Etanol de milho, um caminho sem volta
26/04/2019
Etanol
POR: Revista Canavieiros
Foto: Edson Rodrigues
Por: Fernanda Clariano
O consumo total de etanol no país deve sair de 35 milhões de m³ em 2018 (incluindo exportações) para 49 milhões de m³ em 2030, segundo a EPE (Empresa de Pesquisas Energéticas do Ministério de Minas e Energia), e o etanol de milho deverá contribuir com 8-10 milhões de m³ nesse cenário. Porém, a questão logística pode ser um grande entrave para o crescimento mais acelerado dessa cadeia. A reportagem da Revista Canavieiros conversou com Ricardo Tomczyk, presidente da Unem (União Nacional do Etanol de Milho), associação de direito privado, de âmbito nacional e sem finalidade econômica ou lucrativa que tem por objetivo promover o acompanhamento e a defesa dos interesses do setor da indústria brasileira de etanol de milho e outros cereais. Na ocasião, Tomczyk falou sobre números e o futuro do etanol de milho no Brasil. Confira!
Revista Canavieiros: A transformação do etanol de milho em etanol já é considerada um caminho sem volta?
Ricardo Tomczyk: Sim, apesar de ser uma indústria relativamente nova no Brasil, já se consolidou e vem recebendo investimentos maciços visando atender à demanda de etanol, principalmente hidratado, que tem demonstrado grande aquecimento no mercado nacional.
Revista Canavieiros: Qual é potencial de expansão desse mercado?
Tomczyk: O potencial de expansão é grande, visto que as previsões de aumento de demanda por etanol são bastante positivas, os impactos da implantação do RenovaBio serão relevantes e a produção da matéria-prima (milho) já apresenta enormes excedentes ao consumo atual, o que favorece o crescimento dessa indústria. Mesmo enfrentando problemas estruturais (principalmente de logística) e também de outras ordens, como os tributários, que ainda não estão perfeitamente alinhados com essa nova cadeia produtiva, podemos acreditar que chegaremos a volumes de 8 milhões de metros cúbicos ou até mais, quando projetamos o desenvolvimento dessa indústria um pouco mais adiante no tempo (2028). Se tivermos soluções aos entraves com mais rapidez, certamente poderá ser agregado um volume ainda maior na produção.
Revista Canavieiros: O etanol produzido a partir do milho deve atender às mesmas especificações do etanol de cana?
Tomczyk: Sim, deve atender as mesmas especificações, pois atende às mesmas finalidades e ao mesmo mercado.
Revista Canavieiros: A produção de etanol a partir do milho é competitiva? Pode substituir a cana ou é mais uma opção no mercado brasileiro?
Tomczyk: É bastante competitiva nos estados do Centro Oeste do Brasil, especialmente em Mato Grosso, onde os grandes excedentes de produção de milho estão concentrados. Levando em consideração o cenário de demanda que temos pela frente, certamente será mais uma opção, sendo uma produção complementar ao da cana, havendo espaço para ambos e condições regionais que definem a maior ou menor competitividade de cada modelo.
Revista Canavieiros: Atualmente quantas usinas utilizam o milho para produzir o biocombustível e onde elas estão?
Tomczyk: Atualmente temos dez usinas em produção e quatro sendo construídas, assim distribuídas: no Mato Grosso há cinco em operação e três em construção; em Goiás, três em operação e uma em construção; em São Paulo há uma em operação e no Paraná uma em operação.
Revista Canavieiros: Há novos projetos?
Tomczyk: Sim, recentemente dois outros grandes projetos foram anunciados em Mato Grosso cujas obras devem se iniciar ainda em 2019. Muitos outros estão em fase de licenciamento e viabilização financeira.
Revista Canavieiros: Quais as projeções baseadas na produção e no consumo do etanol de milho?
Tomczyk: O consumo total de etanol no país deve sair de 35 milhões de m³ em 2018 (incluindo exportações) para 49 milhões de m³ em 2030, segundo a EPE (Empresa de Pesquisas Energéticas do Ministério de Minas e Energia). Como dito anteriormente, o etanol de milho deverá contribuir com 8-10 milhões de m³ nesse cenário.
Revista Canavieiros: O aumento do consumo de milho para etanol vai servir de estabilizador nos preços do grão?
Tomczyk: Certamente, pois gera uma demanda consolidada e contínua durante todo o ano. Isso já tem sido uma realidade nas praças onde as indústrias estão instaladas e deve ter cada vez mais influência no mercado em geral.
Revista Canavieiros: O etanol de milho vai estar mais presente no mix onde o etanol de cana predomina?
Tomczyk: Sim, pois a resposta ao aumento de resposta à demanda é mais rápida pela realidade do etanol de milho, visto que a matéria-prima já existe em abundância e ainda tem grande capacidade de aumento na produção/fornecimento.
Ainda, como esse etanol vai ser necessariamente produzido em maior escala no Centro- Oeste do país, onde o consumo é relativamente pequeno em fundação da baixa densidade demográfica, naturalmente esse produto deverá participar do mix consumido nos grande centros, principalmente no Sudeste do país.
Revista Canavieiros: Em 2018 qual foi a quantidade de etanol de milho produzida no Brasil e qual é a previsão de produção para este ano de 2019?
Tomczyk: Em 2018 cerca de 840 mil m³, já passando para 1,45 milhões de m³ em 2019, mantendo a tendência de crescimento para os próximos anos.
Revista Canavieiros: Para o futuro a expectativa é de que esta produção se mantenha crescente?
Tomczyk: Sim, a tendência é de crescimento pelos próximos anos, pois muitos projetos devem entrar em funcionamento.
Revista Canavieiros: A logística é um entrave ou um gargalo?
Tomczyk: A questão logística pode ser um grande entrave para o crescimento mais acelerado dessa cadeia, pois, como dito, a grande produção deve se concentrar no Centro-Oeste do país e o grande consumo está no Sudeste. Se tivermos avanços nesse sentido, com investimentos, por exemplo, na ampliação do etanolduto, poderemos ter um cenário de incremento ainda maior na produção. Acredito que a logística é o principal entrave ao maior crescimento dessa cadeia.
Revista Canavieiros: O RenovaBio deve impulsionar a demanda pelo etanol de milho?
Tomczyk: Sim, certamente, assim como para todos os demais biocombustíveis.
Revista Canavieiros: Nos próximos 10 anos já veremos etanol de milho brasileiro sendo direcionado para todas as regiões do Brasil?
Tomczyk: Eu diria que sim, principalmente se avançarmos nas questões de infraestrutura no país.