Etanol para escanteio

18/11/2013 Etanol POR: Revista Agronalysis
O congelamento artificial do preço da gasolina como medida de controle da inflação vem gerando uma série de prejuízos para o setor sucroenergético, para a Petrobras, a economia do País, o meio ambiente e a nossa saúde.
Sem capacidade de produção e refino suficientes para atender a demanda interna, já há um bom tempo a Petrobras está sendo obrigada a importar gasolina e óleo diesel a volumes cada vez maiores, com valores de compra no mercado internacional acima do preço de revenda. Estima-se que a defasagem possa chegar a 30%.
Dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) mostram que os gastos com a importação de gasolina saltaram de US$ 71 mil em 2009 para US$ 3 bilhões no ano passado. O desarranjo na importação de combustíveis queima divisas do País e corrói o caixa da Petrobras. A recente alta do dólar agravou o quadro, pressionando ainda mais as contas da empresa, que publicamente, já cobrou reajuste nos preços, em torno de 15%.
O governo subsidiou a compra de automóveis, elevando a necessidade de combustíveis, mas não se preocupou e não planejou a capacidade de oferta.
Com a inflação em alta, e a Petrobras no sufoco, a equipe econômica se vê numa encruzilhada entre alimentar o dragão da inflação reajustando os combustíveis ou continuar a dilapidar o orçamento da estatal, os dividendos dos acionistas da empresa, o patrimônio do País, mantendo os preços vigentes.
Na órbita deste imbróglio, tratado como coadjuvante pelo governo, está o etanol e, a reboque, todo o setor sucroenergético nacional, o mais eficiente do mundo, e uma das cadeias produtivas mais importantes da economia brasileira.
O segmento da cana-de-açúcar emprega, diretamente, 2,5 milhões de trabalhadores, reúne cerca de 400 usinas, 80 mil fornecedores e 4 mil indústrias de base, distribuídos em mais de 600 municípios, que produzem acima de 5 mil hectares de cana/ano.
A política de subsídio à gasolina tirou consumidores do etanol, provocando uma desorganização acentuada do segmento. Recente seminário na Organização de Plantadores de Cana da Região Centro-Sul do Brasil (Orplana) escancarou a trágica situação de pequenos e médios produtores, que estão sento expulsos da atividade, e entregando suas propriedades a grandes grupos.
Nas duas últimas safras, cerca de 44 usinas deixaram de moer cana, e se nada mudar, este número poderá aumentar para 54 na próxima temporada. No período, 100 mil empregos foram extintos. As indústrias do segmento não têm encomendas e trabalham a 50% da sua capacidade nominal. Soma-se a isso, o triste cenário marcado pela total ausência de projetos de novas plantas, como demonstra a carteira de consultas do BNDES.
Nos leilões públicos, o valor pago pela energia gerada pelo bagaço da cana é baixo, entre outros motivos, pela falta de critérios técnicos no formato dos leilões, que misturam várias fontes de energia numa mesma operação. Não há valorização dos benefícios gerados por fontes renováveis e limpas, deixando-as em igual condição de disputa com as de origem fóssil.
Ademais, mesmo com a redução do superávit nos estoques mundiais de açúcar, a oferta ainda é enorme, e o produto que vinha sustentando o caixa do setor sucroenergético perderá fôlego financeiro para continuar pagando a conta.
A ausência do setor sucroenergético nos planos estratégicos do governo denota, no mínimo, omissão das autoridades federais quanto aos riscos de sobrevivência que o segmento está correndo. São 40 anos de trabalho, desde o início do "ProÁlcool", que estão escorrendo pelo ralo.
Diante deste quadro preocupante, a única certeza existente é que uma hora o ajuste na política de preços de combustíveis terá que ser feito. Não menos importante é o governo definir de uma vez por todas qual é a matriz energética que deseja, e qual o papel doetanol neste modelo.
O setor sucroenergético não reivindica royalties, subsídios ou suporte oficial de prejuízos. O segmento quer única e exclusivamente um ambiente regulatório qualificado, com objetivos claros, segurança jurídica, e menos intervencionismo, criando um cenário com mais previsibilidade para tomada de decisão do setor privado e de investidores.
Cesario Ramalho da Silva - Produtor rural e presidente da Sociedade Rural Brasileira - Texto extraído do Portal Unica
O congelamento artificial do preço da gasolina como medida de controle da inflação vem gerando uma série de prejuízos para o setor sucroenergético, para a Petrobras, a economia do País, o meio ambiente e a nossa saúde.
Sem capacidade de produção e refino suficientes para atender a demanda interna, já há um bom tempo a Petrobras está sendo obrigada a importar gasolina e óleo diesel a volumes cada vez maiores, com valores de compra no mercado internacional acima do preço de revenda. Estima-se que a defasagem possa chegar a 30%.
Dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) mostram que os gastos com a importação de gasolina saltaram de US$ 71 mil em 2009 para US$ 3 bilhões no ano passado. O desarranjo na importação de combustíveis queima divisas do País e corrói o caixa da Petrobras. A recente alta do dólar agravou o quadro, pressionando ainda mais as contas da empresa, que publicamente, já cobrou reajuste nos preços, em torno de 15%.
O governo subsidiou a compra de automóveis, elevando a necessidade de combustíveis, mas não se preocupou e não planejou a capacidade de oferta.
Com a inflação em alta, e a Petrobras no sufoco, a equipe econômica se vê numa encruzilhada entre alimentar o dragão da inflação reajustando os combustíveis ou continuar a dilapidar o orçamento da estatal, os dividendos dos acionistas da empresa, o patrimônio do País, mantendo os preços vigentes.
Na órbita deste imbróglio, tratado como coadjuvante pelo governo, está o etanol e, a reboque, todo o setor sucroenergético nacional, o mais eficiente do mundo, e uma das cadeias produtivas mais importantes da economia brasileira.
O segmento da cana-de-açúcar emprega, diretamente, 2,5 milhões de trabalhadores, reúne cerca de 400 usinas, 80 mil fornecedores e 4 mil indústrias de base, distribuídos em mais de 600 municípios, que produzem acima de 5 mil hectares de cana/ano.
A política de subsídio à gasolina tirou consumidores do etanol, provocando uma desorganização acentuada do segmento. Recente seminário na Organização de Plantadores de Cana da Região Centro-Sul do Brasil (Orplana) escancarou a trágica situação de pequenos e médios produtores, que estão sento expulsos da atividade, e entregando suas propriedades a grandes grupos.
Nas duas últimas safras, cerca de 44 usinas deixaram de moer cana, e se nada mudar, este número poderá aumentar para 54 na próxima temporada. No período, 100 mil empregos foram extintos. As indústrias do segmento não têm encomendas e trabalham a 50% da sua capacidade nominal. Soma-se a isso, o triste cenário marcado pela total ausência de projetos de novas plantas, como demonstra a carteira de consultas do BNDES.
Nos leilões públicos, o valor pago pela energia gerada pelo bagaço da cana é baixo, entre outros motivos, pela falta de critérios técnicos no formato dos leilões, que misturam várias fontes de energia numa mesma operação. Não há valorização dos benefícios gerados por fontes renováveis e limpas, deixando-as em igual condição de disputa com as de origem fóssil.
Ademais, mesmo com a redução do superávit nos estoques mundiais de açúcar, a oferta ainda é enorme, e o produto que vinha sustentando o caixa do setor sucroenergético perderá fôlego financeiro para continuar pagando a conta.
A ausência do setor sucroenergético nos planos estratégicos do governo denota, no mínimo, omissão das autoridades federais quanto aos riscos de sobrevivência que o segmento está correndo. São 40 anos de trabalho, desde o início do "ProÁlcool", que estão escorrendo pelo ralo.
Diante deste quadro preocupante, a única certeza existente é que uma hora o ajuste na política de preços de combustíveis terá que ser feito. Não menos importante é o governo definir de uma vez por todas qual é a matriz energética que deseja, e qual o papel doetanol neste modelo.
O setor sucroenergético não reivindica royalties, subsídios ou suporte oficial de prejuízos. O segmento quer única e exclusivamente um ambiente regulatório qualificado, com objetivos claros, segurança jurídica, e menos intervencionismo, criando um cenário com mais previsibilidade para tomada de decisão do setor privado e de investidores.
Cesario Ramalho da Silva - Produtor rural e presidente da Sociedade Rural Brasileira - Texto extraído do Portal Unica