Avaliar sob a ótica de moradores locais os efeitos ambientais, econômicos e sociais após dez anos da chegada da cultura canavieira em 30 municípios da região Centro-Sul do Brasil. Este foi o objetivo de um estudo realizado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), instituição referência nacional em pesquisa e ensino, que fez o levantamento nas áreas de expansão recente de cinco estados brasileiros (GO, MG, MS, PR e SP), entrevistando 269 pessoas, entre representantes governamentais, empresários urbanos, produtores rurais, trabalhadores e líderes comunitários.
Os principais resultados do estudo revelam que a geração de emprego e melhoria nas condições de trabalho na indústria sucroenergética são os fatores percebidos como mais positivos decorrentes da expansão das lavouras e nas atividades industriais da cana na região.
De acordo com os pesquisadores da Unicamp, além das transformações econômicas, também se verificou uma mudança de percepção a respeito de temas como a biodiversidade, qualidade do ar e saúde. O avanço da mecanização do plantio e colheita da cana, que extinguiu o uso controlado do fogo, foi a prática que mais contribuiu para esta nova percepção da população.
Nos municípios de São Paulo, a mecanização já atingiu quase 100% dos canaviais. Isso graças ao Protocolo Agroambiental, um acordo tripartite assinado em 2007 por representantes do governo, usinas e fornecedores de cana. Com isso, deixou-se de emitir mais de 8,65 milhões de toneladas de CO2 e mais de 52 milhões de toneladas de poluentes atmosféricos causados pela queima da planta. Os números equivalem à emissão diária de 151 mil ônibus durante um ano.
Outra conclusão do estudo é que nessas áreas de expansão recente o modelo de negócio predominante no segmento sucroenergético é o chamado “arranjo horizontal”, no qual o acesso a cana de açúcar se dá principalmente por meio de parcerias com fornecedores de cana e terras arrendadas.
Apresentado para pesquisadores da Universidade de Berkeley, na Califórnia, o levantamento teve como autores Andreia Marques Postal, Heitor Mobílio de Pádua Melo e José Maria J. da Silveira, todos ligados ao Instituto de Economia da Unicamp. “O trabalho pode ajudar a formular melhores políticas públicas para este setor, levando em conta as perspectivas locais daqueles que integram a cadeia produtiva da cana”, observa Marques Postal.
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