Expectativa para a maior safra de soja do mundo

24/01/2020 Agricultura POR: Marino Guerra
Expectativa para a maior safra de soja do mundo

Lideranças setoriais apontam que colheita brasileira quebrará um novo recorde

Tudo pronto para o início de mais uma temporada de colheita de soja. E a tendência é de que teremos uma safra histórica. Mesmo com a derrapada inicial em decorrência de um pequeno atraso do plantio ocorrido pelo início tardio das águas, a expectativa é que sejam produzidas algo em torno de 125 milhões de toneladas, um recorde histórico, superando os Estados Unidos e assim assumindo o primeiro lugar no ranking do grão.

O número é lindo, contudo ele gera uma apreensão, e ela atende pelo nome de preço. Sendo justificado pela boa e velha lei da oferta e demanda, contudo ela, segundo especialistas, pode perder seu poder ou ganhar sua influência a depender do que acontecer na China.

Através do exercício de que a potência asiática importe o mesmo volume de 2019 (88 milhões de toneladas), considerando que a colheita americana ocorre no segundo semestre, a tendência é de que a absorção chinesa na primeira metade do ano permaneça nos mesmos patamares.

Porém com o desenvolvimento do acordo comercial sino-americano é natural que para o segundo semestre, a China compre soja dos Estados Unidos, que estará disponível a partir do último trimestre.

Contudo, se a história se encerrasse aí seria fácil. Vários outros atores deverão entrar nessa história e mudar o seu enredo até o final. Dentre eles a confirmação de novos focos de gripe aviária anunciados pelo ministério da agricultura do país nessa semana, se proliferar como aconteceu com a peste africana suína, as cartas do jogo simplesmente voltam à mesa para serem embaralhadas novamente.

Mostra de que o tempo que os chineses chegavam ao mercado e levavam tudo acabou se torna cada vez mais evidente através de fatos como o anúncio da suspenção da entrada em vigor da mistura de 10% de etanol à gasolina em 2020, ação tomada devido a preocupação com uma possível escalada nos preços caso a safra de milho sofra algum percalço.

Do lado Iankee, os olhares estão para a corrida das eleições presidenciais desse ano, e em cima disso quais serão os passos do presidente Donald Trump com relação ao setor agrícola do país, isso porque no caso de um rápido acordo com a China os produtores deverão optar pelo plantio de soja.

Mas se o acordo derrapar, ou então, a conjuntura apontar por preços mais atraentes para o milho, pode ser que os produtores decidam por cultivar mais milharais, o que seria bom para o Brasil, pois afastaria a possibilidade de queda das exportações nacionais de soja que se desenha para o último quarto de 2020 e todo 2021.

Algo que pode acontecer se os produtores, em especial do centro-oeste brasileiro, decidirem por outra cultura, como o algodão por exemplo, na safrinha, pois com a diminuição da oferta de milho o preço internacional é elevado estimulando os norte-americanos a plantá-lo.

Diante esse emaranhado de acontecimentos tem também uma movimentação do Brasil que passou do tempo de acontecer, é extremamente necessário que o país aumente sua capacidade de industrialização de soja, isso porque reduz a exposição de diversos indicadores da economia nacional em relação ao humor das potências mundiais, pois dá a possibilidade de destinar a safra em maior volume para outros mercados, sendo o biodiesel o principal deles, acarretando na segurança de fornecimento de matéria prima (óleo de soja) gerando argumentos políticos visando o aumento da atual mistura de 11% para 15% ao diesel comum o que reflete também na redução de importação do combustível fóssil e consequente queda do seu preço.

Assim se conclui que o pecado nunca pode ser de conquistar produções agrícolas recorde, e sim ele está na falta de competência em acompanhar o desenvolvimento do campo dos outros setores envolvidos no negócio.