100 mm (nota do repórter: espero que quando estiver lendo este texto no mês de maio a chuva já tenha caído e eliminado as preocupações). 

O que, considerando que depois do dia 20 de março não teve precipitações consistentes, muitos lugares passaram mais de trinta dias com menos de 10 mm de chuva, elevando demais o risco de podridão das mudas e a perda do plantio.

No entanto, há produtores que sabem controlar muito bem esse risco, como os de Campo Florido-MG, que todos os anos começam a temporada de plantio a partir de 15 de abril estendendo o trabalho até meados de maio.

Porém, lá eles garantem a brotação trabalhando com um tripé de ações que suplementam a quantidade de umidade que faltar, são eles: uso de fungicidas, nutrição diferenciada e adoção de enraizadores e bioestimulantes; utilização de mudas cultivadas próximas das áreas de reforma (cantosi) com no máximo dez meses de idade e pouco, senão nenhum, revolvimento da terra.

A explicação é que garantindo somente a brotação, a planta passará o período de stress hídrico sem gastar energia para produzir colmos (pois a sua reserva de água não permite fazer mais nada senão sobreviver), fazendo com que suas folhas fiquem sadias para que, quando as águas vierem, a estrutura da planta estará pronta para o crescimento, e não perder tempo para repor a massa verde e depois crescer. Além é claro que não correr o risco de encarretelar os primeiros colmos, o que prejudica a produtividade e principalmente as que serão mudas.

Embora a adoção dos insumos no suco de plantio já esteja bem disseminada, ainda muita gente insiste em adubar fazendo o padrão (fórmulas cheias como 5-25-25 ou 5-20-20 e MAP) usando o KCL no quebra-lombo, contudo há relatos de produtores, pensando na redução do custo de adubagem, cortando o MAP e KCL, o que com certeza trará consequências na hora de medir a produtividade.

Situações antagônicas também vivem as áreas onde foi adotada a meiosi, produtores que participaram da reportagem de capa do mês de outubro de 2020 (edição 172) conseguiram relativo sucesso nas suas empreitadas.

Localizada em Pontal-SP, a fazenda Paineiras, propriedade da MRD Agropecuária e tem a gerência de Agenor Souza Reis (mais conhecido como Fikim) conseguiu fazer a sua desdobra tendo como importante ferramenta a fertirrigação que tem acordada com a unidade industrial que fornece cana.

Em Batatais, na Fazenda Bom Destino, o engenheiro agrônomo Antônio Josino Meirelles, e sua equipe tiveram um bom desempenho na linha mãe formada com a RB96-6928, contudo a área que foi utilizada a RB01-5935 sofreu e não conseguiu o suficiente para atingir a desdobra. Vale ressaltar que havia ainda uma sobra da cantosi de MPB que deu para finalizar o plantio.

Já em Serrana, na operação do Paulo e André Junqueira, como a desdobra eram para quatro linhas e o trabalho de agricultura de precisão feito de maneira intensa, a desdobra também foi um sucesso.

Mas nem tudo são flores, em muitos casos as linhas mães sentiram a falta de chuva e os produtores não conseguiram irrigar o tanto que era necessário, até porque a seca perdurou por um bom tempo, de forma que as desdobras ficaram longe de conseguir preencher as áreas que foram planejadas, fazendo com que muita gente partisse numa busca, sem muitos critérios, inclusive de sanidade e perfil genético, por mudas.

Ao longo da narração desse cenário de algumas medidas espetaculares em meio a um caos é certo que a estiagem ainda será lembrada por muito tempo, principalmente pelas quebras na produtividade, mas a grande notícia é que o canavieiro está aprendendo a lidar com os problemas climáticos e que num futuro próximo poderá ser igual o que está acontecendo com a soja, o clima castiga e mesmo assim, os recordes são quebrados.