Evento oficializa a safra de cana 2019/20 no Centro-Sul

03/04/2019 Cana-de-Açúcar POR: Revista Canavieiros
Por: Fernanda Clariano
 
Maior produtora de cana-de-açúcar, a região Centro-Sul é responsável por mais de 90% da produção nacional e para a safra 2019/20 a expectativa é de aumento na produção, o que reforça a importância do setor para a economia do país.
 
De acordo com dados divulgados pelo presidente da Datagro, Plínio Nastari, durante evento de Abertura de Safra Cana, Açúcar e Etanol 2019/20 - realizado pela Datagro e pelo Santander, no dia 13 de março em Ribeirão Preto, a estimativa é de que a moagem de cana-de-açúcar, para a safra que iniciará em 1º de abril seja de 583 milhões de t - valor superior ao previsto para a safra atual, que deve fechar em 569,45 milhões de t. O rendimento industrial deverá ser de 137,8 kg ATR/tc.
 
Baseado nas condições atuais de preço, a expectativa para 2019/20 é de um mix de produção de 38,8% para o açúcar e 62,2% para etanol.
 
“Este é um evento em que os produtores vêm para discutir o que deve acontecer durante o próximo ano, como planejamento de produção, de preços, perspectivas de investimento e o setor vem de uma performance muito importante no ano passado em que houve um aumento do consumo de etanol expressivo. Isto é, o Brasil está substituindo quase 44% da sua gasolina por etanol e isso deve se manter em 2019 com uma orientação bastante voltada para o etanol, segundo a nossa previsão”, afirmou Nastari. O consultor também pontuou que, com a tendência de produção do etanol elevada, houve diminuição da importação da gasolina. “Tivemos um menor consumo da gasolina A (gasolina pura), que em 2018 caiu 13%, esse é o menor volume desde 2011”, frisou. 
 
Presente no evento, o presidente da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), Evandro Gussi, disse que a instituição continua apostando na produção de etanol, mas segundo ele, é cedo para falar dos reflexos dos preços para o consumidor, mesmo com a produção em alta. “Uma parte importante da safra sofrerá certo atraso, de algum modo, por razões pluviométricas e por razões estratégicas de volumes que ainda estão em nossas tancagens. Não dá para fechar isso, mas esperamos um preço que por um lado remunere o produtor e que em outro, consiga fazer um dos melhores efeitos do etanol na matriz energética brasileira que é a regulagem de preço em relação à gasolina, especialmente no Centro-Sul”, disse.
 
Já o presidente da Orplana (Organização de Plantadores de Cana da Região Centro-Sul do Brasil), Eduardo Romão, contextualizou o momento de dificuldades atravessado pelos produtores e reforçou a importância da organização e do planejamento neste momento de incertezas de preços. “Para nós, produtores rurais, a palavra desafio resume o ano de 2018. Já para 2019 a grande questão são outros fatores - não da nossa conjuntura agrícola, mas que nos impacta. Para saber lidar com isso, o setor de açúcar e etanol precisa de uma visão e transparência e este evento de abertura de safra traz conhecimentos para nos planejarmos e seguirmos em frente ao longo deste ano de 2019”. 
 
O secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Gustavo Diniz Junqueira, representou o governador João Dória no evento. Para ele, o setor sucroenergético tem papel importante no PIB do Estado, principalmente a macrorregião de Ribeirão Preto. “O setor da cana em São Paulo é muito importante, pois representa 50% de todo o PIB agropecuário do Estado, a cana representa 50%. A maioria dos empregos no agro são gerados dentro do setor sucroenergético, portanto este setor é vital para que a economia paulista continue seguindo forte”, afirmou o secretário.
 
Desafios e oportunidades
 
No evento ficou claro que alguns ajustes precisam ser feitos na economia do país para que o setor cresça ainda mais.
 
“O Brasil precisa fazer as reformas e, para isso, precisamos de consensos e sensos. Os setores presentes neste evento têm as melhores informações para a tomada de decisão e assim ajudar o Brasil a crescer, gerar empregos e desenvolver”, disse o prefeito de Ribeirão Preto, Duarte Nogueira.
 
“Estamos em momento de mudança estratégica para o país e essa safra é muito diferente da que se iniciou no ano passado quando haviam incertezas, e  ocorriam  disputas. Hoje temos um rumo que não será fácil, há uma curva de aprendizado nisso é obvio, mas temos que estar perseverantes. Cotidianamente os produtores suam para ganhar um pouco de produtividade, buscam maior eficácia no ponto de vista da área agrícola, industrial, na logística e muitas vezes uma medida governamental altera tudo, tira de balde aquilo que gota a gota foi constituído e significou oportunidade”, ressaltou o deputado federal e presidente da Frente Parlamentar de Defesa do Setor Sucroenergético, Arnaldo Jardim.
 
“Temos uma visão bastante positiva sobre o setor sucroenergético, que hoje tem mais oportunidades do que desafios. Está cada vez mais claro que oportunidades de diversificação estão se mostrando cada vez mais atrativas, como a integração cana e milho, cogeração, etanol de segunda geração, biodigestão, leveduras, extração ou captura de CO2, alcoolquímica, açúcares e álcoois especiais”, destacou o vice-presidente executivo do Santander, Mário Roberto Leão.
 
“O governo fazendo o dever de casa, resolvendo o problema da previdência do setor público que hoje é a questão mais grave e, depois ao mesmo tempo, atacando outros privilégios que os servidores públicos têm diferente dos demais, conseguiremos mais tranquilidade e previsibilidade com menores custo e carga tributária. Outra questão é uma expectativa muito grande do Ministério de Agricultura em nos ajudar junto ao Ministério das Relações Exteriores para que o país possa fazer acordos comerciais, abrir mercados, sobretudo para o nosso açúcar. Considero essas questões como desafios que precisamos enfrentar e destravar, necessitamos do apoio do parlamento nessa discussão para que possamos continuar investindo”, pontuou o presidente do Fórum Nacional Sucroenergético, André Rocha.
 
RenovaBio: um marco para o setor canavieiro nacional
 
Em 2018, o evento de Abertura de Safra de Cana, Açúcar e Etanol contou com a participação do ex-presidente da República Michel Temer, que assinou um decreto regulamentando o RenovaBio – Política Nacional de Biocombustíveis. Um programa estratégico, que reconhece a importância dos biocombustíveis para a matriz energética brasileira, o que vai estimular o aumento de eficiência, podendo até incidir na redução de preços. Desde a assinatura do decreto, toda a cadeia produtiva sucroenergética, amparada por órgãos governamentais competentes, vem se movimentando para que, em 2020, o programa comece a funcionar efetivamente.
 
“Estamos em fase final de regulamentação do RenovaBio e a expectativa é que consigamos certificar as empresas. Já estamos conversando com as certificadoras e esperamos concluir todo o processo até o final do ano pra que ele comece a vigorar como previsto na lei e a partir de janeiro do próximo ano. Que esse programa traga segurança jurídica e previsibilidade para que os empresários voltem a investir no setor”, disse Rocha.
 
“O RenovaBio traz uma nova perspectiva, sobretudo no aspecto econômico. Queremos ser eficientes naquilo que produzimos e, garantindo essa eficiência, buscarmos recursos e crescer mais. Tenho certeza que este programa será um marco para o setor canavieiro nacional”, afirmou o presidente da Unica.
 
“O Ceise Br, em conjunto com outras entidades setoriais, batalhou muito para a concretização desse programa. O atual governo tem se mostrado propenso a uma matriz energética mais limpa e renovável, o que vem ao encontro da tão oportuna consolidação do RenovaBio, que favorece a previsibilidade que o nosso setor tanto precisa para resgatar competitividade e ter referências de mercado para novos investimentos”, comentou o presidente do Ceise Br, Luís Carlos Jorge.
 
“Com o RenovaBio, pela primeira vez em sua história este setor passa a ter um norte para orientar investimento futuro, promovendo meritocracia, induzindo maior eficiência energética e menor impacto ambiental, o que vai levar a menores custos e menores preços para o consumidor. Estamos acompanhando o tema, apreciando e, sobretudo, aplaudindo. E com o CBio vamos arregaçar as mangas e participar ativamente”, afirmou o vice-presidente executivo do Santander, Mário Roberto Leão.
 
Etanol de milho
 
A cadeia de produção de etanol do milho ancorou recentemente no Brasil e vem se desenvolvendo. Este ano, o país deve produzir 1,4 bilhão de litros de etanol oriundo do cereal. O assunto foi destacado no evento de Abertura de Safra pelo presidente-executivo da Unem (União Nacional do Etanol de Milho), Ricardo Tomczyk.
De acordo com ele, o Brasil já conta com 10 usinas (oito flex e duas full) trabalhando com o milho como matéria-prima para a produção de etanol. Destas, cinco estão localizadas no Mato Grosso, três em Goiás, uma em São Paulo e uma no Paraná. A expectativa é que mais três plantas entrem em operação este ano. “Em dez anos, é possível que estejamos produzindo cerca de 8 bilhões de litros de etanol a partir do milho, ajudando na produção dessa matriz energética limpa e renovável e abastecendo o consumidor nacional durante todo o ano, já que não existe entressafra na produção de etanol de milho”, mensurou.